terça-feira, 7 de janeiro de 2014

À luz.


Queria, antes de mais, parabenizar. Ninguém em especial, e por razão nenhuma em particular, apenas porque gosto bastante da palavra. Melhor do que parabenizar alguém, só mesmo mandar-lhe um beijo no coração. É das coisas mais sádicas e simplesmente nojentas que já tive o prazer de presenciar, logo a seguir à minha viagem de finalistas da universidade. Lá também houve muitos beijos em órgãos, mas não no coração.
Mas já que aqui estamos, então vamos adiantando assunto, que eu até tenho coisas belas para dizer e vocês, caros leitores, têm, pelos vistos, algum tempo livre em mãos. Vamos a isso, então: Parabéns! (Fartei-me de "parabenizar", tornou-se muito repetitivo.) A quem se dirige esta congratulação, perguntam vocês de cafeteira cheia na mão? Cuidado, que ainda se pelam... Esta congratulação, meus lindos e escaldados amigos, é direccionada para uma razoável fatia do bolo que é este antro de gente insana a que chamamos de população. É dirigida a muita gente, pronto! Vocês também nunca querem ter trabalho com nada...
De maneira mais concreta, e com alguma polpa e circunstância (eu sei que é "pompa", mas estou a tentar cortar nas gorduras), é com prazer que congratulo aqui publicamente todas as pessoas que conseguem fazer apreciações acerca da anatomia dos bebés mal eles saem do túnel onde estiveram retidos no trânsito durante nove meses. Tirando a parte óbvia de se identificar o sexo através do órgão sexual – algo que na minha viagem de finalistas, por exemplo, poucas vezes aconteceu –, é preciso ter-se um talento particular para conseguir distinguir traços e encontrar parecenças em bebés.
Mesmo que o bebé ainda esteja com eles fechados, já tem os olhos do pai. Os dedos – que mais parecem pequenas minhocas ossudas nesta altura do campeonato, diga-se – são claramente iguais aos da mãe. Os pequenos pêlos quase púbicos que lhe adornam a cabeça borrachosa são obviamente encaracolados como os do avô, que por sua vez deixou de os ter logo na altura da primeira guerra em que combateu. E por aí adiante, até que do bebé reste só o umbigo que ninguém sabe bem com o de quem é que se parece porque o raio do bebé ainda está ligado pelo cordão umbilical!
Deixem a criatura nascer primeiro e crescer minimamente, depois façam lá as vossas apreciações. É incrível como se conseguem fazer tantas comparações em relação àqueles montes chorosos de pele enrugada. É o mesmo que eu passar o dia todo no banho, sair completamente engelhado e tentarem encontrar-me parecenças com uma amêijoa. Sou um bom prato, sim senhor, mas não chego a marisco.
Portanto, da próxima vez que quiserem opinar sobre a anatomia de um bebé, seja vosso ou não, não se aventurem muito para além do peso e da altura. Esses sim, são dados adquiridos. Tudo o resto é variável, e com algum dinheiro para cirurgias plásticas chega até a ser uma incógnita.

Abreijo.

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