terça-feira, 9 de agosto de 2011

Cepticismo intemporal.

Chegou o vosso Rei e Senhor, aquele que vos quer e mais ninguém!
Peço desculpa... estive numa tarde de caça com os meus grandes amigalhaços Nuno da Câmara Pereira e João Portugal e devo ter apanhado alguma constipação, ou assim. Eu cacei duas pessoas com carreiras e sonhos falhados, eles não caçaram muito porque, diga-se, não tenho muito por onde se pegar... ainda.
E começam vocês outra vez com as vossas perguntas de 'chacha': "Diogo, tu que és tão interessante, bonito e com muito para oferecer quer no plano intelectual como no plano da higiene na casa-de-banho, porque razão dizes que não tens muito por onde se pegar?"; Primeiro: odeio bajuladores. Parem com essa treta; Segundo: porque sou ainda um mero estudante, ainda não cheguei ao ponto de decidir defender a monarquia, ou de enveredar por uma carreira de artista pop, ou outro qualquer sonho utópico desse tipo.
Apesar disso, a vida de estudante tem, no entanto, vindo a dar-me material suficiente para conseguir formular algumas teorias próprias, que se ainda houver gente decente neste Mundo, decerto serão reflectidas e adoptadas no futuro, em prol de um Marte melhor. (Sim, no futuro vamos colonizar e mudar-nos para Marte. Ser tipo o Vale e Azevedo, mas... em bom.)
Falo, então, da frequente e continuamente utilizada expressão "...era uma ideia/um projecto muito avançado para a época". Não me interpretem mal, também acho que esta expressão dá um ar de conhecimento, de inteligência, de construção ideológica aceitável, se não fosse completamente estúpida e irracional. E, como sabem, racionalismos é comigo!
E é uma expressão que toda a gente usa, sem ninguém pensar realmente no que está a dizer e passando a demonstrar, assim, e ao contrário do que desejaria, uma estupidez e cegueira profundas. Utilizadores de tal expressão, digam-me: o tal sonho de construir uma máquina do tempo já foi, no vosso mundo, concretizado? Se não, então por favor deixem de dar desmérito aos ideólogos, aos pensadores, às pessoas que efectivamente usam expressões que querem dizer alguma coisa. Ora, se dizem que uma ideia é avançada demais para a época, então isso quer dizer que quem a teve é um prodígio? Que é vidente? Que é uma espécie de Exterminador Implacável Formulador de Ideias Futuristas vindo do... portanto, futuro? Se uma ideia é formulada numa dada altura, é completamente estúpido afirmar-se que ela é "avançada demais para a época", pois, e sobre isto tenho uma muito bem-fundada certeza: ELA FOI FORMULADA NA PRÓPRIA ÉPOCA!
Então como se deve encarar este acontecimento, acusar essa pessoa de ser uma bruxa e queimá-la numa fogueira agarrada a um poste (a pessoa, não a fogueira), brincadeira muito praticada pelas crianças nascidas por volta do século XVII? Deve-se assumir que essa pessoa fez toda uma viagem desde o futuro, sabendo perfeitamente como estão altas as portagens nas auto-estradas multi-dimensionais para dar a boa-nova ao Mundo sobre um método inovador de cozinhar arroz sem ter que queimar os nós das mãos? Não! Se a ideia foi formulada na altura em que se comiam vacas cruas, então não pertence à altura em que se come a Rute Marlene gratinada e numa caminha de batatas. Pertence, lá está, à altura em que se comiam as tais vacas cruas, com o rabo ainda a abanar as moscas.
E pode haver quem diga: "Ah, coiso e tal, podia ainda não haver na altura os métodos, instrumentos e técnicas necessárias para levar a ideia avante", e de notar que quando digo 'avante' estou mesmo a falar no sentido literal. Calma, senhor Jerónimo.
Ora, se assim é, que tal tentarem falar com o próprio pensador que formulou a teoria, em vez de refutar e desacreditar o pobre coitado de imediato? Penso que ele, mais do que qualquer outra pessoa, terá uma boa concepção estrutural que pode vir a ser útil. Não me parece que a ideia final lhe tenha surgido por obra e graça do Espírito (sim, trato-o por Espírito). Não que não acredite em tal coisa, apenas acho que não é da natureza do Espírito Santo querer incentivar as pessoas a serem estúpidas e, até, hereges ao ponto de usarem expressões como "... é muito avançado para a época".

Vinaka,
Abreijo.