segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Reconhecimento espacial.

Sou egocêntrico, admito. Sou egocêntrico, arrogante, presunçoso, descarado, insolente, convencido, altivo e soberbo. E porquê? Porque sou humano. Um pouco menos da cintura para baixo, mas sou.
Partilho a ideia de que a natureza de uma pessoa se define através da forma como retrata os extraterrestres. Pode parecer uma filosofia de vida estranha, e ainda bem, porque se fosse normal não era minha. Mas esta ideia, tal como a generalidade das minhas ideias, não deixa de ter um fundo de verdade. Ora expliquem-me lá, por carta ou como quiserem: Porque é que os seres humanos têm a mania de representar os extraterrestres de acordo com a sua imagem? Ou seja, porque é que, regra geral, os extraterrestres têm que ser bípedes, ter o mesmo número de membros que nós, uma boca para comunicar e um pescoço para apertar?
Até perceberia esta insistência caso fossemos os únicos seres vivos no planeta, mas até a própria diversidade morfológica dos seres terráqueos mostra que um ser vivo pode ter inúmeras formas. De facto, um ser vivo pode ter quatro ou doze patas, cinco ou mais olhos ou nove ou vinte dedos. Também pode ter uma corcunda, pode ter folhagem, pode ser do tamanho de um parafuso ou ter o órgão reprodutor na testa. O que imagino que seja chato quando se tenta ter uma conversa séria com alguém…
Mas não, claro que nós não conseguimos aceitar isso! O ser extraterrestre tem que ter sido feito à nossa semelhança, quais deuses do Universo. E talvez o problema resida aí mesmo, talvez a ideia de um ser todo-poderoso nos fazer à sua imagem nos leve a acreditar que também fez os seres de outros planetas de igual modo. Quer isto dizer que tudo o que não for semelhante ao ser humano não é, com certeza, obra dessa entidade. Resta saber, então, quem criou o meu cão Bolinhas. Eu gosto bastante do Bolinhas, mas depois de saber que ele não foi criado pelo todo-poderoso já nem sei como encará-lo. Antes pensava que o facto de ele lamber os testículos fazia parte da ordem normal das coisas, que era vontade divina. Mas agora pergunto-me se ele não o fará apenas por puro lazer, o sacana!
E nem me vou alongar muito sobre a nossa concepção das viaturas extraterrestres: Há alguma razão em particular para estarmos tão certos de que os seres de outros planetas se deslocam em naves com forma de frisbee? Mas somos homens do século XXI ou somos hippies dos anos 70? Será que toda a nossa realidade não passa do fruto da imaginação de um ganzado?
Acredito verdadeiramente que um dia vamos conhecer extraterrestres. E nesse dia, depois de trocarem galhardetes e de partilharem pratos típicos de ambos os planetas, as duas espécies vão chegar a casa e comentar com a sua respectiva família o quão fantástico foi conhecer aqueles seres estranhos e desengonçados, diferentes de tudo o que alguma vez tinham visto.

Abreijo.

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