domingo, 15 de setembro de 2013

Informalidades.

Antigamente vivia-se sem roupa. Mas justificava-se, porque na altura todos éramos alcatifados, adornados por uma tapeçaria de pêlos que embelezava o nosso corpo e desviava as atenções dos nossos largos e disformes crânios. Para além disso, estávamos bastante quentinhos.
Depois passou-nos, os nossos folículos pilosos abandonaram-nos e passamos a ter que servir-nos dos folículos pilosos das ovelhas para nos taparmos. E dizem vocês: "Folículo piloso és tu, oh palhaço!". Mas isso eu não vos admito! Se me querem chamar pintelho, ao menos usem o vernáculo. Eu até nem tenho nada contra roupa, antes pelo contrário... Só contra cuecas, essas apertam-me um bocado nas zonas baixas. Mas em geral até concordo que tapemos os tecidos orgânicos com que viemos ao Mundo, não só por causa do frio mas também para esconder o nosso entusiasmo pelos tecidos orgânicos dos outros. Mas de todas as indumentárias existentes, nunca hei-de entender o porquê do encanto em amarrar-se um bocado de tecido ao pescoço. Refiro-me, claramente, caro leitor mais vagaroso em matéria de raciocínio, à gravata.
Mais uma vez, não vos quero induzir em erro: Sou bastante fã de um bom fato. De estilo italiano, americano, inglês, roto, remendado, às bolinhas ou virado do avesso, um par de calças e um casaco dão sempre jeito. O problema é quando tenho que acrescentar ao casaco e às calças um nó no pescoço que passa o dia a balançar-me no tronco. E que me aponta para os genitais, como se fosse preciso esclarecer a alguém que eles lá estão!
Há quem diga que a gravata serve para esconder os inestéticos botões das camisas com que o fato se faz acompanhar. Mesmo que tal seja verdade, significa isto que, até hoje, a melhor solução que o ser humano encontrou para tapar simples botões foi um pedaço de tecido a gingar. Estamos a falar da mesma criatura que descobriu como fazer carros andar através de dinossauros mortos, e que até já inventou a Bimby! Agora comparem...
Sabem quem mais costuma usar acessórios ao pescoço? Os cães e os gatos. E vejam o quão domesticados eles são... No fundo, usar gravata é levar demasiado à letra a imagem do escravo trabalhador do século XVIII, com a corda ao pescoço. Ou a do escravo trabalhador endividado do século XXI, também com a corda ao pescoço. A diferença é que enquanto um se quer libertar da corda, o outro pretende fazer uso da corda para se libertar. De vez.
Até perceberia o uso de gravatas em algumas situações excepcionais, como na prática do bondage ou no cultivo da nobre arte do sadomasoquismo... Mas no dia-a-dia, e no próprio local de trabalho? A menos que tenhamos uma colega de secretária também disposta a qualquer tipo de cultivo, penso que não se justifica.

Abreijo.

Sem comentários:

Enviar um comentário

A cada comentário morre uma criança em África, relativamente a cenas.
Veja lá o que vai fazer.