terça-feira, 23 de julho de 2013

Medidas drásticas.

Temos que falar. Tenho andado a adiar esta conversa faz algum tempo, mas cheguei a um ponto em que já não me consigo sentir suficientemente confortável ao pé de vocês. O problema não está em vós, mas em mim. Estou a tentar encontrar-me a mim próprio a nível emocional, porque me perdi um bocadinho naquela rotunda ali atrás e acabei por me meter num beco duvidoso. Não estou a acabar convosco, estou só a tentar dar um tempo para que a nossa relação possa respirar. Até porque é notório que nesta altura das nossas vidas queremos coisas diferentes: Vocês querem medir coisas com os membros, eu nem por isso.
Sim, aquilo que mais me fez arrefecer no que ao nosso relacionamento diz respeito foi esse vosso hábito tão rudimentar e caótico de medição de coisas. Porque, pensemos: Há uma boa razão para se dizer que os homens não se medem aos palmos. E é porque, realmente, medir aos palmos acaba por ser muito relativo. Quem quer medir aos palmos deve primeiro informar-se acerca de que tipo de mão estamos a falar. São as de uma criança ou de um adulto? E se são de adulto, de que idade? Todos sabemos que a certa altura começamos a mirrar, até das mãos. Mais, é mão de homem ou de mulher? Uma coisa é a palma do meu pai, outra é a da minha mãe. São bastante diferentes, acreditem. Já levei com as duas a uma velocidade considerável.
Depois, quando não medem com a mão toda, medem só com os dedos. Uma pessoa de quem se diga que tem dois dedos de testa não se deve andar a armar em fanfarrona só por causa disso. Pura e simplesmente porque isso não quer dizer nada. Mais uma vez: De que tipo de dedos estamos a falar, dos dedos espessos de um camionista de 54 anos ou das garras anoréticas de uma adolescente de 14? Essa adolescente, rói as unhas quando está nervosa ou nem isso consegue ingerir? E como é feita essa medição, com os dedos na horizontal ou na vertical? Se for na vertical, deve haver por aí muita gente com testas assustadoramente grandes. Mais, estaremos a referir-nos aos dois dedos mindinhos ou aos dois indicadores, que também divergem em tamanho e espessura? Até os próprios polegares possuem um sistema de medição só seu, as polegadas. Odeio dedos individualistas...
O facto é que no cerne da questão poderão estar, como quase sempre, os norte-americanos. Não queria criticar em demasia a América, até porque quem o faz não costuma dar-se particularmente bem. Mas o sistema de "pés" ainda hoje teimosamente mantido pelos norte-americanos, quando o resto do Mundo claramente já deixou para trás esse antigo brinquedo, acaba por servir de incentivo para que se continue com este hábito de usar os membros para se fazer medições. Mas como seria de esperar, e mais uma vez, todo este sistema acaba por colapsar perante o minucioso escrutínio que só alguém tão lesado mentalmente como eu tem capacidades de efectuar. Isto porque os pés americanos (o sistema de medição, não o próprio par de pés dos coitados) levantam, mais uma vez, uma série de perguntas: Qual o número do pé em termos de calçado? É um 35 ou um 42? Um deles será claramente maior do que o outro, acabando por não haver rigor na medição. E as unhas, são cortadas e cuidadas regularmente ou são daquelas compridas e amareladas, que chegam a fazer túnel? É que também isso tem influência no tamanho aparente do pé.
Portanto, não chorem por a nossa relação estar, de momento, em suspenso. Tratem apenas de tentar reinserir lentamente no vosso quotidiano o centímetro, o metro, o quilómetro e até mesmo a légua, e pode ser que a nossa linda história não tenha que acabar assim tão precocemente. Façam lá um esforço, pelo amor de nós!

Abreijo.

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