segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Fantasma do Réveillon Passado.

Para o próximo ano, a minha principal resolução traduz-se numa espécie de pedido: Deixem-me ficar no meu país! Se faz favor, isto é, que ainda não me tiraram a boa educação.
Esta é a minha primeira e única resolução até ao momento, porque se ela não se cumprir então tudo o resto é uma incógnita. Nunca precisei de fazer este pedido, mas agora que estou prestes a (tentar) entrar no mercado de trabalho, acho que devo começar a definir prioridades.
Façamos uma pequena comparação: Antigamente (há um ano, mais coisa, menos coisa), as minhas resoluções baseavam-se naquelas coisas genéricas de ir mais vezes ao ginásio, passar mais tempo com a família, ser melhor pessoa, viajar mais e aprender novas línguas. Ora, se não souber em que país vou estar, então não consigo definir nada disto. Vejamos:

- Ginásio: É difícil arranjar tempo para ir ao ginásio quando emigramos. Uma pessoa começa a ocupar-se com coisas triviais (do género transportar toda uma vida para um território desconhecido) que acaba por se desviar um bocado daquilo que é realmente importante. Para além disso, decorar o nome de todas as máquinas e exercícios numa nova língua não deve ser nada fácil;

- Família: Normalmente, os jovens que vão embora do país ainda não constituíram família. É uma nova mania que por aí anda, só porque não têm perspectivas de futuro e tal. Mas continuam a ter familiares, pessoas que os viram crescer e que cresceram com eles. O problema é que esses familiares – de forma bastante egoísta, diga-se – preferem não acompanhar o jovem na sua viagem a não-sei-onde para fazer não-sei-o-quê, só porque já têm a sua vida orientada. Escolhem a monotonia da sua vida decente em detrimento da constante aventura de uma vida de caca. Não se percebe. E é por tudo isto que também se torna difícil cumprir a resolução de se passar mais tempo com a família;

- Ser melhor pessoa: O mais difícil de se ser melhor pessoa em território estrangeiro é tentar descobrir o que esse mesmo território estrangeiro entende por “melhor pessoa”. Enquanto que em Portugal basta muitas vezes entrar num reality show, pendurar uma bandeira na janela, deixar crescer o bigode e aparar o cabelo para se ser melhor pessoa, noutros países pode haver quem dê importância a coisas triviais como o esforço, o trabalho, a dedicação e a pouca probabilidade de se ser corrupto. Ninguém sabe, e assim torna-se muito complicado ser-se melhor pessoa;

- Viajar: Tirando a viagem migratória, haverão muito poucas oportunidades de se repetir a brincadeira. Afinal, há que trabalhar;

- Aprender uma nova língua: Esta é, talvez, a resolução de mais fácil concretização. Basta saber qual a língua mais falada no país de acolhimento.

Existem muitos outros clichés de ano novo, e se repararem bem todos eles dependem de sabermos onde vamos estar para os concretizarmos. E a menos que a vossa principal resolução para o próximo ano seja viver uma vida de relativa miséria, então talvez não o passem em Portugal.
Um bom ano para todos os portugueses, onde quer que estejam!

Abreijo.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Ilusionismo vegetal.

Tumba, olhem eu aqui! Viram este truque? E que tal, conseguem recriar? Não recriem, que estragam a magia da magia. E as pessoas até gostam de magia. Pronto, magia.
Por falar em magia, sabem quem é que é bastante bom nisso? Empregados de mesa. Pelo menos os empregados de mesa que eu encontro são, regra geral, bastante hábeis em ilusionismo. O seu único defeito é fazerem sempre o mesmo truque, que consiste no seguinte: Eu sento-me, escolho e peço o prato, que quase sempre vem com salada (vá-se lá saber porquê). No entanto, esquisito como sou, faço sempre questão de pedir sem salada, porque a vida de coelho nunca me seduziu especialmente. E é aqui que acontece a verdadeira magia, reparem nisto: Apesar de eu ter pedido sem, chega-me à mesa um prato repleto de tudo aquilo que eu já estava à espera e com um acréscimo de… salada. Ou seja, onde não devia estar nada, está agora uma amálgama de folhagem verde ali no rebordo do prato, bonita e ostentosa em termos de cores mas que, no que toca ao sabor, apenas me faz lembrar relva cortada num dia abafado de Verão. Sim, eu já provei relva cortada. Mas, curiosamente, num dia de Inverno, porque prefiro comida fria.
Este acaba por ser um truque simples, mas que se for bem feito até dá bastante espectáculo. Principalmente se o cliente em questão for algo dado para o espalhafato. Eu não, que sou um menino, mas outros talvez. Contudo, apesar de ser um truque simples, não se deve cair no erro de pensar que é de fácil concretização. É necessário esforço e dedicação para o aperfeiçoar, sendo que só os empregados de mesa mais distraídos, e com um cheirinho a incompetência, o conseguem dominar totalmente.
O único senão, tirando o facto de eu ficar claramente irritado – algo que pelos vistos não conta muito, desde que pague –, é o facto de se proceder a uma trucidação completamente desnecessária de inocentes vegetais. Eu não sou contra os vegetais, juro que não sou! Eu sei que eles são saudáveis, que são amigos do organismo e que, com jeitinho, ainda são capazes de dar uma ajuda ali na cozinha. Apenas não gosto de os comer, pronto. Mas respeito quem goste (embora não deixe de achar essa gente estranha). Se querem mesmo contribuir para o genocídio de várias espécies vegetais, então que o façam em prol de alguém que lhes dê verdadeiro valor. Isto porque naqueles restaurantes decentes onde não se tem por hábito reciclar comida (se é que ainda existe algum), a salada acaba por ir intacta para o lixo, o que é um desperdício para quem realmente come vegetais e para quem apenas gosta de os apreciar. Sim, existem pessoas dessas. Eu tenho um primo que passava tardes inteiras a brincar com bocados de aipo, sem nunca lhes dar uma única trinca. E babava-se, coitado… Abraço, Miguel!
Ora, meus bichinhos: Comecem a prestar mais atenção à frase "Sem salada, se faz favor!", porque acaba por ser mais importante para mim do que qualquer outra. Não me importo que me troquem as carnes, nem eu nem os animais em questão nos chateamos. E até me podem trocar o vinho, que eu bebo qualquer um. Agora, salada? Por favor, salada é que não…

Abreijo.