segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Fantasma do Réveillon Passado.

Para o próximo ano, a minha principal resolução traduz-se numa espécie de pedido: Deixem-me ficar no meu país! Se faz favor, isto é, que ainda não me tiraram a boa educação.
Esta é a minha primeira e única resolução até ao momento, porque se ela não se cumprir então tudo o resto é uma incógnita. Nunca precisei de fazer este pedido, mas agora que estou prestes a (tentar) entrar no mercado de trabalho, acho que devo começar a definir prioridades.
Façamos uma pequena comparação: Antigamente (há um ano, mais coisa, menos coisa), as minhas resoluções baseavam-se naquelas coisas genéricas de ir mais vezes ao ginásio, passar mais tempo com a família, ser melhor pessoa, viajar mais e aprender novas línguas. Ora, se não souber em que país vou estar, então não consigo definir nada disto. Vejamos:

- Ginásio: É difícil arranjar tempo para ir ao ginásio quando emigramos. Uma pessoa começa a ocupar-se com coisas triviais (do género transportar toda uma vida para um território desconhecido) que acaba por se desviar um bocado daquilo que é realmente importante. Para além disso, decorar o nome de todas as máquinas e exercícios numa nova língua não deve ser nada fácil;

- Família: Normalmente, os jovens que vão embora do país ainda não constituíram família. É uma nova mania que por aí anda, só porque não têm perspectivas de futuro e tal. Mas continuam a ter familiares, pessoas que os viram crescer e que cresceram com eles. O problema é que esses familiares – de forma bastante egoísta, diga-se – preferem não acompanhar o jovem na sua viagem a não-sei-onde para fazer não-sei-o-quê, só porque já têm a sua vida orientada. Escolhem a monotonia da sua vida decente em detrimento da constante aventura de uma vida de caca. Não se percebe. E é por tudo isto que também se torna difícil cumprir a resolução de se passar mais tempo com a família;

- Ser melhor pessoa: O mais difícil de se ser melhor pessoa em território estrangeiro é tentar descobrir o que esse mesmo território estrangeiro entende por “melhor pessoa”. Enquanto que em Portugal basta muitas vezes entrar num reality show, pendurar uma bandeira na janela, deixar crescer o bigode e aparar o cabelo para se ser melhor pessoa, noutros países pode haver quem dê importância a coisas triviais como o esforço, o trabalho, a dedicação e a pouca probabilidade de se ser corrupto. Ninguém sabe, e assim torna-se muito complicado ser-se melhor pessoa;

- Viajar: Tirando a viagem migratória, haverão muito poucas oportunidades de se repetir a brincadeira. Afinal, há que trabalhar;

- Aprender uma nova língua: Esta é, talvez, a resolução de mais fácil concretização. Basta saber qual a língua mais falada no país de acolhimento.

Existem muitos outros clichés de ano novo, e se repararem bem todos eles dependem de sabermos onde vamos estar para os concretizarmos. E a menos que a vossa principal resolução para o próximo ano seja viver uma vida de relativa miséria, então talvez não o passem em Portugal.
Um bom ano para todos os portugueses, onde quer que estejam!

Abreijo.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Ilusionismo vegetal.

Tumba, olhem eu aqui! Viram este truque? E que tal, conseguem recriar? Não recriem, que estragam a magia da magia. E as pessoas até gostam de magia. Pronto, magia.
Por falar em magia, sabem quem é que é bastante bom nisso? Empregados de mesa. Pelo menos os empregados de mesa que eu encontro são, regra geral, bastante hábeis em ilusionismo. O seu único defeito é fazerem sempre o mesmo truque, que consiste no seguinte: Eu sento-me, escolho e peço o prato, que quase sempre vem com salada (vá-se lá saber porquê). No entanto, esquisito como sou, faço sempre questão de pedir sem salada, porque a vida de coelho nunca me seduziu especialmente. E é aqui que acontece a verdadeira magia, reparem nisto: Apesar de eu ter pedido sem, chega-me à mesa um prato repleto de tudo aquilo que eu já estava à espera e com um acréscimo de… salada. Ou seja, onde não devia estar nada, está agora uma amálgama de folhagem verde ali no rebordo do prato, bonita e ostentosa em termos de cores mas que, no que toca ao sabor, apenas me faz lembrar relva cortada num dia abafado de Verão. Sim, eu já provei relva cortada. Mas, curiosamente, num dia de Inverno, porque prefiro comida fria.
Este acaba por ser um truque simples, mas que se for bem feito até dá bastante espectáculo. Principalmente se o cliente em questão for algo dado para o espalhafato. Eu não, que sou um menino, mas outros talvez. Contudo, apesar de ser um truque simples, não se deve cair no erro de pensar que é de fácil concretização. É necessário esforço e dedicação para o aperfeiçoar, sendo que só os empregados de mesa mais distraídos, e com um cheirinho a incompetência, o conseguem dominar totalmente.
O único senão, tirando o facto de eu ficar claramente irritado – algo que pelos vistos não conta muito, desde que pague –, é o facto de se proceder a uma trucidação completamente desnecessária de inocentes vegetais. Eu não sou contra os vegetais, juro que não sou! Eu sei que eles são saudáveis, que são amigos do organismo e que, com jeitinho, ainda são capazes de dar uma ajuda ali na cozinha. Apenas não gosto de os comer, pronto. Mas respeito quem goste (embora não deixe de achar essa gente estranha). Se querem mesmo contribuir para o genocídio de várias espécies vegetais, então que o façam em prol de alguém que lhes dê verdadeiro valor. Isto porque naqueles restaurantes decentes onde não se tem por hábito reciclar comida (se é que ainda existe algum), a salada acaba por ir intacta para o lixo, o que é um desperdício para quem realmente come vegetais e para quem apenas gosta de os apreciar. Sim, existem pessoas dessas. Eu tenho um primo que passava tardes inteiras a brincar com bocados de aipo, sem nunca lhes dar uma única trinca. E babava-se, coitado… Abraço, Miguel!
Ora, meus bichinhos: Comecem a prestar mais atenção à frase "Sem salada, se faz favor!", porque acaba por ser mais importante para mim do que qualquer outra. Não me importo que me troquem as carnes, nem eu nem os animais em questão nos chateamos. E até me podem trocar o vinho, que eu bebo qualquer um. Agora, salada? Por favor, salada é que não…

Abreijo.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Vestir e animar.

Não, não é déjà vu. Já aqui reclamei antes com os desenhos animados para crianças (ou para alguns adultos especialmente saudosos), é verdade, mas em relação a outro assunto completamente distinto. Esta dissertação será muito mais superficial, dado que se baseará apenas em: Roupa. Sim, eu sei que o Mundo está ao contrário, que o país está armado em parvo e que a nível internacional isto está tudo um forrobodó, mas hão-de ter paciência: Hoje falamos em roupas de desenhos animados. Quem não gostar pode muito bem ir "instruir-se", ou lá como se chama aquilo.
Então, vamos à festa: Gostava que alguém me explicasse, devagarinho e com recurso a figuras geométricas, por que razão os desenhos animados usam sempre o raio da mesma roupa! Uma das coisas que mais aprecio nos desenhos animados é o facto de a maior parte deles tentar reproduzir, mais ou menos fielmente, a realidade. Ora, eu não sei em que tipo de realidade é que os animadores vivem. Na realidade deles, toda a gente usa a mesma roupa durante vários anos, o equivalente, por exemplo, a uma boa quantidade de temporadas televisivas. Significa isto que os programas de animação mais antigos, ou os livros de banda-desenhada mais rodados, devem ser encarados não só com respeito e admiração, mas também com repulsa, pois as personagens já nem conseguem descolar a roupa do corpo após tanto uso.
Este desleixo por parte dos criadores de desenhos animados pode ser explicado de duas formas, que vou passar a expor de forma até bastante bela: Ou estes indivíduos não têm qualquer tempo livre para adaptar as suas personagens às novas tendências da moda, ou então têm tanto tempo em mãos que acaba por se instalar aquela preguiça característica e desistem de fazer… coisas. Viram? Aconteceu-me agora mesmo. Mas, espera… Poderá isto também ser uma acutilante crítica à escassez de bens e à diminuição do poder de compra que assola a nossa sociedade contemporânea? Ou será apenas javardice? Dúvidas que persistem.
Mas há um aspecto em que temos que dar valor aos produtos de animação, de uma forma geral: É verdade que as personagens usam a mesma roupa durante a vida toda, mas conseguem mantê-la sempre impecável! Eu, por exemplo, sou o completo oposto: Não consigo passar um dia sem um pingo de molho nas calças. Mesmo quando como pratos que não incluam molho, de todo. Não sei, é uma mania que eu tenho. E nisso eu até admiro as personagens de animação, significa que são daquele tipo de seres que dão bastante valor ao pouco que têm (no caso, apenas uma t-shirt e um par de calças; ou de saias, dependendo da orientação). Nesse sentido, poderíamos aprender bastante com os desenhos animados: Em vez de serem eles a tentar imitar-nos, às vezes poderíamos tentar nós ser como eles. Principalmente no que diz respeito ao civismo, algo que já começa a faltar e, parecendo que não, até dá jeito.

Abreijo.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Sentidos cruzados.

Vamos lá ver se nos entendemos de uma vez por todas, que já estou farto de piadas e insinuações de mau gosto: Eu cruzo as minhas pernas como bem me apetecer! Ponto assente. Posto isto, vamos analisar a fundo esta questão. Se não quiserem analisar não analisem, eu não me importo de analisar sozinho. Encostem-se só no sofá e apreciem tamanha erudição analítica.
A igualdade entre géneros tem dois sentidos, um para cada género. Está giro, e assim ninguém fica de fora. Significa isto que tanto um homem como uma mulher têm a possibilidade de conduzir um carro, embora não devam os dois conduzir o mesmo carro ao mesmo tempo. É chato para os transeuntes. Mais, se um homem der um murro numa mulher ela tem todo o direito de retaliar com um pontapé na zona Sul do agressor. E vice-versa, apesar da zona Sul das senhoras ser um bocado mais clivada. Não, não sou a favor da ideia de que os homens devem comer e calar. Para isso já basta ter que acompanhá-las ao cinema.
É justamente esta igualdade de géneros que muita gente quer ver deturpada, moldada para os seus propósitos pessoais e egoístas. Não sou machista nem feminista, não sou pela superioridade do pénis nem pela imposição da vagina. Sou apenas um pénis entre muitos outros. Frase estranha, mas verdadeira. Daí que não concorde com a actual imposição da sociedade acerca do cruzar de pernas.
Algures na história da humanidade houve um ser iluminado, e relativamente aventureiro na zona dos membros inferiores, que se lembrou de pôr as suas próprias pernas uma por cima da outra numa posição relativamente estranha. E descansou. No fundo, é isto que o traçar de pernas faz: Permite-nos descansá-las. Ora, eu não consigo descansar as pernas quando me começam a encher os ouvidos com normas e regras justamente de como descansar as pernas. Algo que devia ser relaxante, a mim deixa-me perplexo. Logo a mim, que não aprecio nada a perplexidade.
Então a história é a seguinte, existem duas categorias de cruzamento de pernas. Que eu tenha conhecimento. Num Mundo ideal, qualquer uma destas categorias poderia ser adoptada por qualquer pessoa, independentemente de género, raça, credo ou tamanho de sapato. Mas na sociedade burocrática e normativa em que vivemos as pessoas insistem em atribuir a cada género um cruzamento de pernas distinto. Assim sendo, um homem nunca deverá cruzar as pernas de maneira a que as partes interiores das coxas se encontrem, ao passo que uma mulher não deve nunca cruzar as pernas de maneira a que uma delas fique a fazer ponte sobre a outra. E esta ideia até poderia fazer sentido no caso de todos nós sermos pessoas com fraco talento para a arrumação. Mas não somos. Alguns de nós, eu incluído, ainda conseguimos arrumar um pénis entre as nossas próprias pernas, que diabo! Mais uma vez: Frase estranha, mas verdadeira.
Da mesma forma que me criticam quando cruzo as pernas "coxa com coxa", também eu poderia criticar os homens que as cruzam "em ponte" e afirmar que só o fazem para se exibir. Mas não o faço, porque até sou um rapaz porreiro e com alguma classe latente. Escusam portanto de zombar, porque não se trata de uma questão de ter mais ou menos volume lá em baixo. Trata-se, isso sim, de saber manusear o material. E isso só um homem a sério consegue.
Frases estranhas, mas verdadeiras.


Abreijo.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Candidíases familiares.

O meu primo começou a namorar e eu desconfiei do meu primo. O meu primo namorou-se de novo e, mesmo assim, continuei a desconfiar do meu primo. Até que o meu primo se casou, e eu não deixei de desconfiar do meu primo. Apesar de tudo isto se ter passado na companhia de mulheres, ainda hoje desconfio do meu primo. E porquê? Porque o meu primo nasceu de cesariana.
Sim, desconfio que o meu primo seja homossexual. E antes que comecem com coisas: Não, não sou de todo contra. Encaro a homossexualidade com a mesma naturalidade com que encaro uma tigela de sopa num dia friorento e invernoso. E encaro o meu primo com a mesma naturalidade com que se encara um primo. Pronto. Mas não consigo sacudir a ideia de que ele é homossexual. E não consigo também sacudir a realização do quanto é arriscado utilizar o verbo "sacudir" num texto que se refere à sexualidade, seja ela de que tipo for.
Existem muitas concepções comuns e recorrentes através das quais o meu primo poderia tentar argumentar a favor do nascimento por cesariana e, por acréscimo, a favor da sua masculinidade: Ou porque estava de lado na altura do parto, ou porque tinha o cordão umbilical perigosamente enlaçado no pescoço, ou porque estava a gostar do quentinho da placenta e não queria sair, ou mesmo porque a progenitora tinha tido o desejo de comer uma consola durante os primeiros tempos de gravidez e ele queria chegar ao último nível do jogo antes de sair para o Mundo.
Mas não me venham com explicações vãs, não é de todo comum que um heterossexual rejeite uma vagina desde logo à nascença. O facto de o meu primo ter visto uma vagina e pensado: "Nah, vou à volta que é melhor!" nunca me caiu bem. É que não havia mais nenhuma saída para além daquela. E convenientemente colocada mesmo ali ao lado! Seria o mesmo que alguém recusar-se a sair de casa pela porta da sala e abrir uma nova janela na cozinha. Não faz nenhum sentido do ponto de vista arquitectural.
Acreditem que já tentei várias vezes clarificar o caso: Um dia perguntei-lhe directamente se era homossexual enquanto ele jogava râguebi, emborcava uma bebida energética e piscava o olho a uma cheerleader. Ele respondeu-me com um murro na boca. Mas eu não desisti da minha pesquisa, e fui dar com ele depois do jogo nos balneários a chicotear os colegas com uma toalha embebida em suor. O que estava eu a fazer nesses balneários e como tomei conhecimento de que a toalha estava suada já não vos diz respeito.
Um dia hei-de perguntar à minha tia qual o nível de interesse que o meu primo tinha pelas suas mamas quando era pequeno. Mas pergunto quando ele estiver no râguebi, porque tenho medo de levar outro murro na boca. Quer dele, quer do meu tio.

Abreijo.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Reconhecimento espacial.

Sou egocêntrico, admito. Sou egocêntrico, arrogante, presunçoso, descarado, insolente, convencido, altivo e soberbo. E porquê? Porque sou humano. Um pouco menos da cintura para baixo, mas sou.
Partilho a ideia de que a natureza de uma pessoa se define através da forma como retrata os extraterrestres. Pode parecer uma filosofia de vida estranha, e ainda bem, porque se fosse normal não era minha. Mas esta ideia, tal como a generalidade das minhas ideias, não deixa de ter um fundo de verdade. Ora expliquem-me lá, por carta ou como quiserem: Porque é que os seres humanos têm a mania de representar os extraterrestres de acordo com a sua imagem? Ou seja, porque é que, regra geral, os extraterrestres têm que ser bípedes, ter o mesmo número de membros que nós, uma boca para comunicar e um pescoço para apertar?
Até perceberia esta insistência caso fossemos os únicos seres vivos no planeta, mas até a própria diversidade morfológica dos seres terráqueos mostra que um ser vivo pode ter inúmeras formas. De facto, um ser vivo pode ter quatro ou doze patas, cinco ou mais olhos ou nove ou vinte dedos. Também pode ter uma corcunda, pode ter folhagem, pode ser do tamanho de um parafuso ou ter o órgão reprodutor na testa. O que imagino que seja chato quando se tenta ter uma conversa séria com alguém…
Mas não, claro que nós não conseguimos aceitar isso! O ser extraterrestre tem que ter sido feito à nossa semelhança, quais deuses do Universo. E talvez o problema resida aí mesmo, talvez a ideia de um ser todo-poderoso nos fazer à sua imagem nos leve a acreditar que também fez os seres de outros planetas de igual modo. Quer isto dizer que tudo o que não for semelhante ao ser humano não é, com certeza, obra dessa entidade. Resta saber, então, quem criou o meu cão Bolinhas. Eu gosto bastante do Bolinhas, mas depois de saber que ele não foi criado pelo todo-poderoso já nem sei como encará-lo. Antes pensava que o facto de ele lamber os testículos fazia parte da ordem normal das coisas, que era vontade divina. Mas agora pergunto-me se ele não o fará apenas por puro lazer, o sacana!
E nem me vou alongar muito sobre a nossa concepção das viaturas extraterrestres: Há alguma razão em particular para estarmos tão certos de que os seres de outros planetas se deslocam em naves com forma de frisbee? Mas somos homens do século XXI ou somos hippies dos anos 70? Será que toda a nossa realidade não passa do fruto da imaginação de um ganzado?
Acredito verdadeiramente que um dia vamos conhecer extraterrestres. E nesse dia, depois de trocarem galhardetes e de partilharem pratos típicos de ambos os planetas, as duas espécies vão chegar a casa e comentar com a sua respectiva família o quão fantástico foi conhecer aqueles seres estranhos e desengonçados, diferentes de tudo o que alguma vez tinham visto.

Abreijo.

domingo, 15 de setembro de 2013

Informalidades.

Antigamente vivia-se sem roupa. Mas justificava-se, porque na altura todos éramos alcatifados, adornados por uma tapeçaria de pêlos que embelezava o nosso corpo e desviava as atenções dos nossos largos e disformes crânios. Para além disso, estávamos bastante quentinhos.
Depois passou-nos, os nossos folículos pilosos abandonaram-nos e passamos a ter que servir-nos dos folículos pilosos das ovelhas para nos taparmos. E dizem vocês: "Folículo piloso és tu, oh palhaço!". Mas isso eu não vos admito! Se me querem chamar pintelho, ao menos usem o vernáculo. Eu até nem tenho nada contra roupa, antes pelo contrário... Só contra cuecas, essas apertam-me um bocado nas zonas baixas. Mas em geral até concordo que tapemos os tecidos orgânicos com que viemos ao Mundo, não só por causa do frio mas também para esconder o nosso entusiasmo pelos tecidos orgânicos dos outros. Mas de todas as indumentárias existentes, nunca hei-de entender o porquê do encanto em amarrar-se um bocado de tecido ao pescoço. Refiro-me, claramente, caro leitor mais vagaroso em matéria de raciocínio, à gravata.
Mais uma vez, não vos quero induzir em erro: Sou bastante fã de um bom fato. De estilo italiano, americano, inglês, roto, remendado, às bolinhas ou virado do avesso, um par de calças e um casaco dão sempre jeito. O problema é quando tenho que acrescentar ao casaco e às calças um nó no pescoço que passa o dia a balançar-me no tronco. E que me aponta para os genitais, como se fosse preciso esclarecer a alguém que eles lá estão!
Há quem diga que a gravata serve para esconder os inestéticos botões das camisas com que o fato se faz acompanhar. Mesmo que tal seja verdade, significa isto que, até hoje, a melhor solução que o ser humano encontrou para tapar simples botões foi um pedaço de tecido a gingar. Estamos a falar da mesma criatura que descobriu como fazer carros andar através de dinossauros mortos, e que até já inventou a Bimby! Agora comparem...
Sabem quem mais costuma usar acessórios ao pescoço? Os cães e os gatos. E vejam o quão domesticados eles são... No fundo, usar gravata é levar demasiado à letra a imagem do escravo trabalhador do século XVIII, com a corda ao pescoço. Ou a do escravo trabalhador endividado do século XXI, também com a corda ao pescoço. A diferença é que enquanto um se quer libertar da corda, o outro pretende fazer uso da corda para se libertar. De vez.
Até perceberia o uso de gravatas em algumas situações excepcionais, como na prática do bondage ou no cultivo da nobre arte do sadomasoquismo... Mas no dia-a-dia, e no próprio local de trabalho? A menos que tenhamos uma colega de secretária também disposta a qualquer tipo de cultivo, penso que não se justifica.

Abreijo.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Detector de metais.

Tal como muitos antes de mim, também eu tenho um sonho. Sonho em um dia encontrar uma boa rapariga (a palavra "boa" é imperativa), arranjar um tecto para viver, que não o tejadilho do carro, e comprar um carro para conduzir. O tejadilho também é facultativo. Pode ser um descapotável, que eu não pio.
Mas mais do que isso, pretendo começar uma vida sem ser constantemente barrado à entrada de um avião. E isto porquê, questionam vocês sem necessidade porque já sabem que eu nunca vos deixaria ficar sem uma explicação. Porque o ser humano, em geral, e os casais, em particular, têm a mania de festejar tudo com anéis.
Ora pensem, mas devagar que temos tempo: Há o anel de namoro, o anel de noivado, a aliança de casamento, o anel das bodas de prata, o anel das bodas de ouro, o anel das bodas de platina e o das bodas de latão com chumbo. Significa isto que quanto mais duradoura a relação, menos conseguimos dobrar as falanges. E eu adoro dobrar falanges... Dobro-as todos os dias, várias vezes ao dia. O problema arterial dos idosos não se deverá, portanto, às artroses nem às artrites, mas sim à quantidade de anéis que o casal açambarcou ao longo da sua vida conjugal. Mas não deixa de ser fofinho: Quanto mais os dedos se retorcerem, mais o casal se ama.
E eu pergunto-me, até porque gosto de dialogar comigo mesmo: Quantas mais ocasiões conjugais poderiam justificar o uso de anéis? Talvez se devesse comprar um anel por cada dia que acordassem ao lado um do outro. Assim era mais fácil descobrir os menos fiéis, seriam aqueles com maior elasticidade nos dedos das mãos. Por usarem menor quantidade de anéis e não só... Os mais fiéis também seriam facilmente identificados. Com tantas jóias de prémio passavam a assemelhar-se a chulos dos anos 80, o que acaba por ir um bocado contra o conceito de fidelidade. Ou rappers dos anos presentes, o que também acaba por ir um bocado contra o conceito de fidelidade. E de bom senso, até. Para além disso, o chocalhar dos metais interfere com os instrumentos de gravação, o que pode vir a ser chato mas, ao mesmo tempo, acaba por dar ritmo à faixa.
Só vejo duas situações em que o uso exagerado de berloques nos dedos possa vir a ser útil: No caso de peregrinações e na eventualidade de avaria na viatura. Aí sim, podemos substituir o colete reflector por uma mão cheia de anéis, desde que tomemos as devidas providências para não encandear os restantes utentes da rodovia. Podemos deixar de lavar as mãos, por exemplo... Ou comprar anéis com três níveis de intensidade, mínimo, médio e máximo. Os anéis de recuo já são mais caros, não se justifica.

Abreijo.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Medidas drásticas.

Temos que falar. Tenho andado a adiar esta conversa faz algum tempo, mas cheguei a um ponto em que já não me consigo sentir suficientemente confortável ao pé de vocês. O problema não está em vós, mas em mim. Estou a tentar encontrar-me a mim próprio a nível emocional, porque me perdi um bocadinho naquela rotunda ali atrás e acabei por me meter num beco duvidoso. Não estou a acabar convosco, estou só a tentar dar um tempo para que a nossa relação possa respirar. Até porque é notório que nesta altura das nossas vidas queremos coisas diferentes: Vocês querem medir coisas com os membros, eu nem por isso.
Sim, aquilo que mais me fez arrefecer no que ao nosso relacionamento diz respeito foi esse vosso hábito tão rudimentar e caótico de medição de coisas. Porque, pensemos: Há uma boa razão para se dizer que os homens não se medem aos palmos. E é porque, realmente, medir aos palmos acaba por ser muito relativo. Quem quer medir aos palmos deve primeiro informar-se acerca de que tipo de mão estamos a falar. São as de uma criança ou de um adulto? E se são de adulto, de que idade? Todos sabemos que a certa altura começamos a mirrar, até das mãos. Mais, é mão de homem ou de mulher? Uma coisa é a palma do meu pai, outra é a da minha mãe. São bastante diferentes, acreditem. Já levei com as duas a uma velocidade considerável.
Depois, quando não medem com a mão toda, medem só com os dedos. Uma pessoa de quem se diga que tem dois dedos de testa não se deve andar a armar em fanfarrona só por causa disso. Pura e simplesmente porque isso não quer dizer nada. Mais uma vez: De que tipo de dedos estamos a falar, dos dedos espessos de um camionista de 54 anos ou das garras anoréticas de uma adolescente de 14? Essa adolescente, rói as unhas quando está nervosa ou nem isso consegue ingerir? E como é feita essa medição, com os dedos na horizontal ou na vertical? Se for na vertical, deve haver por aí muita gente com testas assustadoramente grandes. Mais, estaremos a referir-nos aos dois dedos mindinhos ou aos dois indicadores, que também divergem em tamanho e espessura? Até os próprios polegares possuem um sistema de medição só seu, as polegadas. Odeio dedos individualistas...
O facto é que no cerne da questão poderão estar, como quase sempre, os norte-americanos. Não queria criticar em demasia a América, até porque quem o faz não costuma dar-se particularmente bem. Mas o sistema de "pés" ainda hoje teimosamente mantido pelos norte-americanos, quando o resto do Mundo claramente já deixou para trás esse antigo brinquedo, acaba por servir de incentivo para que se continue com este hábito de usar os membros para se fazer medições. Mas como seria de esperar, e mais uma vez, todo este sistema acaba por colapsar perante o minucioso escrutínio que só alguém tão lesado mentalmente como eu tem capacidades de efectuar. Isto porque os pés americanos (o sistema de medição, não o próprio par de pés dos coitados) levantam, mais uma vez, uma série de perguntas: Qual o número do pé em termos de calçado? É um 35 ou um 42? Um deles será claramente maior do que o outro, acabando por não haver rigor na medição. E as unhas, são cortadas e cuidadas regularmente ou são daquelas compridas e amareladas, que chegam a fazer túnel? É que também isso tem influência no tamanho aparente do pé.
Portanto, não chorem por a nossa relação estar, de momento, em suspenso. Tratem apenas de tentar reinserir lentamente no vosso quotidiano o centímetro, o metro, o quilómetro e até mesmo a légua, e pode ser que a nossa linda história não tenha que acabar assim tão precocemente. Façam lá um esforço, pelo amor de nós!

Abreijo.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Professores inacabados.

Que me perdoem os que tive até hoje, mas há uma certa categoria de profissionais que simplesmente não consigo tolerar. Esses profissionais são, como não poderia deixar de ser, os professores. Até porque diz no título, e era mau estar agora a contrariar-me a mim próprio. Eu nunca faria isso! Quer dizer, talvez fizesse... Ou não, não sei.
Mas atenção que não são todos os professores, até porque respeito bastante o enorme esforço de pessoas que têm como função educar bestas como eu. Para além disso, não quero ter os sindicatos à perna. Os professores que eu tenho sérias dificuldades em aceitar como bons profissionais são aqueles mais preguiçosos, que desistem de fazer o seu trabalho a meio. Poderão reconhecer facilmente este tipo de profissionais da educação: São aqueles que obrigam os alunos a acabarem-lhes as palavras. Sim, existe um tipo de professores que acha que o seu dever não é ensinar, mas sim treinar as crianças para uma eventual participação futura em concursos televisivos de adivinhar palavras.
A aula dá-se da seguinte forma: O professor entra e cumprimenta os alunos. Logo aí, já gastou 15% da sua energia. Depois, tira o livro da pasta e indica aos alunos a página do início de matéria. Mais 5% para o galheiro. É então que se começa a mentalizar de que vai ter que se levantar e escrever no quadro. Gasta mais 20% de energia, só de pensar. O acto de levantar-se e realmente escrever no quadro desgastam, respectivamente, 30% e 60% da sua energia. E reparem que já vamos num total de 130%, pelo que se conclui que ou eles se esforçam muito para além das suas forças, ou eu sou mesmo bastante fraquinho a matemática. Ou então fui mal ensinado.
É, portanto, inevitável que, quando chegar a altura de perguntar aos alunos "Como se chama a figura geométrica que desenhei no quadro?", só lhe reste energia para dar a meia-dica: "É um qua..." E pronto, fica a bola no campo dos alunos. E a estes apetece dizer: "QUADRADO! Como você, sua besta!" Mas não dizem, senão têm negativa. A verdade é que, da palavra quadrado, por exemplo, a parte mais difícil é mesmo o "... drado", que ainda exige algum trabalho de língua.
Mas talvez mais incómodo do que isso é o silêncio constrangedor que fica na sala, perante a pergunta meio-respondida do professor. Porque os alunos até podem saber a resposta na totalidade, mas sentem-se a fazer papel de parvos ao ter que completar a frase do professor. Isso não é fixe, nem radical, nem baril! Okay, "stôr"?
Que direito têm, então, estes profissionais de exigir um salário completo? Porque é que não recebem apenas um "salá...", com um valor a metade do normal? Se nem se dão ao trabalho de tentar completar as suas próprias frases, porque razão lhes temos que de dar boas condições de vida, quando lhes podemos proporcionar apenas "... de vida" e deixar-lhes angariar o resto?

Abreijo.

sábado, 13 de julho de 2013

Tecelagem e estética.

Indo muito para além do argumento aceitável acerca da sua complexidade, o ser humano alcança muitas vezes a fronteira da estupidez. E entra à patrão, sem quaisquer controles alfandegários. Sim, eu sei que também sou um ser humano e que, por extensão, serei também estúpido. Mas não me importo porque, no meu caso, é por escolha própria. A vida de estúpido sempre me seduziu, desde pequeno.
Ora, e que tipo de comportamento estranho é que denunciarei desta vez, perguntam vocês nesse vosso tipo de voz anasalada? Ah, sei lá... Talvez aquela mania de colocar bocados rectangulares de tecido no chão para lá roçar os imundos pés, por exemplo! Sim, vamos discutir tapetes. Se têm problemas com isso, podem substituir a leitura deste texto pela ingestão de uma sopinha de leguminosas. É bastante mais saudável.
Há poucas diferenças entre uma casa adornada com imensos tapetes e o meu quarto no final da semana. Em ambos os casos, há muita roupa espalhada pelo chão. Mas, por alguma razão, é perfeitamente aceitável andar em cima de tapetes, enquanto que se puser os pés em cima da camisa que usei ontem para o casamento da minha prima em segundo grau já sou só porco. É que é em segundo grau, só! Se fosse em primeiro, até percebia a indignação.
É que, pensem: O principal propósito dos tapetes, para além da limpeza de pés, é o embelezamento. Alguns servem para voar, mas só no imaginário de alguns árabes mais frequentes no uso de "ervas medicinais". Ou seja, o que se propõe é espalhar roupa pelo chão para a casa ficar mais bonita. É o equivalente a untar propositadamente o corpo com lama, algo que se acontecer involuntariamente é considerado nojento, para embelezar a pele. Não se percebe...
E o mesmo também se aplica a carpetes. A queixa mais comum por parte de pessoas que forram o chão da casa a carpete está relacionada com a dificuldade de limpeza da mesma. A minha queixa em relação a essas pessoas é que ainda estejam presas na primeira metade século XX, porque já ninguém usa carpete. Usar carpete pouco mais é do que agasalhar o chão. Não passa de uma solução rudimentar para abafar os passos quando, a meio da noite, nos apetece ir para a sala de estar ver pornografia da boa. É aí que está a televisão com ecrã maior. E, como todos sabem, o tamanho importa. Quer em relação à pornografia, quer em relação ao ecrã onde a visualizamos.
Para além disso, acho os tapetes de entrada uma abominação em relação à ética e aos bons costumes. O que aquilo implica, basicamente, é que dispensemos algum do dinheiro que nos custou a ganhar para comprar um bocado de tecido onde as nossas visitas possam depositar toda a imundice que trouxeram da rua através dos sapatos. "Olha, queria entrar mas tenho os sapatos cheios de entranhas de javali, que fui hoje à caça." Não faz mal, esfrega aí no tapete que me custou 50€, dinheiro que podia perfeitamente ter servido para alimentar a minha família que está à míngua há quase três meses.
Vou fazer uma experiência: Vou colocar à porta de casa uma t-shirt com "Bem-vindo" estampado. Quero ver quantas pessoas lhe vão esfregar os pés.

Abreijo.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Puro, duro e cru.

Eu chateio-me bastante com as pessoas. É raro elas chatearem-se comigo, o mais comum é ser eu a chatear-me. As pessoas já me ligam pouco.
Uma das minhas chatices costumeiras com pessoas prende-se com a carne. Não a minha nem a delas, mas a carne no geral. Há pessoas que gostam de comer carne praticamente crua. Tão crua que, ao espetar-lhe o garfo, corremos o risco de perfurar um vaso sanguíneo do animal que afinal está só atordoado no prato e que começa a esguichar sangue para todos os cantos da sala. E eu questiono-me acerca das verdadeiras intenções desta gente: Será que o meu colega de trabalho vai comigo a bares apenas para me deixar a marinar em vinha d'alhos? Terá o meu vizinho do lado a intenção de me devorar com os raminhos de salsa que me vem pedir à porta semanalmente? Custa viver assim, na dúvida...
Por alguma razão se descobriu o fogo, caro leitor visado. Não foi só pelo efeito visual, que de facto é bastante belo, mas também para nos certificarmos de que o animal em cima da mesa está realmente morto e já não dá coices. Também para propagar um bom cheiro a chicha pela caverna fria e sem-sabor de outros tempos. Bifes mal passados comiam os homens das cavernas, e mudaram completamente de hábitos depois de um deles, especialmente iluminado, ter descoberto como fazer uma fogueira só com dois pauzinhos! Podemos inquirir-nos acerca do que estaria o indivíduo a fazer roçando dois pauzinhos dentro de uma caverna, mas vou-vos poupar a isso. Afinal, o tema é comida.
É que, agora, o chique é ser-se selvagem. Quando vejo um leão com a boca besuntada de sangue e com um naco de carne bastante rosada sob as patas dianteiras já não penso tratar-se de um animal selvagem: É um gato gourmet. Quando vejo um urso pardo caçar peixes no rio e levá-los directamente à boca, já não o considero um animal perigoso e implacável: É um mestre de culinária, verdadeiramente requintado. E sim, o sushi está também inserido nesta brincadeira! Se quisesse comer peixe cru, virava golfinho e ia fazer truques para o Zoomarine.
Concluimos que ser chefe de culinária acaba por já não ser tão difícil como era antes. Basta apontar para uma vaca e dizer: "Prova, é o meu novo prato. Está bastante mal cozinhado, mas faz parte da magia do prato." Ao que o provador responde: "Mas que prato, se a vaca ainda está no campo a pastar e a afastar moscas com o rabo?" Nem é preciso ter nenhum tipo de cuidado especial com o empratamento, basta que a vaca não esteja coberta do seu próprio estrume. O que, com uma boa mangueirada estratégica, é relativamente fácil de conseguir.
Assim também eu sou cozinheiro!

Abreijo.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Colecção pequeno/médio.

Há quem diga que o melhor do Mundo são as crianças. Há quem diga também que o melhor do Mundo é comer um gelado numa esplanada mirando o vasto areal, onde casais desinibidos atiram a precaução ao mar e decidem estragar as suas férias gozando de uma alergia nas zonas genitais devido à areia que se lhes entranha nas partes baixas.
Eu sou mais adepto da segunda hipótese. Até porque a primeira, apesar de não estar errada, está incompleta. Eu também gosto de crianças (e alerto aqui para o simples verbo "gosto" para que não haja confusões), mas há que encarar com seriedade as suas limitações. E nem falo nas suas limitações motoras ou verbais, características da idade. Até acho piada a uma criança que não consiga fazer um quatro com as pernas quando está bêbada. O que mais me aflige nas crianças é o seguinte: Já viram o dinheiro que se gasta ao longo da vida em roupas para criança? São rolos de dinheiro que gastamos com estes pequenos seres. E não falo apenas de um pequeno par de calças ou de uma t-shirt. Gasta-se sempre muito mais do que isso.
Do boné ao sapato, passando pela roupa interior da fase pós-fralda, são tudo roupas que já sabemos que irão deixar de servir num futuro bastante próximo. Até pode ser um bom investimento, caso queiramos ter um número de filhos idêntico ao de uma pequena maternidade. Mas, mesmo assim, duvido muito que o Pedrinho queira vestir a mesma saia que em tempos vestiu a Leonor, que agora é prostituta e já nem saia veste.
Comprar roupa para crianças é como investir em determinada tecnologia, hoje em dia: Já sabemos que dali a uns meses teremos que comprar outra mais recente. A diferença é que, enquanto os aparelhos tecnológicos vão ficando cada vez mais pequenos, a roupa para as crianças tem que ser cada vez maior. E de marca, que os meninos começam eventualmente a tomar-lhe o gosto!
"Qual é a tua solução então, espertinho?!", perguntam vocês com a boca ainda cheia de batatas fritas. Engulam isso, é feio. Visto que a eliminação das próprias crianças seria uma medida demasiado drástica e, ao que parece, até bastante imoral , vejo-me na obrigação de propor uma política do desenrasque: Porque não enrolar a criança num lençol e mostrar-lhe desde cedo como viviam os antigos gregos? Ou envolvê-la num cortinado assim mais extravagante e ensinar-lhe os modos de conduta do antigo império otomano? O que eu não faço pela cultura...
É verdade sim senhor, podem sempre dar as roupas aos mais necessitados. Até é um acto nobre. Resta saber se os próprios miúdos necessitados querem realmente vestir a mesma roupa que em tempos vestiu a Leonor prostituta, que trabalha agora lá na esquina e lhes fornece maços de tabaco fanados aos clientes.
Em último caso, parem de ter filhos. É simples, basta não se roçarem na praia enquanto tento desfrutar do meu gelado.

Abreijo.

domingo, 23 de junho de 2013

Puxões e empurrões.

Deixemo-nos de assuntos triviais que acrescentam pouco, deixemo-nos de minudências que não interessam a ninguém. Vamos falar a sério! Estou a brincar, foi só para o susto...
A verdade é que o tema de hoje é, realmente, de uma escala significativamente maior. Dirijo-me a vós, embora textualmente, neste tão belo dia de Sol/vento/chuva (dependendo da vossa zona geográfica) para vos dar conta de um assunto de extrema gravidade. Que é, justamente, a gravidade. Cá está, o primeiro trocadilho! E que bem metido, diga-se de passagem.
Falo, obviamente, daquela força da natureza que atrai as coisas, e que com a falta dela nos vemos a flutuar. Não são os seios de senhora, mas a gravidade. E a gravidade é tão... grave porquê? Porque não tem sido suficientemente compreendida pela maior parte das pessoas. A gravidade, caro leitor, é a Terra a ser impertinente. A existência de gravidade significa que qualquer parte do nosso corpo está constantemente a ser puxada para baixo. As coisas não caem, as coisas são puxadas. Quando vou na rua, por exemplo, o meu braço não está caído, a descansar. Está é a ser constantemente puxado para o centro da Terra. Logo eu, que odeio que me puxem pelo braço. E quem diz o braço diz também o cabelo, ou mesmo os próprios tintins. É um bocado egoísta, este centro da Terra...
Àqueles que estão, de momento, sentados ou deitados a ler isto: estão bastante confortáveis, não estão? Isso de estar a descansar tem o seu quê de agradável, não é? Agora pensem que, na verdade, o que vos está a acontecer é que estão a ser continuamente espalmados contra uma superfície, embora seja mole. Não estão a descansar, estão é a deixar que vos puxem. É o equivalente a estar na altura do recreio e não reagir de todo ao facto do bully da turma vos estar a empurrar contra a porta do cacifo. A gravidade é o eterno bully. Não é, portanto, de admirar que este país esteja como está. Estamos situados num planeta com altos níveis de bullying, quando podíamos perfeitamente viver na Lua ou em Marte, zonas muito menos propícias a esse fenómeno.
A existência de gravidade significa, portanto, que quando partem o vaso chinês da vossa avó podem sempre justificar-se com uma atribuição de culpas à gravidade emanada do centro da Terra. É que este, na sua eterna ganância por possuir um vaso chinês (todos sabemos que o centro da Terra pela-se por loiça estrangeira), puxou-o com força demais e este partiu-se em cacos. Sempre foi assim, quem tudo quer, tudo perde.
Significa isto também que sempre que vos "cai" uma torrada ao chão, na verdade é a gulodice do centro da Terra a falar mais alto. A torrada não caiu, a torrada fugiu-vos da mão e o centro da Terra aproveitou-se do vosso momento de descuido para tentar merendar. Não admira, portanto, que, como diz o ditado, o pão do pobre caia sempre com a manteiga para baixo. É claro que, a poder escolher, o centro da Terra não irá escolher pão em seco.

Abreijo.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Leituras assexuadas.

Só para tornar o texto mais interessante: Neste momento estou nu e só com um lençol a fazer de toga, enquanto recito Shakespeare ao crânio do meu periquito de estimação que morreu há três semanas de desgosto. Ele sempre gostou mais de cinema.
Hão-de ter paciência, mas eu não tolero o chauvinismo de género! Uma coisa é só haver marcas de sutiãs, ou de bandas de cera para mulheres (embora existam também homens bastante apreciadores destas coisas). Outra, completamente diferente, é quando estas distinções atingem a imprensa. Não me interpretem mal, sou completamente a favor de todas e quaisquer liberdades, mesmo que impliquem o não-uso de roupa interior. Essas até incito. Mas no que toca à imprensa, penso que devemos ser moderados. E principalmente no que diz respeito às mais importantes obras impressas dos nossos dias: as revistas cor-de-rosa. Não, não vou escarnecer das revistas cor-de-rosa. Não só porque tenho preguiça mas porque, em miúdo, também eu ia espreitar as páginas dos "consultórios sexuais" deste tipo de revistas. Não assobie para o lado, caro leitor...
No entanto, apesar de todo o respeito que tenho por estas páginas estratégicas, que tanto me ajudaram quando era miúdo, não posso deixar de me indignar com certos aspectos deste tipo de... literatura: Porque é que as revistas cor-de-rosa têm quase todas primeiros nomes femininos? Temos a Ana, a Maria, a Mariana, a Cláudia e a Clotilde... E porque é que não temos a Joaquim, a Fernando, a Eduardo ou a Zé Tó? E podem vocês argumentar: "Ah, mas estas revistas cor-de-rosa são claramente dirigidas para as mulheres!" Tudo bem, mas isso não implica que tenham que ter nomes comuns. Se é por isso, então que ponham últimos nomes: criem a Revista Gouveia ou a Batista Magazine, que ao menos dão a impressão de ser mais profissionais.
Para além de que existem também revistas especialmente dirigidas aos homens, e nem por isso nos vêm a ler a Revista Paulo. Até porque a maior parte destas revistas se centra bastante em fotografias de meninas nuas, e ver uma fotos dessas acompanhada pelo nome Carlão em grande e a negrito não será propriamente a melhor estratégia de marketing. Mas não temos que nos cinjir às meninas nuas, existem muitos outros assuntos pelos quais os homens se interessam. Como... vá, agora só me consigo lembrar das meninas nuas. Mas existem, garanto-vos!
E ai de nós que nos lembremos de espreitar as vossas revistas, que a nossa masculinidade é logo posta em causa! Menos quando somos miúdos, nessa altura até dá jeito ler para decidirmos a nossa sexualidade. É normal uma mulher usar a lâmina de barbear do homem para rapar as pernas, mas quando um homem lhes rouba uma banda de cera para fazer o buço já é troçado. O mesmo se passa com as revistas: É normal uma mulher ler uma revista masculina (daquelas mesmo com letras e texto corrido) porque significa que está a tentar informar-se acerca dos interesses dos homens; quando é um homem a ler uma revista feminina, ou já pôs a sua masculinidade completamente de parte ou é um tarado.
Assim não, meninas...

Abreijo.

domingo, 12 de maio de 2013

Santa saúde.

Santinho. Santinho. Santinho. A partir daqui, já estão por vossa conta.
Sim, há pessoas que abusam da boa vontade dos outros. E quando a essas pessoas se junta uma vontade parva de dar nas vistas, o povo chateia-se, e com razão! E atenção que não estou de momento a criticar pessoas, disso já estou farto. Desta vez vou criticar: narizes. "Hã, Diogo?" Exacto.
Eu bem sei que a culpa do flagelo dos espirros múltiplos não será propriamente da pessoa em si, porque compreendo que poucos apreciem fazer cara de orgasmo em público para a seguir ficar com a mão cheia de muco... Bem, avancemos. A culpa é, de facto, do nariz, que decide armar-se sem sequer nos consultar. Mas eu até o percebo, porque quando éramos miúdos também lhe invadíamos o espaço com o dedo e retirávamos de lá bastantes guloseimas sem sequer um "com licença". Raios, este texto ainda agora começou e já está bastante badalhoco...
Eu até nem me importo que espirrem três, sete ou dezanove vezes, atenção. Só que a minha boa educação, que muitas pessoas pensam (erróneamente, claro) não existir, obriga-me a ter que responder sempre que alguém espirra. E nesses termos penso que responder dezanove vezes já é abuso. É que a resposta até é um acto voluntário, só respondo porque quero e porque, no fundo, sou um amor de bichinho! Mas, como em tudo, há quem se aproveite em demasia desta minha leviandade.
Porque, reparem: Eu sou uma pessoa imensamente influente, penso que disso não haverá dúvidas. Tanto que no outro dia obriguei um condutor a abrandar porque queria passar a passadeira. Por isso tenho medo que, caso não vos diga "Santinho!", que pelos vistos é o mesmo que desejar saúde (vá-se lá saber porquê), essa vossa saúde possa vir piorar. E depois fico com esse peso na consciência: "Epá Diogo, não me disseste 'santinho' quando estava constipado e agora cresceu-me um cancro num pé!" Eu ficaria desolado com uma afirmação destas... Se o carteiro espirrar à minha frente, não obtendo resposta da minha parte, e dali a uns anos me vier entregar uma encomenda em casa com claros sinais de calvície (no carteiro, não na encomenda), eu vou inevitavelmente pensar que é por minha causa. E não quero isso na minha consciência! Por isso faço questão de responder sempre que alguém espirra ao pé de mim, seja o barbeiro que encosta os seios à minha nuca quando me apara o cabelo à volta das orelhas seja a senhora ao meu lado no autocarro que cheira intensamente a refugado.
Mas a boa educação esvai-se e a consciência deixa de me pesar quando abusam da minha boa vontade. Aí apetece-me partir narizes, desconsiderando completamente o vosso bem-estar. Nessas alturas até torço para que sejam carecas, como o carteiro!
Vá lá que algumas pessoas espirram com um sentido de ritmo, que sempre dá para trautear alguma coisa. O meu tio, por exemplo, conseguia espirrar Beethoven, até que a minha tia lhe deu com um machado na cabeça.

Abreijo.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Fanfarrões intemporais.

Um tipo de pessoas que odeio – sim, mais um – é viajantes no tempo. Se o leitor é viajante no tempo, então odeio-o. Saúdo a sua descoberta de como o fazer, mas odeio-o na mesma.
Porque quem aspira a ser viajante no tempo são, normalmente, pessoas bastante fanfarronas. A meu ver, existem três tipos de fanfarrões: Os falsos fanfarrões, que dizem ter andado à porrada com três mexicanos encapuzados quando na verdade as nódoas negras que têm nas costas foram simplesmente provocadas por andarem a coçá-las contra a barra da cama; os fanfarrões por extrapolação, que ajudaram uma velhinha na rua e fazem questão de contar a toda a gente que ajudaram algumas quatro, muitas vezes incuindo (falsamente) terem-nas levarado ao mesmo tempo para a cama com algálias e tudo; e os fanfarrões por hipótese, que juram que se vivessem na idade do gelo eram peritos a caçar mamutes.
É neste último grupo de fanfarrões que encaixo os aspirantes a viajantes no tempo. Muitos destes, por saberem que ainda não é possível fazê-lo (tirando o leitor ali em cima), não poupam nas promessas acerca do que fariam se voltassem atrás no tempo. É muito fácil falar quando se tem as costas quentes, principalmente quando é a incapacidade da ciência quem nos aquece as costas. Senão, vejamos: Quantos de nós não nos imaginamos já a voltar atrás no tempo e a impedir os nossos pais de descobrir aquela colecção de revistas marotas que tínhamos naquele compartimento especial da mochila da escola? Talvez menos importante: Quem nunca desejou, por exemplo, voltar atrás no tempo e acabar com a vida de um ditador que tenha matado milhares de pessoas, aproveitando a altura em que ele ainda usa fraldas?
Saberão, no entanto, que aquele bebé, aos olhos das pessoas da altura, é apenas... um bebé, correcto? Portanto, se matassem o pequeno ditador aconteceriam, muito provavelmente, duas coisas: Primeiro, seriam considerados assassinos (de roupas extravagantes) por terem matado um pobre bebé indefeso; segundo, ninguém se lembraria do vosso feito no presente porque o miúdo nunca teria sequer chegado a saltar das fraldas para ir posteriormente matar pessoas. Ou seja, seriam provavelmente enfiados numa prisão do século XX com condições de sanitário do século XV, tudo por terem cometido o acto atroz de matar um pequeno bebé.
E aquelas pessoas que acham muito giro viajar no tempo com um GPS para mostrar ao pessoal da época dos Descobrimentos, que por acaso também são portugueses? Habituam mal os bravos navegadores e depois fazem o quê quando acabar a bateria? Indicam-lhes através de gestos o melhor caminho marítimo para a Índia? Dão-lhes dicas acerca de onde devem estacionar o barco, com a “Gazeta do Marinheiro” na mão?
Com tudo isto, pergunto-vos: Não seria melhor manterem-se por casa?
 

Abreijo.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Defeitos e feitios.

Eureka! Comecei o texto com uma palavra estrangeira, o que logo aí lhe transfere uma carga de prestígio imensa. Mas não só por isso deve este texto ser engrandecido. Fiz, de facto, uma descoberta que, a par com o vinho tinto, pode ser tida como uma das mais revolucionárias para a nossa sociedade... portuguesa.
É verdade, meus tubérculos, descobri finalmente o porquê dos portugueses chegarem sempre atrasados! Qualquer pessoa de qualquer parte do Mundo que já tenha entrado em contacto com portugueses sabe do que estou a falar. É daqueles hábitos que, a par com o rodar o palito na boca e o dar indicações usando os dois braços e, por vezes, uma perna, mais caracterizam este belo povo. Até agora, ninguém tinha ainda percebido o porquê do português andar sempre a correr atrás do relógio, de estar sempre uns bons vinte minutos atrasado para qualquer evento, desde o casamento até à sessão de cinema. E este é um mal geral, reparem: Qualquer português que se preze sabe que algo combinado para as 16h só começará, no mínimo, às 16:20h, seja um projecto de trabalho ou uma orgia. No caso da indústria pornográfica, são ambos.
E porquê? É esta a questão que impera, e que até agora tem dado cabo da cabeça de muitos estrangeiros. Sim, porque os portugueses já nem se importam... Habituados estão eles! É muito simples, os portugueses chegam sempre atrasados porque têm uma confiança astronómica em si mesmos. Apesar das inúmeras indicações do contrário, e de já se ter atrasado imensas vezes à conta disso, o português é um eterno convicto de que consegue chegar sempre a tempo. A frase que melhor exemplifica isto constitui-se por apenas duas palavras: "Temos tempo."
São 09:25h, um português está no ginásio e sabe que se não for ao duche dentro dos próximos cinco minutos nunca chegará a tempo da reunião das 10h. No entanto, a fé que tem nas suas capacidades de movimentação rápida é tanta que acaba por ficar mais um quarto de hora a mirar as miúdas com calças daquelas que se apertassem mais um bocadinho rebentavam-lhes com as coxas. E no fim, está claro, chega o português um quarto de hora atrasado à reunião por ter falhado nas estimativas que fez acerca das suas capacidades de movimentação. Ele sabia, lá no fundo, que não ia chegar a horas, mas ao mesmo tempo estava plenamente convicto de que era desta vez que ia conseguir! O que lhe vale é que ninguém se importa, porque naquela reunião estão bastantes homens e todos eles compreendem o valor de um bom rabo.
Posto isto, como é possível pensar-se sequer em repreender os portugueses, um povo tão confiante e ciente das suas capacidades? Que na maior parte das vezes não correspondem à realidade, é certo... Mas o que conta não é a intenção?

Abreijo.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Perspectivas coloridas.

O texto que se segue poderá ser confuso para muitos leitores. Foi elaborado por um profissional em confusões, pelo que a sua recriação por parte de pessoas menos bem preparadas não é de todo aconselhada. Incentiva-se todas as pessoas com nós no cérebro a desatá-los previamente, porque no fim deste texto ficarão possivelmente com um nó à marinheiro que é bastante lixado de desatar. Acreditem, eu já fui escuteiro.
Portanto, falemos sobre cores. Mas falemos sobre cores numa perspectiva masculina, que se torna bastante mais simples. As mulheres conseguem arranjar cinquenta tonalidades diferentes para uma cor que um homem menos dedicado classificaria apenas como "púrpura". E a questão é a seguinte: Será que todos vemos as cores da mesma forma? Quando era miúdo, esta era um dos mais prementes dilemas da minha vida. Agora que sou uma miúda, e toda boa, deixei-me disso. Mas continuo a achar este tema curioso.
Então é o seguinte: será que o meu azul, por exemplo, é igual ao do caríssimo leitor? Será que a cor que ambos convencionamos como sendo azul é a mesma? Imagine - se quiser, ninguém o obriga a nada - que ambos olhamos para a rua e constatamos estar um lindo dia de céu azul. No entanto, o que para mim é azul para si poderá ser verde. Portanto, o que eu estou realmente a ver, na sua perspectiva, é um céu verde, enquanto que para mim a mesma cor chama-se azul. É estranho, não é? Já pensou na eventualidade de todos nós, na verdade, vermos coisas diferentes quando olhamos para aquele ecrã clássico do Windows? Aquela planície cuja cor para todos nós se chama verde, pode no entanto estar a ser vista por todas as pessoas de cores diferentes. O meu verde e azul pode ser o que você classificaria como vermelho e rosa. No entanto, para mim continua a ser verde e azul.
Imagine-se a andar na sua rua e ver alcatrão cor-de-laranja, árvores cor-de-rosa e telhados bege, enquanto come uma banana vermelha. E se realmente for assim que a pessoa ao seu lado a comer um iogurte castanho vê o Mundo, mas nenhum se apercebe da diferença de perspectivas? Repare que estou a supôr que tem hábitos de alimentação saudáveis, podia falar também em cachorros-quentes cinzentos ou em fatias de pizza brancas.
Já pensou também na hipótese de a cor (ou cores) associada a um clube de futebol poder, na verdade, variar de adepto para adepto? Imagine que é benfiquista e que se encontra no estádio a defender as cores da sua equipa. O que você chama de vermelho pode, para o indivíduo suado e sem t-shirt que está a berrar ao seu lado, ser azul, mas para ele continua a ser vermelho. Vai deixá-lo safar-se assim, sem uma cadeirada na nuca?
Sim, eu sei que estou a excluir neste texto os leitores daltónicos. Mas no vosso caso tudo se torna ainda mais confuso. Parem lá com isso!

Abreijo.

domingo, 28 de abril de 2013

Prostituição senciente.

Ai o amor... É tão lindo, o amor. Principalmente aquele suadinho, praticado entre várias pessoas ao mesmo tempo. Mas aí já não é bem amor, a maior parte das vezes passa a pura badalhoquice. E é justamente este o tema do texto que vos trago nesta bela tarde de Sol. Ou manhã algo ventosa. Ou noite bastante nublada. Sei lá, não adivinho como está o tempo aí!
Que tema é esse? O amor? Não, a badalhoquice. Talvez o leitor ainda não tenha reparado, mas por vezes tenho a tendência para a crítica. O problema é que criticar pessoas, coisas e pessoas em contacto com coisas já não me é suficiente. Por vezes, penso que devia prestar mais atenção ao detalhe. E é por isso que hoje decidi, em vez de criticar pessoas inteiras, criticar apenas... órgãos, mas de pessoas inteiras. E para continuar na onda das especificidades, criticar apenas os órgãos dos sentidos, ou seja, responsáveis pelo nosso sistema sensorial. "E o que têm os órgãos dos sentidos a ver com a badalhoquice, Diogo?", perguntam vocês nessa vossa voz fininha e irritante que me fura os tímpanos. Primeiro, façam-se homens! E se forem mulheres, desapertem um bocado o sutiã que pode ser isso que vos está a comprimir as cordas vocais. Principalmente as mais peitudas.
Ora, é muito simples: os ouvidos e o nariz são os órgãos dos sentidos mais badalhocos. E porquê? Porque não filtram nada, não seleccionam, não barram nem nos deixam barrar nada à porta. Porque, vejam: Se não quiserem ver o rego do rabo daquele electricista que anda já há duas semanas lá na vossa rua a passear o escadote de poste em poste, podem sempre fechar os olhos. Se estiverem preocupados com a possibilidade de levar com um carro no meio das rótulas, por terem fechado os olhos no meio da estrada, então nem precisam de os fechar: Basta desviar o olhar para outro sítio que não a cratera traseira do senhor. Com o paladar e o tacto o caso também não tende a ser muito complicado, porque costumamos ter hipótese de escolha: se não quisermos saborear alguma coisa (mau hálito não conta), basta não abrir a boca para enfardar; se não quisermos sentir alguma coisa, basta não ir lá tocar feitos parvos. É verdade que há pessoas que gostam de brincar com instrumentos de cabedal, algemas e afins e muitas vezes são obrigadas a sentir coisas que se calhar não queriam, mas isso já é da sua inteira responsabilidade.
Já a audição e o olfacto são as prostitutas dos sentidos, porque não podemos evitar o que "consumimos" através destes meios. É verdade que se estiver a ouvir rádio, facilmente mudo de uma estação que esteja a transmitir música agitada de Sábado à noite para outra que transmita apenas sons calmos do mar, incluindo pessoas a afogar-se ou discussões políticas profundas (literalmente) entre uma comunidade de robalos. Mas se estiver numa fábrica de conservas tenho que levar com o barulho das máquinas, quer queira quer não. Posso sempre tapar os ouvidos, mas toda a gente que teve uma infância sabe que isso não funciona a não ser que acompanhemos com "Lá, lá, lá, lá, lá..." Com o olfacto, temos um caso muito semelhante. Nós não escolhemos o que cheiramos. Se numa missa solene se descuidarem ao meu lado, não consigo desligar o cheiro da bomba intestinal do meu vizinho de modo a cheirar só o incenso que o padre tinha queimado alguns minutos antes. Vem tudo ao mesmo tempo para as narinas aqui do menino. E, mais uma vez, não posso simplesmente tapar o nariz, até porque dizem que não faz bem à saúde. Pelo que dizem, precisamos de ar para respirar, ou algo do género...
Deixo-vos, então, com esta constatação bastante profunda: Muitos pais acham algo desagradável que a sua filha seja prostituta - não todos, porque alguns até parecem incentivar - quando, na verdade, todos nós acabamos por ser um bocado prostitutas. Mais do bigode para cima, mas somos. E das badalhocas, não das selectivas!

Abreijo.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Terapia de grupo.

O leitor confunde-se com facilidade? Eu devo confessar que sim, confundo-me bastante... É uma das poucas falhas de coordenação mental que possuo, até porque sou uma pessoa bastante completa nesse campo. Independentemente do que possam dizer os meus psicólogos. Qualquer um dos dezassete.
É frequente confundir-me, inclusive, quando me encontro num aglomerado de pessoas. Porque está muita coisa a acontecer, está o João a mexer na palhinha da bebida do Guilherme enquanto a Marta dá palmadinhas no rabo do Artur; está a velhinha com sacos de compras a bater com a mala num carteirista enquanto um mendigo lhe rouba as alfaces do saco... É muita coisa. Por isso, considero refrescante quando as pessoas decidem ser confusas todas ao mesmo tempo e em torno de um comportamento comum.
Falo, então, do aplauso. Quem é que decretou que bater com as mãos uma na outra de forma a fazer ruído era sinónimo de agrado e admiração? É por causa do som, que é interessante? Será que ver indivíduos a autoflagelarem-se ao nível das mãos é, de alguma forma, divertido? E, claro está: Eu, confuso, vou atrás e imito os padrões comportamentais destas pessoas, para não pensarem que até desgostei da mesma coisa que elas, pelos vistos, adoraram.
A ideia geral é a de que isto surgiu na altura da Grécia Antiga e que envolvia, como quase tudo naquela altura, gladiadores. Mas eu desconfio que o aplauso tenha raízes mais profundas no âmbito do comportamento humano. Ninguém me tira a ideia de que um australopiteco tenha, a dada altura, dito para si mesmo: "Epá, gostei bastante da forma como o Un'garamadunga lidou com aquele tigre dente-de-sabre. Vou bater com as mãos uma na outra para o demonstrar." Isto na língua deles, claro.
E é isto que nós parecemos, basicamente. Pouco mais que macacos. Depois de termos criado a linguagem verbal, a linguagem escrita, a semiótica e outros sistemas de sinalética, decidimos que um "clap, clap!" é muito mais digno do que um "Olhe, desculpe, apreciei imenso o seu trabalho". Poderá o caro leitor argumentar, com razão, que esta frase é grande demais para se dizer, por exemplo, durante uma peça de teatro. Mas foi também por isso que criamos o "Fixe!". O "fixe" concentra tudo isso, toda a nossa imensidão de sentimentos agradáveis e prazerosos face ao trabalho de outrem, em apenas quatro letrinhas.
Não me façam falar é na convenção que se decidiu arranjar para o "fixe" em linguagem gestual. É tema para outra tertúlia. E, curiosamente, parece que inclui outra vez gladiadores.

Abreijo.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Altos e baixos.

Não sei se muita gente tem conhecimento disto, mas todos nós vamos morrer. Eu percebo essa vossa reacção, também fiquei estupefacto quando me disseram. Mas parece que é mesmo verdade. A mim até nem me dava muito jeito, porque descongelei uns bifes e agora não sei se vou ter tempo para os comer. Bem, esperemos que sim.
Apesar desta surpresa inicial, o facto de começar a ter consciência da minha morte não alterou assim tanto a minha conduta diária. No máximo, fiz questão de cancelar as minhas assinaturas e comecei a comprar os meus jornais pontualmente. Gosto de manter a caixa de correio limpa. Mas há pessoas que, profundamente afectadas pela sua efemeridade, decidem que o ritmo em que vivem já não é suficiente para todas as coisas que ainda têm para fazer. E eu até aceitava isso de bom grado, caso essas tarefas fossem de especial relevância. No entanto, à maior parte das pessoas o tempo só pesa quando estão em centros comerciais.
E como os centros comerciais são, regra geral, assim a atirar para o grande, vou-me concentrar numa zona específica deste tipo de espaço: as escadas rolantes. É de facto uma invenção extraordinária, esta das escadas rolantes. Um simples elevador é um espaço muito restritivo e um bocado sem graça, que só damos conta de estar a mexer caso haja algo de errado com os cabos que o seguram. Já as escadas rolantes têm uma outra dinâmica completamente diferente: Transportam-nos na mesma para diferentes pisos e são extremamente libertadoras, pois permitem-nos olhar com uma certa superioridade enquanto subimos para todos os que estão abaixo de nós. Fazem-nos parecer importantes! Ah, e lá de vez em quando também conseguimos ver alguns rabiosques, enaltecidos através de uma colocação estratégica da perna no degrau de cima.
É neste tipo de espaços, onde se inclui também a passadeira rolante, tão popular em aeroportos, que as pessoas mais preocupadas com a brevidade da vida se revelam. Mesmo estando numa escada rolante, que implica que não seja preciso sequer mexer um pé para se subir um piso inteiro, estas pessoas fazem questão de dar à perna na mesma. Ou seja, claramente não satisfeitos com a velocidade do aparelho, estes indivíduos parecem querer provar à escada ou passadeira rolante que conseguem descer mais rápido do que elas. Quando éramos miúdos ainda se percebia, até porque normalmente nós competíamos contra o aparelho mas no sentido contrário ao que ele se dirigia: Se fosse a subir, nós tentávamos descer, e vice-versa. Até que chegava o segurança e estragava a brincadeira toda. Em gente adulta, isso já não fica tão giro.
O certo é que, normalmente, os centros comerciais também oferecem a alternativa, cada vez menos popular, é certo, de subir ou descer através de escadas imóveis, daquelas antigas de cimento. Nesse tipo de escadas sim, já é aceitável que subam à velocidade que bem entenderem. Só que isto não é suficiente para estas pessoas. Para além da velocidade dos seus membros inferiores, também querem ter o balanço das escadas rolantes. Só assim alcançarão o seu destino mais depressa do que todos os outros. E porquê, irão apagar algum fogo no piso da restauração? É possível, não sei bem.
Eu sou uma pessoa que preza a humildade. É por isso que sou tão magnífico. Pelo que me irrita profundamente quando estou quieto numa escada rolante e alguém me toca no ombro pedindo licença e ultrapassando-me a toda a velocidade, como que afirmando ser superior a mim. Nessas alturas só me apetece empurrar borda fora essa pessoa que ia antes a toda a velocidade em direcção à secção de roupa do piso quatro, mas que agora vai em descida a pique até ao piso um. E de cabeça.

Abreijo.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Alfredo e os frutos secos.

Tau, eu bem dizia que a vossa avó não durava até aos oitenta anos!
Bem, e já que o tema é falecimentos, vamos tentar arranjar algo para criticar em relação à Páscoa. Vou deixar Jesus em paz, que toda a gente fala nele nesta altura quando a única coisa que ele quer, no fundo, é treinar a equipa. Sou muito bom em trocadilhos, eu...
E a vossa notória curiosidade perante o tema que me traz aqui hoje obriga-me a ter que esplaná-lo o mais depressa possível, a ver se não vos dá uma coisinha entretanto. Então, reparem bem nisto: Amêndoas... de chocolate. Tenho a plena noção de que poderia finalizar o texto por aqui, tal a confiança que tenho de já terem percebido o meu dilema quanto a esta confecção típica da época. E é justamente isso que vou fazer. Adeus, bom dia!
Estava a brincar, aquele senhor ali atrás de bigode ainda não percebeu. Como é que se chama? Alfredo, que nome exótico...
Ora bem, senhor Alfredo: A minha principal contenda com as amêndoas de chocolate é que, no fundo, não são amêndoas. E nem é por causa da cobertura de açúcar, repare. Também podia argumentar que as amêndoas de Páscoa tradicionais não se deviam chamar simplesmente amêndoas, mas sim "amêndoas mantidas em cativeiro por uma cerca de açúcar". Sim, sei que seria um nome um bocado longo. Mas com isso eu até lido bem. O que me indigna profundamente nas amêndoas de chocolate é o facto de se apropriarem do título de amêndoa - um título de prestígio, como é do conhecimento de todos - quando nem sequer possuem na sua composição qualquer réstia de frutos secos! Porque, note, senhor Alfredo: Amêndoa é o caroço de dentro, o resto é açúcar. Se substituem o caroço por chocolate, deixa de se poder chamar amêndoa. É chocolate com açúcar, só isso. Juntava-se leite, mexia-se e passava a ser leite com chocolate. Também há quem diga "leite achocolatado", mas eu tento evitar adjectivações.
Isto é gravíssimo, meu caro! Senão pense: E se você fosse agora ali à tasca da esquina pedir um bitoque e lhe trouxessem um pires inteiro de papas de arroz? Você ficaria indignado, com certeza, até por força das catorze minis que tinha bebido entretanto. Então e se lhe derem chocolate açucarado quando você pede um pacote de amêndoas, já é aceitável?
Peço desculpa aos restantes leitores por não vos ter dado a atenção devida durante o decorrer deste texto, mas realmente senti necessidade de esclarecer o senhor Alfredo. Esta é uma questão bastante sensível, que deve ser explicada e discutida com a maior calma e seriedade possíveis. Isso e porque homens de bigode impõem respeito.

Abreijo.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Elasticidade cultural.

Um dia, estavam os meus pais em casa a ver o "Preço Certo em Escudos" quando a minha mãe deixou cair o comando da televisão e baixou-se para ir apanhá-lo. O meu pai, encarando aquilo como um sinal provocativo de acasalamento, agarrou nela pelos cabelos, disse "Uga, uga!" e arrastou-a até ao quarto, onde atearam chamas sem sequer precisar de roçar duas pedras. É mais ou menos assim que imagino a minha concepção.
Ora, dali a nove meses nasci eu, que hoje em dia vos escrevo para falar acerca do país onde nasci. Sim, porque apesar de tudo o que se lhe possa apontar, Portugal chega mesmo a ser um país. E mais do que isso, é um país de coisas maravilhosas. E porquê, por causa dos seus pastéis de nata ou do seu património histórico rico em porrada entre familiares? Não, por causa dos seus pavimentos. E começam já vocês a pensar: "Então mas ele vai falar de calçadas, e tal? Que piada é que isso tem?" Nenhuma, de facto. E se soubessem esperar, deixavam-me explicar. Está bem?
De facto temos calçadas muito belas e distintas, constituídas por paralelos que, bem arremessados, são capazes de deixar mossas bastante bonitas no carro do chefe da empresa. Mas toda a gente sabe que, hoje em dia, cada vez se vê menos se vê deste tipo de pavimentação. E porquê, por causa da maior facilidade em se alcatroar as estradas? Porque a calçada faz dói-dói na viatura? Também, mas não só. Cada vez se vê menos calçada porque esta está a ser obliterada pela indústria das pastilhas elásticas.
Hoje em dia é, de facto, raro vislumbrar-se calçada. O que vemos é um sem-fim de figuras coloridas e de formas diversas no chão, já ressequidas do Sol. Aquela brincadeira de olhar para o céu e identificar figuras nas nuvens pode agora ser feita observando-se o passeio a caminho do quiosque lá da rua. No outro dia podia jurar ter visto um comboio inter-cidades numa pastilha cor-de-rosa que me ficou presa na sola do sapato. Escusado será dizer que a diversão é imensa! Quando tiver filhos, ofereço-lhes todos os natais um puzzle feito de paralelos: "Descubram o objecto de casa-de-banho que se consegue formar com todas estas pastilhas elásticas, que foram mastigadas por desconhecidos!", direi eu todo entusiasmado e com os dedos em ferida de ter andado a arrancar pedras da calçada.
Agora fora de brincadeiras, do que este país precisa é de um Pastilhão em cada esquina. E não falo daqueles "pastilhões" que ficam até às 7h da manhã nas discotecas da baixa da cidade a espumar-se pela boca, até porque as pastilhas destes até nem incomodam muito o ambiente. Falo, sim, de um contentor do lixo reservado especialmente para pastilhas elásticas, que quando ficasse cheio se pudesse, por exemplo, destruir e fazer uma espécie de boneco de neve multi-colorido com o conteúdo.
Era limpeza da via pública e arte contemporânea, ao mesmo tempo.

Abreijo.

Aprender irritando.

Depois de todas as facetas de indignação que aqui já vos transmiti, não me admiraria que ficassem com a ideia de que sou uma pessoa antipática. Mas não, na verdade sou tão simpático como um cão com cio. Com jeito até sou capaz de me agarrar à vossa perna, se gostar mesmo de vocês.
No entanto, tenho que admitir que por vezes tento evitar certos tipos de pessoas. Mas tipos muito específicos, que vão um bocado além daqueles que a generalidade das pessoas tenta ao máximo evitar. Com drogados posso eu bem, por exemplo, pois temos mais ou menos o mesmo estado mental. E até com políticos me dou bem, principalmente porque quase só os vejo na televisão. Também não faço muita questão de aprofundar amizades com eles. Tento, isso sim, evitar ao máximo pessoas que me irritam profundamente, daquelas que se tivesse uma pistola à mão era capaz de disparar sem hesitar. Não para elas, mas para os seus tios-avós mais chegados, ou assim. Só para aprenderem!
E é raro haver quem me consiga irritar mais do que pessoas que estão a tirar a carta de condução. E atenção, não estou a falar de pessoas que já têm licença para conduzir! Falo, isso sim, de pessoas que ainda estão em vias disso. Tirar a carta de condução é como uma gripe, é algo que dá e passa. E ainda bem que assim é, porque nessas alturas as pessoas ficam insuportáveis e nem com termómetros no recto isso lhes passa. Acreditem, eu já tentei...
E ficam insuportáveis porquê? Porque as pessoas que tiram a carta de condução querem sempre tentar ao máximo mostrar que sabem. Quando se está a tirar a carta, os níveis de show-off de uma pessoa aumentam na casa dos 98,73%, de acordo com números oficiais... do meu cérebro. E isso até se percebe num contexto de aula, ou de uma prova de avaliação. Em qualquer outro contexto, não é assim tão relevante. Porque, vejam: às pessoas que nunca tiraram a carta de condução não lhes serve de nada que andem a balbuciar factos rodoviários a toda a hora, elas simplesmente não fazem nem querem fazer ideia do que vocês estão a falar; às pessoas que já tiraram a carta de condução, provavelmente também lhes servirá de pouco porque, lá está... já tiraram a carta!
No entanto, continua a haver uma quantidade alarmante de parvalhões que não conseguem acabar um café curto com amigos sem lhes falar em contra-ordenações graves, ou ir de pendura num carro sem dar palpites acerca do estacionamento da pessoa ao volante. Se está ao volante, muito provavelmente já sabe conduzir! Certo? Certo.
E depois passa-lhes. Como por milagre, mal estes indivíduos começam finalmente a conduzir acabam por perceber que os seus conhecimentos não eram assim tão especiais. (Quase) Todas as pessoas que andam na estrada também os tinham. Afinal, não eram nenhuns génios rodoviários. Incrível, não é?
Eu, por exemplo, raramente fazia isso na escola. Independentemente da quantidade de conhecimentos que tivesse, não fazia muita questão de os debitar. Na maior parte das vezes, até me tentava esconder debaixo da saia da Carla "Badalhoca" sempre que o professor fazia uma pergunta para a turma. Às vezes fazia-o só por lazer, tanto meu como dela. Mas na maior parte das vezes era por causa disso das perguntas...

Abreijo.

terça-feira, 12 de março de 2013

Um texto naj'oras.

Introdução relativamente longa e que pouco ou nada tem a ver com o assunto tratado no desenrolar do texto mas que mesmo assim é escrita, possuindo uma tonalidade cómica, não só para me acharem uma pessoa extremamente interessante e engraçada, mas também para ocupar espaço.
Bom, chegou a hora. De quê? Disto. E calha bem, porque quero-vos falar precisamente sobre as horas. Não tenho nada contra as horas, até acho que é uma forma muito boa de nos orientarmos e tal. Evitamos estar a olhar para o Sol cada vez que queremos saber em que altura do dia estamos. Diz que faz mal à vista. E o que durante a noite ainda é mais difícil, porque o Sol esconde-se e uma pessoa fica sem saber se é hora de almoçar ou de cear. Há quem diga que quando o Sol se esconde significa que anoiteceu, mas eu prefiro não dar voz a esses extremismos pouco fundamentados...
O verdadeiro problema aqui é a forma como muitos de vocês (sim, vocês!) decidem transmitir as horas. Se eu quiser dizer "São 8:50h", tenho à minha escolha três formas de comunicar esta informação. A primeira, e a meu ver a mais consensual, será: "São oito e cinquenta". É simples e é rigorosa, pois é sem tirar nem pôr aquilo que o nosso relógio nos diz. Estamos a transmitir ipsis verbis a informação que acabamos de ler.
A segunda forma que arranjamos para dizer as horas, e aqui já começamos a entrar no campo do improviso, é: "São dez para as nove". E até aqui tudo bem, é uma técnica já mais arriscada de transmissão de informações horárias mas ainda bastante aceitável. Não há mal nenhum nisso. Desde que, lá está, continuemos no espaço temporal presente.
Sim, porque a terceira forma de dizer as horas, talvez a mais frequente hoje em dia, pretende ser mais original e ir mais além do que as outras, acabando por ficar no entanto com fortes tonalidades de "bazófia". É, então, aquela fantástica formulação: "São nove menos dez". Epá, porquê?! Para quê essa pressa toda? Não estão satisfeitos com as oito horas? Elas fizeram-vos assim tão mal para já se quererem situar nas nove horas? Porque é que falam sempre como se já estivessem na hora a seguir, menosprezando a hora em que realmente estão? Isto não vale como viagem no tempo, meus senhores e minhas senhoras. Só porque dizem que são seis menos vinte não significa que estejam na dianteira em relação às pessoas que dizem que são cinco e quarenta. Estão ambos no mesmo espaço temporal.
É que se querem avançar assim tanto no tempo, então podemos dizer: "São quatro menos uma hora", o que significa que são três horas. Porque não? Ou então: "São vinte e quatro menos doze horas", sendo, então, meio-dia. Já que é para aparvalhar, então que sejamos megalómanos. E mesmo noutros contextos, porque não dizer à senhora do mercado: "Olhe, queria três quilos de laranjas menos um". O que significaria que só queríamos dois quilos de laranjas e muito provavelmente um murro na cara por parte da senhora. Elas não brincam.
É isto, caros leitores. Deixem de querer ser mais do que são no que diz respeito ao espectro temporal. Se ainda não estiverem convencidos, então pensem: não vos dá mais trabalho dizer "Tenho trinta e quatro anos menos três", do que dizer "Tenho trinta e um anos"? Para além de que se disserem que são nove menos dez parece que querem ser dez minutos mais velhos à força. Tenham calma, não é por avançarem dez minutos no tempo antes de todas as outras pessoas que já vão ter idade suficiente para conduzir e figurar em pornografia.

Abreijo.

sábado, 9 de março de 2013

A mentira e o caprino.

Pantufa. Pantufa, pantufa, pan-tu-fa, pantufa. Gosto bastante da palavra pantufa... Infelizmente só costumo usar chinelos.
Bom, fui difamado. Acusaram-me de ser mentiroso porque, para efeitos de comédia, disse ter feito algo que na realidade não fiz. Foi apenas uma pequena invenção para dar outra cor à piada que formulei na altura, na minha cabeça. Mas fui descoberto, e agora não consigo dormir. E porque é que não consigo dormir? Porque tenho um vizinho novo cujas cordas vocais estão convencidas de que são familiares directas das cordas vocais do Pavarotti. Mas só de manhã durante o banho, quando ele sai do banho voltam ao seu estado normal. O meu vizinho, não o Pavarotti... Enfim.
Não, isso não me incomoda minimamente. Chamem-me aldrabão à vontade que eu não me importo. No que toca ao humor, a aldrabice chega a ser uma arte, quando bem aplicada. De facto, a mentira faz muitas vezes parte da própria essência do factor cómico. Quem nunca acrescentou certos factos a uma história para a tornar mais engraçada? Se eu disser que o Tobias foi a uma reunião de trabalho sem gravata porque entornou-lhe café em cima, a história não é assim tão engraçada. No entanto, se eu disser que o Tobias foi a uma reunião de trabalho sem gravata porque emprestou-a a um panda que queria cometer suicídio por não ter conseguido entrar num novo filme da Disney, a história já se torna mais interessante. E atenção, este é um exemplo onde só se substituem alguns elementos da história.
De facto, há casos em que a própria história na sua totalidade é inventada. Porque as histórias contadas muitas vezes nem aconteceram. Se eu disser: "Um inglês, um francês e um português foram a um bar..." Não pá, não foram! Podem ter ido a um bar, mas cada um na sua vez. Acho muito difícil terem ido todos juntos. A menos que estejamos a falar na cafetaria da sede da ONU, aí pode muito bem ter acontecido. Ora, isto é logo o início da história. Se a história já começa com uma mentira, torna-se óbvio que o resto também o será. Mas com este tipo de piadas vocês não reclamam! Sabem que é mentira, mas papam tudo! Já eu não posso dizer que usei um pé-de-cabra para assaltar um multibanco mas depois fui devolvê-lo à cabra porque ela batia sempre com o focinho no chão quando tentava andar. Disso vocês já não papam, é uma mentira e um ultraje! Mas tem piada, portanto digo-o. Desde que essa mentira não prejudique ninguém, não há problema. Neste caso até foi bom para a cabra, que todos os dias me agradece com dois queijos pela manhã. Já só tenho que comprar o pão.
E depois há ainda as mentiras que são ditas só para que se possa introduzir um determinado tema. Como esta história de me terem chamado de mentiroso. É mentira, foi só para poder escrever este texto.
Até loguinho.

Abreijo.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Ócio gregoriano.

Antigamente, bastava passar-se aproximadamente quinze minutos num qualquer café para se ouvir a expressão: "Isto está mau!" Hoje em dia, basta sair à rua e ouvimos um senhor a dizer isso ao seu cão, que acabou de defecar em pleno passeio. Só o dinheiro gasto em sacos de plástico implica menos um bife por semana para o pobre senhor. É da maneira que vai menos vezes ao supermercado e adquire menos sacos de plástico. Olha, boa...
De facto, a vida está difícil para todos. Quer dizer, para quase todos. Sim, porque existem certas entidades que ainda agem como se não fosse nada com elas, que ainda vivem na ostentação e na ociosidade. Mas esta gente não tem televisão em casa, não vê as notícias? Falo, como é óbvio, no mês de Fevereiro. Sim, o mês de Fevereiro! Poder-se-á classificar um mês como uma entidade? E se sim, será relevante aferir se tem televisão em casa ou não? São tudo questões deveras interessantes, que só não respondo de modo a fomentar o vosso espírito crítico.
Ora bem, feito o engonhanço inicial, e apresentado o tema, vamos aprofundar a questão mesmo até lá abaixo. Fevereiro é preguiçoso. Fevereiro é aquele gajo que nunca aparece no planeamento e na elaboração dos trabalhos, mas que não falha no dia da apresentação. Basicamente, Fevereiro é um mês indolente e armado em vedeta. Trabalha menos que os outros, mas mesmo assim acha-se no direito de figurar no calendário. E logo num dos primeiros lugares! Porque, vejamos: Alguns meses têm trinta e um dias, outros só têm trinta. E tudo bem, uns são menos produtivos que outros mas ainda assim vê-se que se esforçam. Junho, por exemplo, compensa o dia a menos de trabalho com o facto de ser um mês no qual o calor já aperta bastante e as meninas começarem a sentir necessidade de esquecer a existência de roupa. E, assim, todos ficam contentes.
Agora, vinte e oito dias?! A sério, Fevereiro... A preguiça tem limites! Não queres trabalhar, dá lugar a outro mês qualquer. (Reparem que estou a falar em discurso directo com... um mês. Portanto, é isto. Estou a falar com um mês. E não me droguei, juro!) Em vez do Fevereiro, instituímos o... Ladrilheiro. Olha, nem fica mal: Janeiro, Ladrilheiro, Março... Ou então ficamos só com 11 meses oficiais, pronto. Mas que sejam meses a sério! O resto do tempo aproveitamos para comer uma merenda, ou para visitar a nossa avó que vive do outro lado da floresta. Aquilo ainda é grande, e leva o seu tempo.
Mas como todos os preguiçosos, vemos que também o mês de Fevereiro não vive de consciência livre. Por vezes esta pesa-lhe tanto que lá de quatro em quatro anos ele lembra-se de trabalhar mais um dia. Mais um dia, vejam bem! Meu Deus, que custoso... É que nem nesses anos Fevereiro alcança o nível de produtividade dos outros meses. É o mesmo que eu pensar: "Pronto, em quatro anos não ajudei a minha mulher com as limpezas da casa. Amanhã vou levantar os pés quando ela passar o aspirador!" Não serve de nada, caríssimo Fevereiro. A inutilidade continua lá!
E dizem vocês: "Mas tu nem tens mulher!" E eu respondo afirmativamente, com um gracioso aceno de cabeça, arrastando-me tristemente para os meus aposentos.

Abreijo.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Super-texto-não-muito-grande.

Não gosto de criminosos. Eu até percebo a parte deles, têm que subsistir de alguma forma e o que eles fazem até chega a ser uma espécie de lazer. Principalmente os crimes que envolvam fugir, tiros, e assim. É lucro, jogging e caça, tudo ao mesmo tempo.
E em detrimento de eu não gostar de criminosos, por outro lado gosto muito de super-heróis. Bastante, até. Se eu pudesse, casava-me com um super-herói. Mas já se sabe como é este país, só interessa o casamento homossexual e os abortos. Quem tem tara por super-heróis, lixa-se. No entanto, sou da opinião que os super-heróis têm andado já de algumas décadas para cá num impasse ideológico muito grave. Existe muita falta de originalidade e muita preguiça no que diz respeito à dinamização do ramo do super-heroísmo.
Senão, vejamos: Que razão há para se ter parado na caracterização dos super-heróis com base em animais? Ou seja, porque é que os super-heróis se inspiram apenas em animais para criarem a sua persona? Às vezes até se percebe, existem animais cujo porte é realmente intimador e merecedor desse privilégio. Mas porquê só animais? Porque é que não há o Homem-Arranha-Céus, que também é bastante imponente e se cair ainda faz uns estragos valentes? É que na maior parte das vezes os animais nem são muito grandes, e muitos deles até são simples insectos. Porque é que os super-heróis se baseiam sempre em bichos pequenos, tipo aranhas, vespas e morcegos e não escolhem ser o Homem-Urso, ou o Super-Baleia-Branca? Chegou a existir o homem-elefante, mas esse possuía um rol de super-poderes muito escasso... Era muito à volta do assustar criancinhas. E vocês podem argumentar: "Ah e tal, são animais pequenos mas são mais ágeis e habilidosos." Ai é? Então ponham um morcego a lutar contra um urso pardo, a ver quem ganha.
A menos que os super-heróis sejam todos zoófilos - e eu espero bem que não, senão lá se vai grande parte da minha infância -, não há razão nenhuma para que todos queiram ser animais. Eu quando era miúdo também imitava cães e até toiros, mas nunca ladrei para o meu pai nem passei uma tarde de Domingo a afiar os cornos. Se os tenho, que pareçam naturais. É como as mamas.
Se há o Homem-Aranha, o Homem-Morcego, o Homem-Formiga e até o Homem-Peixe-Porco (quanto ao último já não tenho a certeza, posso ter sonhado com isso), porque é que não pode haver, por exemplo, o Super-Abajur, o Homem-Banco-de-Jardim ou, mesmo, o Escrivaninha-Man? Fugia-se um bocado ao tema dos animais e inseria-se o super-heroísmo no âmbito da decoração de interiores, uma área nova, fresca e em tons de fúcsia.
Enfim, existem tantas áreas para as quais se podem virar... Vejam o exemplo daqueles super-heróis de todos os dias, aos quais pouca importância damos. Falo-vos do Homem-do-Talho, da Mulher-a-Dias ou do próprio Homem-do-Saco, que tantas vezes salva os pais de terem que ter paciência em relação à educação dos filhos. Basta ameaçar chamar este super-herói e o trabalho fica feito. É um super-herói que nem precisa de aparecer. Estes sim, são exemplos de heroísmo e coragem! Os Super-Homens deste Mundo deviam pôr os olhos nestes heróis, que escolhem situações triviais do dia-a-dia para basearem a sua identidade. Que nem tem que ser secreta, aliás! O senhor Joaquim Barreiro não tem problema nenhum em admitir que é o Homem-do-Talho da sua aldeia, e isso é de louvar. Também isso faz parte da sua mística.

Abreijo.