sábado, 8 de novembro de 2014

Parabéns a vocês, meus bandalhos.

Pronto, acabou! Hão-de ter paciência, mas acabou... Estou farto, isto assim não pode continuar. Enquanto não pararem com estas brincadeiras, eu não faço mais anos. Não me interessa se fico na casa dos vinte indefinidamente, nem se nunca terei o prazer de gozar a reforma ou, até, de realizar uma colonoscopia. Já ouvi dizer que aquilo é melhor do que se pensa.
Já aqui falei da temática "bolo de aniversário", e desta vez o meu problema é com o que se põe em cima dele. A cobertura diabética? Não. As rosas, begónias e outras flores de massapão? Nem por isso. Quero acertar contas, isso sim, com as velas. E não é com as velas normais, porque essas até dão jeito quando falta a luz e antigamente até eram indispensáveis para quem desejava ver alguma coisa debaixo dos lençóis.
Vou contar-vos uma história: Quando eu era pequeno, tinha medo de fazer anos. Acordava suado, com tremores e sem apetite. Aos desejos de bom dia da minha família, eu respondia com um sorriso amarelo e um "Vão-se lixar!" mental, porque já sabia o que me esperava dali a algumas horas. Passava o dia todo a fazer cara feia para os meus colegas e professores, se calhasse em dia de escola, e para a minha almofada caso fosse fim-de-semana. Até podia jurar que, uma vez, a minha almofada me respondeu com um pirete. Já os meus professores, só me respondiam com socos nas têmporas. Enfim, eram tempos mais meigos...
Ao fim do dia, lá chegava o malfadado momento da festa de aniversário. Era nesta altura que o meu mau-humor atingia picos assustadoramente altos para um miúdo da minha idade, fosse ela qual fosse. Entrava pela sala onde estava o bolo, e toda a minha família, com a mesma camada de nervos com que um pugilista amador deve entrar ao enfrentar o campeão do Mundo de pesos pesados. E era aí que eu as via, compridas e esguias... Duas estacas de tortura em cima de um pedaço de massa colorido.
Finalmente, depois da musiquinha típica, lá tinha eu que lhes soprar. E soprava. E o Mundo abrandava à minha volta, o som tornava-se grave e abafado nos míseros segundos em que aqueles dois paus se mantinham às escuras. Depois voltavam a acender-se aos poucos, preguiçosos e gozões. E eu apagava outra vez, ou pelo menos pensava que sim. E eles voltavam a acender-se, podia jurar que com ainda mais força. Depois juntava-se outro membro da família para me ajudar, e aumentava o meu sentimento de impotência e inutilidade. Quando, finalmente, as velas se apagavam, todo eu era insegurança, compactada dentro de um miúdo de [inserir idade aqui] anos.
Isto tudo para dizer que eu, no fundo, não gosto de fazer figura de parvo. Muito menos no dia do meu aniversário. Por isso é que odiava essas tais velas que se voltavam a acender sozinhas, e odiava todas as pessoas responsáveis por trazer aquela monstruosidade para o conforto do meu lar. Aquilo não é divertido quando somos pequenos, meus caros, aquilo é tortura! Só os adultos à volta, os mirones da festa, é que se divertem ao ver a nossa triste figura.
No fundo, trata-se de entretenimento gratuito às custas de uma criança. E para isso já temos os primeiros passos, as primeiras palavras mal ditas e as primeiras bebedeiras de leite com creme de whisky. Não precisamos de a achincalhar no seu próprio dia de anos.

Abreijo.