quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

O bom calígrafo.

Vocês não sabem a sorte que têm em conseguir ler o que escrevo. Não em termos de conteúdo, porque eu não digo coisas assim tão interessantes, mas porque isto está escrito em computador. Sim, porque se fosse escrito à mão, provavelmente já teriam desistido de me tentar compreender. E eu estaria a chorar, por vos ver ir embora desiludidos e tristonhos. Sabem, é que a minha caligrafia não é das melhores, e... O problema é vosso! Estavam mesmo à espera que eu admitisse culpa em relação a algo? Ha!
Desde os tempos da escola que não percebo porque razão gozam com a minha caligrafia. Quer dizer, percebo, mas não aceito. Sim, eu sei que tenho uma caligrafia horrível e que há putos da primária que conseguem escrever o meu nome com mais floreado do que eu. Sim, olhar para um caderno meu é como olhar para um outro caderno normal onde se deu um terramoto e as letras se desfiguraram todas. Mas a culpa não é minha, não senhor! Porquê? Primeiro, porque este texto é meu e eu faço o que quiser com ele. Segundo, porque foi assim que me ensinaram a escrever, em miúdo. E eu, como bom aluno que sou, ainda hoje cumpro.
Assim, e sendo ponto assente que a culpa não me pertence, há que atribuir responsabilidades. E existem duas hipóteses: Ou a culpa é vossa, no geral, ou é dos professores em particular. Vossa porque, na verdade, vocês são uns aldrabões. Eu fiz tudo bem, aprendi a escrever de uma determinada forma e hei-de mantê-la até ao fim! Já vocês, adulteraram completamente a vossa caligrafia simplesmente por questões de estética; para ficar "mais bonita", ou mais perceptível. Cambada de fúteis!
A outra hipótese, da culpa ser dos professores, implica que tenham sido eles a induzir-me em erro. Neste cenário sim, é remotamente possível que eu esteja errado. Mas só porque foram os professores a ensinar-me a escrever assim, a desenhar as letras bastante agarradas e seguidas umas às outras como um comboio prestes a descarrilar na iminência de um encontro com uma nova vírgula.
E a mesma explicação serve para os meus dotes, ou falta deles, no campo do desenho! Por alguma razão eu ainda desenho como um miúdo da primária. É porque, na altura em que me ensinaram, EU ERA um miúdo da primária. Foi assim que aprendi, e é assim que continuarei! E o que é a escrita senão uma sequência de vários e pequenos desenhos aos quais damos o nome de letras? (Fui profundo, não fui?)
É simples, portanto: Se ainda desenho como desenhava quando era criança, também tenho que escrever como escrevia quando era criança. Numa sociedade que tanto preza as relíquias e o Clássico, é incrível que ainda não me tenham contactado para assinar contrato com museus ou exposições de arte antiga. Só na assinatura do contrato tinham logo ali uma obra de arte.
Enfim, é o país que temos.

Abreijo.

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