segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Sentidos cruzados.

Vamos lá ver se nos entendemos de uma vez por todas, que já estou farto de piadas e insinuações de mau gosto: Eu cruzo as minhas pernas como bem me apetecer! Ponto assente. Posto isto, vamos analisar a fundo esta questão. Se não quiserem analisar não analisem, eu não me importo de analisar sozinho. Encostem-se só no sofá e apreciem tamanha erudição analítica.
A igualdade entre géneros tem dois sentidos, um para cada género. Está giro, e assim ninguém fica de fora. Significa isto que tanto um homem como uma mulher têm a possibilidade de conduzir um carro, embora não devam os dois conduzir o mesmo carro ao mesmo tempo. É chato para os transeuntes. Mais, se um homem der um murro numa mulher ela tem todo o direito de retaliar com um pontapé na zona Sul do agressor. E vice-versa, apesar da zona Sul das senhoras ser um bocado mais clivada. Não, não sou a favor da ideia de que os homens devem comer e calar. Para isso já basta ter que acompanhá-las ao cinema.
É justamente esta igualdade de géneros que muita gente quer ver deturpada, moldada para os seus propósitos pessoais e egoístas. Não sou machista nem feminista, não sou pela superioridade do pénis nem pela imposição da vagina. Sou apenas um pénis entre muitos outros. Frase estranha, mas verdadeira. Daí que não concorde com a actual imposição da sociedade acerca do cruzar de pernas.
Algures na história da humanidade houve um ser iluminado, e relativamente aventureiro na zona dos membros inferiores, que se lembrou de pôr as suas próprias pernas uma por cima da outra numa posição relativamente estranha. E descansou. No fundo, é isto que o traçar de pernas faz: Permite-nos descansá-las. Ora, eu não consigo descansar as pernas quando me começam a encher os ouvidos com normas e regras justamente de como descansar as pernas. Algo que devia ser relaxante, a mim deixa-me perplexo. Logo a mim, que não aprecio nada a perplexidade.
Então a história é a seguinte, existem duas categorias de cruzamento de pernas. Que eu tenha conhecimento. Num Mundo ideal, qualquer uma destas categorias poderia ser adoptada por qualquer pessoa, independentemente de género, raça, credo ou tamanho de sapato. Mas na sociedade burocrática e normativa em que vivemos as pessoas insistem em atribuir a cada género um cruzamento de pernas distinto. Assim sendo, um homem nunca deverá cruzar as pernas de maneira a que as partes interiores das coxas se encontrem, ao passo que uma mulher não deve nunca cruzar as pernas de maneira a que uma delas fique a fazer ponte sobre a outra. E esta ideia até poderia fazer sentido no caso de todos nós sermos pessoas com fraco talento para a arrumação. Mas não somos. Alguns de nós, eu incluído, ainda conseguimos arrumar um pénis entre as nossas próprias pernas, que diabo! Mais uma vez: Frase estranha, mas verdadeira.
Da mesma forma que me criticam quando cruzo as pernas "coxa com coxa", também eu poderia criticar os homens que as cruzam "em ponte" e afirmar que só o fazem para se exibir. Mas não o faço, porque até sou um rapaz porreiro e com alguma classe latente. Escusam portanto de zombar, porque não se trata de uma questão de ter mais ou menos volume lá em baixo. Trata-se, isso sim, de saber manusear o material. E isso só um homem a sério consegue.
Frases estranhas, mas verdadeiras.


Abreijo.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Candidíases familiares.

O meu primo começou a namorar e eu desconfiei do meu primo. O meu primo namorou-se de novo e, mesmo assim, continuei a desconfiar do meu primo. Até que o meu primo se casou, e eu não deixei de desconfiar do meu primo. Apesar de tudo isto se ter passado na companhia de mulheres, ainda hoje desconfio do meu primo. E porquê? Porque o meu primo nasceu de cesariana.
Sim, desconfio que o meu primo seja homossexual. E antes que comecem com coisas: Não, não sou de todo contra. Encaro a homossexualidade com a mesma naturalidade com que encaro uma tigela de sopa num dia friorento e invernoso. E encaro o meu primo com a mesma naturalidade com que se encara um primo. Pronto. Mas não consigo sacudir a ideia de que ele é homossexual. E não consigo também sacudir a realização do quanto é arriscado utilizar o verbo "sacudir" num texto que se refere à sexualidade, seja ela de que tipo for.
Existem muitas concepções comuns e recorrentes através das quais o meu primo poderia tentar argumentar a favor do nascimento por cesariana e, por acréscimo, a favor da sua masculinidade: Ou porque estava de lado na altura do parto, ou porque tinha o cordão umbilical perigosamente enlaçado no pescoço, ou porque estava a gostar do quentinho da placenta e não queria sair, ou mesmo porque a progenitora tinha tido o desejo de comer uma consola durante os primeiros tempos de gravidez e ele queria chegar ao último nível do jogo antes de sair para o Mundo.
Mas não me venham com explicações vãs, não é de todo comum que um heterossexual rejeite uma vagina desde logo à nascença. O facto de o meu primo ter visto uma vagina e pensado: "Nah, vou à volta que é melhor!" nunca me caiu bem. É que não havia mais nenhuma saída para além daquela. E convenientemente colocada mesmo ali ao lado! Seria o mesmo que alguém recusar-se a sair de casa pela porta da sala e abrir uma nova janela na cozinha. Não faz nenhum sentido do ponto de vista arquitectural.
Acreditem que já tentei várias vezes clarificar o caso: Um dia perguntei-lhe directamente se era homossexual enquanto ele jogava râguebi, emborcava uma bebida energética e piscava o olho a uma cheerleader. Ele respondeu-me com um murro na boca. Mas eu não desisti da minha pesquisa, e fui dar com ele depois do jogo nos balneários a chicotear os colegas com uma toalha embebida em suor. O que estava eu a fazer nesses balneários e como tomei conhecimento de que a toalha estava suada já não vos diz respeito.
Um dia hei-de perguntar à minha tia qual o nível de interesse que o meu primo tinha pelas suas mamas quando era pequeno. Mas pergunto quando ele estiver no râguebi, porque tenho medo de levar outro murro na boca. Quer dele, quer do meu tio.

Abreijo.