terça-feira, 18 de outubro de 2011

Ode a... isto.

O que nós perdemos! Ai, o que nós perdemos em tão pouco tempo... É pena, porque antigamente é que era!
É verdade, tenho muita pena de fazer parte desta geração, deste bando de selvagens e, portanto, futuros moribundos. O que vale é que, ainda hoje, vivemos em condições fantásticas, somos um exemplo civilizacional para qualquer um, seja planeta, galáxia ou universo constituído por ervas aromáticas.
Tem toda a razão, senhor de camisa xadrez abotoada até ao pescoço: no seu tempo é que era! Foram tantas as boas decisões que tomaram que hoje em dia vivemos no paraíso.
Sim, senhor que se recusa a usar calças de ganga e ainda hoje usa calça de linho: não devemos usar coisas práticas, devemos dar o exemplo sobre o que é o bem-vestir, a rigorosidade, a formalidade. Afinal, temos visto que tudo isso tem vindo a dar resultados fantásticos... pelo menos no que toca às aparências.
Concordo completamente, senhora acamada e com uma cornucópia no ouvido: antigamente é que era bom, e viviam bem! Estas meretrizes, que andam por aí a arranjar trabalhos, e a pensar por si próprias... Que vergonha, que vergonha! Quem lhes dera a elas ficar em casa fechadas todo o dia e a tratar do lar. Afinal é o que os peixes fazem nos aquários e nunca os vimos a queixar-se.
Palavras sábias, senhor com casaco de lã pelos ombros e óculos na ponta do nariz: que vergonha que é ouvir palavrões pelas ruas, estados puros e à flor-da-pele da indignação e dos sentimentos de injustiça que estes miúdos de hoje em dia deixam escapar pela boca fora. Onde é que já se viu pessoas a dizerem o que lhes apetece e os palavrões que querem? Parecem vindos dessa má-remessa Iluminista, de liberdade do indivíduo e da sua afirmação pessoal. Sim, essas ideias estúpidas pelas quais se lutaram durante séculos. Que inutilidade, que elas são! Afinal, que têm eles para se queixar? Quando você era novo, fez questão de deixar tudo bem e certinho para que eles não tivessem razão de queixa...
Muito bem, senhora vestida de preto e, óbvia e automaticamente, ainda muito triste pelo falecimento do seu ente querido: que desplante tem esta cambada de animais, de pervertidos, que são capazes de se mostrar completamente uns aos outros E COM AS LUZES LIGADAS! Que vergonha! Passou-se de encarar o sexo pela única utilidade que ele tem, o de fazer filhos para continuar a remessa, a encará-lo como meio básico e intrínseco ao ser humano de prazer. Sexo por prazer?! Que embuste ideológico! Saudades de quando a pornografia era tão simples quanto mostrar um tornozelo. Aí sim, eram tempos de sensualidade e de transparência humana devidos. Não é como hoje, que se atiram para cima uns dos outros e nem têm a decência de criar uma família para depois terem 12 filhos, como deve ser. Assim, não haveria dinheiro para mandar nenhum dos 12 para a escola e deixava-se, ainda assim, que eles tomassem as decisões sociais que quisessem para o futuro. Foi isso que aconteceu até agora, vá-se lá dizer que nos encontramos num mau estado por causa dessas mesmas decisões...
Sim, senhor com uma pala no olho e sonhos suicidas durante a noite: somos uns meninos, uns verdadeiros maricas, porque nem passamos pela vida militar! Que vergonha, deixarem de se alistar num aspecto tão importante da sociedade e que tantas alegrias trouxe para a mesma como é a guerra. Que pena que você deve ter nossa, por defendermos cada vez mais a paz e a desarmação mundiais, algo que nem contribui em nada para o bem-estar das pessoas. Devíamos ter passado pela guerra, para enrijar as nossas personalidades! Onde é que já se viu recusar a guerra e os propósitos completamente racionais e devidamente fundamentados pelos quais ela se rege e preferir rumar em direcção da paz e do não-massacre de milhares de vidas e de cidadãos livres.
Tanta razão que todos vocês têm! E, no entanto, estamos no estado em que estamos... Que paradoxo completamente erróneo é este? De que bruxaria malévola e completamente atroz estamos a ser vítimas? Vocês fizeram tudo bem, então porque raio é que chegamos tão ao fundo, como agora nos encontramos?!
Mas que raio... sem dinheiro, com uma completa desorganização política, social e económica, com poucos recursos naturais, com cada vez mais seres vivos a extinguirem-se, com um buraco na camada de ozono do tamanho do próprio Mundo, com uma verdadeira sobre-população ainda por cima infestada de putos mimados e resmungões...
Se deixaram isto tudo limpo e como é devido, no vosso tempo, porque raio é que chegamos a esta situação?

Efharisto,
Abreijo.