sexta-feira, 17 de maio de 2013

Leituras assexuadas.

Só para tornar o texto mais interessante: Neste momento estou nu e só com um lençol a fazer de toga, enquanto recito Shakespeare ao crânio do meu periquito de estimação que morreu há três semanas de desgosto. Ele sempre gostou mais de cinema.
Hão-de ter paciência, mas eu não tolero o chauvinismo de género! Uma coisa é só haver marcas de sutiãs, ou de bandas de cera para mulheres (embora existam também homens bastante apreciadores destas coisas). Outra, completamente diferente, é quando estas distinções atingem a imprensa. Não me interpretem mal, sou completamente a favor de todas e quaisquer liberdades, mesmo que impliquem o não-uso de roupa interior. Essas até incito. Mas no que toca à imprensa, penso que devemos ser moderados. E principalmente no que diz respeito às mais importantes obras impressas dos nossos dias: as revistas cor-de-rosa. Não, não vou escarnecer das revistas cor-de-rosa. Não só porque tenho preguiça mas porque, em miúdo, também eu ia espreitar as páginas dos "consultórios sexuais" deste tipo de revistas. Não assobie para o lado, caro leitor...
No entanto, apesar de todo o respeito que tenho por estas páginas estratégicas, que tanto me ajudaram quando era miúdo, não posso deixar de me indignar com certos aspectos deste tipo de... literatura: Porque é que as revistas cor-de-rosa têm quase todas primeiros nomes femininos? Temos a Ana, a Maria, a Mariana, a Cláudia e a Clotilde... E porque é que não temos a Joaquim, a Fernando, a Eduardo ou a Zé Tó? E podem vocês argumentar: "Ah, mas estas revistas cor-de-rosa são claramente dirigidas para as mulheres!" Tudo bem, mas isso não implica que tenham que ter nomes comuns. Se é por isso, então que ponham últimos nomes: criem a Revista Gouveia ou a Batista Magazine, que ao menos dão a impressão de ser mais profissionais.
Para além de que existem também revistas especialmente dirigidas aos homens, e nem por isso nos vêm a ler a Revista Paulo. Até porque a maior parte destas revistas se centra bastante em fotografias de meninas nuas, e ver uma fotos dessas acompanhada pelo nome Carlão em grande e a negrito não será propriamente a melhor estratégia de marketing. Mas não temos que nos cinjir às meninas nuas, existem muitos outros assuntos pelos quais os homens se interessam. Como... vá, agora só me consigo lembrar das meninas nuas. Mas existem, garanto-vos!
E ai de nós que nos lembremos de espreitar as vossas revistas, que a nossa masculinidade é logo posta em causa! Menos quando somos miúdos, nessa altura até dá jeito ler para decidirmos a nossa sexualidade. É normal uma mulher usar a lâmina de barbear do homem para rapar as pernas, mas quando um homem lhes rouba uma banda de cera para fazer o buço já é troçado. O mesmo se passa com as revistas: É normal uma mulher ler uma revista masculina (daquelas mesmo com letras e texto corrido) porque significa que está a tentar informar-se acerca dos interesses dos homens; quando é um homem a ler uma revista feminina, ou já pôs a sua masculinidade completamente de parte ou é um tarado.
Assim não, meninas...

Abreijo.

domingo, 12 de maio de 2013

Santa saúde.

Santinho. Santinho. Santinho. A partir daqui, já estão por vossa conta.
Sim, há pessoas que abusam da boa vontade dos outros. E quando a essas pessoas se junta uma vontade parva de dar nas vistas, o povo chateia-se, e com razão! E atenção que não estou de momento a criticar pessoas, disso já estou farto. Desta vez vou criticar: narizes. "Hã, Diogo?" Exacto.
Eu bem sei que a culpa do flagelo dos espirros múltiplos não será propriamente da pessoa em si, porque compreendo que poucos apreciem fazer cara de orgasmo em público para a seguir ficar com a mão cheia de muco... Bem, avancemos. A culpa é, de facto, do nariz, que decide armar-se sem sequer nos consultar. Mas eu até o percebo, porque quando éramos miúdos também lhe invadíamos o espaço com o dedo e retirávamos de lá bastantes guloseimas sem sequer um "com licença". Raios, este texto ainda agora começou e já está bastante badalhoco...
Eu até nem me importo que espirrem três, sete ou dezanove vezes, atenção. Só que a minha boa educação, que muitas pessoas pensam (erróneamente, claro) não existir, obriga-me a ter que responder sempre que alguém espirra. E nesses termos penso que responder dezanove vezes já é abuso. É que a resposta até é um acto voluntário, só respondo porque quero e porque, no fundo, sou um amor de bichinho! Mas, como em tudo, há quem se aproveite em demasia desta minha leviandade.
Porque, reparem: Eu sou uma pessoa imensamente influente, penso que disso não haverá dúvidas. Tanto que no outro dia obriguei um condutor a abrandar porque queria passar a passadeira. Por isso tenho medo que, caso não vos diga "Santinho!", que pelos vistos é o mesmo que desejar saúde (vá-se lá saber porquê), essa vossa saúde possa vir piorar. E depois fico com esse peso na consciência: "Epá Diogo, não me disseste 'santinho' quando estava constipado e agora cresceu-me um cancro num pé!" Eu ficaria desolado com uma afirmação destas... Se o carteiro espirrar à minha frente, não obtendo resposta da minha parte, e dali a uns anos me vier entregar uma encomenda em casa com claros sinais de calvície (no carteiro, não na encomenda), eu vou inevitavelmente pensar que é por minha causa. E não quero isso na minha consciência! Por isso faço questão de responder sempre que alguém espirra ao pé de mim, seja o barbeiro que encosta os seios à minha nuca quando me apara o cabelo à volta das orelhas seja a senhora ao meu lado no autocarro que cheira intensamente a refugado.
Mas a boa educação esvai-se e a consciência deixa de me pesar quando abusam da minha boa vontade. Aí apetece-me partir narizes, desconsiderando completamente o vosso bem-estar. Nessas alturas até torço para que sejam carecas, como o carteiro!
Vá lá que algumas pessoas espirram com um sentido de ritmo, que sempre dá para trautear alguma coisa. O meu tio, por exemplo, conseguia espirrar Beethoven, até que a minha tia lhe deu com um machado na cabeça.

Abreijo.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Fanfarrões intemporais.

Um tipo de pessoas que odeio – sim, mais um – é viajantes no tempo. Se o leitor é viajante no tempo, então odeio-o. Saúdo a sua descoberta de como o fazer, mas odeio-o na mesma.
Porque quem aspira a ser viajante no tempo são, normalmente, pessoas bastante fanfarronas. A meu ver, existem três tipos de fanfarrões: Os falsos fanfarrões, que dizem ter andado à porrada com três mexicanos encapuzados quando na verdade as nódoas negras que têm nas costas foram simplesmente provocadas por andarem a coçá-las contra a barra da cama; os fanfarrões por extrapolação, que ajudaram uma velhinha na rua e fazem questão de contar a toda a gente que ajudaram algumas quatro, muitas vezes incuindo (falsamente) terem-nas levarado ao mesmo tempo para a cama com algálias e tudo; e os fanfarrões por hipótese, que juram que se vivessem na idade do gelo eram peritos a caçar mamutes.
É neste último grupo de fanfarrões que encaixo os aspirantes a viajantes no tempo. Muitos destes, por saberem que ainda não é possível fazê-lo (tirando o leitor ali em cima), não poupam nas promessas acerca do que fariam se voltassem atrás no tempo. É muito fácil falar quando se tem as costas quentes, principalmente quando é a incapacidade da ciência quem nos aquece as costas. Senão, vejamos: Quantos de nós não nos imaginamos já a voltar atrás no tempo e a impedir os nossos pais de descobrir aquela colecção de revistas marotas que tínhamos naquele compartimento especial da mochila da escola? Talvez menos importante: Quem nunca desejou, por exemplo, voltar atrás no tempo e acabar com a vida de um ditador que tenha matado milhares de pessoas, aproveitando a altura em que ele ainda usa fraldas?
Saberão, no entanto, que aquele bebé, aos olhos das pessoas da altura, é apenas... um bebé, correcto? Portanto, se matassem o pequeno ditador aconteceriam, muito provavelmente, duas coisas: Primeiro, seriam considerados assassinos (de roupas extravagantes) por terem matado um pobre bebé indefeso; segundo, ninguém se lembraria do vosso feito no presente porque o miúdo nunca teria sequer chegado a saltar das fraldas para ir posteriormente matar pessoas. Ou seja, seriam provavelmente enfiados numa prisão do século XX com condições de sanitário do século XV, tudo por terem cometido o acto atroz de matar um pequeno bebé.
E aquelas pessoas que acham muito giro viajar no tempo com um GPS para mostrar ao pessoal da época dos Descobrimentos, que por acaso também são portugueses? Habituam mal os bravos navegadores e depois fazem o quê quando acabar a bateria? Indicam-lhes através de gestos o melhor caminho marítimo para a Índia? Dão-lhes dicas acerca de onde devem estacionar o barco, com a “Gazeta do Marinheiro” na mão?
Com tudo isto, pergunto-vos: Não seria melhor manterem-se por casa?
 

Abreijo.