domingo, 30 de janeiro de 2011

Atrasos progressistas.

Chamem-me antiquado. Vá, chamem-me antiquado! Chamem-me tradicionalista, atrasado, cota, avô, fóssil, D. Duarte Pio... o que quiserem.
Agora peçam desculpa. Não estou aqui para ser insultado. Ando eu aqui a tentar entreter-vos e é assim que me agradecem? Mal-educados!
Pronto, admito que no que toca a alguns assuntos possa ser um pouco apologista do antigo, mas penso que o sou em áreas em que, realmente, o antigo é melhor que o novo. É claro que há coisas que, como dizia o já saudoso Carlos Silvino, quanto mais novas melhor, como um belo par de meias, os seios de uma holandesa ou, mesmo, a carreira do Maradona antes da sua obsessão pela palavra "branco".
No entanto, penso que a maluqueira das novas tecnologias às vezes exagera. É como aquelas crianças que, "quando se dá uma mão, querem logo o braço" (adoro esta expressão... relembra-me os tempos em que a Alemanha jogava paintball pela Europa, mas a sério). Senão, vejamos: Quando os progressos tecnológicos nos introduziram no Mundo dos telemóveis e dos computadores portáteis, veio Steve Jobs, um homem que - por falta de imaginação, talvez - decidiu criar uma empresa com nome de um dos ingredientes de tarte de maçã e alterar completamente a ordem e estrutura destes mesmos aparelhos, bem como as suas funções básicas.
Hoje em dia, e graças a este senhor, temos telemóveis que imitam flautas e copos de cerveja. A última vez que vi alguém levar o telemóvel à boca de tal forma remonta aos tempos em que os telemóveis ainda tinham antenas, e os jogos do Benfica ainda eram interessantes ao ponto de roermos essas mesmas antenas quase até ao botão "3def" do telemóvel; Graças a este senhor, hoje em dia podemo-nos congratular por nos terem sido impingidas umas "cenas" estranhas, que nem computadores nem telemóveis são. Estes aparelhos, denominados por iPad's, são aquilo que eu gosto de chamar "o cúmulo das ideias atrapalhadamente inúteis", pois ficamos então com um aparelho que, ao fundir um telemóvel com um computador portátil, não aproveita nenhum dos propósitos pelos quais ambos foram construídos. De facto, a junção do melhor destes dois aparelhos iria pressupor a criação de um outro aparelho que realizasse chamadas telefónicas e no qual eu pudesse jogar todo o tipo de jogos com violência tão realista como o estado da cara de um adepto do Benfica depois de uma partida de golfe com um apoiante do F.C.Porto.
Por pura ironia ou mesmo só para contrariar, Steve Jobs decidiu criar um aparelho que não serve para nada disso. É, portanto, um instrumento cujas funções se encontram naquele limbo, naquela coisa de: "Isto serve para quê, então? Não sei, mas como é novo, deve ser bom". De facto, até as já tão badaladas pulseiras Power Balance têm propósitos (embora hipotéticos) mais bem definidos do que o próprio iPad. Com a Power Balance, poderei afirmar (se for parvo, claro): "Ah e tal, esta pulseira está mesmo a cumprir o seu objectivo de me alinhar os chakras, e os karmas, e as curvas dos intestinos", e mais não sei o quê; Com o iPad, apenas poderei afirmar: "Ah e tal, este aparelho está mesmo a cumprir o seu objectivo de... err, portanto... fazer... hã, tipo... ya."
Há, ainda, um outro aspecto que me chateia imenso, mais do que qualquer falta de brindes efectivamente divertidos nos ovos Kinder: Porquê insistir nos aparelhos sem botões?! Deparei-me com o cúmulo desta insistência quando, recentemente, me dirigi a uma loja do meu operador telefónico a fim de comprar um novo telemóvel, visto que o meu tinha andado uns dias antes com más companhias e começou a agir de forma estranha, a ver gafanhotos gigantes e a chamar "normal e equilibrado" ao Renato Seabra (já cá faltava a menção ao assunto). De facto, ao chegar lá reparei que já não havia telemóveis com botões palpáveis, com saliências que, ao serem tocadas, pudessem contribuir para alterar o estado do software (até parece que percebo da cena) do telemóvel. Todos os telemóveis que lá havia eram apenas ecrãs com esteróides, grandes demais para o que estou habituado. Na minha ignorância, até pensei em comprar um controlo remoto para acender o ecrã, visto que o aparelho carecia de muitas mais outras formas de se ligar. Pensei, até, em gritar com ele até ele decidir acender-se, mas visto que tinha o bilhete número 24 e o balcão ainda mostrava o número 11, achei melhor não incomodar as restantes 13 pessoas que esperavam impacientemente à minha frente enquanto dançavam o Vira umas com as outras para matar o tempo.
Antigamente (e cá estou eu outra vez a dar ares de ser muito adulto), um dos botões do nosso telemóvel deixava de funcionar e nós reavivava-mos o bichinho à porrada. Se isto não resultasse e o telemóvel acabasse por ficar inutilizável, podíamos sempre pagar um tanto para, então sim, consertá-lo na íntegra. Hoje em dia nem existem botões para ficar avariados. Se uma pessoa tiver um problema com um dos botões, lá terá que mandar todo o telemóvel, com toda a sua pompa e circunstância de aparelho pseudo-avançado, para a loja, ficando apenas dependente de telefones públicos ou da voz da Teresa Guilherme em caso de surgimento de alguma emergência. Estaremos nós assim tão carentes em termos afectivos que precisemos acariciar uma superfície plana durante 15 minutos só para conseguir escrever um "T"?
Imagino que já devam estar cansados de ler, de tão extenso que é este texto. No entanto, é de aproveitar, porque quando substituírem por completo estes botões do teclado através do qual qual vos escrevo por um super raio-laser-x-infravermelho que escreve sem ser necessário usar as mãos, deixarão de ouvir falar de mim.

Hvala,
Abreijo.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Conversações auditivas.

Olá, tudo bem?
Escusam de responder, não estou realmente interessado. Estava só a tentar ser simpático. O que achei? Não gosto, prefiro voltar ao meu registo habitual.
E que melhor maneira de começar senão realizando outra crítica extremamente mordaz e estonteantemente gira à nossa sociedade contemporânea?! Vamos a isso? Vamos, com certeza. Deixem-me só acabar de amarrar os sapatos e escovar os dentes ao Relâmpago, o meu porquinho-da-índia de estimação e totalmente inventado à última da hora para encher texto.
Eu gosto de música. Eu gosto de ouvir música. Tal como Jessica Tate da série americana Soap, gostaria que a minha vida tivesse uma banda sonora própria. Nos dias de hoje esta actividade tornou-se cada vez mais realizável, começaram a surgir walkmans, mp3, iPhones, a voz da Júlia Pinheiro... Enfim, variadíssimos métodos de conseguirmos ouvir todo o tipo de registos sonoros a vários quilómetros de distância das nossas casas.
Ainda, houve uns meninos que, talvez por não partilharem o mesmo amor pela música e estarem fartos de ouvir pelas ruas os diferentes gostos musicais de variadíssimas pessoas, decidiram inventar auriculares, umas coisinhas que permitem aos seus utilizadores desfrutar das músicas que aprenderam a gostar sem precisar de incomodar os outros. É óbvio que, como todas as invenções (para além da Mulher, que disso não necessita), este aparelho sofreu alterações, foi sendo aperfeiçoado, tornando-se mais actual, mais discreto, mais cómodo. De facto, as monstruosidades que antigamente colocávamos nos ouvidos para ouvir música e que nos faziam pressão na cabeça foram transformadas em aparelhos tão simples como o cérebro do Cláudio Ramos, transformados em simples fios que na ponta têm uns pequenos "microfones invertidos" que enfiamos nos ouvidos.
E é aqui que se dá uma reviravolta protagonizada por pessoas que, ou acham que ainda estão em 1990 ou têm problemas graves de "frieiras" nos ouvidos. São pessoas que, mesmo nos dias de hoje, continuam a usar os auriculares gigantes, aquilo que eu gosto de chamar de mola capilar, que nos aperta e afronta a cabeça e nos faz parecer parvos (ou alpinistas que almejam chegar ao cume de um qualquer monte dos Himalaias). A menos que sejam DJ's, nesse caso serão encarados como parvos de qualquer maneira, com ou sem auriculares gigantes.
Ainda, há quem passe o dia todo com tais tampões de ouvidos gigantes à volta do pescoço, afirmando que apenas os usam para o "estilo". E a minha pergunta é esta: Vocês odeiam mesmo a vossa vida ou apenas acham que parecer ridículos até é giro? Se querem usar algo ao pescoço, usem um cordão, um fio de ouro, um dente de tubarão ou, mesmo, uma corda de enforcamento. É-me indiferente, desde que deixem de agir como os velhos de barbas e pêlos do nariz brancos e repugnar todo e qualquer tipo de avanço tecnológico criado pelo Homem.
Encarem isto como um conselho, uma dica de como viver melhor e ser socialmente aceite, ao invés de agirem como verdadeiros lesados mentais com antropofobia, agorafobia ou outras quaisquer fobias que vos impeçam de agir como os restantes seres humanos.

Shukran,
Abreijo.

Réveillução.

"Ah e tal, vem aí um ano novo. Diogo, vais deixar de te armar em parvo e fazer da 'simpatia para com o Mundo' uma das tuas resoluções?"
- Primeiro: Não vos conheço de lado nenhum para me estarem a insultar desta maneira. Comportem-se!
- Segundo: Pelo amor de Alguém (não quero ferir susceptibilidades), não sejam parvos! Sim, eu faço disso uma das minhas resoluções se vocês prometerem que deixam as palhaçadas para o pessoal do Soleil, profissional e experiente na coisa.
O texto de hoje traz-vos uma infinidade de propostas, um verdadeiro rodízio de bons conselhos e úteis (espécies de) ensinamentos, pensados para mim mas que eu quero ver partilhados por e para vocês. Isto porque, na verdade, eu sou um mãos largas, meus amigos. Literalmente? Também.
É uma teoria complicada, a que vos trago, mas tentem acompanhar o meu complicado mas fantástico raciocínio: Porquê mudar de ano se podemos aproveitar tudo o que os anos futuros têm para nos oferecer num único ano? Imaginem, não era excelente se tivéssemos ficado em 2009 e ficássemos a ter conhecimento do iPad um ano antes? Não era fantástico se tivéssemos ficado em 2000 e ficássemos a saber da queda do World Trade Center um ano antes? Mais, não seria giro ficarmos em 2011 e ficarmos a conhecer os carros voadores, a salvação da economia portuguesa (isto é só a minha fé a trabalhar...) e a já há muito aguardada transformação da Lili Caneças num andróide?
É por isto que eu não queria abandonar 2010, meus caros... Se tivesse lá ficado, hoje poderia dizer que levei com o aumento do IVA primeiro do que toda a gente, ainda em 2010. Poderia, também, dizer que fui a primeira pessoa a atestar o depósito do carro a 1,347€ o litro (ou pelo menos fui a primeira pessoa a fingir fazê-lo, pois ainda sou cliente frequente daquelas discotecas ambulantes que fazem questão de se mexem por nós, vulgo autocarros). Poderia, até, dizer que vi o Benfica ser campeão duas vezes no mesmo ano (2010), um ano antes do que a própria equipa. Pensem: Preferem ser originais e poder dizer que viveram tudo o que há para viver primeiro do que o resto das pessoas ou preferem ser medianos, vivendo e descobrindo tudo ao mesmo tempo que as outras pessoas e em anos muito posteriores?
É esta a minha causa, é por isto que luto e é por isto que vos abro os olhos para que, então, se juntem a mim: Vamos acabar com a expressão "Ano Novo". Vamos manter-nos sempre no mesmo ano, o ano velho. Vamos fazer deste ano um ano que consiste em décadas, em séculos, em milénios. No ano de 3514, ainda estaremos (não nós, mas certamente a Lili Caneças-Robô) no ano de 2011, um ano recheado de coisas novas, de imensa originalidade contida em apenas 365 hipotéticos dias.
Vamos lutar contra a mediania, vamos marcar para a História a geração da "Originalidade de 2011"! Vamos contribuir para que os nossos filhos, os nossos netos e os nossos bisnetos-andróides tenham menos trabalho em decorar datas históricas; façamos com que tudo aconteça num único ano. Se não for por isto, então que seja simplesmente para contrariar as profecias Maia do fim do Mundo. Que o Mundo acabe em 2011, em vez de 2012. Vamos mostrar aos Maias (os antigos, não os do livro) quem manda, nos dias de hoje.

Mauliate,
Abreijo.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Devaneios natalícios.

O Natal é uma altura mágica, um verdadeiro regalo para os olhos, para o gosto, para o nariz, para a audição e, até, para o tacto, ao passarmos a mão pelo rabo e sentirmos a carteira fininha e vazia no bolso de trás das calças.
No entanto, e por muito bom que isto possa parecer - até no aspecto da carteira, pois permite que nos sentemos sem nos preocuparmos com a possibilidade ou não de partir o cartão de crédito - existem facetas da estupidez humana que apenas se acentuam ainda mais nesta altura do ano, ideias (mal) pensadas especialmente para esta quadra repleta de quantidades enormes de alegria e de mais dígitos na conta da electricidade.
Falo, obviamente (e se o caro leitor ainda não adivinhou, ou não costuma vaguear por este blogue ou tem níveis de Q.I. iguais ao número de calorias numa folha de alface), na tradição dos presépios vivos. Ora, há seres vivos aos quais eu até perdoo o facto de não se mexerem, de ficarem uma vida toda no mesmo sítio a levar com Sol, com vento ou, mesmo, com todo o microclima que se criou à volta da barriga do Fernando Mendes. No entanto, até estes seres conseguem realizar actividades minimamente... activas vá, seja a fotossíntese, o crescimento de frutos, a emanação de oxigénio ou, mesmo, a capacidade de correr atrás de uma bola com outros 10 companheiros e atribuir a si próprio o título de "jogador da Selecção Nacional" (já que estamos a falar em "florzinhas").
O ser humano, porém - e tinha eu esta ideia -, caracteriza-se por ser uma das excepções à regra. Ele deve-se mexer, fazer, realizar, aproveitar-se do facto de lhe terem sido atribuídos membros - quatro, regra geral; se bem que possam haver excepções (já aqui faltava o belo do humor negro) - para contribuir em algo para a manutenção do modo de vida no nosso Planeta Azul. Não querendo apontar o dedo a ninguém, é óbvio que há pessoas que deviam morrer com pauzinhos de gelado entalados na garganta, pelas atrocidades que proporcionam à vida e vivência humana (Bush), mas ainda sonho com o dia em que o Mundo será regido pelo pessoal da Greenpeace a par com a Polícia Internacional da União das Verduras (PIUV).
No entanto, e voltando ao tema, gostaria que me respondessem a uma pergunta: Os presépios vivos não têm o intuito de mostrar cenários bíblicos de outra forma que não com figuras feitas em barro e com pinturas muito mal feitas? À primeira vista, apontaria para uma resposta afirmativa. No entanto, alguém muito esperto decidiu que os presépios vivos deveriam ser exactamente a mesma coisa, mas com seres humanos a fazer de estátuas. Ou seja, substituiu-se as figuras em barro por seres humanos, mas a imobilização manteve-se.
"E porque é que isto te indigna?", perguntam-me vocês mas em voz alta porque estou a ouvir a Stayin' Alive dos Bee Gees a altos berros (o volume até está baixo, o vocalista é que consegue irromper pelas colunas como qualquer homem com mais de 50€ por entre qualquer réstia de bom-senso que ainda possa existir dentro da Elsa Raposo). Indigna-me porque quando vou ver um presépio vivo espero sempre mais animação: três reis magos em cima de camelos e a falar sobre a situação política nos seus reinos, um burro e uma vaca em despique para ver quem dá coices mais fortes ou, até, e à falta de melhor, muitas luzes, música a altos berros e bebidas efeminadas, para dar um ar mais moderno à coisa.
Tantos caracteres para dizer o quê? Deixem de chamar aquilo de presépio vivo, passem a chamar de presépio imóvel, staring contest, exemplificação dos níveis de alegria nas festas da Lux. Enfim, algo que me faça acreditar em qualquer réstia de sanidade humana, pelo menos na época do Natal.

Xie xie,
Abreijo.