quarta-feira, 19 de março de 2014

Pequenos seres diminutos.

Este textinho que estou a escrever é especialmente dedicado ao leitor que pariu recentemente um filho, ou que pelo menos contribuiu para o acto de parição. E digo "textinho" para ir ao encontro do vosso próprio linguajar, porque eu gosto de me adaptar ao ambiente em que me encontro. É por isso que, todos os dias, como um bom punhado de milho seco e choco um ou dois ovos, dependendo da intensidade do calor. Para quem não percebeu a piada, vivo num galinheiro.
Que os bebés são pequenos, pelo menos quando comparados com as crias de uma mãe mamute (leiam esta última parte em voz alta), por exemplo, já toda a gente sabe. Mas que os pais ficam quase do tamanho dos bebés, pelo menos em termos de mentalidade, é que já não está ao alcance da compreensão de toda a gente. O objectivo dos babados progenitores é, geralmente, simplificar, mas a maior parte das vezes o tiro sai-lhes pela culatra. Um pai que me diga que o seu filho tem dezasseis semanas, obriga-me a ter que calcular que dezasseis semanas são quatro meses. E eu nem gosto de calcular, de todo, principalmente quando ambos sabemos que há uma outra forma mais fácil de o cavalheiro se fazer entender. Chegamos ao ridículo de ter pais que se gabam de o seu rebento ter vinte e quatro meses, quando podia mais facilmente dizer que tem dois anos! E isto para quê? Para perpetuar a ideia de que o pequeno ainda é um jovem, e que está ali para as curvas? Isso já nós sabemos, que raio, é um bebé! Não estarão a reflectir nos vossos filhos as vossas próprias frustrações cronológicas, seus cotas?
Outra coisa: Se eu tomo banho embora poucas vezes, é certo , porque é que os vossos filhos tomam banhinho? Se eu bebo leite e como fruta, porque é que as vossas miniaturas de gente têm que beber leitinho e comer frutinha? Não temos todos os mesmos direitos? Então para quê todos estes diminutivos verbais? A mim não me deixam comer papinhas, porque pelos vistos já sou muito grande e só posso comer papas. Mas onde é que isso está escrito?! Também a minha indumentária passou de roupinha para roupa, porventura para acompanhar o meu crescimento. Em relação ao vosso pirralho, vocês têm mil cuidados com a cabecinha; já eu, posso rachar a cabeça num tronco de lenha especialmente rijo que ninguém se importa, só me perguntam se cortei o suficiente para, pelo menos, refrescar a lareira.
Não é justa, esta diferença de tratamentos. E nem sequer é coesa, diga-se de passagem... Porque, vejamos: Um copinho pode ser um copo, mas uma palhinha não é uma palha. Ninguém manda o filho ir buscar palha, nos dias de hoje. Antigamente sim, mas era para alimentar os animais, e não os filhos. Uma palhinha será sempre uma palhinha, independentemente da idade do usuário. Avós e netos podem partilhar palhinhas, embora não seja sanitário; e talvez seja um bocado estranho, até... Mas o certo é que podem, independentemente do facto de um ter rugas por ainda ter peles para encher e de o outro ter rugas por já ter as peles a descair.
Fiquem com esta imagem. E que não me caia um "dentinho", com a graçola.

Abreijo.

terça-feira, 11 de março de 2014

Guinchos e cantigas.

Um dia imaginei a minha vida sem música, e não gostei. Os meus duches tornar-se-iam aborrecidos e, muito provavelmente, teria finalmente que comprar uma daquelas esponjas feitas numa espécie de rede de pesca abichanada para me entreter, e para apimentar a minha relação com a água doce. Também conseguiria chegar mais facilmente às zonas difíceis, o que é sempre positivo. As minhas costas, por exemplo, já não são bem esfregadas desde que deixaram de me dar banho. Já tentei convencer a minha mãe a dar-lhes uma boa ensaboadela, em honra dos bons velhos tempos, mas hoje em dia ela já só acha estranho, e com alguma razão.
Por isso, sim, eu gosto bastante de música! E até sou bastante receptível a novas sonoridades, sejam-me elas apresentadas pelos meus pares ou pelos artistas extravagantes das estações de metro. No entanto, torna-se difícil ser adepto de novas sonoridades quando a própria pessoa que nos tenta apresentar a sonoridade não nos deixa sê-lo. Falo, pois claro, daqueles indivíduos que tentam impingir determinadas músicas aos outros, mas que se põem a cantar ao mesmo tempo que o artista.
Gente, eu percebo o vosso entusiasmo, juro que percebo! Mas se não se calarem, estão a auto-boicotar-se. Quando me aconselham a ouvir determinada música e depois se põem a cantarolar os vocais ao mesmo tempo, eu não consigo apreciar devidamente a música. E eu até sou uma pessoa que gosta de apreciar devidamente coisas, desde rabos a espectáculos de dança contemporânea. Depois, temos ainda as pessoas que, não satisfeitas com a nobre arte de cantar por cima dos coros das músicas, ainda trauteiam o instrumental, e guincham os solos de guitarra. E, no fim, perguntam: "É fixe, não é?"; ao que eu respondo: "Não faço ideia, só vim aqui para pedir uma xícara de açúcar à tua mulher. Ela está?"
Conheço bem o entusiasmo que a música provoca, embora dos milhares de instrumentos que existem no Mundo, eu só saiba tocar um. E não, não é o meu pénis, antes que comecem com piadas. Mas não se conseguem conter durante uns míseros quatro minutos (ou sete, se o artista tiver um fraco poder de síntese), para eu conseguir ouvir o raio da música até ao fim? É que a música até pode ser especialmente bonita, mas com alguém a guinchar-ma ao ouvido ao mesmo tempo dá logo para desgostar.
Como se sentiriam se, por exemplo, eu vos recomendasse um restaurante e passasse uma refeição inteira a trincar a vossa comida e a dizer: "É bom, não é?", para depois no fim não chegarem a comer nada? Ou se vos apresentasse uma amiga toda boa, por já ter pena de vos ver há tanto tempo solteiros e com as costas por esfregar, e passasse o encontro todo a apalpá-la e a demonstrar o quão talentosa ela é na arte do felácio?
Se uma música for assim tão boa como dizem, decerto que as suas qualidades falarão por si. Não é preciso estarem a gritar-me a letra toda por cima do ombro, independentemente do número de cartazes com a cara do artista que usaram para forrar as paredes do vosso quarto.

Abreijo.

sábado, 8 de março de 2014

Liso e complicado.

Bem sei que me imaginam como um velho sabujo do mar, com a barba esbranquiçada pelo avançar dos anos e por resquícios de ressalga de outros tempos. Mas tal como todos os sabujos, a minha sabujice, por muito vasta que seja, não consegue alcançar todos os campos do conhecimento. Há, em mim, um delineamento de limites involuntário, mas necessário, que me impede de ter uma compreensão enciclopédica acerca de, por exemplo, atributos de champôs.
Isto tudo para dizer que não me entendo com as embalagens dos champôs, pronto. Ou melhor, até já me consigo entender mais ou menos, mas até há bem pouco tempo não conseguia. Na minha mente algo simples e ingénua de outros tempos dois ou três meses, aproximadamente eu pensava que, por exemplo, um champô para cabelos "lisos e sedosos" só servia a quem já tinha cabelos lisos e sedosos, e gostaria de os manter. No entanto, ao que parece, este tipo de champôs destina-se mais a quem não tem cabelos que se enquadram nesse formato, mas gostaria de vir a ter! E foi com esta súbita realização que o Mundo passou a fazer muito mais sentido, não só o mundo da centrifugação capilar com recurso a produtos químicos vendidos em frascos, mas o Mundo em geral.
Realmente, e agora que reflicto bem sobre este sistema de caracterização de champôs, faz mais sentido que assim seja. Senão, vejamos: Se só as pessoas com cabelo "saudável e brilhante" comprassem champôs para cabelos saudáveis e brilhantes, então só se vendiam um ou dois frascos a cada três meses. Pelo menos a julgar pela minha rua, que é composta maioritariamente por cabeleiras de meia-idade e já com poucas tenções de tentar impressionar alguém. Assim, teríamos uma indústria tremendamente fragmentada, onde cada pessoa apenas adquiria o champô que mais se adequasse ao seu tipo de cabelo.
Mas, esperem... Então para quê os champôs para cabelos "oleosos", "secos" ou "espigados"? Serão para quem não tem e gostaria de ter vá-se lá saber porquê , ou para quem já tem cabelos oleosos, secos ou espigados? Vêem, estou confuso outra vez! E com isto lá vão três meses de intensa meditação pelo ralo abaixo; e alguns cabelos, porque quando eu medito intensamente vou-lhes dando puxões.
Torna-se óbvio, portanto, que a indústria dos champôs anda repleta de mentiras. Uma vez, por exemplo, experimentei um champô "caracóis perfeitos" e meu cabelo continuou liso, sem sequer um canudinho se formar. Logo aqui se vê o nível de trapaça e de engano a que estamos sujeitos. Num outro episódio, quando era pequeno, fiquei a dormir em casa de um primo meu. À noite, quando fui tomar duche, vi que o meu tio, solteiro, tinha comprado um champô contra o "excesso de oleosidade". Ora, o meu tio é careca... Quanta oleosidade terá ele, realmente, para justificar a compra de um champô com aquelas características? E se ele usasse um champô contra a queda de cabelo, voltaria a ser cabeludo?
Um dos poucos champôs que é claro e conciso ao ditar o propósito da sua missão é o "anti-caspa". Com um champô anti-caspa, sabemos sempre o que esperar: Estará ali para devolver ao cabelo o seu brilho natural? Não, com certeza. Estará ali para dar mais volume e vida ao seu cabelo, seja lá o que isso significa? Claro que não, ora! O champô anti-caspa está ali, muito simplesmente, para dar um grande chuto no minúsculo rabo da caspa e atirá-la borda fora. Ponto.
E, desde que faça bem o seu trabalho, por mim está óptimo.

Abreijo.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

O bom calígrafo.

Vocês não sabem a sorte que têm em conseguir ler o que escrevo. Não em termos de conteúdo, porque eu não digo coisas assim tão interessantes, mas porque isto está escrito em computador. Sim, porque se fosse escrito à mão, provavelmente já teriam desistido de me tentar compreender. E eu estaria a chorar, por vos ver ir embora desiludidos e tristonhos. Sabem, é que a minha caligrafia não é das melhores, e... O problema é vosso! Estavam mesmo à espera que eu admitisse culpa em relação a algo? Ha!
Desde os tempos da escola que não percebo porque razão gozam com a minha caligrafia. Quer dizer, percebo, mas não aceito. Sim, eu sei que tenho uma caligrafia horrível e que há putos da primária que conseguem escrever o meu nome com mais floreado do que eu. Sim, olhar para um caderno meu é como olhar para um outro caderno normal onde se deu um terramoto e as letras se desfiguraram todas. Mas a culpa não é minha, não senhor! Porquê? Primeiro, porque este texto é meu e eu faço o que quiser com ele. Segundo, porque foi assim que me ensinaram a escrever, em miúdo. E eu, como bom aluno que sou, ainda hoje cumpro.
Assim, e sendo ponto assente que a culpa não me pertence, há que atribuir responsabilidades. E existem duas hipóteses: Ou a culpa é vossa, no geral, ou é dos professores em particular. Vossa porque, na verdade, vocês são uns aldrabões. Eu fiz tudo bem, aprendi a escrever de uma determinada forma e hei-de mantê-la até ao fim! Já vocês, adulteraram completamente a vossa caligrafia simplesmente por questões de estética; para ficar "mais bonita", ou mais perceptível. Cambada de fúteis!
A outra hipótese, da culpa ser dos professores, implica que tenham sido eles a induzir-me em erro. Neste cenário sim, é remotamente possível que eu esteja errado. Mas só porque foram os professores a ensinar-me a escrever assim, a desenhar as letras bastante agarradas e seguidas umas às outras como um comboio prestes a descarrilar na iminência de um encontro com uma nova vírgula.
E a mesma explicação serve para os meus dotes, ou falta deles, no campo do desenho! Por alguma razão eu ainda desenho como um miúdo da primária. É porque, na altura em que me ensinaram, EU ERA um miúdo da primária. Foi assim que aprendi, e é assim que continuarei! E o que é a escrita senão uma sequência de vários e pequenos desenhos aos quais damos o nome de letras? (Fui profundo, não fui?)
É simples, portanto: Se ainda desenho como desenhava quando era criança, também tenho que escrever como escrevia quando era criança. Numa sociedade que tanto preza as relíquias e o Clássico, é incrível que ainda não me tenham contactado para assinar contrato com museus ou exposições de arte antiga. Só na assinatura do contrato tinham logo ali uma obra de arte.
Enfim, é o país que temos.

Abreijo.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Que raio.

Respondam rápido, qual o super-poder que mais gostariam de ter? Se responderam "conseguir dobrar lençóis como a minha mãe", então parabéns, eu também. Mas pensem lá mais um bocadinho a fundo naquele tipo de super-poderes que vemos nos filmes, e não nas novelas sobre donas de casa repletas de angústia e de ilusões perante a vida.
Já pensaram? Boa. Aposto que uma boa parte de vós escolheu ter visão raio-x. E é justamente com essa parte de vós que quero falar. Os restantes podem ir treinando com os lençóis da avó, que são mais rendados e, portanto, mais difíceis de dobrar. De entre das pessoas que escolheram ter visão raio-x, dirijo-me principalmente àquelas que pretendem, com isso, ver exclusivamente através da roupa das pessoas. Ou seja, dirijo-me aos tarados. Digo tarados, e não taradas, por razões óbvias.
Agora que já defini o restrito público-alvo ao qual me dirijo, e sendo que se trata de uma comunidade predominantemente masculina, pergunto-vos: De zero a dez, vocês são bastante broncos, não são? Porque sim, é verdade que o raio-x dá para ver através da roupa... Mas também dá para ver através da pele, e das paredes intestinais! Não sei que ideia fazem do conceito de raio-x, mas não é certamente a correcta. Porque a visão raio-x não se fica só pela roupa, não ultrapassa a nossa indumentária e diz, toda satisfeita: "Pronto, aqui está bom, não vamos avançar mais." Meus caros, a visão raio-x atravessa praticamente tudo no corpo de um indivíduo, a única coisa que conseguimos distinguir claramente são os ossos. Para os cães sim, a visão raio-x é bastante sensual e apelativa... Eles olham para o raio-x do nosso fémur e começam logo a salivar. Mas para os humanos, nem por isso. A não ser para a minha avó que, para além de ter lençóis excelentes para dobrar, também gosta de roer os ossos depois de comer a carne.
Ter visão raio-x não nos dá o poder de conseguirmos escolher livremente a profundidade do que vemos. Depois de começar, temos que cumprir até ao fim! É como comer um pires de tremoços, mas com menos classe.
A única forma de se conseguir apreciar o corpo de alguém com visão raio-x é se essa pessoa tiver uma pele de chumbo. Aí, o raio-x já não consegue penetrar e conseguimos apreciar-lhe devidamente as curvaturas. Mas, sinceramente, se alguém tiver uma pele de chumbo, para quê usar roupa, de todo? Frio não passa, e dificilmente alguém se atreveria a meter com essa pessoa, com medo de levar com um punho de elevada massa atómica na cara.
Mas se alguém um dia conseguir aperfeiçoar a tecnologia do raio-x a ponto de este se limitar a atravessar só as indumentárias passando, portanto, essa pessoa a ser designada de mega-taradão , existirão também soluções para queira esconder as partes mais delicadas do seu corpo: Usar roupa interior de chumbo. Se é chato? É. Se é pesado? É, claro. Se dá muita comichão? Dá, certamente. Mas só assim se consegue impedir que o Mundo se torne num clube de strip gigante, onde ninguém precisa de se despir para mostrar as suas partes privadas.
Por enquanto estamos safos, porque os tarados de hoje em dia ainda estão entretidos com a pornografia na Internet. O máximo de curvas que nos podem apreciar, por enquanto, são as das cáries tapadas com chumbo.
E eu, pessoalmente, não tenho problema nenhum com o facto de me toparem os dentes.

Abreijo.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Calendarização precoce.

O texto que se segue pode conter linguagem ou cenas (mentais) susceptíveis de ferir a sensibilidade dos leitores.
Seus maricas!

Estou deveras desiludido, e desta vez é mesmo comigo. Sim, decidi dar-vos descanso e garantir-vos alguma paz de espírito, ao saberem que estão safos do meu implacável julgamento. Aproveitem, porque não vai durar muito tempo... Ainda temos umas continhas a acertar.
Na verdade, não estou desiludido com o eu actual, mas com o eu antigo. O eu antigo era um preguiçoso, um sacana que só queria folia e fugia sempre às responsabilidades. O eu actual ainda é um bocado assim, mas devido à idade já lhe vai ficando mal. E é por isso que o eu actual, hoje em dia (lá está), olha para trás e arrepende-se de muita coisa que não fez.
Podia, por exemplo, ter tirado maior proveito da minha anterior pequenez e "inocência" para apalpar mais uns rabos, mirar uma variedade alucinante de seios ou, até, roubar gelados aos outros meninos sem me acusarem de bullying, ou de gulodice. Mas, mais do que tudo isso, hoje em dia arrependo-me profundamente de não ter começado, desde cedo, o meu próprio calendário de masturbação. Sim, leram bem e não têm nada no olho: Um calendário de masturbação.
"E para que serve um calendário de masturbação?", perguntam vocês levando a mão à boca, claramente horrorizados. E eu pergunto "Hein?", porque com a mão na boca não vos consigo entender. E vocês repetem, já sem a mão. E eu respondo, porque sou fixe: Ora, um calendário de masturbação é uma ferramenta bastante útil para uma pessoa conseguir perceber em quais os dias do ano ainda não se masturbou. Atenção que, quando digo útil, não falo em termos de serviço público. É apenas útil para a pessoa em questão, porque trata-se de uma curiosidade pessoal.
No fundo, é algo que até pode ser aproveitado como tema de conversa num qualquer evento social mais mortiço: "Olha lá, já só me falta masturbar em dois dias do ano para completar o meu calendário: É no dia 13 de Abril, porque esse número dá-me sempre calafrios, e no dia 25 de Dezembro, porque no Natal junta-se a família toda e é lixado um gajo arranjar tempo para estar sozinho." De seguida, o seu interlocutor contará a sua própria experiência em termos de calendarização do onanismo e a partir daí, quem sabe, poder-se-á até formar uma bela e profunda amizade. Bastante profunda.
É uma espécie de troca de cromos raros, de uma caderneta de 365 (ou 366). No caso dos anos bissextos, ficaria desbloqueado o cromo 29 de Fevereiro, que só seria disponibilizado para masturbação de quatro em quatro anos. E quando alguém completasse a caderneta, vulgo calendário, ganhava uma pequena taça do respectivo órgão sexual todo assado, banhado a ouro.
Por tudo isto, que já não é pouco, gostaria de entrar em contacto com o meu antigo eu, aquele miúdo curioso e reguila que eventualmente descobriu que o penduricalho que tinha na zona central do corpo não servia apenas para enfeite, ou para disparar urina fazendo barulhos de raios laser. Eu sei, nem perguntem...
Portanto, esta mensagem é para todos os miúdos em início de carreira onanística que estiverem a ler isto, o que também é sinónimo de terem pais a roçar o negligente: Vão anotando as datas em que se masturbam, porque quando chegarem à minha idade, e se tiverem um problema mental tão grave como o meu, vão ter pena de não saber que dias do ano ainda vos faltam.

Abreijo.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Pouca sorte.

Há várias coisas em relação às quais estou em posição de vos adiantar que nunca irão acontecer enquanto forem vivos. Eu ainda devo viver mais um aninho ou dois do que vocês porque sou porreiro , por isso talvez ainda as presencie. Mas vocês nunca, nunca vão, por exemplo, ver a Selecção Nacional de hóquei em patins ganhar o campeonato mundial de andebol. Garanto-vos! Tal como nunca irão ter uma aplicação para telemóveis que substitua um bom bife com ovo a cavalo e batatas fritas. Bem, quanto a isso já não tenho tanta certeza...
Mas, de todas as coisas que nunca hão-de acontecer na vida, há uma que me parece especialmente impossível: Alguém ligar-nos a divulgar o resultado de um sorteio de rifa, quer tenhamos "ganho" ou não. Escrevo "ganho", assim entre parêntesis, porque, na verdade, e não há quem me tire isto da cabeça porque eu sou comichoso, nunca ninguém chega a ganhar. É verdade, temos aqui a revelação do ano: Os sorteios de rifa são um embuste!
Comprar uma rifa é nada mais nada menos do que fazer caridade, disfarçada de um bom negócio. "Um cabaz com todos os meus produtos lubrificantes favoritos por apenas um euro?" Parece um negócio imperdível, não é? Mas podem ir já andando ao supermercado mais próximo comprar aquele sabão da loiça especialmente pegajoso, porque nunca vão ganhar esse cabaz. Simplesmente porque ele não existe, foi apenas um pretexto para vos sacar um euro! Se vos prometerem uma viagem ou um carro como primeiro prémio num sorteio de rifas, o mais provável é que passem a vida toda em casa de malas feitas, à espera da partida.
"Olha o que me saiu na rifa!" é, e sempre será, apenas uma expressão, porque nunca sai realmente nada a ninguém numa rifa. Só dinheiro do bolso. Mas eu, no fundo, não me importo, porque quando a causa é nobre ou quando a pessoa que me interpela é-me suficientemente próxima para vir a guardar rancor eu até contribuo. Pessoalmente, ainda contribuo com dinheiro, mas já começa a haver quem pague com sexo, ou outras miudezas do género. Depende do bom senso de cada um.
Uma pequena história pessoal: As probabilidades de se ganhar algo numa rifa são tão escassas que um dia venderam-me uma rifa que nem estava numerada, e nem se deram ao trabalho de a preencher com as minhas informações. Portanto, das duas uma: Ou não se deram ao trabalho de colocar os números nas rifas porque já sabiam que não ia haver sorteio, ou o prémio era uma tômbola especial que identificava o vencedor apenas pelo cheiro do papel, e ainda adivinhava o seu número de telefone. O que não seria um prémio mau de todo, diga-se de passagem...
Enfim, apenas sou da opinião de que há maneiras menos óbvias de sacar dinheiro às pessoas. Nos assaltos, por exemplo, é óbvio que estão-nos a sacar dinheiro, mas se estrebucharmos muito ainda podemos levar uma facada ou um tiro como recordação. É sempre uma história gira. Já com as rifas não: Ficamos só com um pequeno rectângulo de papel do qual nos esqueceremos inevitavelmente num qualquer bolso da indumentária que estejamos a usar naquele dia. Mais tarde, quando eventualmente nos indagarmos acerca do paradeiro da pequena rifa, já ela foi cinco vezes à máquina de lavar e tem agora a forma de um golfinho feito de pasta de papel.
E quando chegamos à idade de ter dinheiro para comprar rifas, a pasta de papel já não é tão divertida como era na escola primária.

Abreijo.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Para os meus botões.

Desta vez, e para variar um bocado, venho aqui para me indignar. Já me tinha indignado antes? Peço desculpa então, não tinha ideia disso. Sempre me vi como um pudim de felicidade besuntado com calda de harmonia. Prefiro calda de caramelo, mas já tanta gente me chamou caramelo que não me quis tornar repetitivo.
Então, neste meu estado de pudim de indignação sem qualquer tipo de calda, remeto-me a manifestar o meu profundo desagrado em relação às empresas responsáveis pela manufacturação de roupa. Não falo de nenhum tipo de roupa em específico, nem de nenhuma empresa em particular. E o tema não é assim tão profundo e/ou moralista: Sim, é horrendo que se use mão-de-obra a atirar para o escrava, e outros dilemas morais do género, mas esses assuntos são complicados demais para serem tratados por uma besta-comum como eu. O tema que venho aqui tratar é a faceta condescendente dessas mesmas empresas, e da mania que têm de prever que não vamos conseguir tomar conta das nossas próprias roupas.
Num dia de especial sorte, vou encontrar uma marca de roupa segura de si (e dos seus clientes) o suficiente para não precisar de facultar peças extra. A quantidade de botões e de atacadores extra que tenho guardados, na eventualidade de alguma vez precisar deles, ocupa-me tanto espaço nas gavetas que já pouco lugar tenho para arrumar as roupas propriamente ditas. Por causa disto, a minha mãe ainda hoje diz que eu sou desarrumado, ao que eu rebato que sou apenas uma alma inquieta; mas ela não acredita, e acaba por levar a melhor.
Sou, isso sim, um indivíduo preocupado, pois guardo sempre estas pequenas peças extra para o facto de, sei lá, me cair o botão das calças enquanto danço kizomba numa aldeia remota da África Ocidental. Coisa que nunca aconteceu quer o botão, quer a dança , e mesmo que acontecesse, servia-me de pouco ter a peça necessária guardada numa também remota gaveta em Portugal. Mas às vezes penso que sou um indivíduo preocupado em demasia, porque é relativamente raro alguma vez virmos a precisar daquela peça exacta. Em último caso, e na fraca eventualidade de realmente nos cair alguma peça, podemos sempre improvisar com outra muito parecida, comprada na loja mais à mão ou roubada de uma camisa especialmente feia, que só não mandamos fora porque nos foi oferecida por um familiar com boa memória. Sim, porque botões há muitos, seus palermas!
As marcas de roupa que facultam estas pequenas peças extra estão basicamente a tratar os clientes como crianças irresponsáveis e algo hiperactivas, o que no meu caso pode até ser verdade mas não tem que ser necessariamente no vosso. Ou isso, ou pensam que a forma predilecta das pessoas tirarem as suas roupas quando chegam a casa é arrancando-as da pele, ou dando dentadas nos botões até se conseguirem libertar.
Só há uma justificação plausível para as empresas se dignarem a fazer esta desfeita aos seus clientes: Assumir que estes são gordos demais para o tamanho da roupa que compram. E isso até é bem provável, porque há muito boa gente com corpo de pêssego a tentar ser ameixa.
Mas isso já é problema dos clientes; que deixem de tentar ser divas!

Abreijo.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

(Des)Entendimentos.

O meu pai nunca se opôs a que os seus dois filhos (homens, embora um mais do que o outro) usassem brincos. Avisou-nos sempre, no entanto, que se realmente o quiséssemos fazer, seria ele próprio a fazer o furo com um alicate de furar cintos. O velhote sempre fez isto em tom de brincadeira, mas um bocado como quem diz: "Não quero os meus filhos a andarem por aí com furos no corpos que trabalhei tanto para lhes dar." E eu percebo-o, o cota até é bastante esperto.
Mas não era preciso nada disto, porque também eu nunca fui grande fã de brincos. E não só nos homens, nas mulheres também. Na verdade, custa-me muito ser fã de uma coisa que não compreendo bem. É por isso que também não aprecio lagosta, porque tem uma anatomia muito confusa. E como não quero ter legiões de mulheres zangadas atrás de mim denote-se o adjectivo "zangadas", as que não estiverem podem vir , dou-vos aqui uma oportunidade de me responderem à seguinte questão: Em que sentido é que os brincos melhoram a vossa aparência? Não, a sério, onde é que apunhalar as vossas orelhas pelas costas e trancá-las durante largos períodos de tempo com argolas de metal vos faz mais giras? No máximo, torna-vos mais susceptíveis a serem barradas nos controlos de segurança dos aeroportos, ou a serem confundidas com um porta-chaves especialmente grande.
Sim, bem sei que não só de argolas sobrevive a indústria dos brincos. Existem brincos de todos os tamanhos e feitios, com todas as cores e contra todo o tipo de alergias. Existem brincos para várias partes do corpo, cada vez mais. Só não existe uma coisa: Brincos que vos prendam os neurónios uns aos outros, para que finalmente constituam um grupo coeso. E mais uma vez, como não quero que se chateiem comigo, vamos ao ponto seguinte.
Uma coisa curiosa nos brincos, tenho reparado, é que quanto mais solene ou "de gala" for a ocasião, maiores são os brincos, e mais esticada fica a orelha. Conclui-se, portanto, que quanto mais bem vestidos/as estiverem, maior é a probabilidade de vos conseguirmos ver o buraco. E isso não é bom, até é de muita pouca classe. Mais: É, portanto, imperativo que tenham o cuidado de limpar bem os vossos ouvidos, porque é feio ter a cera a aparecer numa ocasião solene. Confiem em mim... Nunca mais cumprimento ninguém de beijo num funeral.
Outra aspecto que poderia inserir aqui, nesta tão fantástica divagação sobre martirização de orelhas, seria a questão dos alargadores, mas prefiro nem entrar por aí. Pelo tema, não pelos alargadores se bem que alguns têm espaço suficiente para servir de poiso a vários pássaros de pequeno/médio porte.
Depois de tudo isto, o que vos posso dizer mais? Tratem-se, e tratem bem das vossas orelhas. Elas são-vos bastante úteis, e não é justo o que lhes estão a fazer. A menos que sejam surdos, nesse caso basta dar-lhes umas palmadinhas de vez em quando. Quem sabe não terão aí um brinco preso, a tapar-vos o canal da audição.

Abreijo.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

À luz.


Queria, antes de mais, parabenizar. Ninguém em especial, e por razão nenhuma em particular, apenas porque gosto bastante da palavra. Melhor do que parabenizar alguém, só mesmo mandar-lhe um beijo no coração. É das coisas mais sádicas e simplesmente nojentas que já tive o prazer de presenciar, logo a seguir à minha viagem de finalistas da universidade. Lá também houve muitos beijos em órgãos, mas não no coração.
Mas já que aqui estamos, então vamos adiantando assunto, que eu até tenho coisas belas para dizer e vocês, caros leitores, têm, pelos vistos, algum tempo livre em mãos. Vamos a isso, então: Parabéns! (Fartei-me de "parabenizar", tornou-se muito repetitivo.) A quem se dirige esta congratulação, perguntam vocês de cafeteira cheia na mão? Cuidado, que ainda se pelam... Esta congratulação, meus lindos e escaldados amigos, é direccionada para uma razoável fatia do bolo que é este antro de gente insana a que chamamos de população. É dirigida a muita gente, pronto! Vocês também nunca querem ter trabalho com nada...
De maneira mais concreta, e com alguma polpa e circunstância (eu sei que é "pompa", mas estou a tentar cortar nas gorduras), é com prazer que congratulo aqui publicamente todas as pessoas que conseguem fazer apreciações acerca da anatomia dos bebés mal eles saem do túnel onde estiveram retidos no trânsito durante nove meses. Tirando a parte óbvia de se identificar o sexo através do órgão sexual – algo que na minha viagem de finalistas, por exemplo, poucas vezes aconteceu –, é preciso ter-se um talento particular para conseguir distinguir traços e encontrar parecenças em bebés.
Mesmo que o bebé ainda esteja com eles fechados, já tem os olhos do pai. Os dedos – que mais parecem pequenas minhocas ossudas nesta altura do campeonato, diga-se – são claramente iguais aos da mãe. Os pequenos pêlos quase púbicos que lhe adornam a cabeça borrachosa são obviamente encaracolados como os do avô, que por sua vez deixou de os ter logo na altura da primeira guerra em que combateu. E por aí adiante, até que do bebé reste só o umbigo que ninguém sabe bem com o de quem é que se parece porque o raio do bebé ainda está ligado pelo cordão umbilical!
Deixem a criatura nascer primeiro e crescer minimamente, depois façam lá as vossas apreciações. É incrível como se conseguem fazer tantas comparações em relação àqueles montes chorosos de pele enrugada. É o mesmo que eu passar o dia todo no banho, sair completamente engelhado e tentarem encontrar-me parecenças com uma amêijoa. Sou um bom prato, sim senhor, mas não chego a marisco.
Portanto, da próxima vez que quiserem opinar sobre a anatomia de um bebé, seja vosso ou não, não se aventurem muito para além do peso e da altura. Esses sim, são dados adquiridos. Tudo o resto é variável, e com algum dinheiro para cirurgias plásticas chega até a ser uma incógnita.

Abreijo.