quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Super-texto-não-muito-grande.

Não gosto de criminosos. Eu até percebo a parte deles, têm que subsistir de alguma forma e o que eles fazem até chega a ser uma espécie de lazer. Principalmente os crimes que envolvam fugir, tiros, e assim. É lucro, jogging e caça, tudo ao mesmo tempo.
E em detrimento de eu não gostar de criminosos, por outro lado gosto muito de super-heróis. Bastante, até. Se eu pudesse, casava-me com um super-herói. Mas já se sabe como é este país, só interessa o casamento homossexual e os abortos. Quem tem tara por super-heróis, lixa-se. No entanto, sou da opinião que os super-heróis têm andado já de algumas décadas para cá num impasse ideológico muito grave. Existe muita falta de originalidade e muita preguiça no que diz respeito à dinamização do ramo do super-heroísmo.
Senão, vejamos: Que razão há para se ter parado na caracterização dos super-heróis com base em animais? Ou seja, porque é que os super-heróis se inspiram apenas em animais para criarem a sua persona? Às vezes até se percebe, existem animais cujo porte é realmente intimador e merecedor desse privilégio. Mas porquê só animais? Porque é que não há o Homem-Arranha-Céus, que também é bastante imponente e se cair ainda faz uns estragos valentes? É que na maior parte das vezes os animais nem são muito grandes, e muitos deles até são simples insectos. Porque é que os super-heróis se baseiam sempre em bichos pequenos, tipo aranhas, vespas e morcegos e não escolhem ser o Homem-Urso, ou o Super-Baleia-Branca? Chegou a existir o homem-elefante, mas esse possuía um rol de super-poderes muito escasso... Era muito à volta do assustar criancinhas. E vocês podem argumentar: "Ah e tal, são animais pequenos mas são mais ágeis e habilidosos." Ai é? Então ponham um morcego a lutar contra um urso pardo, a ver quem ganha.
A menos que os super-heróis sejam todos zoófilos - e eu espero bem que não, senão lá se vai grande parte da minha infância -, não há razão nenhuma para que todos queiram ser animais. Eu quando era miúdo também imitava cães e até toiros, mas nunca ladrei para o meu pai nem passei uma tarde de Domingo a afiar os cornos. Se os tenho, que pareçam naturais. É como as mamas.
Se há o Homem-Aranha, o Homem-Morcego, o Homem-Formiga e até o Homem-Peixe-Porco (quanto ao último já não tenho a certeza, posso ter sonhado com isso), porque é que não pode haver, por exemplo, o Super-Abajur, o Homem-Banco-de-Jardim ou, mesmo, o Escrivaninha-Man? Fugia-se um bocado ao tema dos animais e inseria-se o super-heroísmo no âmbito da decoração de interiores, uma área nova, fresca e em tons de fúcsia.
Enfim, existem tantas áreas para as quais se podem virar... Vejam o exemplo daqueles super-heróis de todos os dias, aos quais pouca importância damos. Falo-vos do Homem-do-Talho, da Mulher-a-Dias ou do próprio Homem-do-Saco, que tantas vezes salva os pais de terem que ter paciência em relação à educação dos filhos. Basta ameaçar chamar este super-herói e o trabalho fica feito. É um super-herói que nem precisa de aparecer. Estes sim, são exemplos de heroísmo e coragem! Os Super-Homens deste Mundo deviam pôr os olhos nestes heróis, que escolhem situações triviais do dia-a-dia para basearem a sua identidade. Que nem tem que ser secreta, aliás! O senhor Joaquim Barreiro não tem problema nenhum em admitir que é o Homem-do-Talho da sua aldeia, e isso é de louvar. Também isso faz parte da sua mística.

Abreijo.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Sete anos.

Eu sou picuinhas. Já o meu pai também é picuinhas, a minha mãe chega a ser picuinhas e os meus irmãos são só parvos. E já sou picuinhas há algum tempo, lembro-me que o meu avô ainda andava na guerra e já eu era picuinhas. Qual guerra, perguntam vocês? A outra, uma que só eu e o meu avô conhecemos. Chiu.
Foi mesmo desde pequenino que me comecei a aperceber que a quantidade de "picuinhices" com as quais obcecava não fossem talvez normais para o miúdo de buço frágil que era na altura. Hoje continuo a ser de buço frágil, mas já sou um jovem!
É facto também que estes pequenos dramas da minha então curta vida prendiam-se, muitas vezes, com o campo do audiovisual, nomeadamente do cinema e da sua filha bastarda, a televisão. Compreendamos o seguinte: Em miúdo, eu devorava televisão. Era às três e quatro televisões ao dia, sem sequer uma salada a acompanhar. Chegava a ir deitar-me com dores de barriga de tanta televisão, que por não ser muito rica em fibras custava a... Bom, fiquemos por aqui. De facto, foi ao ver muita televisão e ao compará-la com a vida real - já muito agitada, na altura - que me comecei a aperceber de algumas incongruências no modo como são captados alguns episódios que pretendem representar a realidade.
Senão, vejam: Porque é que na vida cinematográfica as pessoas recordam na terceira pessoa factos antigos que presenciaram com os próprios olhos? Para quem joga poucos jogos de vídeo, vão procurar o que significa "terceira pessoa". "E em que medida é que isto é incongruente?", perguntam vocês cheios de pompa e circunstância. É-o porque, a menos que realmente exista aquela coisa da experiência extracorporal, é muito difícil uma pessoa lembrar-se daquela mancha de mostarda que tinha no rabo das calças à altura, porque não a consegue ver. Se não conseguimos ver as nossas próprias borbulhas das costas quando interagimos com uma pessoa ou com um cenário, normalmente também não conseguimos vê-las quando tentamos recuperar esse acontecimento por via da memória. Só nos lembramos, portanto, daquilo que o nosso raio de visão captou na altura. Mas na indústria cinematográfica  pelos vistos não funciona assim, vemos as nossas próprias borbulhas e em HD, com close-ups e planos detalhados. E eu ali, com sete anos e a pensar: "Chiça, quem me dera também lembrar-me de coisas na terceira pessoa... Pode ser que assim descubra quem foi que me deu com o livro de Ciências na cabeça no intervalo de ontem." Sim, eu com sete anos já dizia chiça.
Mas calma, que ainda há mais! E no caso das cartas de correspondência, tão populares em filmes que retratam épocas antigas dado que naquela altura "informática" era apenas uma palavra-segura para a prática do sexo sadomaso? (Eu sou fixe, por isso digo "sadomaso"...) Porque é que quando alguém recebe uma carta nesses filmes e a começa a ler ouve sempre a voz do remetente por trás a ditá-la? Aquilo chega a ser assustador, parece que lhes estão a ler a carta por cima do ombro. Se era para isso, nem era preciso escrevê-la! Até porque carta implica escrita, discurso textual. Eu, por exemplo, quando leio cartas não faço muita questão de a imaginar na voz de quem ma envia.
E com cartas anónimas, como é que isso funciona? Não conhecem a voz do remetente, pois não? Então têm que distorcer a voz, como fazem àquelas testemunhas na televisão que não querem dar a cara. Já viram a trabalheira que isso dá? Até aceito que seja a voz do próprio destinatário lá ao fundo a ler a carta, visto que sermos nós próprios a ler aquele texto todo chegaria a ser aborrecido e acabaria por gorar um bocado o objectivo do conceito audiovisual. Agora, vozes alheias? Sejamos sérios.
Era só isto. Cinema, televisão e tal, mudem lá essas parvoíces.

Abreijo.

Ética em viagem.

No outro dia estava eu a viajar de avião, como pessoa extremamente interessante e viajada que sou, quando, passados aqueles cinco minutos iniciais de fascínio pelo facto de me encontrar acima das nuvens, virei a cabeça da janela para o pequeno ecrã que estava embutido no banco à minha frente.
Um aparte: Discordo totalmente desta disponibilização de ecrãs individuais para cada passageiro. Sendo a viajem já de si aborrecida, e sendo a televisão um meio pensado inicialmente para a visualização conjunta, não faz sentido dar um ecrã a cada passageiro. Até porque a programação é a mesma para todos, é raro haver hipótese de escolha. No entanto, concordo que se disponibilize ecrãs particulares caso haja a opção de visualizar programação, digamos... badalhoca. Nesse sentido, sou da opinião que quanto menos partilha melhor.
Voltando ao tema: Mas a minha já costumeira indignação, que acabei por ter que desligar porque estava a fazer interferência com os instrumentos de vôo, prendeu-se, não com a televisão em si, mas com o tipo de programação que estava a ser emitido. Nomeadamente, com os programas de "apanhados" que toda a gente acha muito giros. O aborrecimento de duas horas e meia de viagem aliado à minha (vastíssima) formação académica levou-me a questionar a legitimidade deste tipo de programas. Senão, pensem: É legítimo criar um programa televisivo baseado na premissa de enganar pessoas? E sim, podem argumentar que a quase totalidade dos conteúdos televisivos actuais desempenham um papel semelhante, principalmente os intervalos publicitários da TVI.
Mas à descarada? Se querem enganar pessoas então façam-no pela calada, como os responsáveis pela marca Johnson's Baby que juram que o seu shampô não provoca lágrimas ou como os intervenientes nos tempos de antena nos dias antecedentes a um sufrágio. Mas não o façam de forma tão evidente, assim dão que falar a pessoas pouco ocupadas como eu. Ninguém, para além de mim, reparou ainda nas violações a directrizes éticas que estão aqui em causa? Sim, meus vagos conhecidos: Os programas de "apanhados" são ética e moralmente condenáveis. Trata-se, nada mais nada menos, do que perfídia e deslealdade para com as pessoas abordadas. E com a agravante de haver ainda marmanjos encafuados em casa (ou no avião, neste caso) a gozar com a cara deles. Do tipo: "Olha que giro, aquele senhor pensa que lhe estão a chacinar o carro quando se trata de uma réplica exacta." Ai é giro? E deixamos de parte o direito à verdade e à transparência? Escusado será dizer que, a partir dessa fatídica viagem de avião, todo e qualquer apreço que nutria pela imagem do mítico Guilherme Leite acabou por se desvanecer. Que monstro!
Atenção, não quero com isto dizer que este tipo de programação é inviável, ou que não tem lugar nas nossas televisões. Bastava que houvesse algumas alterações e o conceito até ficava interessante. Em vez de espatifar réplicas, porque não espatifar o carro verdadeiro do senhor? Ao menos aí não haveria trapaças e enganos tão condenáveis do ponto de vista ético, e até em termos de galhofa se tornava num conceito mais engraçado. Afinal, tem mais piada quando sabemos que é a sério.

Abreijo.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Parcelamentos capilares.

Não sei qual de vocês andava esta noite a fazer barulho no meu armário do quarto, mas parem com isso que a minha namorada queixou-se a noite toda. Até gemia, parecia que lhe estavam a atacar o estômago, ou assim...
Bom, já aqui falei de cabelo. Várias vezes, até... É um assunto sobre o qual era capaz de escrever uma tese inteira, caso houvesse alguém interessado em ouvir as minhas opiniões sobre folículos capilares. Mas enfim, já se sabe que neste país não há o hábito de dar importância às grandes questões.
E a pergunta que dará início a toda esta... chinfrineira é, então, a seguinte: Porque raio é que o cabelo da cabeça é o único aceitável, e até desejado? (Reparem que chegam a ser duas perguntas numa só; há que poupar caracteres, que isto não está fácil para ninguém.) Porque, vejamos, o cabelo da cabeça não é diferente do cabelo das costas. Pela vossa saúde, não é! É exactamente igual aos outros cabelos, só aparenta ser diferente porque o deixamos crescer e damos-lhe formas giras. E logo aí vemos começarem os preconceitos: porque é que na cabeça temos cabelo, e no resto do corpo temos "pêlos"? E os pêlos, não são cabelo também? E o tomate, não é um fruto? Bom, penso que já estarei a ultrapassar os limites desta nossa discussão. Esta questão do tomate fica para outra salada. (Que piada, meu Deus!)
De facto, o cabelo da cabeça só tem a importância que tem porque é o menino mimado da sociedade contemporânea. Antigamente não havia exclusão de qualquer tipo de cabelo, havia até um culto de manutenção e melhoramento dos vários cabelos. Quando hoje vejo o meu vizinho a podar os arbustos do quintal, bate-me a saudade e relembro antigos tempos de glória em que uma zona púbica bem farfalhuda era motivo de orgulho. Se eu pentear os pêlo púbicos todos acham estranho, e dizem que eu sou nojento, e que não uso mais a escova deles; mas pentear os pêlos capilares já não faz mal, e é muito giro!
Há toda uma panóplia de produtos para manter, melhorar, mudar, moldar e manietar o cabelo da cabeça, mas pouco ou nada há para o cabelo do peito, por exemplo. Aliás, o desejável até é arrancá-lo! O único tipo de cabelo que se pode dar ao luxo de ser socialmente aceitável, para além do da cabeça, é o das pernas. E até esse de forma extremamente condicionada, porque é apenas aceitável nos homens e já não é qualquer homem que o vê com bons olhos. Algumas mulheres também tentam adaptar este estilo às escondidas, principalmente durante o Inverno quando não destapam as pernas. Mas nelas já não fica tão giro. Confiem em mim.
E não me venham com o argumento de que o cabelo da cabeça é o mais bem aceite porque é o que salta mais à vista. Esse argumento cai por terra, por exemplo, no contexto de um clube de striptease. Nesses lugares, a zona da cabeça é das últimas para onde se olha. E nem nestes casos se vê uma valorização dos restantes cabelos, estão ali elas (ou eles, dependendo da preferência) rapados que nem bebés de colo. Até os cabelos faciais, também eles designados por um nome diferente, são tão visíveis como os da cabeça e mesmo assim são tidos como indesejáveis: a chamada barba, que antigamente era sinónimo máximo de virilidade, superior até à posse e ostentação de um pénis, tem vindo a marcar cada vez menos presença nas faces masculinas (e até em algumas femininas) de todo o Mundo. Diz-se ser sinónimo de desleixo, de despreocupação com a aparência. Então se uma barba mal-aparada é sinónimo de desleixo, deixar crescer cabelo na cabeça também não o devia ser? E o que dizer das sobrancelhas e das pestanas, que se desaparecem cai o Carmo e a Trindade? Eu não conheço nem o Carmo nem a Trindade, mas o que é facto é que caem sempre em alturas escandalosas.
Sejamos sérios em relação à matéria capilar, meus amigos... Não vamos cair no erro de menosprezar certos tipos de cabelo, enquanto primamos por outros. Se querem deixar crescer então deixem crescer tudo, não só parcelas.
E mesmo que este texto não tenha sido suficiente para vos fazer mudar de ideias, ao menos que tenha servido para me dar a possibilidade de escrever a frase: "... posse e ostentação de um pénis...".

Abreijo.