sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Televisão e sofá.

... e se não gostares, vai lamber as glândulas mamárias da tua avó!
Peço desculpa, estava aqui a acabar uma conversa com o meu primo Jorge. Também podiam ter batido à porta primeiro, não custava nada. Enfim...
O tema de hoje é-nos trazido pela minha elevada capacidade de - e grande formação em -... estar sentado. Quer dizer, não é bem sentado, é mais aquela posição em que muitas vezes nos encontramos depois de algum tempo sentados no sofá e nem nos lembramos como chegamos lá. Já me me encontrei muitas vezes a fazer Yoga em cima das almofadas do sofá, mesmo antes de saber sequer o que isso era. Se hoje já o sei? Não particularmente, apenas sei que envolve calças muito apertadinhas. Mas deixemo-nos disso.
Estava eu, muito gostoso, a fazer zapping, aquilo que todos os portugueses adeptos desta prática da preguiça costumam fazer (e nem estou a falar do zapping, estou a falar da preguiça em dizer até "mudar canais"), quando de repente dou de caras com aquilo que me pareceu ser a nova longa-metragem do nosso Manoel de Oliveira, cuja própria duração de vida poderia dar para uma longuíssima-metragem, daquelas que nos fazem ter que sair da sala de cinema e ir urinar umas três vezes. Qual não é a minha surpresa quando reparo que estou, na verdade, a ver um canal infantil, e que aquilo que eu pensava serem pessoas reais - não confundir com a Lili Caneças -, eram na verdade desenhos animados super-ultra-hiper-mega reais, daqueles que até têm borbulhas na cara e às vezes até as espremem, caso os guionistas não tenham muito material para escrever. Não quero que pensem que estou a exagerar, meus ursinhos de pelúcia; são desenhos animados que conseguiriam ultrapassar o nível de realismo até do choro da Fátima Lopes - que, até ver, é humana - nos seus programas da tarde.
E perguntam-me vocês, caso consigam obter o meu número de telefone através das páginas amarelas: "Qual é o problema de haver desenhos animados cada vez mais 'reais'?" Adoro quando falam comigo directamente, faz-me sentir especial. Problema, necessariamente, não será, mas perde-se um bocado o propósito. Ainda sou jovem, mas lembro-me que no meu tempo os desenhos animados ainda eram... desenhados. Ah, e animados! Hoje em dia é tudo computadorizado, feito em três, quatro ou cinco dimensões (e que mais hajam), com efeitos visuais e de sombra que copiam a realidade, com personagens politicamente correctas e cenários circunspectos, e onde um rato espetar um martelo na cabeça a um gato já não é considerado entretenimento. Que ultraje... A animação, essa, também se esvaiu um bocado com essa "filtração" de tecnologia, nem que seja pela falta das cores vivas dos desenhos, hoje em dia substituídas pelas cores aborrecidas da realidade. Se é para ver a realidade, então desligo a televisão, ora!
Mas a questão é muito simples, e aposto que ninguém se vai dirigir a ela com a seriedade necessária: Como querem que seja preguiçoso se até me aborreço com aquilo que me é suposto divertir?! Se quisesse ver desenhos animados em grafismo mega-real, ia a um lago e vestia um dos patos que por lá andasse com uma roupa de marinheiro. Depois, dava-lhe o nome de Donald e imaginava-lhe um impedimento de fala característico. Se quisesse ver um Rato Mickey real, ia aos arquivos dos tribunais portugueses onde metade dos casos em espera já foram degustados pelas grandes ratazanas que por lá andam. Depois era só adicionar, mais uma vez, a vozinha irritante.
No entanto, o problema é justamente esse: não quero "ir" a lado nenhum! Quero ficar no sofá de cabeça para baixo e joelhos na nuca enquanto outros me divertem, e eu me vou sentindo como um verdadeiro imperador romano perante a sua plebe, mas sem a parte da saia.
Será pedir muito?

Abreijo.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Fru-talidades.

"Senhoras e senhores, meninos e meninas, cães e outros bichos, fechos éclair e alfaces temperadas:
Bem-vindos ao circo que é este Mundo!"
E ainda bem que se fala em alface, porque o tema hoje é justamente... fruta. Pronto, podia ter sido uma conexão melhor. Peço desculpa.
Se o leitor me conhece - e se me conhece pessoalmente, os meus pêsames -, saberá que eu sou um indivíduo. Mais do que isso, sou um indivíduo que odeia injustiças, principalmente quando causadas por pessoas soberbas e que se armam em Michael Phelps da piscina que é o quotidiano quando nada mais são do que peixinhos dourados do aquário que é a sua vida privada. E se há algo que me irrita mais do que pessoas soberbas, são frutas que não sabem estar. Frutas que não sabem viver em comunidade "frutífera", que aproveitam toda e qualquer oportunidade para se engrandecerem em detrimento das outras. E sem mais delongas (palavra gira...), apresento-vos a fruta em questão: o morango. E vêm vocês com as queixas do costume: que o morango é bom, que o morango é saudável, que o morango até nem tem caroço, que o morango conduz um descapotável para ir passear aos Domingos à tarde... Não quero saber! O morango, meus amigos que eu provavelmente nem conheço, é, para todos os efeitos, má-pessoa... ou fruto, vá.
E passo a explicar: na sociedade de hoje, qual é a fruta cujo sabor é mais conhecido? Serão a maçã ou a laranja, produtos tão comuns e de relativamente fácil acesso à maior parte das pessoas? Será a banana, já mais difícil de encontrar mas mesmo assim muito comum, e até popular, no mundo dos macacos e dos controladores de qualidade das empresas de preservativos? Não, claro que não! É o morango que faz questão de arrebatar tudo o que é produto, comestível ou não, e meter-se lá dentro, obrigando-nos a levar com o seu sabor! Sim, eu sei que esta última parte foi um bocado badalhoca, mas a verdade tem que ser dita, meus caros.
Quem foi que autorizou o morango a ser o sabor standard de (quase) tudo o que existe? Porque é que os iogurtes, os gelados, os bolos e os pensos higiénicos (a julgar pela cor, nunca provei...) têm que saber a morango e não podem simplesmente saber a iogurte, gelado, bolo, ou... isso? Quem disse ao morango que ele era mais do que as outras frutas, que merecia mais reconhecimento do que os seus pares? É uma nova revolução das frutas que queremos, tal como a antiga, e provavelmente já esquecida, "Tomada da Frutaria de '62"?
A única razão pela qual poderia sequer pensar em nutrir o mínimo de respeito pelo morango prender-se-ia com o facto de, apesar da sua pequena e fraca estatura, possuir uma enorme capacidade de persuasão. De que outra forma conseguiria convencer todos os produtores de... coisas que o seu sabor era o mais adequado para as suas... coisas? De facto, o morango é aquele tipo de fruto que, num confronto directo com um ananás, por exemplo, bastaria este último encostar-se a ele e teríamos puré de morango com uma pitada de fanfarronice. Mas, no entanto, todos parecem babar-se perante a hegemonia "moranguista" que por aí reina! E quando se começa a babar, é sinal que algo não está bem. Perguntem ao meu tio-avô.
Deixem-se de favoritismos, pelo menos no que toca à fruta. Não deixem que seja uma só fruta a possuir o monopólio do paladar humano, dêem oportunidade a frutas emergentes, e até mesmo às antigas, de fazerem o seu papel no panorama dos sabores. Dão dinamismo aos vossos produtos - no meu caso, sinceramente, já estou tão enjoado de coisas de morango que já nem as consumo -, e evitam tragédias e mal-estar no cesto da fruta de muita gente.

Abreijo.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Separatismo saudável.

No outro dia, a minha mãe virou-se para mim e perguntou: "Filho, gostas de sopas de letras?"
... mas calma, que isto ainda não acabou. Até não desgosto de sopa de letras. Se levar à boca uma colherada com algumas sete letras, sou até capaz de as embuchar por ordem alfabética, e ainda cuspir as que estiverem danificadas ou incompletas. Isto só para verem o trabalho de língua e palato - não confundir com Malato, que esse até consegue fazer contas de dividir com qualquer tipo de massa, desde que esteja cozinhada - deste menino.
E já que falamos - falo eu, que vocês aí aposto que nem se mexem - em contas, vou então introduzir o tema de uma forma simples e serena (até queria introduzi-lo de uma forma divertida e sensual, mas quando mandei vir uma carrinha de nove lugares com cinco palhaços e quatro strippers acabaram por ficar todos na berma da estrada a brincar com o macaco de mudar pneus): tal como não desgosto de sopa de letras, também chego a ser grande fã das letras em si. Caso contrário, estariam muito provavelmente a ouvir as minhas divagações por entre duas (ou mais) cervejas na mesa mais recatada do Café do Tolas, em vez de as estarem aqui a ler. Gosto, de facto, de letras, da sua conjugação, das formas engraçadas que elas têm, da sua fonética, aqueles sons estranhos que elas me obrigam a produzir oralmente, e que quando conectados quase fazem uma melodia digna de uma banda sonora de um filme pornográfico, tal é a excitação que provocam em mim. Pronto, eu acalmo-me...
Também até nem desgosto de números, e sou até menino para, num dia solarengo, fazer uma ou duas contas de subtrair sem ter que sacar da calculadora que, curiosamente, só funciona a energia de raios solares. Desde que não me peçam para dividir, por mim está tudo bem (e nem é por eu ser uma pessoa egoísta, é mesmo por nunca ter percebido como funcionam aquelas contas).
O problema, meus caros, é quando decidem misturar as duas coisas. Aí é que a sopa azeda! Aí é que não há calculadoras que me valham! E o que me irrita mais é que a mistura só se dá por vontade dos números, porque as letras estão no seu lado quietinhas, a jogar Scrabble e a beber umas frescas. Na escola até me ensinaram que se deve escrever os números por extenso, pelo menos os mais pequenos, que é para poupar caneta (a meu ver). Até nisso as letras evitam entrar no território inimigo. Mas os números não, equipam-se com as suas metralhadoras quânticas e os seus capacetes de guerra binários e infiltram-se no território das letras, raptando as que bem lhes apetece para mais tarde usarem em fórmulas matemáticas e outras práticas horrendas que tais. MAS COM QUE DIREITO, pergunto eu em maiúsculas que é para chamar a atenção do leitor mais distraído?
A forma mais comum de enumeração que encontramos na escrita chega a ser em numeração romana, que mais não é do que a conjugação de diferentes letras para interpretar números. Até nisso as letras se mostram menos conflituosas: para evitar animosidades, arranjaram forma de transcrever os números sem sequer ter que lhes tocar. É um verdadeiro escândalo ver alguns números passar incólumes nas ruas e felizes da vida, sabendo muito bem aquilo por que fizeram passar as pobres das letras; muitas delas tendo recorrido à auto-mutilação - veja-se o caso do pobre "y", que de normal tem pouco - tal foi o trauma que lhes ficou.
Devíamos aprender com as letras, seguir o seu exemplo de civismo e respeito pelo próximo! Por exemplo, se não queremos conviver com outras culturas, em vez de as tentar erradicar podemos sempre adaptá-las à nossa própria linguagem e - imitando o que as letras fizeram em relação aos números - referir-nos a elas recorrendo a sólidos geométricos, ou a faixas do CD Best Of da Rute Marlene.
Fica a dica.

Abreijo.