quinta-feira, 9 de maio de 2013

Fanfarrões intemporais.

Um tipo de pessoas que odeio – sim, mais um – é viajantes no tempo. Se o leitor é viajante no tempo, então odeio-o. Saúdo a sua descoberta de como o fazer, mas odeio-o na mesma.
Porque quem aspira a ser viajante no tempo são, normalmente, pessoas bastante fanfarronas. A meu ver, existem três tipos de fanfarrões: Os falsos fanfarrões, que dizem ter andado à porrada com três mexicanos encapuzados quando na verdade as nódoas negras que têm nas costas foram simplesmente provocadas por andarem a coçá-las contra a barra da cama; os fanfarrões por extrapolação, que ajudaram uma velhinha na rua e fazem questão de contar a toda a gente que ajudaram algumas quatro, muitas vezes incuindo (falsamente) terem-nas levarado ao mesmo tempo para a cama com algálias e tudo; e os fanfarrões por hipótese, que juram que se vivessem na idade do gelo eram peritos a caçar mamutes.
É neste último grupo de fanfarrões que encaixo os aspirantes a viajantes no tempo. Muitos destes, por saberem que ainda não é possível fazê-lo (tirando o leitor ali em cima), não poupam nas promessas acerca do que fariam se voltassem atrás no tempo. É muito fácil falar quando se tem as costas quentes, principalmente quando é a incapacidade da ciência quem nos aquece as costas. Senão, vejamos: Quantos de nós não nos imaginamos já a voltar atrás no tempo e a impedir os nossos pais de descobrir aquela colecção de revistas marotas que tínhamos naquele compartimento especial da mochila da escola? Talvez menos importante: Quem nunca desejou, por exemplo, voltar atrás no tempo e acabar com a vida de um ditador que tenha matado milhares de pessoas, aproveitando a altura em que ele ainda usa fraldas?
Saberão, no entanto, que aquele bebé, aos olhos das pessoas da altura, é apenas... um bebé, correcto? Portanto, se matassem o pequeno ditador aconteceriam, muito provavelmente, duas coisas: Primeiro, seriam considerados assassinos (de roupas extravagantes) por terem matado um pobre bebé indefeso; segundo, ninguém se lembraria do vosso feito no presente porque o miúdo nunca teria sequer chegado a saltar das fraldas para ir posteriormente matar pessoas. Ou seja, seriam provavelmente enfiados numa prisão do século XX com condições de sanitário do século XV, tudo por terem cometido o acto atroz de matar um pequeno bebé.
E aquelas pessoas que acham muito giro viajar no tempo com um GPS para mostrar ao pessoal da época dos Descobrimentos, que por acaso também são portugueses? Habituam mal os bravos navegadores e depois fazem o quê quando acabar a bateria? Indicam-lhes através de gestos o melhor caminho marítimo para a Índia? Dão-lhes dicas acerca de onde devem estacionar o barco, com a “Gazeta do Marinheiro” na mão?
Com tudo isto, pergunto-vos: Não seria melhor manterem-se por casa?
 

Abreijo.

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