domingo, 28 de abril de 2013

Prostituição senciente.

Ai o amor... É tão lindo, o amor. Principalmente aquele suadinho, praticado entre várias pessoas ao mesmo tempo. Mas aí já não é bem amor, a maior parte das vezes passa a pura badalhoquice. E é justamente este o tema do texto que vos trago nesta bela tarde de Sol. Ou manhã algo ventosa. Ou noite bastante nublada. Sei lá, não adivinho como está o tempo aí!
Que tema é esse? O amor? Não, a badalhoquice. Talvez o leitor ainda não tenha reparado, mas por vezes tenho a tendência para a crítica. O problema é que criticar pessoas, coisas e pessoas em contacto com coisas já não me é suficiente. Por vezes, penso que devia prestar mais atenção ao detalhe. E é por isso que hoje decidi, em vez de criticar pessoas inteiras, criticar apenas... órgãos, mas de pessoas inteiras. E para continuar na onda das especificidades, criticar apenas os órgãos dos sentidos, ou seja, responsáveis pelo nosso sistema sensorial. "E o que têm os órgãos dos sentidos a ver com a badalhoquice, Diogo?", perguntam vocês nessa vossa voz fininha e irritante que me fura os tímpanos. Primeiro, façam-se homens! E se forem mulheres, desapertem um bocado o sutiã que pode ser isso que vos está a comprimir as cordas vocais. Principalmente as mais peitudas.
Ora, é muito simples: os ouvidos e o nariz são os órgãos dos sentidos mais badalhocos. E porquê? Porque não filtram nada, não seleccionam, não barram nem nos deixam barrar nada à porta. Porque, vejam: Se não quiserem ver o rego do rabo daquele electricista que anda já há duas semanas lá na vossa rua a passear o escadote de poste em poste, podem sempre fechar os olhos. Se estiverem preocupados com a possibilidade de levar com um carro no meio das rótulas, por terem fechado os olhos no meio da estrada, então nem precisam de os fechar: Basta desviar o olhar para outro sítio que não a cratera traseira do senhor. Com o paladar e o tacto o caso também não tende a ser muito complicado, porque costumamos ter hipótese de escolha: se não quisermos saborear alguma coisa (mau hálito não conta), basta não abrir a boca para enfardar; se não quisermos sentir alguma coisa, basta não ir lá tocar feitos parvos. É verdade que há pessoas que gostam de brincar com instrumentos de cabedal, algemas e afins e muitas vezes são obrigadas a sentir coisas que se calhar não queriam, mas isso já é da sua inteira responsabilidade.
Já a audição e o olfacto são as prostitutas dos sentidos, porque não podemos evitar o que "consumimos" através destes meios. É verdade que se estiver a ouvir rádio, facilmente mudo de uma estação que esteja a transmitir música agitada de Sábado à noite para outra que transmita apenas sons calmos do mar, incluindo pessoas a afogar-se ou discussões políticas profundas (literalmente) entre uma comunidade de robalos. Mas se estiver numa fábrica de conservas tenho que levar com o barulho das máquinas, quer queira quer não. Posso sempre tapar os ouvidos, mas toda a gente que teve uma infância sabe que isso não funciona a não ser que acompanhemos com "Lá, lá, lá, lá, lá..." Com o olfacto, temos um caso muito semelhante. Nós não escolhemos o que cheiramos. Se numa missa solene se descuidarem ao meu lado, não consigo desligar o cheiro da bomba intestinal do meu vizinho de modo a cheirar só o incenso que o padre tinha queimado alguns minutos antes. Vem tudo ao mesmo tempo para as narinas aqui do menino. E, mais uma vez, não posso simplesmente tapar o nariz, até porque dizem que não faz bem à saúde. Pelo que dizem, precisamos de ar para respirar, ou algo do género...
Deixo-vos, então, com esta constatação bastante profunda: Muitos pais acham algo desagradável que a sua filha seja prostituta - não todos, porque alguns até parecem incentivar - quando, na verdade, todos nós acabamos por ser um bocado prostitutas. Mais do bigode para cima, mas somos. E das badalhocas, não das selectivas!

Abreijo.

Sem comentários:

Enviar um comentário

A cada comentário morre uma criança em África, relativamente a cenas.
Veja lá o que vai fazer.