quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Enrolanços pouco higiénicos.

Vai ter de ser. Epá, desculpem, mas vou mesmo ter de falar sobre este assunto. É que uma pessoa depara-se com esta situação todos os dias, e não a pode ignorar para sempre.

Rolos de papel higiénico. Calma, não se preocupem… Prometo não ser demasiado escatológico, até porque não tenho nada contra o papel higiénico em si. Tenho, isso sim, contra o rolo!

No geral, concordo com o conceito: enrolar o papel higiénico dá muito jeito de um ponto de vista prático e, até, de um ponto de vista lúdico. Que o diga o meu cão, que se diverte à brava a desenrolá-lo. Mas, de um ponto de vista do aproveitamento, o rolo de papel higiénico é só uma ideia estúpida. Pelo menos, da forma como é feito atualmente...

Ter um buraco no meio do rolo dá jeito, sim senhor. Não digo que não. Mas era preciso fazer um buraco tão grande? Onde é que vão enfiar o rolo, num pinheiro? São campistas com problemas intestinais, vocês? É que, quanto maior o buraco, menos papel higiénico terá o rolo. E eu, quando compro uma coisa, gosto de comprar o máximo possível dessa coisa, com o mínimo possível de espaço vazio. No fundo, gosto do meu rolo de papel higiénico como gosto dos meus sacos de batatas fritas: quanto menos ar, melhor.

A maior parte dos suportes de rolo de papel higiénico são da largura de uma simples caneta. Qualquer buraco no rolo maior do que isso, é só desnecessário. E quem diz rolo de papel higiénico, diz rolo de cozinha, que isso é tudo farinha do mesmo saco!

Depois, há ainda outro dilema: o que fazemos com o rolo, quando acaba o papel higiénico? Deitamos fora? Fazemos colecção no armário mais próximo da casa-de-banho? Damos aos nossos filhos para que eles possam construir bonitos animais cilíndricos na escola, para o Dia do Pai? É mesmo isso que queremos, restos de artigos sanitários para o Dia do Pai?!

Eu não sei, porque ainda não sou pai. Mas sou utilizador assíduo e fã confesso de papel higiénico, e, para mim, esta situação não pode continuar.

Abaixo os rolos! Acima o papel higiénico!

Mas não demasiado acima, porque convém que uma pessoa consiga chegar lá sem precisar de se levantar…


Abreijo.

Esclavagismo em cima do prato.

Eu saio pouco de casa. Quando saio, começo a contar os minutos até voltar para casa, porque, no fundo, e vão-me perdoar a sinceridade, eu não tenho paciência para vos aturar. É por isso que, quando realmente saio de casa, gosto sempre de ter a certeza de que vai valer a pena, e de que é por uma boa causa.

E é por isso que não percebo o conceito de buffet. Excluamos, desde logo, o facto de se parecer com uma palavra portuguesa bastante desagradável – a bufa – e analisemos em que consiste essa forma de refeição: VÁ VOCÊ FAZER! Ora, eu teria todo o prazer em fazer, claro… Se estivesse em casa! Mas como investi tempo e esforço para me preparar para sair de casa – tipo tomar duche e vestir uma roupa minimamente decente –, não me apetecia ainda ter de fazer o meu próprio prato fora de casa.

Porque, vistas bem as coisas, essa é a principal razão pela qual eu saí de casa: para não ter de me preocupar em tratar de mim próprio! Quero ter o privilégio de atirar dinheiro a alguém e ser essa pessoa a fazer aquilo que eu quero por mim. É só estúpido atirar dinheiro a alguém e ainda ter de trabalhar... Para isso, ia às meninas.

Dito isto, consideremos o buffet: qual é a diferença entre eu atirar duas folhas de alface e um bocado de carne para um prato em casa e fazer exactamente o mesmo num restaurante, mas a pagar? Correcto, a diferença é o “pagar”. É que nem é a velha questão do ‘pagar para ser mal servido’, é mesmo pagar para nem sequer ser servido!

E as pessoas engolem isto, literalmente. Ficam todas contentes porque pagaram e, agora, podem ir buscar o que querem comer. Isso também se faz nos supermercados, e por muito menos dinheiro do que num restaurante!

Como tentativa de atenuar este problema – no qual as pessoas não reparam que estão a ser alvo de uma espécie de escravidão gastronómica encapuzada –, alguns estabelecimentos adicionam ainda o “privilégio”, para justificar a sua barbárie, de podermos repetir o prato as vezes que quisermos. Ou seja, em vez de apenas um, porque não levanta você próprio o rabo da cadeira e vem elaborar mais outro prato de comida?
 
Enfim, se vocês não sabem o que fazer ao dinheiro ao ponto de irem elaborar pratos fora de casa, falem comigo. Abri um buffet novo ali na esquina. Só serve pontapés e chapadas na boca a pessoas com muito dinheiro, mas sem qualquer senso comum.

Abreijo.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Opressão ao corta-unhas.

Comecemos com a tão necessária pergunta: porque é que eu não posso cortar as minhas unhas onde bem me apetecer?

Pronto, já estou alterado… Uma pessoa tenta não se exaltar, mas assim fica difícil! Isso da liberdade, que muitos apregoam, é muito giro, mas, pelos vistos, é só para alguns. Liberdade de expressão, liberdade de imprensa, liberdade religiosa e liberdade de voto, tudo bem. Agora, liberdade de cortar as minhas unhas num autocarro ou numa esplanada à beira-rio é que ‘tá quieto!

Quem foi o água de esgoto que decidiu que cortar as unhas em público era nojento? Por causa da suposta sujidade que se acumula? Quer dizer, se forem as unhas de um camionista, depois de um fim-de-semana em viagem constante e sem grande acesso a toalhetes húmidos, eu até percebo; é que o sebo entranha-se. Mas, as minhas, tão arranjadinhas?! Eu trato-lhes das cutículas todos os dias, lixo-as todas as semanas e pinto-as sempre que há ladies night: como é que são nojentas?!

Pode também haver quem argumente que é para evitar que os bocados de unha voem para a cara das outras pessoas, ao que eu respondo: “Ah, mas o paintball já é uma coisa muito linda, não é?!” O princípio é o mesmo: projécteis cheios de ‘nhanha’ lá dentro. E quem estiver muito incomodado, pode sempre passar a andar na rua com um colete à prova de bala; principalmente quando eu estiver a cortar as unhas dos pés, que são as mais imponentes.

Porque é que eu tenho de andar a cortar as unhas às escondidas na casa de banho, como um drogado? É assim tão mau, aquilo que eu estou a fazer? Serei o único que o faz? Preferem que as corte à vossa frente ou que as deixe crescer e vos faça um golpe no braço quando estiver a dar-vos um aperto de mão?

Ah, bem me parecia.


Abreijo.

sábado, 8 de agosto de 2015

A complexidade do foguete.

“BOOOM”, rebenta o foguete! Os mais atentos já sabem que há festa, algures na ilha. Os desatentos ouvem mas não ligam, porque está toda a gente tão habituada àquele som estridente que já nem se nota. Passou a ser algo completamente natural, como o barulho da chuva, o chilrear dos pássaros ou as cantigas alternadas em noite de cantoria.

Não há outro som que assinale tão bem uma festa como um foguete. No futebol há o apito, e em algumas corridas há o tiro. Coisas rápidas, efémeras… Que servem apenas o propósito de dizer que começou algo.
Já o foguete é, no geral, e por si só, puro espectáculo! Desde a forma como é aceso, normalmente por via de um cigarro no canto da boca, até ao espectáculo visual que cria no céu, de clarões e de fumaça, e que perdura por alguns segundos. Mais bonito se torna ainda quando os rebentamentos são múltiplos, ocorrendo num ritmo que já todos nós conhecemos de cor.

Há quem não goste, e até há quem tenha medo – quem se assuste com o barulho –, mas não há quem não o reconheça e não perceba o significado daquele som. Os mais assustadiços podem sempre recatar-se numa das várias casas sempre abertas do arraial, a enfardar comida e bebida na esperança, certamente, de conseguir tapar os ouvidos através do paladar, vá-se lá saber como.

O foguete é como a sineta da escola que todos odiávamos ou adorávamos, dependendo se tocava para o início das aulas ou para o começo do recreio. Também ele indica o início ou o fim das festas, motivando a alegria ou o desalento dos festivaleiros.

O foguete também é perigoso, não digo que não… Se for mal direccionado, ou se a cana cair a pique em cima de alguém ou de alguma coisa, até é capaz de fazer alguns estragos. Mas as pessoas arriscam na mesma porque sem foguetes não há festa e, sem festa, não dá para apanhar as canas e recordar os momentos em que os foguetes anunciavam o começo das festas.

Abreijo.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

As mãos dos pais.

Já aqui me exprimi sobre as qualidades praticamente indestrutíveis das mãos das mães no que diz respeito à sua resistência ao calor, mas a verdade é que os tijolos a que os progenitores do sexo masculino teimam em chamar de mãos também não lhes ficam atrás.

Falo por experiência própria: o meu pai tem mão pesada! E nem é por uma questão de eu ter levado palmadas quando era miúdo, que dessas até levei muito pouco porque sempre fui um rapaz bem-comportado e com cheiro a frutos do bosque, mas sim porque uma vez tentei dar-lhe um aperto de mão, como os senhores crescidos faziam, e ia ficando sem ossos.

Desconfio que, se o meu pai fosse um homem de negócios, nem precisava de dizer nada para fechar os contratos. Bastava-lhe apertar a mão do seu interlocutor quando se encontrassem e, das duas, uma: ou o indivíduo assinava logo o contrato com a mão ou teria de assiná-lo mais tarde, a equilibrar a caneta com os cotovelos. E teria sorte se não levasse uma “palmadinha nas costas”, que na óptica do meu pai é como levar com um muro de betão armado entre as omoplatas.

Mas desconfio que todos sejam assim. Parece, aliás, uma qualidade necessária para se ser pai. Ser-se pai com umas mãos suaves e cuidadas é o mesmo que ser-se pescador e não se chegar a casa com a roupa a cheirar a peixe. Não dá, faz parte da descrição do trabalho.

Mais, urge-se qualquer assistente social deste país que, caso veja um pai com as mãos sensíveis e perfumadas, retire logo a(s) criança(s) da sua custódia, porque aquele senhor não deve ser boa rês nem deve estar a cumprir devidamente as suas funções de pai, com certeza.

As barrigas dos pais merecem bastante atenção, sem dúvida, até pelo seu tamanho e pelo investimento que nela depositam. Mas é nas suas mãos que reside o seu verdadeiro valor.

Caro leitor, se vai ser pai brevemente e tem as mãos tão suaves como o futuro rabo do seu futuro rebento, então aconselho-o a ir trabalhar dois mesitos nas obras ou no campo. O primeiro mês será para se habituar, o segundo será para calejar as “habituações” do mês anterior.


Considere isto um conselho de amigo, apesar de eu, provavelmente, não o conhecer de lado nenhum.

Abreijo.

domingo, 14 de junho de 2015

Enumerar numerosos números.

“Trrim, trrim! Trrim, trrim!"

O vosso telemóvel está a tocar, não vão atender? Que toque tão antiquado, já agora… Quem será que vos está a ligar? É o vosso pai, a vossa mãe? O vosso chefe, o líder da vossa boy band, para gravarem um novo tema? Ou é um número que não conhecem? E, já agora… Como é que me identificariam esse número?

É aqui que começa a confusão, meus caros indivíduos. É na forma como dispomos os números de telemóvel, telefone, fax ou qualquer outro aparelho que exija a memorização de uma sequência numérica para o seu uso diário. Em específico, a forma como se parcelam esses números.

Eu vivi feliz até aos meus dez anos. Quando, aos onze, os meus pais decidiram que era altura de me comprar um telemóvel, por causa do sucesso do meu negócio de venda de lápis-de-cera comestíveis (que na verdade não o eram, mas eu dizia que sim porque sempre fui muito empreendedor), comecei a perceber que o Mundo não era cor-de-rosa. Quer dizer, eu sempre desconfiei, porque na minha infância as únicas coisas cor-de-rosa que havia eram as saias de um tio meu que tinha uns tiques esquisitos.

Mas foi a partir do momento em que tive de começar a dar o meu número de telemóvel às pessoas que percebi o que a vida custa. Como é que se deve dizer, afinal: através do clássico 900-000-000?; do 90-000-00-00?; do 90-00-0-000?; até do 9-000-00-000?; ou através do modelo de parcelamento de números de telefone mais utilizado em programas de televisão, o 900-00-00-00?

Sim, meus queridos coisos, aquelas pequenas pausas entre os conjuntos de números fazem toda a diferença! Não pensem que isto sou só eu a ser picuinhas, porque isso raramente é verdade. Se nos esticarmos em demasia nos números - com um 900000000 todo seguido, por exemplo -, até podemos, em casos extremos, falecer com falta de ar, tanto que hoje em dia já toda a gente reconhece a importância de uma respiração contínua e adequada. Porque é que continuamos, então, a exercer vários métodos distintos de parcelamento de números? Onde estão os regulamentos relativos a esta questão, Sr. Director deste tipo de cenas?

Além disso, a forma como parcelamos o nosso número de telemóvel pode fazer toda a diferença, por exemplo, num encontro de negócios, ou mesmo no próprio engate. O que acontece se a pessoa com quem queremos conectar tiver um sistema de parcelamento diferente do nosso e não gostar da forma como nos organizamos numericamente? Podemos acabar por deitar o negócio por terra, ou, pior ainda, o engate...

É por isso que, desde pequeno, quando me pedem o meu número de telemóvel - principalmente as gajas, aquelas mesmo boas e com bastante dinheiro para me comprar caixas inteiras de lápis-de-cera -, eu limito-me a mostrar-lhes o ecrã do telemóvel e evito dizer-lhes o número porque tenho medo de falecer com falta de ar. E também porque, vá lá, gosto de me fazer difícil.

Para terminar, perguntam-me vocês: "Gostosão, porque é que, neste texto, o teu número só tem um 9 e o resto é tudo 0?" Porque sim. Às vezes devemos deixar algumas questões por responder, de forma a que possamos adquirir uma melhor experiência deste espectáculo de luzes, cor e alegria a que chamamos vida.

E também porque não queria dar-vos o meu número verdadeiro, ouvi dizer que vocês são todos uns oferecidos.

Abreijo.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Lápis cor-de-quem, afinal?

Acho o racismo uma coisa horrenda, principalmente quando é promovido entre crianças. E reclamam vocês: "Então dizes isso dessa forma abrupta, sem nos avisar de antemão?" E eu respondo que é bem-feita, é o que vocês merecem depois daquilo que me fizeram naquele parque de estacionamento na esquina do coiso... Se não foram vocês, então peço desculpa.
Sim, a promoção de pontos de vista racistas durante o período de formação e educação das crianças é desagradável, principalmente quando elas querem estar concentradas nas aulas e não lhes é permitido. Veja-se o meu caso, por exemplo: quando eu era pequeno tinha um colega na minha turma que era africano, e sempre que eu lhe pedia o lápis cor-de-pele acabávamos por ter uma discussão, porque ele queria-me impingir o lápis castanho. Eu tentava explicar-lhe que não, não era bem aquele lápis que eu queria, mas ele, perante a minha impossibilidade e falta de meios para descrever aquela cor de outra forma, insistia.
E é muito isto, senhores formadores. Por que raio é que decidiram chamar uma qualquer cor de cor-de-pele? Onde é que tinham a cabeça, na Europa feudalista do século XVII?
Dou-vos, mais uma vez, o meu exemplo: no inverno, com a falta do Sol, a minha pele chega a ser quase translúcida, e eu sou, supostamente, caucasiano. Nos casos como o meu, também o lápis branco pode ser considerado cor-de-pele? E o lápis amarelo, se eu estiver mal do fígado? E o lápis roxo, se eu estiver embutido em 50 centímetros de neve? Ou será que, pelo contrário, quem se arriscar a tais denominações acaba por ter negativa no teste por não saber distinguir as cores?
Quem fala em racismo entre seres humanos, também pode falar de racismo entre plantas, entre frutas ou entre bebidas alcoólicas. E aqui vai: o cor-de-rosa, porque é que é cor-de-rosa? Todas as rosas são, vá lá, rosa? Não há rosas vermelhas, amarelas, brancas? Porque é que essas cores não são, também, chamadas de cor-de-rosa?
E o cor-de-vinho, porque é que se chama cor-de-vinho? Todos os vinhos têm aquela vermelhidão escura, a cair para o roxo? E o vinho branco, que nem é bem branco? E o vinho verde, que nem é bem verde?
A única denominação que acaba por fazer algum sentido é o cor-de-laranja, e mesmo essa fruta é verde ou amarelada quando está... pois, verde. Mas, estando madura, até faz sentido.
Pronto, era só isto. Não vos tomo mais tempo porque sei que têm de ir virar frangos, ir de mini-saia para a esquina ou seja lá o que vocês fazem para ganhar a vida.

Abreijo.

terça-feira, 7 de abril de 2015

O rescaldo das mentiras.



Tenho-me como uma pessoa moderna, com Internet, Facebook e tudo isso. Mas não costumo mentir muito no Dia das Mentiras, apesar de mentir como um desalmado nos restantes dias, e por isso não me sinto muito progressista. Sinto que não acompanho verdadeiramente as tendências sociais, vá.
A verdade é que, na Internet, o Dia das Mentiras costuma ser o dia em que mais coisas acontecem às pessoas: ora engravidam, ora começam a namorar, ora marcam a data da boda de casamento, ora percebem que têm um problema de saúde, ora descobrem a cura para esse mesmo problema de saúde, ora ganham a lotaria, ora perdem todas as suas posses…
Enfim, no dia 1 de Abril é raro haver alguém a quem não aconteça nada. Não sei se é da primavera, se calhar as pessoas começam a sentir-se mais activas. Ou então é derivado dos açúcares consumidos no período pré-Páscoa.
Contudo, e apesar de o Dia das Mentiras deste ano já ter passado (ou não, dependendo do vosso calendário de leitura), tenho receio de que as sequelas ainda continuem. Senão, vejamos: muitas das pessoas que anunciaram naquele dia que estavam grávidas são da minha idade, e até do meu grupo de amigos… Entretanto, já vi algumas na rua a beber álcool e a fumar, e tenho medo que o bebé nasça deficiente como os progenitores.
Em relação aos namoros começados no dia 1 de Abril, parece que acabaram no dia a seguir, e sinto-me mal por fazer parte de uma geração que nem consegue manter uma relação durante um dia inteiro, quanto mais uma vida.
Já em relação às pessoas que descobriram alguma doença na sua vida naquele dia, a mesma parece ter desaparecido quando bateu a meia-noite. Não sei que moda é esta, mas prevejo muito pouco trabalho para os médicos nos próximos anos. Basta-lhes comprar um relógio para estar atentos às horas e, à meia-noite, ter as ambulâncias do hospital todas à porta para levar para casa os doentes, entretanto curados de forma milagrosa.
No fundo, a questão é a seguinte: o que é que aconteceu a toda a gente a quem aconteceu alguma coisa no dia 1 de Abril?

Abreijo.

quarta-feira, 25 de março de 2015

A paixão tem limites.

Caros casais apaixonados,

Sei que estão habituados a que as pessoas à vossa volta critiquem a vossa eterna pirosice, mas eu vou ainda mais longe: vou explicar-vos o porquê de as vossas pirosices serem, vá lá, parvas e, por extensão, criticadas.
Eu sei, o amor é lindo! Encontraram no(a) vosso(a) companheiro(a) aquilo que necessitavam para completar a vossa vida, nomeadamente carinho e outro órgão sexual que não o vosso. Percebo isso, a sério que sim... Mas não é por chamarem nomes estranhos e, sinceramente, perturbadores ao vosso parceiro que vão demonstrar ter um maior carinho por essa pessoa.
Senão, veja-se: os meus avós estão casados há várias dezenas de anos e, quando a minha avó chama o meu avô de bode, ele chama-a de mula; quando a minha avó o chama de porco, ele chama-a de galinha; quando ela o chama de boi, ele chama-a de cabra... Isto tudo porquê? Em primeiro lugar, porque os meus avós têm uma quinta com muitos animais e a falta de memória já não lhes permite lembrarem-se do nome um do outro. Depois, porque esses são os únicos termos carinhosos que eles conhecem, já que foram habituados a guardar as pirosices todas numa caixinha e atirá-la ao mar.
Contudo, isso não implica que se amem menos do que aquelas pessoas que se referem ao seu companheiro como, por exemplo, a sua "alma gémea". Mas esta gente ainda não reparou que, sendo elas gémeas, estão a incorrer em incesto de almas? Se duas almas gémeas tiverem um filho, esse irá nascer com uma alma deficiente ou com sérias possibilidades de ter um atraso? E se as almas são assim tão gémeas, o que as fez ser separadas à nascença? Houve uma troca no hospital das almas? E se, eventualmente, o casal se divorciar, as almas deixam até de ser família?
Depois, há a "cara-metade". O que é uma cara-metade? Estiveram a viver só com metade da vossa cara estes anos todos, antes de encontrarem o resto? Não admira que tenham demorado tanto a encontrá-la, porque ninguém gosta de pessoas só com meia cara... Uma vez, obrigaram-me a ver um filme de terror onde, a certa altura, alguém ficava sem a cara. Num caso desses, mesmo que essa pessoa encontrasse uma cara-metade, iria sempre faltar a outra metade, uma falha que teria de ser colmatada com ainda mais uma pessoa, vulgo cara-metade. Ou seja, acabaria por se tornar numa relação a três, e todos sabem que isso é pior do que qualquer filme de terror.
Por fim, existe o "mais-que-tudo", que acaba por ser um bocado paradoxal. Ora, o tudo engloba o vasto leque de coisas que existem na nossa realidade, e é impossível haver mais do que tudo. Tudo é tudo, e é melhor do que nada. Mais-que-tudo é só estúpido! É como uma criança argumentar com "vezes infinito" e a outra responder com "vezes infinito, mais um". Não faz qualquer espécie de sentido, até em termos matemáticos.
Queria agradecer, portanto, a vossa disponibilidade, prometendo não interromper mais a vossa vida conjugal a menos que continuem com estas tretas.

Sem mais assunto, de momento,
Com os meus melhores cumprimentos,
Um gajo que vos observa.
(Mas não de forma estranha.)

Abreijo.

quarta-feira, 18 de março de 2015

A essência do bocejo.

Eu não quero parecer aborrecido, mas... Porque é que abrimos o raio da boca quando estamos aborrecidos? Ou cansados? Ou sonolentos? Ou tudo junto?
Bocejar é algo que faço há dezenas de anos, mas só agora me lembrei de questionar o porquê. Se o tivesse feito mais cedo, talvez tivesse engolido menos moscas da fruta ao longo da vida. Não sei porquê, mas o raio dos bichos pelam-se pelo interior da minha boca. Eu nem sequer como assim tanta fruta quanto isso...
Não questiono, no entanto, o que nos leva a bocejar. Compreendo que haja uma série de reacções químicas e corporais relacionadas com o cansaço que nos levem a fazer isso. Questiono, isso sim, o porquê de ser aquela reacção, e não outra. Porque é que não nos dá para espirrar ou para bater palmas, quando estamos cansados? Até era da maneira que nos mantínhamos acordados...
Mas não, o que acontece é que abrimos a boca que nem um hipopótamo no dentista, dilatamos imenso as narinas e ficamos com umas espécies de espasmos na garganta que nos contraem as vias respiratórias, o que, no fundo, imagino que sejam um pouco como fazer sexo sadomasoquista. Não sei, nunca fiz... Nem sexo, nem sadomasoquismo. Ouviste, mãe?
Outro problema é que o raio da coisa é contagiosa! Uma pessoa pode ter acabado de dormir umas boas oito horas no camarote presidencial de um bom hotel à beira-mar, mas se a funcionária que lhe for buscar os lençóis para lavar abrir a boca que nem um alarve, então todo aquele quarto passa a parecer uma peça de ópera onde senhoras gordas cantam palavras indecifráveis num tom que só os cães conseguem ouvir.
Porque, é o seguinte: os carros têm um tubo de escape; os comboios, para além de um apito que "lá vai a apitar", têm uma caldeira; as fábricas têm chaminés; e até algumas panelas têm um buraquinho por onde guincham quando já estão muito quentes e cansadas. Já os seres humanos, e alguns outros animais, têm só uma figura ridícula e que lhes servem de pouco, já que, independentemente das vezes que bocejarem, o sono e o cansaço vão continuar sempre lá, até finalmente irem dormir.
Outra característica irritante do bocejo é que dificilmente se consegue disfarçar. O caro leitor deverá conhecer perfeitamente, até pela experiência, a cara com que ficamos quando tentamos esconder um bocejo... Parece que voltamos ao tempo em que éramos puros símios e comemos uma banana especialmente podre sem dar conta.
No fundo, a minha indignação deve-se ao facto de apenas aceitar abrir a boca várias vezes ao dia por duas únicas razões: ou porque estou a comer snacks de amendoins e quero colocar a maior quantidade possível deles entre as mandíbulas, ou porque estou a passar o dia numa praia a contemplar seios especialmente belos e abro a boca, não só por admiração, mas também porque tenho esperança que algum daqueles voluptuosos pares me vá parar a cada uma das bochechas da cara.
Tudo isto para dizer que não entendo o bocejo, pronto. Agora vou dormir, porque já bocejei três vezes em frente à janela do quarto e tenho medo que os vizinhos chamem a polícia por pensarem que estou a gritar com alguém cá em casa; ou isso, ou que estou a treinar uma ópera de Puccini.
Em qualquer dos casos, não admito que pensem isso de mim.
Abreijo.