sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Calendarização precoce.

O texto que se segue pode conter linguagem ou cenas (mentais) susceptíveis de ferir a sensibilidade dos leitores.
Seus maricas!

Estou deveras desiludido, e desta vez é mesmo comigo. Sim, decidi dar-vos descanso e garantir-vos alguma paz de espírito, ao saberem que estão safos do meu implacável julgamento. Aproveitem, porque não vai durar muito tempo... Ainda temos umas continhas a acertar.
Na verdade, não estou desiludido com o eu actual, mas com o eu antigo. O eu antigo era um preguiçoso, um sacana que só queria folia e fugia sempre às responsabilidades. O eu actual ainda é um bocado assim, mas devido à idade já lhe vai ficando mal. E é por isso que o eu actual, hoje em dia (lá está), olha para trás e arrepende-se de muita coisa que não fez.
Podia, por exemplo, ter tirado maior proveito da minha anterior pequenez e "inocência" para apalpar mais uns rabos, mirar uma variedade alucinante de seios ou, até, roubar gelados aos outros meninos sem me acusarem de bullying, ou de gulodice. Mas, mais do que tudo isso, hoje em dia arrependo-me profundamente de não ter começado, desde cedo, o meu próprio calendário de masturbação. Sim, leram bem e não têm nada no olho: Um calendário de masturbação.
"E para que serve um calendário de masturbação?", perguntam vocês levando a mão à boca, claramente horrorizados. E eu pergunto "Hein?", porque com a mão na boca não vos consigo entender. E vocês repetem, já sem a mão. E eu respondo, porque sou fixe: Ora, um calendário de masturbação é uma ferramenta bastante útil para uma pessoa conseguir perceber em quais os dias do ano ainda não se masturbou. Atenção que, quando digo útil, não falo em termos de serviço público. É apenas útil para a pessoa em questão, porque trata-se de uma curiosidade pessoal.
No fundo, é algo que até pode ser aproveitado como tema de conversa num qualquer evento social mais mortiço: "Olha lá, já só me falta masturbar em dois dias do ano para completar o meu calendário: É no dia 13 de Abril, porque esse número dá-me sempre calafrios, e no dia 25 de Dezembro, porque no Natal junta-se a família toda e é lixado um gajo arranjar tempo para estar sozinho." De seguida, o seu interlocutor contará a sua própria experiência em termos de calendarização do onanismo e a partir daí, quem sabe, poder-se-á até formar uma bela e profunda amizade. Bastante profunda.
É uma espécie de troca de cromos raros, de uma caderneta de 365 (ou 366). No caso dos anos bissextos, ficaria desbloqueado o cromo 29 de Fevereiro, que só seria disponibilizado para masturbação de quatro em quatro anos. E quando alguém completasse a caderneta, vulgo calendário, ganhava uma pequena taça do respectivo órgão sexual todo assado, banhado a ouro.
Por tudo isto, que já não é pouco, gostaria de entrar em contacto com o meu antigo eu, aquele miúdo curioso e reguila que eventualmente descobriu que o penduricalho que tinha na zona central do corpo não servia apenas para enfeite, ou para disparar urina fazendo barulhos de raios laser. Eu sei, nem perguntem...
Portanto, esta mensagem é para todos os miúdos em início de carreira onanística que estiverem a ler isto, o que também é sinónimo de terem pais a roçar o negligente: Vão anotando as datas em que se masturbam, porque quando chegarem à minha idade, e se tiverem um problema mental tão grave como o meu, vão ter pena de não saber que dias do ano ainda vos faltam.

Abreijo.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Pouca sorte.

Há várias coisas em relação às quais estou em posição de vos adiantar que nunca irão acontecer enquanto forem vivos. Eu ainda devo viver mais um aninho ou dois do que vocês porque sou porreiro , por isso talvez ainda as presencie. Mas vocês nunca, nunca vão, por exemplo, ver a Selecção Nacional de hóquei em patins ganhar o campeonato mundial de andebol. Garanto-vos! Tal como nunca irão ter uma aplicação para telemóveis que substitua um bom bife com ovo a cavalo e batatas fritas. Bem, quanto a isso já não tenho tanta certeza...
Mas, de todas as coisas que nunca hão-de acontecer na vida, há uma que me parece especialmente impossível: Alguém ligar-nos a divulgar o resultado de um sorteio de rifa, quer tenhamos "ganho" ou não. Escrevo "ganho", assim entre parêntesis, porque, na verdade, e não há quem me tire isto da cabeça porque eu sou comichoso, nunca ninguém chega a ganhar. É verdade, temos aqui a revelação do ano: Os sorteios de rifa são um embuste!
Comprar uma rifa é nada mais nada menos do que fazer caridade, disfarçada de um bom negócio. "Um cabaz com todos os meus produtos lubrificantes favoritos por apenas um euro?" Parece um negócio imperdível, não é? Mas podem ir já andando ao supermercado mais próximo comprar aquele sabão da loiça especialmente pegajoso, porque nunca vão ganhar esse cabaz. Simplesmente porque ele não existe, foi apenas um pretexto para vos sacar um euro! Se vos prometerem uma viagem ou um carro como primeiro prémio num sorteio de rifas, o mais provável é que passem a vida toda em casa de malas feitas, à espera da partida.
"Olha o que me saiu na rifa!" é, e sempre será, apenas uma expressão, porque nunca sai realmente nada a ninguém numa rifa. Só dinheiro do bolso. Mas eu, no fundo, não me importo, porque quando a causa é nobre ou quando a pessoa que me interpela é-me suficientemente próxima para vir a guardar rancor eu até contribuo. Pessoalmente, ainda contribuo com dinheiro, mas já começa a haver quem pague com sexo, ou outras miudezas do género. Depende do bom senso de cada um.
Uma pequena história pessoal: As probabilidades de se ganhar algo numa rifa são tão escassas que um dia venderam-me uma rifa que nem estava numerada, e nem se deram ao trabalho de a preencher com as minhas informações. Portanto, das duas uma: Ou não se deram ao trabalho de colocar os números nas rifas porque já sabiam que não ia haver sorteio, ou o prémio era uma tômbola especial que identificava o vencedor apenas pelo cheiro do papel, e ainda adivinhava o seu número de telefone. O que não seria um prémio mau de todo, diga-se de passagem...
Enfim, apenas sou da opinião de que há maneiras menos óbvias de sacar dinheiro às pessoas. Nos assaltos, por exemplo, é óbvio que estão-nos a sacar dinheiro, mas se estrebucharmos muito ainda podemos levar uma facada ou um tiro como recordação. É sempre uma história gira. Já com as rifas não: Ficamos só com um pequeno rectângulo de papel do qual nos esqueceremos inevitavelmente num qualquer bolso da indumentária que estejamos a usar naquele dia. Mais tarde, quando eventualmente nos indagarmos acerca do paradeiro da pequena rifa, já ela foi cinco vezes à máquina de lavar e tem agora a forma de um golfinho feito de pasta de papel.
E quando chegamos à idade de ter dinheiro para comprar rifas, a pasta de papel já não é tão divertida como era na escola primária.

Abreijo.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Para os meus botões.

Desta vez, e para variar um bocado, venho aqui para me indignar. Já me tinha indignado antes? Peço desculpa então, não tinha ideia disso. Sempre me vi como um pudim de felicidade besuntado com calda de harmonia. Prefiro calda de caramelo, mas já tanta gente me chamou caramelo que não me quis tornar repetitivo.
Então, neste meu estado de pudim de indignação sem qualquer tipo de calda, remeto-me a manifestar o meu profundo desagrado em relação às empresas responsáveis pela manufacturação de roupa. Não falo de nenhum tipo de roupa em específico, nem de nenhuma empresa em particular. E o tema não é assim tão profundo e/ou moralista: Sim, é horrendo que se use mão-de-obra a atirar para o escrava, e outros dilemas morais do género, mas esses assuntos são complicados demais para serem tratados por uma besta-comum como eu. O tema que venho aqui tratar é a faceta condescendente dessas mesmas empresas, e da mania que têm de prever que não vamos conseguir tomar conta das nossas próprias roupas.
Num dia de especial sorte, vou encontrar uma marca de roupa segura de si (e dos seus clientes) o suficiente para não precisar de facultar peças extra. A quantidade de botões e de atacadores extra que tenho guardados, na eventualidade de alguma vez precisar deles, ocupa-me tanto espaço nas gavetas que já pouco lugar tenho para arrumar as roupas propriamente ditas. Por causa disto, a minha mãe ainda hoje diz que eu sou desarrumado, ao que eu rebato que sou apenas uma alma inquieta; mas ela não acredita, e acaba por levar a melhor.
Sou, isso sim, um indivíduo preocupado, pois guardo sempre estas pequenas peças extra para o facto de, sei lá, me cair o botão das calças enquanto danço kizomba numa aldeia remota da África Ocidental. Coisa que nunca aconteceu quer o botão, quer a dança , e mesmo que acontecesse, servia-me de pouco ter a peça necessária guardada numa também remota gaveta em Portugal. Mas às vezes penso que sou um indivíduo preocupado em demasia, porque é relativamente raro alguma vez virmos a precisar daquela peça exacta. Em último caso, e na fraca eventualidade de realmente nos cair alguma peça, podemos sempre improvisar com outra muito parecida, comprada na loja mais à mão ou roubada de uma camisa especialmente feia, que só não mandamos fora porque nos foi oferecida por um familiar com boa memória. Sim, porque botões há muitos, seus palermas!
As marcas de roupa que facultam estas pequenas peças extra estão basicamente a tratar os clientes como crianças irresponsáveis e algo hiperactivas, o que no meu caso pode até ser verdade mas não tem que ser necessariamente no vosso. Ou isso, ou pensam que a forma predilecta das pessoas tirarem as suas roupas quando chegam a casa é arrancando-as da pele, ou dando dentadas nos botões até se conseguirem libertar.
Só há uma justificação plausível para as empresas se dignarem a fazer esta desfeita aos seus clientes: Assumir que estes são gordos demais para o tamanho da roupa que compram. E isso até é bem provável, porque há muito boa gente com corpo de pêssego a tentar ser ameixa.
Mas isso já é problema dos clientes; que deixem de tentar ser divas!

Abreijo.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

(Des)Entendimentos.

O meu pai nunca se opôs a que os seus dois filhos (homens, embora um mais do que o outro) usassem brincos. Avisou-nos sempre, no entanto, que se realmente o quiséssemos fazer, seria ele próprio a fazer o furo com um alicate de furar cintos. O velhote sempre fez isto em tom de brincadeira, mas um bocado como quem diz: "Não quero os meus filhos a andarem por aí com furos no corpos que trabalhei tanto para lhes dar." E eu percebo-o, o cota até é bastante esperto.
Mas não era preciso nada disto, porque também eu nunca fui grande fã de brincos. E não só nos homens, nas mulheres também. Na verdade, custa-me muito ser fã de uma coisa que não compreendo bem. É por isso que também não aprecio lagosta, porque tem uma anatomia muito confusa. E como não quero ter legiões de mulheres zangadas atrás de mim denote-se o adjectivo "zangadas", as que não estiverem podem vir , dou-vos aqui uma oportunidade de me responderem à seguinte questão: Em que sentido é que os brincos melhoram a vossa aparência? Não, a sério, onde é que apunhalar as vossas orelhas pelas costas e trancá-las durante largos períodos de tempo com argolas de metal vos faz mais giras? No máximo, torna-vos mais susceptíveis a serem barradas nos controlos de segurança dos aeroportos, ou a serem confundidas com um porta-chaves especialmente grande.
Sim, bem sei que não só de argolas sobrevive a indústria dos brincos. Existem brincos de todos os tamanhos e feitios, com todas as cores e contra todo o tipo de alergias. Existem brincos para várias partes do corpo, cada vez mais. Só não existe uma coisa: Brincos que vos prendam os neurónios uns aos outros, para que finalmente constituam um grupo coeso. E mais uma vez, como não quero que se chateiem comigo, vamos ao ponto seguinte.
Uma coisa curiosa nos brincos, tenho reparado, é que quanto mais solene ou "de gala" for a ocasião, maiores são os brincos, e mais esticada fica a orelha. Conclui-se, portanto, que quanto mais bem vestidos/as estiverem, maior é a probabilidade de vos conseguirmos ver o buraco. E isso não é bom, até é de muita pouca classe. Mais: É, portanto, imperativo que tenham o cuidado de limpar bem os vossos ouvidos, porque é feio ter a cera a aparecer numa ocasião solene. Confiem em mim... Nunca mais cumprimento ninguém de beijo num funeral.
Outra aspecto que poderia inserir aqui, nesta tão fantástica divagação sobre martirização de orelhas, seria a questão dos alargadores, mas prefiro nem entrar por aí. Pelo tema, não pelos alargadores se bem que alguns têm espaço suficiente para servir de poiso a vários pássaros de pequeno/médio porte.
Depois de tudo isto, o que vos posso dizer mais? Tratem-se, e tratem bem das vossas orelhas. Elas são-vos bastante úteis, e não é justo o que lhes estão a fazer. A menos que sejam surdos, nesse caso basta dar-lhes umas palmadinhas de vez em quando. Quem sabe não terão aí um brinco preso, a tapar-vos o canal da audição.

Abreijo.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

À luz.


Queria, antes de mais, parabenizar. Ninguém em especial, e por razão nenhuma em particular, apenas porque gosto bastante da palavra. Melhor do que parabenizar alguém, só mesmo mandar-lhe um beijo no coração. É das coisas mais sádicas e simplesmente nojentas que já tive o prazer de presenciar, logo a seguir à minha viagem de finalistas da universidade. Lá também houve muitos beijos em órgãos, mas não no coração.
Mas já que aqui estamos, então vamos adiantando assunto, que eu até tenho coisas belas para dizer e vocês, caros leitores, têm, pelos vistos, algum tempo livre em mãos. Vamos a isso, então: Parabéns! (Fartei-me de "parabenizar", tornou-se muito repetitivo.) A quem se dirige esta congratulação, perguntam vocês de cafeteira cheia na mão? Cuidado, que ainda se pelam... Esta congratulação, meus lindos e escaldados amigos, é direccionada para uma razoável fatia do bolo que é este antro de gente insana a que chamamos de população. É dirigida a muita gente, pronto! Vocês também nunca querem ter trabalho com nada...
De maneira mais concreta, e com alguma polpa e circunstância (eu sei que é "pompa", mas estou a tentar cortar nas gorduras), é com prazer que congratulo aqui publicamente todas as pessoas que conseguem fazer apreciações acerca da anatomia dos bebés mal eles saem do túnel onde estiveram retidos no trânsito durante nove meses. Tirando a parte óbvia de se identificar o sexo através do órgão sexual – algo que na minha viagem de finalistas, por exemplo, poucas vezes aconteceu –, é preciso ter-se um talento particular para conseguir distinguir traços e encontrar parecenças em bebés.
Mesmo que o bebé ainda esteja com eles fechados, já tem os olhos do pai. Os dedos – que mais parecem pequenas minhocas ossudas nesta altura do campeonato, diga-se – são claramente iguais aos da mãe. Os pequenos pêlos quase púbicos que lhe adornam a cabeça borrachosa são obviamente encaracolados como os do avô, que por sua vez deixou de os ter logo na altura da primeira guerra em que combateu. E por aí adiante, até que do bebé reste só o umbigo que ninguém sabe bem com o de quem é que se parece porque o raio do bebé ainda está ligado pelo cordão umbilical!
Deixem a criatura nascer primeiro e crescer minimamente, depois façam lá as vossas apreciações. É incrível como se conseguem fazer tantas comparações em relação àqueles montes chorosos de pele enrugada. É o mesmo que eu passar o dia todo no banho, sair completamente engelhado e tentarem encontrar-me parecenças com uma amêijoa. Sou um bom prato, sim senhor, mas não chego a marisco.
Portanto, da próxima vez que quiserem opinar sobre a anatomia de um bebé, seja vosso ou não, não se aventurem muito para além do peso e da altura. Esses sim, são dados adquiridos. Tudo o resto é variável, e com algum dinheiro para cirurgias plásticas chega até a ser uma incógnita.

Abreijo.