quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

(Des)Entendimentos.

O meu pai nunca se opôs a que os seus dois filhos (homens, embora um mais do que o outro) usassem brincos. Avisou-nos sempre, no entanto, que se realmente o quiséssemos fazer, seria ele próprio a fazer o furo com um alicate de furar cintos. O velhote sempre fez isto em tom de brincadeira, mas um bocado como quem diz: "Não quero os meus filhos a andarem por aí com furos no corpos que trabalhei tanto para lhes dar." E eu percebo-o, o cota até é bastante esperto.
Mas não era preciso nada disto, porque também eu nunca fui grande fã de brincos. E não só nos homens, nas mulheres também. Na verdade, custa-me muito ser fã de uma coisa que não compreendo bem. É por isso que também não aprecio lagosta, porque tem uma anatomia muito confusa. E como não quero ter legiões de mulheres zangadas atrás de mim denote-se o adjectivo "zangadas", as que não estiverem podem vir , dou-vos aqui uma oportunidade de me responderem à seguinte questão: Em que sentido é que os brincos melhoram a vossa aparência? Não, a sério, onde é que apunhalar as vossas orelhas pelas costas e trancá-las durante largos períodos de tempo com argolas de metal vos faz mais giras? No máximo, torna-vos mais susceptíveis a serem barradas nos controlos de segurança dos aeroportos, ou a serem confundidas com um porta-chaves especialmente grande.
Sim, bem sei que não só de argolas sobrevive a indústria dos brincos. Existem brincos de todos os tamanhos e feitios, com todas as cores e contra todo o tipo de alergias. Existem brincos para várias partes do corpo, cada vez mais. Só não existe uma coisa: Brincos que vos prendam os neurónios uns aos outros, para que finalmente constituam um grupo coeso. E mais uma vez, como não quero que se chateiem comigo, vamos ao ponto seguinte.
Uma coisa curiosa nos brincos, tenho reparado, é que quanto mais solene ou "de gala" for a ocasião, maiores são os brincos, e mais esticada fica a orelha. Conclui-se, portanto, que quanto mais bem vestidos/as estiverem, maior é a probabilidade de vos conseguirmos ver o buraco. E isso não é bom, até é de muita pouca classe. Mais: É, portanto, imperativo que tenham o cuidado de limpar bem os vossos ouvidos, porque é feio ter a cera a aparecer numa ocasião solene. Confiem em mim... Nunca mais cumprimento ninguém de beijo num funeral.
Outra aspecto que poderia inserir aqui, nesta tão fantástica divagação sobre martirização de orelhas, seria a questão dos alargadores, mas prefiro nem entrar por aí. Pelo tema, não pelos alargadores se bem que alguns têm espaço suficiente para servir de poiso a vários pássaros de pequeno/médio porte.
Depois de tudo isto, o que vos posso dizer mais? Tratem-se, e tratem bem das vossas orelhas. Elas são-vos bastante úteis, e não é justo o que lhes estão a fazer. A menos que sejam surdos, nesse caso basta dar-lhes umas palmadinhas de vez em quando. Quem sabe não terão aí um brinco preso, a tapar-vos o canal da audição.

Abreijo.

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