sábado, 16 de agosto de 2014

O Mundo segundo algumas pessoas.

Cerca de 7.000 biliões de habitantes literalmente, mais pessoa menos pessoa , 6.371 km de raio e 510.000.000 km² de superfície. Isto podia ser a descrição do meu pénis, mas não é. Nunca conseguiria alimentar tanta gente. Na verdade, isto é a descrição do planeta Terra, aquela bola azul gigante a que nos vamos agarrando ao longo das nossas vidas para não cair. E, no entanto, mesmo tendo conhecimento destas dimensões, ainda há quem tenha o desplante de afirmar que "o Mundo é mesmo pequeno".
Você não se esconda, caro leitor, que eu estou a ver os seus pés aí por debaixo da cortina. É altura de encarar a realidade e enfrentar as consequências dos seus actos verbais. Eu sei, com garantida certeza, que o leitor já se viu na situação de encontrar uma pessoa conhecida numa zona remota e de afirmar, bacocamente, qualquer variante de: "Engraçado, o Mundo é mesmo pequeno!" Ai o Mundo é pequeno?! Mas você já viu bem o Mundo? Isto é grande com'ó caraças! Eu até nem sou de casas grandes, mas aqui o Mundo encheu-me o olho porque tem umas assoalhadas robustas e que aguentam bem o peso dos móveis que eu trouxe da casa antiga... Que era, tipo, Marte, ou, sei lá. Para efeitos de comicidade, fica Marte.
De facto, o Mundo é capaz de ser das maiores coisas que já vi na vida, de perto. Dizem-me que o Sol é maior, mas ainda não tive oportunidade de lá ir fazer uma visita. Talvez no próximo Verão, porque dizem-me que aquilo é bom é no aperto do calor. Deve ter boas praias, ou assim...
Claro, à escala do Universo inteiro é facto que não passamos de um micróbio especialmente chato; mas à nossa escala individual, este planeta chega ainda a constituir um espaço bastante satisfatório. Tanto que, desde que me mudei para cá, nunca mais de cá saí. Sou uma pessoa muito caseira, eu.
Ainda para mais, encontrarem um outro ser humano num espaço público qualquer não é algo assim tão inédito. Indédito seria encontrarem o vosso furão ou a vossa iguana numa floresta do interior de África, sabendo que esses animais ainda não desenvolveram meios de locomoção mecânicos. Para quem tem um avião ou um barco, fica mais fácil encontrar pessoas conhecidas noutra parte do Mundo.
É que, ao longo da História, muita gente trabalhou e batalhou, até literalmente, para conseguirmos obter uma representação mais ou menos fiel da escala global. Vamos agora questionar todas estas concepções que temos vindo a fazer acerca do Mundo ao longo dos séculos só porque você reencontrou a sua tia-avó americana numa largada de toiros em Espanha enquanto o toiro lhe afagava violentamente uma coxa com o corno e decidiu que o Mundo, afinal, é mesmo pequeno? Tenha paciência, o egocentrismo fica-lhe muito mal. A mim até fica bem, como tudo aliás, mas a você nem por isso.
E pronto, basicamente era isto. Até logo, depois havemos de combinar um cafezinho.

Abreijo.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Assobiadelas em construção.

Olá, pessoas bonitas! Quer dizer... Olá pessoas. Pronto.
Quem é que aqui sabe assobiar? É aquela coisa que envolve fazer um biquinho com os lábios e que não mete objectos fálicos nem câmaras fotográficas ao barulho. Agora, quem é que sabe assentar tijolo? É aquela coisa que ninguém quer ter que fazer, mas que tem sempre que calhar a alguns. Pois bem, se responderam de forma positiva a estas duas questões, há fortes possibilidades de vocês serem trolhas. E ainda bem, porque era mesmo com vocês que eu queria falar.
Eu tenho bastante apreço pela vossa labuta, a sério que sim. Mas a inovação é uma coisa necessária e até aconselhável praticamente em todos os trabalhos - excepto na venda de antiguidades -, e tenho sempre a ideia de que vocês não estão a inovar o suficiente. E a humanidade necessita da vossa inovação, por exemplo, no que diz respeito a dirigir assobios para gajas boas. Digam-me lá, há quantos anos usam o mesmo assobio para mostrar agrado em relação à constituição física de uma determinada pessoa? Todos sabemos de que assobio estou a falar, aquele "fui-fuiu!" a descair para o curto, mas com muita personalidade.
No fundo, somos todos um bocado trolhas, porque em todo o Mundo se recorre a um assobio idêntico. Já no que diz respeito aos piropos, somos uns artistas: "Ralava-te uma sopa de grelo com a minha varinha mágica!" e "A tua mãe merece a carta de piloto, porque não deve ser fácil parir um avião!" são verdadeiras obras de arte do mundo da construção civil, e da urbe no geral. Já a costumeira sonoridade do tal assobio torna-se repetitiva ao fim das primeiras, vá lá, duas décadas. Se ainda não estão convencidos - o que, desde já, demonstra alguma teimosia da vossa parte -, imaginem lá um Mundo onde os trolhas mandam sempre o mesmo piropo. É algo estranho, e até contranatura, não é?
Sim, se há coisa em que os trolhas são originais, para além de encontrar novos meios para esticar a factura, é nos piropos. E se o assobio é, no fundo, um piropo, então porque não variá-lo? Porque é que não começamos a assobiar uma das sinfonias de Beethoven quando vemos uma miúda gira? Uma qualquer, elas também não são esquisitas. Ganha-se em originalidade e em probabilidade de as engatar, porque ficarão a pensar que somos indivíduos com classe quando, na verdade, somos umas bestas. Quer dizer, eu não, mas vocês sim.
Pensem nisto, reflictam bem na vossa conduta piropeira. Se tiverem dúvidas em relação às quais eu possa ajudar, liguem para a minha secretária. Ela é pequenina, mas é feita em madeira maciça, de uma roseira que tinha no jardim. É resistente e trata-vos de tudo.

Abreijo.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

A nobre arte do arroto.

Se há família unida, é a minha. Não falo em termos de junções corporais, do género siamês, pegados pelas ancas, nem sequer em termos sentimentais. Eu, por exemplo, estou sempre a discutir com o meu cão. Embora ele seja mais de ladrar.
No que a minha família se mostra verdadeiramente unida é nos hábitos e nos costumes. Com efeito, no meu agregado familiar, quatro de cinco pessoas não conseguem arrotar. É um impedimento estúpido de se ter, bem sei, mas demonstra na perfeição a nossa profunda sintonia. A única que não está bem sintonizada é a minha mãe, porque consegue realmente arrotar, mas de qualquer forma eu sempre desconfiei que ela fosse mãe do padeiro. Espera, isto assim não funciona...
No fundo, somos um conjunto de pessoas extremamente bem-educadas à mesa, mas por razões que lhes são alheias. É como se estivéssemos a ser forçados a ter bons modos por uma qualquer entidade de etiqueta invisível. Menos a minha mãe, lá está, que essa é só javardona.
O que poderia ser considerado positivo, no entanto, acaba por ser algo incómodo e até relativamente nocivo. Isto porque o ser humano não foi criado para acumular gazes, tipo botija, e até a botija tem válvulas que lhe vão dando algum vagar. É por isso que, às vezes, gostava de ter nascido mais javardo, como a minha mãe, para poder ter uma válvula que não me deixasse afrontado cada vez que comesse uma colherada a mais de sopa de nabiça. E perguntam vocês: "Querias ser ainda mais javardo do que já és?"; e eu respondo-vos: "Não sejam parvos. E eu nem sequer gosto de sopa de nabiça."
É por causa desta absurda impossibilidade fisiológica que quando os membros da minha família bebem bebidas com gás ficam inchados como se fossem um pequeno cardume de peixes-balão. E eu até gosto de peixe, para variar um bocado da carne, mas nunca me imaginei nas escamas de um. Para além disso, já provei fitoplâncton e não gostei, é muito salgado.
E quando eu era miúdo, não arrotava? Claro que sim, e reparem que já começo a falar sozinho. Segundo a minha mãe, quando eu tinha cerca de três palmos era um campeão do arroto! Entretanto, pelos vistos, fui perdendo o fulgor. Talvez me tenha lesionado nos treinos, sei lá, depois de um dia especialmente intensivo a comer papas e puré de maçã. A partir daí, nunca mais consegui competir em arrotos com o bebé da vizinha do lado. O gajo era mesmo bom naquilo!
Pronto, tudo isto para que o caríssimo leitor fique a par de um aspecto especialmente interessante da minha vida, e da vida dos meus familiares. Mas não lhes diga que eu contei isto, que eles ficam chateados. Principalmente a javarda da minha mãe.

Abreijo.