quinta-feira, 19 de julho de 2012

Estranhezas.

Vocês são feios, tirando a menina aí à esquerda que eu não me importava de me esforçar por fazer feliz. Então, ora bom dia!
Vamos ao assunto, propriamente dito: Os meus pais são estranhos. E nem falo disso pelos genes que me transmitiram, que obviamente têm muito que se lhes diga, mas sim pelo facto de os ensinamentos que me têm vindo a propagar serem um tanto ou quanto incongruentes. Digo incongruentes porque, caso ninguém tenha ainda reparado, é uma palavra muito gira e que, ao mesmo tempo, me faz parecer inteligente. Também o digo por ser verdade: os meus pais, quando querem, são uns verdadeiros ovos Kinder de surpresas inúteis; vocês sabem, como aqueles bonecos da treta pintados pela mesma pessoa que faz a maquilhagem da "Lady" Betty Grafstein (cuspi-me todo a dizer isto em voz alta) todos os dias há mais de três séculos, quando o que realmente queríamos era um daqueles bonecos capazes de envergonhar os móveis do (da?) IKEA em termos de dificuldade de montagem.
Mas não pensem que os vossos pais não fazem também parte deste arraial, porque sabem bem que tudo o que escrevo também a vós vos diz respeito. Digam-me: quantas vezes seguiram à risca a regra dos vossos pais para não darem conversa a estranhos? (A Maddie, não conta; ela nem teve voto na matéria.) Se me disserem que sempre cumpriram com essa promessa, então estar-me-ão a mentir. E aí o problema já não é dos vossos pais, é mesmo por vocês próprios serem más pessoas.
Se são como eu, o problema ainda mais se agrava. Na condição de filho mais novo, era eu quem realizava todas as pequenas tarefas relacionadas com o lar: era eu quem ia comprar duas nabiças e três pacotes de leite à loja do fim da rua, era eu quem ia a casa do vizinho que ninguém sabia ser pedófilo (afinal, quem naquela altura desconfiava do padre da paróquia?), era eu que ia à costureira ver se o xaile de renda da minha avó já estava pronto, visto que ela tinha tirado uma semana de férias do tricô para ir com o meu avô ao Salão Erótico de Lisboa, não como espectadores mas como espectáculo principal (absorvam lá essa imagem mental). É claro que em todas estas pequenas "voltinhas" eu teria inevitavelmente que me dar com pessoas desconhecidas. Que legitimidade tem a dona Faustina da frutaria para meter conversa comigo quando o Armindo "Drogado" nem podia oferecer-me um daqueles rebuçados especiais dele, parecidos àqueles que o farmacêutico me tinha vendido no dia anterior para curar a infecção recorrente da minha avó nas zonas baixas derivada das suas semanas de férias? Porque é que eu podia responder ao condutor do autocarro quando me perguntava qual o meu destino e nem podia dar bola a pessoas em alguns sites da Internet que tão prontamente me ofereciam brinquedos e um frasco de Vaselina se nos encontrássemos no parque infantil mais próximo? Isto é ser-se preconceituoso, meus amigos. Nos dias de hoje, já não se justifica.
Se eu seguisse as instruções dos meus pais à risca, a dona Faustina ficaria a pensar que os meus pais tinham um filho retardado (o que não é completamente mentira), ou que eu nunca casaria com a sua filha Benilde por ser demasiadamente tímido; seria capaz de ficar um dia inteiro a dar voltas no autocarro, porque a campainha estava avariada e eu não podia falar com o condutor para o avisar que estava perto da minha paragem.
O meu conselho para qualquer criança que tenha pesquisado "sexo homem + mulher" no Google e esteja acidentalmente a ler este texto é, então, para não se acatarem no que toca a dar conversa a desconhecidos. Quem sabe, ainda fazem amigos para a vida! E a verdadeira amizade não se mede em gramas de cocaína no bucho.

Acabando com os agradecimentos,
Abreijo.