segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Plágio corpóreo.

Hoje o caldo vai entornar! Talvez não em Portugal, que já se faz tarde, mas provavelmente nos Estados Unidos alguém vai bater com o pé num móvel enquanto leva o jantar para o quarto e vai entornar o caldo. O que é que isto contribui para este texto? Pouco, se nada. A ver vamos, se algo se aproveita daqui...
Ora, tenho começado muitos textos a insultar pessoas variadas, e para não quebrar a corrente aqui vai outro: Eu sou estúpido. Mas o facto de ser estúpido não me impossibilita de ter um sentido de justiça apurado. Sou tão capaz de partir a perna a um cão como a um gato! Estou a brincar, eu não testo os meus textos em animais...
Se há coisa que não gosto, para além de cremes e velas de cheiro (muito macho, o menino...), é de ver alguém a receber os louros pelo trabalho de outros, sejam eles académicos ou indianos que fazem sapatilhas a preços muito baixos. E, no entanto, todos temos dentro de nós um parasita social destes. Não são lombrigas, não senhor... É o nosso coração! Sim, esse baterista de meia-tigela, sobre quem recaem todas as esperanças de vida dos seres vivos. Até aí tudo bem, não refuto a importância do coração no que toca a bombear sangue, e nos manter vivos e tal. Mas condeno veemente - reparem que não condeno de uma maneira qualquer - essa mania que o coração tem de ficar com os créditos de tudo o que é sentimentalismo humano.
Porque reparem, é o nosso cérebro que nos faz sentir... sentimentos, mesmo. Não é o coração. O máximo que o coração nos pode fazer sentir é dor, e não daquela de "Ai, estou tão triste que dói!". Dor verdadeira, de quem nos espeta uma estaca no coração por pensar que somos lobisomens devido ao pêlo que acumulamos na zona das virilhas. Dor aguda no braço, daquela que é capaz de nos deixar com um novo aspecto visual de um dos lados do corpo para o resto da vida. Esses sim, são sentimentos que o coração produz. Mas, mesmo esses têm que ser assimilados pelo cérebro, porque é esse menino que nos faz compreender que, sim senhor, estamos a ter uma trombose.
Isto percebia-se antigamente, atenção: A falta de entendimento e de melhor interpretação faziam com que o ser humano associasse tudo ao coração, até porque sem ele não dava para fazer muitas mais coisas. Mas hoje em dia, com uma nova abordagem, já é tempo de se dar ao cérebro o valor que ele merece. E não falo em termos da comunidade intelectual e científica, porque esta está anos-luz à nossa frente. Anos-luz ou não fosse ela... científica, pois. Falo em termos de: casais parvos.
Sim, estou completamente ciente do perigo de criticar casais. É que são logo duas pessoas, melosas e intransigentes, a mandar vir comigo... Mas à luz do que acabamos de concluir - mais eu do que vocês - porque é que ainda continuam a mandar corações à vossa cara-metade? Não é aí que se encontra o amor, meus caros! Aí só está sangue, por vezes alguma heroína e uma batida rítmica que deixaria o baterista dos Metallica envergonhado (já que falamos em heroína). O amor está mais acima, no cérebro... ou mais abaixo, segundo algumas mulheres. Mas não vamos por aí.
Portanto é isto que eu defendo: deixem de mandar corações para os vossos companheiros, comecem a mandar cérebros. Pode ser estranho ao início, mas... mas nada, é o correcto. Os corações não são menos nojentos. Desenrasquem-se!

P.S.: Não se aproveitou mesmo nada do caldo... Nem neste texto, nem no jantar do americano.
Abreijo.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Em limpezas.

Está a chover de uma forma algo intensa, e à conta disso já não posso calçar os meus saltos altos de agulha e vaguear pelas ruas mais movimentadas da cidade, pedindo a todos os transeuntes que me chamem Dona Amélia.
Portanto, conclui que o melhor seria mesmo dirigir-vos a palavra, e acabar com esta nossa birra de já não nos falarmos há algum tempo. Se bem que vocês nunca me falaram, o que até nem é mau porque muitos de vocês poderão ser algo... chatos.
E lembrei-me de vos dirigir a palavra quando, justamente pelo facto de estar a chover e de ter que me entreter com algo (de filmes "caseiros" já estou eu farto), fixei os olhos durante alguns minutos no ecrã do meu computador. Uma vida de sonho, a minha! E a dada altura comecei a sentir-me mal comigo mesmo, não só porque queria mesmo encarnar outra vez o papel de Dona Amélia e não podia, mas também porque reparei que tinha a "reciclagem" do computador cheia. Vocês sabem, aquele espaço para onde mandamos os tais filmes "caseiros" quando alguém nos pede para usar o computador.
É que eu sou um bocado narcisista, e da lista de qualidades que fiz da minha pessoa também consta ser limpo e asseado. Na página 327, logo a seguir a "ser extremamente sensual". E é por isso que odeio ver sujidade, seja no meu balde-do-lixo seja no bigode do Quim Barreiros. Por isso o balde-do-lixo virtual também não me escapa, que eu odeio estar no computador e começar a sentir o cheiro nauseabundo de ficheiros em decomposição.
Por esta altura, já devem estar outra vez com aquela impressão de que estou a exagerar. Têm que parar com isso, sabem que depois vou ter que vos insultar... E aqui vai:
Normalmente, depois de algum tempo as pessoas com um rendimento mensal superior a 5€ e com água canalizada em casa gostam de deitar o lixo fora, porque se não o fizerem aquilo começa a cheirar mal. E ao que parece também não é higiénico, ou algo assim... Então porque é que no campo virtual se desleixam nessa matéria? É que depois ficam os ficheiros a cheirar muito a fruta podre, o que pode vir a criar problemas com o firewall que vos poderá passar uma multa por estarem a causar mal-estar nos outros programas do computador. É um ciclo vicioso, que poderia ser evitado se tivessem a decência e o civismo de deitarem fora o lixo virtual.
Já nem digo para reciclarem, porque já vi que o computador encara essa matéria tal e qual como na vida real: mesmo que se mande algo para a reciclagem, quando aquilo lá chega misturam o lixo todo outra vez. Prova é que, nos computadores, apesar de só haver um balde-do-lixo continuam a chamar àquilo "reciclagem".
E daí, talvez seja isso que desmotiva as pessoas em relação à reciclagem. A falta de honestidade dos lixeiros... e da firewall.

Abreijo.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Egoísmo patriota.

O português é um ser mesquinho. E não falo de nenhum português em particular, podem ficar descansados. As vossas vidas não me interessam. Falo, isso sim, dos portugueses no geral, aqueles que hoje em dia chamamos, tão afavelmente, de "tugas".
O "tuga" é aquele senhor barbudo e grisalho que está sempre na mesa escura do canto a reclamar de tudo e com tudo, assustando qualquer pessoa que se atreva a olhar na sua direcção. É aquele velho que fura as bolas de futebol que vão parar ao seu quintal, aquele sénior de quem ninguém gosta e com quem ninguém se dá. Não duvido que este tipo de portugueses até tenha uma faceta interior boa e generosa, mas não é um interior que se possa ver assim tão facilmente com uma qualquer lanterna de poucos watts.
No entanto, este bichinho da "tuguice" pode adoptar variadíssimas formas. De facto, o que me surpreende é que, apesar de nem todos os portugueses corresponderem directamente a esta imagem, todos têm alguns pontos em comum com o raio do velho, seja em relação a política, em relação ao clima e à temperatura, em relação ao futebol ou em relação... a acidentes internacionais "de grande porte". (E é aqui que entra a parte da galhofa e da boémia, em que eu digo parvoíces e vocês, supostamente, riem-se.)
Sim, o português - ou o "tuga", mais propriamente - é aquele ser capaz de desvalorizar todas e quaisquer catástrofes internacionais: sejam elas naturais, de acção humana ou, possivelmente, de origem alienígena. E o "tuga" continuará para sempre a depreciar tudo isso, a menos que - e isto é crucial - seja informado da existência de algum compatriota português entre as vítimas. Aí descamba tudo! Só nesse momento é que esse, até então, pequeno infortúnio em solo estrangeiro se torna numa calamidade merecedora de toda a sua atenção e compaixão. Ignore-se o número de vítimas, a quantidade de habitações demolidas, os litros de água salgada engolidos pelos sacrificados... Desde que não haja lá nenhum português pelo meio, minimiza-se o cenário e a situação haverá de se resolver por si. Que choramingas, esses desalojados...
E o que me assusta não é o facto de o "tuga" pensar assim. Dele eu já esperava isto. O que me mexe aqui com as entranhas (sim, afinal não sou assim tão oco) é o facto de essa também se estar a tornar na primeira preocupação dos órgãos de comunicação social. Pode ter sido um acidente de extremo aparato, mas ao menos nenhum português se magoou; e é isto que se considera ser importante noticiar em primeiro lugar, ainda antes de se saber sequer o que realmente aconteceu. A ordem de ideias é a seguinte, exemplificada por uma conversa entre dois típicos "tugas":

- Oh lá... uma catástrofe enorme ceifou a vida de milhares de pessoas naquele país que ninguém sabe muito bem onde fica. Que giro...
- E havia por lá algum português?
- Não, felizmente.
- Ah, menos mal... Dá-me aí esse agrafador.

E pronto, volta-se à leviandade. Mal esta última informação é divulgada, o "tuga" volta a emborcar a cerveja pousada na tal mesa do canto, com medo que entretanto as bolhinhas lhe fujam todas da garrafa. Isso sim, seria uma catástrofe!
A presença de um colega "tuga" torna todo e qualquer assunto merecedor da maior das atenções por parte do português comum. É por isto que defendo a necessidade da presença de um português em todo o tipo de assuntos que sejam merecedores de atenção: seja no campo da política, da economia, da ciência ou da criação da perdiz vermelha em cativeiro. Não gozem, é um assunto sério.
Enfim, muitas coisas explicam o porquê de Portugal não brincar muito com os outros meninos. Eu apenas apresentei aqui um dos aspectos que mais me apela, na condição de... parvo. Se o vosso objectivo era serem elucidados acerca de condutas económicas em contexto de crise ou do estado da balança comercial do país quando comparado com as dos seus congéneres europeus, então ou não costumam vir aqui ou estão infinitamente à espera que eu me torne numa pessoa séria.
Em qualquer dos casos, aconselho-vos outras leituras.

Abreijo.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Carequices.

Não sei, eu não sei qual é o meu estado de espírito neste momento. Percebo que isto vos possa assustar, até por saberem que eu sou um ser profunda e persistentemente indignado. Aliás, a minha mãe conta-me que quando nasci e o doutor me deu uma palmada para chorar (eu, não ele), eu franzi o sobrolho, apertei a gravata e processei-o por negligência médica. Mas hoje não.
Hoje apresento-me perante vós mergulhado num mar de confusão e incerteza. Não é bem um mar, é mais um... tupperware, ou assim; mas bem cheio. "Mas porquê?", perguntam vocês já visivelmente preocupados com o meu bem-estar emocional. Ora, porque estamos a ficar sem pêlos. É verdade meus caros, anos e anos de evolução estão a fazer-nos o mesmo que faria uma banda de cera, só que num processo muito mais lento e um bocado menos doloroso. Portanto, sendo que o Homem é descendente do macaco - apesar de muitos deles insistirem em manter ainda o grau de parentesco -, vemos que, gradualmente, este tem vindo a perder território no que toca a zonas do corpo populadas por guedelha.
E é aqui que entra a minha incerteza, a minha perplexidade e a minha expectativa (estou cheio de sentimentos, hoje): O que devemos esperar para as gerações vindouras, em termos de superfície capilar? Nos filmes futuristas de ficção (que aliteração tão bem conseguida) vejo apenas seres humanos como hoje em dia os conhecemos, que apenas se diferenciam devido às suas roupas extravagantes, dignas de um espectáculo do La Féria. No entanto, e devo ser eu o único estúpido a pensar nisto, seria de esperar que, com o avançar do tempo, também a nossa calvície corporal registasse um aumento significativo, que aparentássemos ser uns "recém-nascidos do espaço sideral" mas daqueles que não se vomitam depois do biberão do lanche.
E é aqui que entra o sentimento de confusão: será este acontecimento positivo para o ser humano? Ou, por outro lado, será que necessitamos de pêlos para orientarmos a nossa vida presente e futura, abanando o cabelo ao sabor da falta de gravidade dentro das nossas naves espaciais? Os mais peludos, que não gostam de o ser, dir-me-ão que esta ordem natural das coisas será positiva, porque deixaremos de ter que aparar aquelas zonas especiais para agradar ao nosso parceiro intergaláctico. No entanto, os pêlos mostram-se essenciais na altura de conquistar, precisamente, esse parceiro. Imaginem, por exemplo, um Zezé Camarinha sem cabelo (e, portanto, sem gordura animal a penteá-lo), sem bigode e sem pelos no peito. O que seria de um espécime destes?! Sim, continuaria a usar o fio-de-ouro... mas sem pêlos onde se prender não é a mesma coisa. A minha avó tem uma opinião bem formada sobre o assunto, ao que ela diz que: "Homem que é homem tem pêlo na venta!". Talvez isso explique os vestidos de noite que ela ainda hoje me oferece...
E a confusão que eu sinto neste momento não se fica por aqui! Até porque já começo a sentir também uma certa vontade de urinar... Então se o processo de "descabelização" do corpo humano é sinónimo de evolução, quererá isso dizer que os carecas de hoje são mais evoluídos que as restantes pessoas? É neles que devemos depositar as nossas esperanças de um futuro melhor? Não lhes bastava que fosse dos carecas que elas gostam mais? E agora como é que eu encaro o meu tio Francisco, careca há já uns bons anos? Saúdo-lhe com um bom-dia ou ajoelho-me aos seus pés?
São tudo perguntas que deverão ser respondidas a seu tempo, porque está visto que o comum ser humano de hoje em dia não está preparado para se lhes formular uma resposta. A não ser o meu tio Francisco.
E não vale usar a depilação e as máquinas eléctricas como alternativa, meus amigos! Não conseguem enganar o sistema. Só se podem tornar seres evoluídos a partir do momento em que o vosso corpo começa a rejeitar crescer pêlos. É pena é que isso normalmente só aconteça a partir dos 70 anos, quando começa a entrar o Alzheimer e as pessoas se esquecem de que já está na altura de se tornarem nos seres humanos mais evoluídos.

Abreijo.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Televisão e sofá.

... e se não gostares, vai lamber as glândulas mamárias da tua avó!
Peço desculpa, estava aqui a acabar uma conversa com o meu primo Jorge. Também podiam ter batido à porta primeiro, não custava nada. Enfim...
O tema de hoje é-nos trazido pela minha elevada capacidade de - e grande formação em -... estar sentado. Quer dizer, não é bem sentado, é mais aquela posição em que muitas vezes nos encontramos depois de algum tempo sentados no sofá e nem nos lembramos como chegamos lá. Já me me encontrei muitas vezes a fazer Yoga em cima das almofadas do sofá, mesmo antes de saber sequer o que isso era. Se hoje já o sei? Não particularmente, apenas sei que envolve calças muito apertadinhas. Mas deixemo-nos disso.
Estava eu, muito gostoso, a fazer zapping, aquilo que todos os portugueses adeptos desta prática da preguiça costumam fazer (e nem estou a falar do zapping, estou a falar da preguiça em dizer até "mudar canais"), quando de repente dou de caras com aquilo que me pareceu ser a nova longa-metragem do nosso Manoel de Oliveira, cuja própria duração de vida poderia dar para uma longuíssima-metragem, daquelas que nos fazem ter que sair da sala de cinema e ir urinar umas três vezes. Qual não é a minha surpresa quando reparo que estou, na verdade, a ver um canal infantil, e que aquilo que eu pensava serem pessoas reais - não confundir com a Lili Caneças -, eram na verdade desenhos animados super-ultra-hiper-mega reais, daqueles que até têm borbulhas na cara e às vezes até as espremem, caso os guionistas não tenham muito material para escrever. Não quero que pensem que estou a exagerar, meus ursinhos de pelúcia; são desenhos animados que conseguiriam ultrapassar o nível de realismo até do choro da Fátima Lopes - que, até ver, é humana - nos seus programas da tarde.
E perguntam-me vocês, caso consigam obter o meu número de telefone através das páginas amarelas: "Qual é o problema de haver desenhos animados cada vez mais 'reais'?" Adoro quando falam comigo directamente, faz-me sentir especial. Problema, necessariamente, não será, mas perde-se um bocado o propósito. Ainda sou jovem, mas lembro-me que no meu tempo os desenhos animados ainda eram... desenhados. Ah, e animados! Hoje em dia é tudo computadorizado, feito em três, quatro ou cinco dimensões (e que mais hajam), com efeitos visuais e de sombra que copiam a realidade, com personagens politicamente correctas e cenários circunspectos, e onde um rato espetar um martelo na cabeça a um gato já não é considerado entretenimento. Que ultraje... A animação, essa, também se esvaiu um bocado com essa "filtração" de tecnologia, nem que seja pela falta das cores vivas dos desenhos, hoje em dia substituídas pelas cores aborrecidas da realidade. Se é para ver a realidade, então desligo a televisão, ora!
Mas a questão é muito simples, e aposto que ninguém se vai dirigir a ela com a seriedade necessária: Como querem que seja preguiçoso se até me aborreço com aquilo que me é suposto divertir?! Se quisesse ver desenhos animados em grafismo mega-real, ia a um lago e vestia um dos patos que por lá andasse com uma roupa de marinheiro. Depois, dava-lhe o nome de Donald e imaginava-lhe um impedimento de fala característico. Se quisesse ver um Rato Mickey real, ia aos arquivos dos tribunais portugueses onde metade dos casos em espera já foram degustados pelas grandes ratazanas que por lá andam. Depois era só adicionar, mais uma vez, a vozinha irritante.
No entanto, o problema é justamente esse: não quero "ir" a lado nenhum! Quero ficar no sofá de cabeça para baixo e joelhos na nuca enquanto outros me divertem, e eu me vou sentindo como um verdadeiro imperador romano perante a sua plebe, mas sem a parte da saia.
Será pedir muito?

Abreijo.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Fru-talidades.

"Senhoras e senhores, meninos e meninas, cães e outros bichos, fechos éclair e alfaces temperadas:
Bem-vindos ao circo que é este Mundo!"
E ainda bem que se fala em alface, porque o tema hoje é justamente... fruta. Pronto, podia ter sido uma conexão melhor. Peço desculpa.
Se o leitor me conhece - e se me conhece pessoalmente, os meus pêsames -, saberá que eu sou um indivíduo. Mais do que isso, sou um indivíduo que odeia injustiças, principalmente quando causadas por pessoas soberbas e que se armam em Michael Phelps da piscina que é o quotidiano quando nada mais são do que peixinhos dourados do aquário que é a sua vida privada. E se há algo que me irrita mais do que pessoas soberbas, são frutas que não sabem estar. Frutas que não sabem viver em comunidade "frutífera", que aproveitam toda e qualquer oportunidade para se engrandecerem em detrimento das outras. E sem mais delongas (palavra gira...), apresento-vos a fruta em questão: o morango. E vêm vocês com as queixas do costume: que o morango é bom, que o morango é saudável, que o morango até nem tem caroço, que o morango conduz um descapotável para ir passear aos Domingos à tarde... Não quero saber! O morango, meus amigos que eu provavelmente nem conheço, é, para todos os efeitos, má-pessoa... ou fruto, vá.
E passo a explicar: na sociedade de hoje, qual é a fruta cujo sabor é mais conhecido? Serão a maçã ou a laranja, produtos tão comuns e de relativamente fácil acesso à maior parte das pessoas? Será a banana, já mais difícil de encontrar mas mesmo assim muito comum, e até popular, no mundo dos macacos e dos controladores de qualidade das empresas de preservativos? Não, claro que não! É o morango que faz questão de arrebatar tudo o que é produto, comestível ou não, e meter-se lá dentro, obrigando-nos a levar com o seu sabor! Sim, eu sei que esta última parte foi um bocado badalhoca, mas a verdade tem que ser dita, meus caros.
Quem foi que autorizou o morango a ser o sabor standard de (quase) tudo o que existe? Porque é que os iogurtes, os gelados, os bolos e os pensos higiénicos (a julgar pela cor, nunca provei...) têm que saber a morango e não podem simplesmente saber a iogurte, gelado, bolo, ou... isso? Quem disse ao morango que ele era mais do que as outras frutas, que merecia mais reconhecimento do que os seus pares? É uma nova revolução das frutas que queremos, tal como a antiga, e provavelmente já esquecida, "Tomada da Frutaria de '62"?
A única razão pela qual poderia sequer pensar em nutrir o mínimo de respeito pelo morango prender-se-ia com o facto de, apesar da sua pequena e fraca estatura, possuir uma enorme capacidade de persuasão. De que outra forma conseguiria convencer todos os produtores de... coisas que o seu sabor era o mais adequado para as suas... coisas? De facto, o morango é aquele tipo de fruto que, num confronto directo com um ananás, por exemplo, bastaria este último encostar-se a ele e teríamos puré de morango com uma pitada de fanfarronice. Mas, no entanto, todos parecem babar-se perante a hegemonia "moranguista" que por aí reina! E quando se começa a babar, é sinal que algo não está bem. Perguntem ao meu tio-avô.
Deixem-se de favoritismos, pelo menos no que toca à fruta. Não deixem que seja uma só fruta a possuir o monopólio do paladar humano, dêem oportunidade a frutas emergentes, e até mesmo às antigas, de fazerem o seu papel no panorama dos sabores. Dão dinamismo aos vossos produtos - no meu caso, sinceramente, já estou tão enjoado de coisas de morango que já nem as consumo -, e evitam tragédias e mal-estar no cesto da fruta de muita gente.

Abreijo.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Separatismo saudável.

No outro dia, a minha mãe virou-se para mim e perguntou: "Filho, gostas de sopas de letras?"
... mas calma, que isto ainda não acabou. Até não desgosto de sopa de letras. Se levar à boca uma colherada com algumas sete letras, sou até capaz de as embuchar por ordem alfabética, e ainda cuspir as que estiverem danificadas ou incompletas. Isto só para verem o trabalho de língua e palato - não confundir com Malato, que esse até consegue fazer contas de dividir com qualquer tipo de massa, desde que esteja cozinhada - deste menino.
E já que falamos - falo eu, que vocês aí aposto que nem se mexem - em contas, vou então introduzir o tema de uma forma simples e serena (até queria introduzi-lo de uma forma divertida e sensual, mas quando mandei vir uma carrinha de nove lugares com cinco palhaços e quatro strippers acabaram por ficar todos na berma da estrada a brincar com o macaco de mudar pneus): tal como não desgosto de sopa de letras, também chego a ser grande fã das letras em si. Caso contrário, estariam muito provavelmente a ouvir as minhas divagações por entre duas (ou mais) cervejas na mesa mais recatada do Café do Tolas, em vez de as estarem aqui a ler. Gosto, de facto, de letras, da sua conjugação, das formas engraçadas que elas têm, da sua fonética, aqueles sons estranhos que elas me obrigam a produzir oralmente, e que quando conectados quase fazem uma melodia digna de uma banda sonora de um filme pornográfico, tal é a excitação que provocam em mim. Pronto, eu acalmo-me...
Também até nem desgosto de números, e sou até menino para, num dia solarengo, fazer uma ou duas contas de subtrair sem ter que sacar da calculadora que, curiosamente, só funciona a energia de raios solares. Desde que não me peçam para dividir, por mim está tudo bem (e nem é por eu ser uma pessoa egoísta, é mesmo por nunca ter percebido como funcionam aquelas contas).
O problema, meus caros, é quando decidem misturar as duas coisas. Aí é que a sopa azeda! Aí é que não há calculadoras que me valham! E o que me irrita mais é que a mistura só se dá por vontade dos números, porque as letras estão no seu lado quietinhas, a jogar Scrabble e a beber umas frescas. Na escola até me ensinaram que se deve escrever os números por extenso, pelo menos os mais pequenos, que é para poupar caneta (a meu ver). Até nisso as letras evitam entrar no território inimigo. Mas os números não, equipam-se com as suas metralhadoras quânticas e os seus capacetes de guerra binários e infiltram-se no território das letras, raptando as que bem lhes apetece para mais tarde usarem em fórmulas matemáticas e outras práticas horrendas que tais. MAS COM QUE DIREITO, pergunto eu em maiúsculas que é para chamar a atenção do leitor mais distraído?
A forma mais comum de enumeração que encontramos na escrita chega a ser em numeração romana, que mais não é do que a conjugação de diferentes letras para interpretar números. Até nisso as letras se mostram menos conflituosas: para evitar animosidades, arranjaram forma de transcrever os números sem sequer ter que lhes tocar. É um verdadeiro escândalo ver alguns números passar incólumes nas ruas e felizes da vida, sabendo muito bem aquilo por que fizeram passar as pobres das letras; muitas delas tendo recorrido à auto-mutilação - veja-se o caso do pobre "y", que de normal tem pouco - tal foi o trauma que lhes ficou.
Devíamos aprender com as letras, seguir o seu exemplo de civismo e respeito pelo próximo! Por exemplo, se não queremos conviver com outras culturas, em vez de as tentar erradicar podemos sempre adaptá-las à nossa própria linguagem e - imitando o que as letras fizeram em relação aos números - referir-nos a elas recorrendo a sólidos geométricos, ou a faixas do CD Best Of da Rute Marlene.
Fica a dica.

Abreijo.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Estranhezas.

Vocês são feios, tirando a menina aí à esquerda que eu não me importava de me esforçar por fazer feliz. Então, ora bom dia!
Vamos ao assunto, propriamente dito: Os meus pais são estranhos. E nem falo disso pelos genes que me transmitiram, que obviamente têm muito que se lhes diga, mas sim pelo facto de os ensinamentos que me têm vindo a propagar serem um tanto ou quanto incongruentes. Digo incongruentes porque, caso ninguém tenha ainda reparado, é uma palavra muito gira e que, ao mesmo tempo, me faz parecer inteligente. Também o digo por ser verdade: os meus pais, quando querem, são uns verdadeiros ovos Kinder de surpresas inúteis; vocês sabem, como aqueles bonecos da treta pintados pela mesma pessoa que faz a maquilhagem da "Lady" Betty Grafstein (cuspi-me todo a dizer isto em voz alta) todos os dias há mais de três séculos, quando o que realmente queríamos era um daqueles bonecos capazes de envergonhar os móveis do (da?) IKEA em termos de dificuldade de montagem.
Mas não pensem que os vossos pais não fazem também parte deste arraial, porque sabem bem que tudo o que escrevo também a vós vos diz respeito. Digam-me: quantas vezes seguiram à risca a regra dos vossos pais para não darem conversa a estranhos? (A Maddie, não conta; ela nem teve voto na matéria.) Se me disserem que sempre cumpriram com essa promessa, então estar-me-ão a mentir. E aí o problema já não é dos vossos pais, é mesmo por vocês próprios serem más pessoas.
Se são como eu, o problema ainda mais se agrava. Na condição de filho mais novo, era eu quem realizava todas as pequenas tarefas relacionadas com o lar: era eu quem ia comprar duas nabiças e três pacotes de leite à loja do fim da rua, era eu quem ia a casa do vizinho que ninguém sabia ser pedófilo (afinal, quem naquela altura desconfiava do padre da paróquia?), era eu que ia à costureira ver se o xaile de renda da minha avó já estava pronto, visto que ela tinha tirado uma semana de férias do tricô para ir com o meu avô ao Salão Erótico de Lisboa, não como espectadores mas como espectáculo principal (absorvam lá essa imagem mental). É claro que em todas estas pequenas "voltinhas" eu teria inevitavelmente que me dar com pessoas desconhecidas. Que legitimidade tem a dona Faustina da frutaria para meter conversa comigo quando o Armindo "Drogado" nem podia oferecer-me um daqueles rebuçados especiais dele, parecidos àqueles que o farmacêutico me tinha vendido no dia anterior para curar a infecção recorrente da minha avó nas zonas baixas derivada das suas semanas de férias? Porque é que eu podia responder ao condutor do autocarro quando me perguntava qual o meu destino e nem podia dar bola a pessoas em alguns sites da Internet que tão prontamente me ofereciam brinquedos e um frasco de Vaselina se nos encontrássemos no parque infantil mais próximo? Isto é ser-se preconceituoso, meus amigos. Nos dias de hoje, já não se justifica.
Se eu seguisse as instruções dos meus pais à risca, a dona Faustina ficaria a pensar que os meus pais tinham um filho retardado (o que não é completamente mentira), ou que eu nunca casaria com a sua filha Benilde por ser demasiadamente tímido; seria capaz de ficar um dia inteiro a dar voltas no autocarro, porque a campainha estava avariada e eu não podia falar com o condutor para o avisar que estava perto da minha paragem.
O meu conselho para qualquer criança que tenha pesquisado "sexo homem + mulher" no Google e esteja acidentalmente a ler este texto é, então, para não se acatarem no que toca a dar conversa a desconhecidos. Quem sabe, ainda fazem amigos para a vida! E a verdadeira amizade não se mede em gramas de cocaína no bucho.

Acabando com os agradecimentos,
Abreijo.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Exclusões de estação.

Sempre ouvi dizer que a vida era injusta, e nunca entendi bem o significado desta afirmação. Quer dizer, é claro que também achava injusto ver muitas vezes na televisão os povos asiáticos a plantar arroz durante todo o dia e serem só africanos a comerem-no, à tigelada. Pelo menos foi o que deduzi das imagens transmitidas... televisão não é o meu forte, principalmente a portuguesa.
Mas num sentido mais profundo, só muito recentemente percebi a profundidade do significado de injustiça. Foi agora mesmo, vá, ao deparar-me com uma problemática à qual nunca tinha ligado muito, mas que todos os dias me aflige: o fosso entre a quantidade de privilégios do tronco e das pernas. Isto é...
Está frio! Esta afirmação nenhum português que nunca tenha emigrado para as regiões Norte pode negar. E estando frio, as pessoas têm uma tendência para vestir mais roupa, para brincar nus debaixo dos cobertores com os seus Action Man's ou, até, para despejar por cima de si umas quantas sopas de nabiças a ferver, até que a pele fique tão dormente que deixam de sentir o que quer que seja.
Para os dois últimos casos, desejo a melhor das sortes nos seus futuros próximos, e que tudo lhes corra pelo melhor apesar das circunstâncias mentais. No entanto, quem decide optar pela primeira medida depara-se com um paradoxo enorme que incide no modo como encaramos as roupas, hoje em dia.
Senão, vejamos: está frio, vou vestir umas cinco camisolas, dois gorros, umas luvas, e um cachecol e só não espeto aqui uma máscara na face porque já fizeram um filme sobre isso e o rapaz pelos vistos comia pessoas, e era desagradável para elas. E as pernas? O que fazemos para proteger as pernas, meus amigos? Eu não consigo ter frio só num sítio, normalmente quando tenho é em todos. Então como fazemos? "Ah, vestimos um par de calças." Sim, mas isso é usual, porque se não o fizéssemos íamos para a Disney trabalhar o dia todo com um fato de marinheiro e um bico amarelo. E agora, que outra solução há? Podemos sempre vestir um kilt, mas o verdadeiro truque da sua utilidade está no whisky que bebe quem o usa. Esse sim, aquece o corpo todo. Quando éramos pequenos tínhamos um truque porreiro, que era o urinar nas calças. Hoje em dia, alguns de nós já mais crescidos, parece-me de mau gosto estar a usar esta cartada, não só porque já a usamos nos nossos tempos de glória e convém inovar, mas também porque, vá-se lá saber porquê, a partir de uma certa idade o acto já não se revela socialmente aceitável.
Então, o que fazer? Podemos usar três pares de calças quentinhas e gozar com as pessoas que passam por nós na rua só com um, mas aí estar-lhes-íamos a dar legitimidade para nos chamar estúpidos. E com razão. Para além de que existe toda uma problemática característica aos homens que faz com que esta solução se torne inviável e até um bocado desconfortável.
Podemos também aderir àquela brilhante ideia de algumas mulheres de que as meias-calças ou as leggings são igualmente quentes e cómodas, mas prefiro nem começar nesse assunto, que me dá voltas ao estômago. Para além de que, e outra vez relativamente à maior parte dos homens, essa solução não seria agradável de todo, por razões várias e de conhecimento geral.
Então qual a solução? Hoje em dia ainda não se inventou a tecnologia necessária para dar uma resposta a esta questão. O melhor que podemos fazer é enfiar nos pés uns três pares de meias tricotadas pelo elemento mais idoso da nossa família, e deixar a zona das pernas propriamente dita à mercê das temperaturas, esperando que não caiam com o frio.
Ou então ler um livro à luz da lareira com uma manta em cima das pernas. Mas já ninguém lê livros, hoje em dia.

Tak,
Abreijo.