terça-feira, 23 de abril de 2013

Terapia de grupo.

O leitor confunde-se com facilidade? Eu devo confessar que sim, confundo-me bastante... É uma das poucas falhas de coordenação mental que possuo, até porque sou uma pessoa bastante completa nesse campo. Independentemente do que possam dizer os meus psicólogos. Qualquer um dos dezassete.
É frequente confundir-me, inclusive, quando me encontro num aglomerado de pessoas. Porque está muita coisa a acontecer, está o João a mexer na palhinha da bebida do Guilherme enquanto a Marta dá palmadinhas no rabo do Artur; está a velhinha com sacos de compras a bater com a mala num carteirista enquanto um mendigo lhe rouba as alfaces do saco... É muita coisa. Por isso, considero refrescante quando as pessoas decidem ser confusas todas ao mesmo tempo e em torno de um comportamento comum.
Falo, então, do aplauso. Quem é que decretou que bater com as mãos uma na outra de forma a fazer ruído era sinónimo de agrado e admiração? É por causa do som, que é interessante? Será que ver indivíduos a autoflagelarem-se ao nível das mãos é, de alguma forma, divertido? E, claro está: Eu, confuso, vou atrás e imito os padrões comportamentais destas pessoas, para não pensarem que até desgostei da mesma coisa que elas, pelos vistos, adoraram.
A ideia geral é a de que isto surgiu na altura da Grécia Antiga e que envolvia, como quase tudo naquela altura, gladiadores. Mas eu desconfio que o aplauso tenha raízes mais profundas no âmbito do comportamento humano. Ninguém me tira a ideia de que um australopiteco tenha, a dada altura, dito para si mesmo: "Epá, gostei bastante da forma como o Un'garamadunga lidou com aquele tigre dente-de-sabre. Vou bater com as mãos uma na outra para o demonstrar." Isto na língua deles, claro.
E é isto que nós parecemos, basicamente. Pouco mais que macacos. Depois de termos criado a linguagem verbal, a linguagem escrita, a semiótica e outros sistemas de sinalética, decidimos que um "clap, clap!" é muito mais digno do que um "Olhe, desculpe, apreciei imenso o seu trabalho". Poderá o caro leitor argumentar, com razão, que esta frase é grande demais para se dizer, por exemplo, durante uma peça de teatro. Mas foi também por isso que criamos o "Fixe!". O "fixe" concentra tudo isso, toda a nossa imensidão de sentimentos agradáveis e prazerosos face ao trabalho de outrem, em apenas quatro letrinhas.
Não me façam falar é na convenção que se decidiu arranjar para o "fixe" em linguagem gestual. É tema para outra tertúlia. E, curiosamente, parece que inclui outra vez gladiadores.

Abreijo.

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