quinta-feira, 27 de junho de 2013

Puro, duro e cru.

Eu chateio-me bastante com as pessoas. É raro elas chatearem-se comigo, o mais comum é ser eu a chatear-me. As pessoas já me ligam pouco.
Uma das minhas chatices costumeiras com pessoas prende-se com a carne. Não a minha nem a delas, mas a carne no geral. Há pessoas que gostam de comer carne praticamente crua. Tão crua que, ao espetar-lhe o garfo, corremos o risco de perfurar um vaso sanguíneo do animal que afinal está só atordoado no prato e que começa a esguichar sangue para todos os cantos da sala. E eu questiono-me acerca das verdadeiras intenções desta gente: Será que o meu colega de trabalho vai comigo a bares apenas para me deixar a marinar em vinha d'alhos? Terá o meu vizinho do lado a intenção de me devorar com os raminhos de salsa que me vem pedir à porta semanalmente? Custa viver assim, na dúvida...
Por alguma razão se descobriu o fogo, caro leitor visado. Não foi só pelo efeito visual, que de facto é bastante belo, mas também para nos certificarmos de que o animal em cima da mesa está realmente morto e já não dá coices. Também para propagar um bom cheiro a chicha pela caverna fria e sem-sabor de outros tempos. Bifes mal passados comiam os homens das cavernas, e mudaram completamente de hábitos depois de um deles, especialmente iluminado, ter descoberto como fazer uma fogueira só com dois pauzinhos! Podemos inquirir-nos acerca do que estaria o indivíduo a fazer roçando dois pauzinhos dentro de uma caverna, mas vou-vos poupar a isso. Afinal, o tema é comida.
É que, agora, o chique é ser-se selvagem. Quando vejo um leão com a boca besuntada de sangue e com um naco de carne bastante rosada sob as patas dianteiras já não penso tratar-se de um animal selvagem: É um gato gourmet. Quando vejo um urso pardo caçar peixes no rio e levá-los directamente à boca, já não o considero um animal perigoso e implacável: É um mestre de culinária, verdadeiramente requintado. E sim, o sushi está também inserido nesta brincadeira! Se quisesse comer peixe cru, virava golfinho e ia fazer truques para o Zoomarine.
Concluimos que ser chefe de culinária acaba por já não ser tão difícil como era antes. Basta apontar para uma vaca e dizer: "Prova, é o meu novo prato. Está bastante mal cozinhado, mas faz parte da magia do prato." Ao que o provador responde: "Mas que prato, se a vaca ainda está no campo a pastar e a afastar moscas com o rabo?" Nem é preciso ter nenhum tipo de cuidado especial com o empratamento, basta que a vaca não esteja coberta do seu próprio estrume. O que, com uma boa mangueirada estratégica, é relativamente fácil de conseguir.
Assim também eu sou cozinheiro!

Abreijo.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Colecção pequeno/médio.

Há quem diga que o melhor do Mundo são as crianças. Há quem diga também que o melhor do Mundo é comer um gelado numa esplanada mirando o vasto areal, onde casais desinibidos atiram a precaução ao mar e decidem estragar as suas férias gozando de uma alergia nas zonas genitais devido à areia que se lhes entranha nas partes baixas.
Eu sou mais adepto da segunda hipótese. Até porque a primeira, apesar de não estar errada, está incompleta. Eu também gosto de crianças (e alerto aqui para o simples verbo "gosto" para que não haja confusões), mas há que encarar com seriedade as suas limitações. E nem falo nas suas limitações motoras ou verbais, características da idade. Até acho piada a uma criança que não consiga fazer um quatro com as pernas quando está bêbada. O que mais me aflige nas crianças é o seguinte: Já viram o dinheiro que se gasta ao longo da vida em roupas para criança? São rolos de dinheiro que gastamos com estes pequenos seres. E não falo apenas de um pequeno par de calças ou de uma t-shirt. Gasta-se sempre muito mais do que isso.
Do boné ao sapato, passando pela roupa interior da fase pós-fralda, são tudo roupas que já sabemos que irão deixar de servir num futuro bastante próximo. Até pode ser um bom investimento, caso queiramos ter um número de filhos idêntico ao de uma pequena maternidade. Mas, mesmo assim, duvido muito que o Pedrinho queira vestir a mesma saia que em tempos vestiu a Leonor, que agora é prostituta e já nem saia veste.
Comprar roupa para crianças é como investir em determinada tecnologia, hoje em dia: Já sabemos que dali a uns meses teremos que comprar outra mais recente. A diferença é que, enquanto os aparelhos tecnológicos vão ficando cada vez mais pequenos, a roupa para as crianças tem que ser cada vez maior. E de marca, que os meninos começam eventualmente a tomar-lhe o gosto!
"Qual é a tua solução então, espertinho?!", perguntam vocês com a boca ainda cheia de batatas fritas. Engulam isso, é feio. Visto que a eliminação das próprias crianças seria uma medida demasiado drástica e, ao que parece, até bastante imoral , vejo-me na obrigação de propor uma política do desenrasque: Porque não enrolar a criança num lençol e mostrar-lhe desde cedo como viviam os antigos gregos? Ou envolvê-la num cortinado assim mais extravagante e ensinar-lhe os modos de conduta do antigo império otomano? O que eu não faço pela cultura...
É verdade sim senhor, podem sempre dar as roupas aos mais necessitados. Até é um acto nobre. Resta saber se os próprios miúdos necessitados querem realmente vestir a mesma roupa que em tempos vestiu a Leonor prostituta, que trabalha agora lá na esquina e lhes fornece maços de tabaco fanados aos clientes.
Em último caso, parem de ter filhos. É simples, basta não se roçarem na praia enquanto tento desfrutar do meu gelado.

Abreijo.

domingo, 23 de junho de 2013

Puxões e empurrões.

Deixemo-nos de assuntos triviais que acrescentam pouco, deixemo-nos de minudências que não interessam a ninguém. Vamos falar a sério! Estou a brincar, foi só para o susto...
A verdade é que o tema de hoje é, realmente, de uma escala significativamente maior. Dirijo-me a vós, embora textualmente, neste tão belo dia de Sol/vento/chuva (dependendo da vossa zona geográfica) para vos dar conta de um assunto de extrema gravidade. Que é, justamente, a gravidade. Cá está, o primeiro trocadilho! E que bem metido, diga-se de passagem.
Falo, obviamente, daquela força da natureza que atrai as coisas, e que com a falta dela nos vemos a flutuar. Não são os seios de senhora, mas a gravidade. E a gravidade é tão... grave porquê? Porque não tem sido suficientemente compreendida pela maior parte das pessoas. A gravidade, caro leitor, é a Terra a ser impertinente. A existência de gravidade significa que qualquer parte do nosso corpo está constantemente a ser puxada para baixo. As coisas não caem, as coisas são puxadas. Quando vou na rua, por exemplo, o meu braço não está caído, a descansar. Está é a ser constantemente puxado para o centro da Terra. Logo eu, que odeio que me puxem pelo braço. E quem diz o braço diz também o cabelo, ou mesmo os próprios tintins. É um bocado egoísta, este centro da Terra...
Àqueles que estão, de momento, sentados ou deitados a ler isto: estão bastante confortáveis, não estão? Isso de estar a descansar tem o seu quê de agradável, não é? Agora pensem que, na verdade, o que vos está a acontecer é que estão a ser continuamente espalmados contra uma superfície, embora seja mole. Não estão a descansar, estão é a deixar que vos puxem. É o equivalente a estar na altura do recreio e não reagir de todo ao facto do bully da turma vos estar a empurrar contra a porta do cacifo. A gravidade é o eterno bully. Não é, portanto, de admirar que este país esteja como está. Estamos situados num planeta com altos níveis de bullying, quando podíamos perfeitamente viver na Lua ou em Marte, zonas muito menos propícias a esse fenómeno.
A existência de gravidade significa, portanto, que quando partem o vaso chinês da vossa avó podem sempre justificar-se com uma atribuição de culpas à gravidade emanada do centro da Terra. É que este, na sua eterna ganância por possuir um vaso chinês (todos sabemos que o centro da Terra pela-se por loiça estrangeira), puxou-o com força demais e este partiu-se em cacos. Sempre foi assim, quem tudo quer, tudo perde.
Significa isto também que sempre que vos "cai" uma torrada ao chão, na verdade é a gulodice do centro da Terra a falar mais alto. A torrada não caiu, a torrada fugiu-vos da mão e o centro da Terra aproveitou-se do vosso momento de descuido para tentar merendar. Não admira, portanto, que, como diz o ditado, o pão do pobre caia sempre com a manteiga para baixo. É claro que, a poder escolher, o centro da Terra não irá escolher pão em seco.

Abreijo.