Para o próximo ano, a minha principal
resolução traduz-se numa espécie de pedido: Deixem-me ficar no meu país! Se faz
favor, isto é, que ainda não me tiraram a boa educação.
Esta é a minha primeira e única
resolução até ao momento, porque se ela não se cumprir então tudo o resto é uma
incógnita. Nunca precisei de fazer este pedido, mas agora que estou prestes a
(tentar) entrar no mercado de trabalho, acho que devo começar a definir
prioridades.
Façamos uma pequena comparação:
Antigamente (há um ano, mais coisa, menos coisa), as minhas resoluções
baseavam-se naquelas coisas genéricas de ir mais vezes ao ginásio, passar mais tempo
com a família, ser melhor pessoa, viajar mais e aprender novas línguas. Ora, se
não souber em que país vou estar, então não consigo definir nada disto.
Vejamos:
- Ginásio: É difícil arranjar tempo para ir ao ginásio quando
emigramos. Uma pessoa começa a ocupar-se com coisas triviais (do género
transportar toda uma vida para um território desconhecido) que acaba por se
desviar um bocado daquilo que é realmente importante. Para além disso, decorar
o nome de todas as máquinas e exercícios numa nova língua não deve ser nada
fácil;
- Família: Normalmente, os jovens que vão embora do país ainda não
constituíram família. É uma nova mania que por aí anda, só porque não têm
perspectivas de futuro e tal. Mas continuam a ter familiares, pessoas que os
viram crescer e que cresceram com eles. O problema é que esses familiares – de
forma bastante egoísta, diga-se – preferem não acompanhar o jovem na sua viagem
a não-sei-onde para fazer não-sei-o-quê, só porque já têm a sua vida orientada.
Escolhem a monotonia da sua vida decente em detrimento da constante aventura de
uma vida de caca. Não se percebe. E é por tudo isto que também se torna difícil
cumprir a resolução de se passar mais tempo com a família;
- Ser melhor pessoa: O mais difícil de se ser melhor pessoa em
território estrangeiro é tentar descobrir o que esse mesmo território
estrangeiro entende por “melhor pessoa”. Enquanto que em Portugal basta muitas
vezes entrar num reality show,
pendurar uma bandeira na janela, deixar crescer o bigode e aparar o cabelo para
se ser melhor pessoa, noutros países pode haver quem dê importância a coisas
triviais como o esforço, o trabalho, a dedicação e a pouca probabilidade de se
ser corrupto. Ninguém sabe, e assim torna-se muito complicado ser-se melhor
pessoa;
- Viajar: Tirando a viagem migratória, haverão muito poucas
oportunidades de se repetir a brincadeira. Afinal, há que trabalhar;
- Aprender uma nova língua: Esta é, talvez, a resolução de mais
fácil concretização. Basta saber qual a língua mais falada no país de
acolhimento.
Existem muitos outros clichés de
ano novo, e se repararem bem todos eles dependem de sabermos onde vamos estar
para os concretizarmos. E a menos que a vossa principal resolução para o
próximo ano seja viver uma vida de relativa miséria, então talvez não o passem
em Portugal.
Um bom ano para todos os portugueses,
onde quer que estejam!
Abreijo.