segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Sete anos.

Eu sou picuinhas. Já o meu pai também é picuinhas, a minha mãe chega a ser picuinhas e os meus irmãos são só parvos. E já sou picuinhas há algum tempo, lembro-me que o meu avô ainda andava na guerra e já eu era picuinhas. Qual guerra, perguntam vocês? A outra, uma que só eu e o meu avô conhecemos. Chiu.
Foi mesmo desde pequenino que me comecei a aperceber que a quantidade de "picuinhices" com as quais obcecava não fossem talvez normais para o miúdo de buço frágil que era na altura. Hoje continuo a ser de buço frágil, mas já sou um jovem!
É facto também que estes pequenos dramas da minha então curta vida prendiam-se, muitas vezes, com o campo do audiovisual, nomeadamente do cinema e da sua filha bastarda, a televisão. Compreendamos o seguinte: Em miúdo, eu devorava televisão. Era às três e quatro televisões ao dia, sem sequer uma salada a acompanhar. Chegava a ir deitar-me com dores de barriga de tanta televisão, que por não ser muito rica em fibras custava a... Bom, fiquemos por aqui. De facto, foi ao ver muita televisão e ao compará-la com a vida real - já muito agitada, na altura - que me comecei a aperceber de algumas incongruências no modo como são captados alguns episódios que pretendem representar a realidade.
Senão, vejam: Porque é que na vida cinematográfica as pessoas recordam na terceira pessoa factos antigos que presenciaram com os próprios olhos? Para quem joga poucos jogos de vídeo, vão procurar o que significa "terceira pessoa". "E em que medida é que isto é incongruente?", perguntam vocês cheios de pompa e circunstância. É-o porque, a menos que realmente exista aquela coisa da experiência extracorporal, é muito difícil uma pessoa lembrar-se daquela mancha de mostarda que tinha no rabo das calças à altura, porque não a consegue ver. Se não conseguimos ver as nossas próprias borbulhas das costas quando interagimos com uma pessoa ou com um cenário, normalmente também não conseguimos vê-las quando tentamos recuperar esse acontecimento por via da memória. Só nos lembramos, portanto, daquilo que o nosso raio de visão captou na altura. Mas na indústria cinematográfica  pelos vistos não funciona assim, vemos as nossas próprias borbulhas e em HD, com close-ups e planos detalhados. E eu ali, com sete anos e a pensar: "Chiça, quem me dera também lembrar-me de coisas na terceira pessoa... Pode ser que assim descubra quem foi que me deu com o livro de Ciências na cabeça no intervalo de ontem." Sim, eu com sete anos já dizia chiça.
Mas calma, que ainda há mais! E no caso das cartas de correspondência, tão populares em filmes que retratam épocas antigas dado que naquela altura "informática" era apenas uma palavra-segura para a prática do sexo sadomaso? (Eu sou fixe, por isso digo "sadomaso"...) Porque é que quando alguém recebe uma carta nesses filmes e a começa a ler ouve sempre a voz do remetente por trás a ditá-la? Aquilo chega a ser assustador, parece que lhes estão a ler a carta por cima do ombro. Se era para isso, nem era preciso escrevê-la! Até porque carta implica escrita, discurso textual. Eu, por exemplo, quando leio cartas não faço muita questão de a imaginar na voz de quem ma envia.
E com cartas anónimas, como é que isso funciona? Não conhecem a voz do remetente, pois não? Então têm que distorcer a voz, como fazem àquelas testemunhas na televisão que não querem dar a cara. Já viram a trabalheira que isso dá? Até aceito que seja a voz do próprio destinatário lá ao fundo a ler a carta, visto que sermos nós próprios a ler aquele texto todo chegaria a ser aborrecido e acabaria por gorar um bocado o objectivo do conceito audiovisual. Agora, vozes alheias? Sejamos sérios.
Era só isto. Cinema, televisão e tal, mudem lá essas parvoíces.

Abreijo.

Ética em viagem.

No outro dia estava eu a viajar de avião, como pessoa extremamente interessante e viajada que sou, quando, passados aqueles cinco minutos iniciais de fascínio pelo facto de me encontrar acima das nuvens, virei a cabeça da janela para o pequeno ecrã que estava embutido no banco à minha frente.
Um aparte: Discordo totalmente desta disponibilização de ecrãs individuais para cada passageiro. Sendo a viajem já de si aborrecida, e sendo a televisão um meio pensado inicialmente para a visualização conjunta, não faz sentido dar um ecrã a cada passageiro. Até porque a programação é a mesma para todos, é raro haver hipótese de escolha. No entanto, concordo que se disponibilize ecrãs particulares caso haja a opção de visualizar programação, digamos... badalhoca. Nesse sentido, sou da opinião que quanto menos partilha melhor.
Voltando ao tema: Mas a minha já costumeira indignação, que acabei por ter que desligar porque estava a fazer interferência com os instrumentos de vôo, prendeu-se, não com a televisão em si, mas com o tipo de programação que estava a ser emitido. Nomeadamente, com os programas de "apanhados" que toda a gente acha muito giros. O aborrecimento de duas horas e meia de viagem aliado à minha (vastíssima) formação académica levou-me a questionar a legitimidade deste tipo de programas. Senão, pensem: É legítimo criar um programa televisivo baseado na premissa de enganar pessoas? E sim, podem argumentar que a quase totalidade dos conteúdos televisivos actuais desempenham um papel semelhante, principalmente os intervalos publicitários da TVI.
Mas à descarada? Se querem enganar pessoas então façam-no pela calada, como os responsáveis pela marca Johnson's Baby que juram que o seu shampô não provoca lágrimas ou como os intervenientes nos tempos de antena nos dias antecedentes a um sufrágio. Mas não o façam de forma tão evidente, assim dão que falar a pessoas pouco ocupadas como eu. Ninguém, para além de mim, reparou ainda nas violações a directrizes éticas que estão aqui em causa? Sim, meus vagos conhecidos: Os programas de "apanhados" são ética e moralmente condenáveis. Trata-se, nada mais nada menos, do que perfídia e deslealdade para com as pessoas abordadas. E com a agravante de haver ainda marmanjos encafuados em casa (ou no avião, neste caso) a gozar com a cara deles. Do tipo: "Olha que giro, aquele senhor pensa que lhe estão a chacinar o carro quando se trata de uma réplica exacta." Ai é giro? E deixamos de parte o direito à verdade e à transparência? Escusado será dizer que, a partir dessa fatídica viagem de avião, todo e qualquer apreço que nutria pela imagem do mítico Guilherme Leite acabou por se desvanecer. Que monstro!
Atenção, não quero com isto dizer que este tipo de programação é inviável, ou que não tem lugar nas nossas televisões. Bastava que houvesse algumas alterações e o conceito até ficava interessante. Em vez de espatifar réplicas, porque não espatifar o carro verdadeiro do senhor? Ao menos aí não haveria trapaças e enganos tão condenáveis do ponto de vista ético, e até em termos de galhofa se tornava num conceito mais engraçado. Afinal, tem mais piada quando sabemos que é a sério.

Abreijo.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Parcelamentos capilares.

Não sei qual de vocês andava esta noite a fazer barulho no meu armário do quarto, mas parem com isso que a minha namorada queixou-se a noite toda. Até gemia, parecia que lhe estavam a atacar o estômago, ou assim...
Bom, já aqui falei de cabelo. Várias vezes, até... É um assunto sobre o qual era capaz de escrever uma tese inteira, caso houvesse alguém interessado em ouvir as minhas opiniões sobre folículos capilares. Mas enfim, já se sabe que neste país não há o hábito de dar importância às grandes questões.
E a pergunta que dará início a toda esta... chinfrineira é, então, a seguinte: Porque raio é que o cabelo da cabeça é o único aceitável, e até desejado? (Reparem que chegam a ser duas perguntas numa só; há que poupar caracteres, que isto não está fácil para ninguém.) Porque, vejamos, o cabelo da cabeça não é diferente do cabelo das costas. Pela vossa saúde, não é! É exactamente igual aos outros cabelos, só aparenta ser diferente porque o deixamos crescer e damos-lhe formas giras. E logo aí vemos começarem os preconceitos: porque é que na cabeça temos cabelo, e no resto do corpo temos "pêlos"? E os pêlos, não são cabelo também? E o tomate, não é um fruto? Bom, penso que já estarei a ultrapassar os limites desta nossa discussão. Esta questão do tomate fica para outra salada. (Que piada, meu Deus!)
De facto, o cabelo da cabeça só tem a importância que tem porque é o menino mimado da sociedade contemporânea. Antigamente não havia exclusão de qualquer tipo de cabelo, havia até um culto de manutenção e melhoramento dos vários cabelos. Quando hoje vejo o meu vizinho a podar os arbustos do quintal, bate-me a saudade e relembro antigos tempos de glória em que uma zona púbica bem farfalhuda era motivo de orgulho. Se eu pentear os pêlo púbicos todos acham estranho, e dizem que eu sou nojento, e que não uso mais a escova deles; mas pentear os pêlos capilares já não faz mal, e é muito giro!
Há toda uma panóplia de produtos para manter, melhorar, mudar, moldar e manietar o cabelo da cabeça, mas pouco ou nada há para o cabelo do peito, por exemplo. Aliás, o desejável até é arrancá-lo! O único tipo de cabelo que se pode dar ao luxo de ser socialmente aceitável, para além do da cabeça, é o das pernas. E até esse de forma extremamente condicionada, porque é apenas aceitável nos homens e já não é qualquer homem que o vê com bons olhos. Algumas mulheres também tentam adaptar este estilo às escondidas, principalmente durante o Inverno quando não destapam as pernas. Mas nelas já não fica tão giro. Confiem em mim.
E não me venham com o argumento de que o cabelo da cabeça é o mais bem aceite porque é o que salta mais à vista. Esse argumento cai por terra, por exemplo, no contexto de um clube de striptease. Nesses lugares, a zona da cabeça é das últimas para onde se olha. E nem nestes casos se vê uma valorização dos restantes cabelos, estão ali elas (ou eles, dependendo da preferência) rapados que nem bebés de colo. Até os cabelos faciais, também eles designados por um nome diferente, são tão visíveis como os da cabeça e mesmo assim são tidos como indesejáveis: a chamada barba, que antigamente era sinónimo máximo de virilidade, superior até à posse e ostentação de um pénis, tem vindo a marcar cada vez menos presença nas faces masculinas (e até em algumas femininas) de todo o Mundo. Diz-se ser sinónimo de desleixo, de despreocupação com a aparência. Então se uma barba mal-aparada é sinónimo de desleixo, deixar crescer cabelo na cabeça também não o devia ser? E o que dizer das sobrancelhas e das pestanas, que se desaparecem cai o Carmo e a Trindade? Eu não conheço nem o Carmo nem a Trindade, mas o que é facto é que caem sempre em alturas escandalosas.
Sejamos sérios em relação à matéria capilar, meus amigos... Não vamos cair no erro de menosprezar certos tipos de cabelo, enquanto primamos por outros. Se querem deixar crescer então deixem crescer tudo, não só parcelas.
E mesmo que este texto não tenha sido suficiente para vos fazer mudar de ideias, ao menos que tenha servido para me dar a possibilidade de escrever a frase: "... posse e ostentação de um pénis...".

Abreijo.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Cacofonia desnecessária.

Há ainda muitas questões por resolver, nos nossos dias: em África continua-se a passar fome, enquanto que no Sul da Europa para lá se caminha; a Leste continuam as guerras santas; e no Mundo há já dois buracos enormes que ainda ninguém chegou a um consenso acerca de como os tapar, o financeiro e o da camada de ozono. A vagina da vossa mãe, para mim, não conta. Entretanto, a falta de resolução da maior parte, senão de todos, estes flagelos prende-se, tenho vindo a reparar, com a preguiça do ser humano. Sim, de vocês seus indolentes! Senão reparem, e nisto eu até vos percebo: Porque é que se hão-de dedicar à resolução destas grandes questões se há quem nem se digne, primeiro, a tentar resolver os problemas mais ligeiros? Falo, como é óbvio (e como qualquer psicólogo que já se tenha apercebido da minha perturbação psíquica adivinhará), dos alarmes dos carros. E pronto, está inserido o tema.
Sejamos sérios, meus caros: quem é que já alguma vez deu o devido uso ao seu alarme do carro? Mais, quem é que reconhece sequer o padrão sonoro do alarme do respectivo carro? Se vos tapassem os olhos, talvez fossem capazes de reconhecer o vosso telemóvel no balneário enevoado de uma sauna masculina apenas através do toque de chamada. Se bem que se vos taparem os olhos num ambiente de sauna masculina então terão certamente mais com que se preocupar. Mas aposto que se o mesmo método fosse adoptado num parque de estacionamento do centro comercial mais próximo (o que também não seria muito bom sinal, diga-se) não conseguiriam identificar o vosso carro através do som. Mas é aqui que a coisa se torna curiosa: Os vossos vizinhos certamente conseguiriam! Porque, na verdade, os alarmes das viaturas não servem para alertar os donos, ou mesmo a polícia, de que algum furto está a ser levado a cabo. Serve, isso sim, para incomodar as restantes pessoas.
O alarme do carro deve ser o aparelho mais deprimido de todo o sempre. Ninguém lhe dá atenção, é raro dar-lhe uso e ninguém respeita as suas potencialidades. Aliás, é frequente as pessoas irritarem-se com essas mesmas potencialidades. Isto porque o alarme do carro encontra-se numa espécie de "limbo utilitário": Não é encarado como algo ameaçador para ladrões e polícias, a quem primariamente se destina, mas é-o para qualquer transeunte comum que nenhuma ameaça representa. De facto, quem mais teme os alarmes dos carros não são os patifes, ou a bófia. É, isso sim, aquele indivíduo extremamente tímido que foi comprar papel higiénico ao supermercado e não quer dar nas vistas. É o bêbado que, à saída do bar, procura um lugar para se encostar e tem que recorrer a uma parede com três camadas de urina, por medo de accionar o alarme de um carro qualquer estacionado à porta. É a senhora, digamos, rechonchuda que se vê aflita com o dilema de passar entre dois carros estacionados muito perto um do outro ou contorná-los, por medo de disparar não um, mas dois alarmes ao mesmo tempo. São estas as pessoas que realmente temem os alarmes das viaturas! E agora digam-me: Será este um propósito digno? Gostará esta funcionalidade electrónica de ver o seu propósito tão nobre ser lacerado pela indignação justa dos inocentes transeuntes que, noutras circunstâncias, até nem lhe quereriam mal?
Como é que queremos resolver os grandes problemas mundiais se nem prestamos atenção ao bem-estar dos alarmes de viaturas? São aparelhos electrónicos? São, sim senhor. Então, nessa medida, esta pergunta será estúpida. Mas como é que queremos resolver os grandes problemas mundiais se nem prestamos atenção ao bem-estar dos inocentes que entram em contacto real com os alarmes de viaturas?
E é aqui que eu entro, com ideias e propostas que vos farão exclamar: "Meu Deus, que dor que me deu aqui nos rins!" É bem feita, eu bem vos disse para não reterem o chichi. Então, uma das soluções será a eutanásia justificada dos alarmes de viaturas; proceder-se à extinção completa desta funcionalidade, não só para acabar com a zombaria indigna de que é alvo, mas também para acabar com o constante medo que todos temos de abraçar carros na rua aleatoriamente, actividade tão divertida e compensatória. Outra solução será adaptar este tipo de alarme sonoro a alguma coisa realmente digna de atenção; por exemplo, criar uma estratégia que faça com que este alarme dispare quando estão perigosamente perto de nos descobrir a colecção de pornografia que temos em casa. Mesmo relacionado com badalhoquice, acabava por ser um propósito mais digno do que aquele que os alarmes de viaturas acabam por ter.
Se bem que, no meu caso, não seria necessário um alarme destes. A colecção tornou-se tão grande que já desisti de a tentar esconder.

Abreijo.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Maratonas de Ano Novo.

Se há coisa que não tolero, é teimosia! Mas a dos outros, que a minha até é bem pensada.
Então: passagens-de-ano. Da última vez que abordei este assunto, apelei a que se deixassem dessa coisa de mudanças de ano e que ficassem comigo sempre no mesmo ano. Ora, eu que pensava já estar bem instalado nos vossos coraçõezinhos de pedra, pensei mesmo que fossem responder ao meu apelo. Até comprei um chupa-chupa a cada um, daqueles grandes das feiras que até as mais badalhocas concorrentes dos reality shows da TVI levariam... dois dias a chupar, vá.
Mas não, vocês preferiram deixar-me sozinho no ano anterior, feito parvo. Não que não o seja, mas isso a nível ético fica-vos muito mal. Depois uma pessoa acaba por se aborrecer de brincar com partes específicas do corpo e é obrigada a ir ter com vocês. Mas tudo bem, que não perdem pela demora...
Então, o que é que há de mal desta vez em relação aos réveillons? A uma primeira vista não haverá assim grande coisa, dirão vocês, e como já vem sendo habitual os meus olhos servirão então de lentes de grande alcance à vossa miopia persistente. A verdade é que, e isto dito em traços muito gerais (falo em traços gerais que é para não ter que escrever muito): existem tradições a mais nas passagens-de-ano. Pessoalmente, o aproximar do Ano Novo costuma deixar-me perplexo, daí talvez a minha tentativa anterior de evitá-lo. Só de pensar em Ano Novo, começo logo com suores muidinhos. E não são daqueles suores que uma pessoa tem quando vai à casa daquela prima que entretanto cresceu muito proporcionalmente, são suores desagradáveis. Porque, aquando da passagem-de-ano, já sei que não vou ter fôlego para fazer tudo o que a tradição manda. É que, para além disso, estou sob ameaça. Qualquer falha nos procedimentos e tenho logo azar durante o ano inteiro!
A pressão começa desde logo no conforto do lar... Logo aí, uma pessoa é obrigada a vestir cuecas azuis. Caso não tenham, podem sempre esfregar umas folhas de chá nas manchas amarelas de urina de um outro par qualquer que tenham usado recentemente. Dá azul na mesma, se não tiverem exagerado no amarelo. Depois, já no sítio e na hora dos festejos (isto supondo que não gastaram tudo em cuecas e ainda têm uns trocos para festejar fora de casa) uma pessoa tem que comer doze passas, e inventar um desejo para cada uma delas. Trata-se de inventar doze acontecimentos, caros leitores, num curtíssimo espaço de tempo em que o mais provável é já estarmos embriagados. O que se calhar até nem é mau, visto que o álcool fomenta a criatividade... e a porrada, a criatividade e a porrada. Algumas pessoas até têm o hábito de cumprir esta tradição pondo-se em cima de uma cadeira. Talvez seja para apanharem mais rede, ou assim. Há que certificar-se de que os desejos são enviados.
Ao mesmo tempo, uma pessoa tem que cumprimentar e desejar um bom ano a toda a gente que o acompanha e mesmo a alguns desconhecidos, também eles embriagados e com uma forte vontade de nos contar a sua mais recente viagem aos Himalaias. E nós ali, com a boca cheia de passas só a acenar com a cabeça, não vá uma das passas voar para o bigode do tio Eugénio e ficarmos com azar durante o ano inteiro.
Depois, há ainda a tradição de beijar alguém quando chega à meia-noite. Isto até pode ser relativamente fácil para quem for comprometido, caso ignoremos a boca cheia de passas e o aperto das cuecas azuis dois tamanhos abaixo na virilha, por serem as únicas restantes na loja depois do Natal. No entanto, para pessoas descomprometidas é apenas uma tarefa adicional para cumprir. Já não bastava estas tradições todas, ainda têm que andar a noite toda no engate. É verdade que é só para um beijo, mas se não for consentido, quem sabe... ainda dá azar.
Por fim, ainda nos pode calhar a nós também a tarefa de abrir o champanhe, ou de explodir com aquelas aquelas coisas muito giras que cospem confettis e nos deixam os ombros com uma espécie de caspa multi-colorida. Com tudo isto, e dependendo da resistência física de cada um (e do nível de embriaguez), chega a um ponto em que já não conseguimos fazer nada daquilo que estava estipulado. No meu caso, acreditem que tento todos os anos! Mas quando vou fazer o balancete daquilo que planeei e daquilo que realmente cumpri, fico sempre com uns dois ou três anos de azar acumulados.
Se alguém tiver repetidos, fale comigo.

Abreijo.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Plágio corpóreo.

Hoje o caldo vai entornar! Talvez não em Portugal, que já se faz tarde, mas provavelmente nos Estados Unidos alguém vai bater com o pé num móvel enquanto leva o jantar para o quarto e vai entornar o caldo. O que é que isto contribui para este texto? Pouco, se nada. A ver vamos, se algo se aproveita daqui...
Ora, tenho começado muitos textos a insultar pessoas variadas, e para não quebrar a corrente aqui vai outro: Eu sou estúpido. Mas o facto de ser estúpido não me impossibilita de ter um sentido de justiça apurado. Sou tão capaz de partir a perna a um cão como a um gato! Estou a brincar, eu não testo os meus textos em animais...
Se há coisa que não gosto, para além de cremes e velas de cheiro (muito macho, o menino...), é de ver alguém a receber os louros pelo trabalho de outros, sejam eles académicos ou indianos que fazem sapatilhas a preços muito baixos. E, no entanto, todos temos dentro de nós um parasita social destes. Não são lombrigas, não senhor... É o nosso coração! Sim, esse baterista de meia-tigela, sobre quem recaem todas as esperanças de vida dos seres vivos. Até aí tudo bem, não refuto a importância do coração no que toca a bombear sangue, e nos manter vivos e tal. Mas condeno veemente - reparem que não condeno de uma maneira qualquer - essa mania que o coração tem de ficar com os créditos de tudo o que é sentimentalismo humano.
Porque reparem, é o nosso cérebro que nos faz sentir... sentimentos, mesmo. Não é o coração. O máximo que o coração nos pode fazer sentir é dor, e não daquela de "Ai, estou tão triste que dói!". Dor verdadeira, de quem nos espeta uma estaca no coração por pensar que somos lobisomens devido ao pêlo que acumulamos na zona das virilhas. Dor aguda no braço, daquela que é capaz de nos deixar com um novo aspecto visual de um dos lados do corpo para o resto da vida. Esses sim, são sentimentos que o coração produz. Mas, mesmo esses têm que ser assimilados pelo cérebro, porque é esse menino que nos faz compreender que, sim senhor, estamos a ter uma trombose.
Isto percebia-se antigamente, atenção: A falta de entendimento e de melhor interpretação faziam com que o ser humano associasse tudo ao coração, até porque sem ele não dava para fazer muitas mais coisas. Mas hoje em dia, com uma nova abordagem, já é tempo de se dar ao cérebro o valor que ele merece. E não falo em termos da comunidade intelectual e científica, porque esta está anos-luz à nossa frente. Anos-luz ou não fosse ela... científica, pois. Falo em termos de: casais parvos.
Sim, estou completamente ciente do perigo de criticar casais. É que são logo duas pessoas, melosas e intransigentes, a mandar vir comigo... Mas à luz do que acabamos de concluir - mais eu do que vocês - porque é que ainda continuam a mandar corações à vossa cara-metade? Não é aí que se encontra o amor, meus caros! Aí só está sangue, por vezes alguma heroína e uma batida rítmica que deixaria o baterista dos Metallica envergonhado (já que falamos em heroína). O amor está mais acima, no cérebro... ou mais abaixo, segundo algumas mulheres. Mas não vamos por aí.
Portanto é isto que eu defendo: deixem de mandar corações para os vossos companheiros, comecem a mandar cérebros. Pode ser estranho ao início, mas... mas nada, é o correcto. Os corações não são menos nojentos. Desenrasquem-se!

P.S.: Não se aproveitou mesmo nada do caldo... Nem neste texto, nem no jantar do americano.
Abreijo.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Em limpezas.

Está a chover de uma forma algo intensa, e à conta disso já não posso calçar os meus saltos altos de agulha e vaguear pelas ruas mais movimentadas da cidade, pedindo a todos os transeuntes que me chamem Dona Amélia.
Portanto, conclui que o melhor seria mesmo dirigir-vos a palavra, e acabar com esta nossa birra de já não nos falarmos há algum tempo. Se bem que vocês nunca me falaram, o que até nem é mau porque muitos de vocês poderão ser algo... chatos.
E lembrei-me de vos dirigir a palavra quando, justamente pelo facto de estar a chover e de ter que me entreter com algo (de filmes "caseiros" já estou eu farto), fixei os olhos durante alguns minutos no ecrã do meu computador. Uma vida de sonho, a minha! E a dada altura comecei a sentir-me mal comigo mesmo, não só porque queria mesmo encarnar outra vez o papel de Dona Amélia e não podia, mas também porque reparei que tinha a "reciclagem" do computador cheia. Vocês sabem, aquele espaço para onde mandamos os tais filmes "caseiros" quando alguém nos pede para usar o computador.
É que eu sou um bocado narcisista, e da lista de qualidades que fiz da minha pessoa também consta ser limpo e asseado. Na página 327, logo a seguir a "ser extremamente sensual". E é por isso que odeio ver sujidade, seja no meu balde-do-lixo seja no bigode do Quim Barreiros. Por isso o balde-do-lixo virtual também não me escapa, que eu odeio estar no computador e começar a sentir o cheiro nauseabundo de ficheiros em decomposição.
Por esta altura, já devem estar outra vez com aquela impressão de que estou a exagerar. Têm que parar com isso, sabem que depois vou ter que vos insultar... E aqui vai:
Normalmente, depois de algum tempo as pessoas com um rendimento mensal superior a 5€ e com água canalizada em casa gostam de deitar o lixo fora, porque se não o fizerem aquilo começa a cheirar mal. E ao que parece também não é higiénico, ou algo assim... Então porque é que no campo virtual se desleixam nessa matéria? É que depois ficam os ficheiros a cheirar muito a fruta podre, o que pode vir a criar problemas com o firewall que vos poderá passar uma multa por estarem a causar mal-estar nos outros programas do computador. É um ciclo vicioso, que poderia ser evitado se tivessem a decência e o civismo de deitarem fora o lixo virtual.
Já nem digo para reciclarem, porque já vi que o computador encara essa matéria tal e qual como na vida real: mesmo que se mande algo para a reciclagem, quando aquilo lá chega misturam o lixo todo outra vez. Prova é que, nos computadores, apesar de só haver um balde-do-lixo continuam a chamar àquilo "reciclagem".
E daí, talvez seja isso que desmotiva as pessoas em relação à reciclagem. A falta de honestidade dos lixeiros... e da firewall.

Abreijo.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Egoísmo patriota.

O português é um ser mesquinho. E não falo de nenhum português em particular, podem ficar descansados. As vossas vidas não me interessam. Falo, isso sim, dos portugueses no geral, aqueles que hoje em dia chamamos, tão afavelmente, de "tugas".
O "tuga" é aquele senhor barbudo e grisalho que está sempre na mesa escura do canto a reclamar de tudo e com tudo, assustando qualquer pessoa que se atreva a olhar na sua direcção. É aquele velho que fura as bolas de futebol que vão parar ao seu quintal, aquele sénior de quem ninguém gosta e com quem ninguém se dá. Não duvido que este tipo de portugueses até tenha uma faceta interior boa e generosa, mas não é um interior que se possa ver assim tão facilmente com uma qualquer lanterna de poucos watts.
No entanto, este bichinho da "tuguice" pode adoptar variadíssimas formas. De facto, o que me surpreende é que, apesar de nem todos os portugueses corresponderem directamente a esta imagem, todos têm alguns pontos em comum com o raio do velho, seja em relação a política, em relação ao clima e à temperatura, em relação ao futebol ou em relação... a acidentes internacionais "de grande porte". (E é aqui que entra a parte da galhofa e da boémia, em que eu digo parvoíces e vocês, supostamente, riem-se.)
Sim, o português - ou o "tuga", mais propriamente - é aquele ser capaz de desvalorizar todas e quaisquer catástrofes internacionais: sejam elas naturais, de acção humana ou, possivelmente, de origem alienígena. E o "tuga" continuará para sempre a depreciar tudo isso, a menos que - e isto é crucial - seja informado da existência de algum compatriota português entre as vítimas. Aí descamba tudo! Só nesse momento é que esse, até então, pequeno infortúnio em solo estrangeiro se torna numa calamidade merecedora de toda a sua atenção e compaixão. Ignore-se o número de vítimas, a quantidade de habitações demolidas, os litros de água salgada engolidos pelos sacrificados... Desde que não haja lá nenhum português pelo meio, minimiza-se o cenário e a situação haverá de se resolver por si. Que choramingas, esses desalojados...
E o que me assusta não é o facto de o "tuga" pensar assim. Dele eu já esperava isto. O que me mexe aqui com as entranhas (sim, afinal não sou assim tão oco) é o facto de essa também se estar a tornar na primeira preocupação dos órgãos de comunicação social. Pode ter sido um acidente de extremo aparato, mas ao menos nenhum português se magoou; e é isto que se considera ser importante noticiar em primeiro lugar, ainda antes de se saber sequer o que realmente aconteceu. A ordem de ideias é a seguinte, exemplificada por uma conversa entre dois típicos "tugas":

- Oh lá... uma catástrofe enorme ceifou a vida de milhares de pessoas naquele país que ninguém sabe muito bem onde fica. Que giro...
- E havia por lá algum português?
- Não, felizmente.
- Ah, menos mal... Dá-me aí esse agrafador.

E pronto, volta-se à leviandade. Mal esta última informação é divulgada, o "tuga" volta a emborcar a cerveja pousada na tal mesa do canto, com medo que entretanto as bolhinhas lhe fujam todas da garrafa. Isso sim, seria uma catástrofe!
A presença de um colega "tuga" torna todo e qualquer assunto merecedor da maior das atenções por parte do português comum. É por isto que defendo a necessidade da presença de um português em todo o tipo de assuntos que sejam merecedores de atenção: seja no campo da política, da economia, da ciência ou da criação da perdiz vermelha em cativeiro. Não gozem, é um assunto sério.
Enfim, muitas coisas explicam o porquê de Portugal não brincar muito com os outros meninos. Eu apenas apresentei aqui um dos aspectos que mais me apela, na condição de... parvo. Se o vosso objectivo era serem elucidados acerca de condutas económicas em contexto de crise ou do estado da balança comercial do país quando comparado com as dos seus congéneres europeus, então ou não costumam vir aqui ou estão infinitamente à espera que eu me torne numa pessoa séria.
Em qualquer dos casos, aconselho-vos outras leituras.

Abreijo.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Carequices.

Não sei, eu não sei qual é o meu estado de espírito neste momento. Percebo que isto vos possa assustar, até por saberem que eu sou um ser profunda e persistentemente indignado. Aliás, a minha mãe conta-me que quando nasci e o doutor me deu uma palmada para chorar (eu, não ele), eu franzi o sobrolho, apertei a gravata e processei-o por negligência médica. Mas hoje não.
Hoje apresento-me perante vós mergulhado num mar de confusão e incerteza. Não é bem um mar, é mais um... tupperware, ou assim; mas bem cheio. "Mas porquê?", perguntam vocês já visivelmente preocupados com o meu bem-estar emocional. Ora, porque estamos a ficar sem pêlos. É verdade meus caros, anos e anos de evolução estão a fazer-nos o mesmo que faria uma banda de cera, só que num processo muito mais lento e um bocado menos doloroso. Portanto, sendo que o Homem é descendente do macaco - apesar de muitos deles insistirem em manter ainda o grau de parentesco -, vemos que, gradualmente, este tem vindo a perder território no que toca a zonas do corpo populadas por guedelha.
E é aqui que entra a minha incerteza, a minha perplexidade e a minha expectativa (estou cheio de sentimentos, hoje): O que devemos esperar para as gerações vindouras, em termos de superfície capilar? Nos filmes futuristas de ficção (que aliteração tão bem conseguida) vejo apenas seres humanos como hoje em dia os conhecemos, que apenas se diferenciam devido às suas roupas extravagantes, dignas de um espectáculo do La Féria. No entanto, e devo ser eu o único estúpido a pensar nisto, seria de esperar que, com o avançar do tempo, também a nossa calvície corporal registasse um aumento significativo, que aparentássemos ser uns "recém-nascidos do espaço sideral" mas daqueles que não se vomitam depois do biberão do lanche.
E é aqui que entra o sentimento de confusão: será este acontecimento positivo para o ser humano? Ou, por outro lado, será que necessitamos de pêlos para orientarmos a nossa vida presente e futura, abanando o cabelo ao sabor da falta de gravidade dentro das nossas naves espaciais? Os mais peludos, que não gostam de o ser, dir-me-ão que esta ordem natural das coisas será positiva, porque deixaremos de ter que aparar aquelas zonas especiais para agradar ao nosso parceiro intergaláctico. No entanto, os pêlos mostram-se essenciais na altura de conquistar, precisamente, esse parceiro. Imaginem, por exemplo, um Zezé Camarinha sem cabelo (e, portanto, sem gordura animal a penteá-lo), sem bigode e sem pelos no peito. O que seria de um espécime destes?! Sim, continuaria a usar o fio-de-ouro... mas sem pêlos onde se prender não é a mesma coisa. A minha avó tem uma opinião bem formada sobre o assunto, ao que ela diz que: "Homem que é homem tem pêlo na venta!". Talvez isso explique os vestidos de noite que ela ainda hoje me oferece...
E a confusão que eu sinto neste momento não se fica por aqui! Até porque já começo a sentir também uma certa vontade de urinar... Então se o processo de "descabelização" do corpo humano é sinónimo de evolução, quererá isso dizer que os carecas de hoje são mais evoluídos que as restantes pessoas? É neles que devemos depositar as nossas esperanças de um futuro melhor? Não lhes bastava que fosse dos carecas que elas gostam mais? E agora como é que eu encaro o meu tio Francisco, careca há já uns bons anos? Saúdo-lhe com um bom-dia ou ajoelho-me aos seus pés?
São tudo perguntas que deverão ser respondidas a seu tempo, porque está visto que o comum ser humano de hoje em dia não está preparado para se lhes formular uma resposta. A não ser o meu tio Francisco.
E não vale usar a depilação e as máquinas eléctricas como alternativa, meus amigos! Não conseguem enganar o sistema. Só se podem tornar seres evoluídos a partir do momento em que o vosso corpo começa a rejeitar crescer pêlos. É pena é que isso normalmente só aconteça a partir dos 70 anos, quando começa a entrar o Alzheimer e as pessoas se esquecem de que já está na altura de se tornarem nos seres humanos mais evoluídos.

Abreijo.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Televisão e sofá.

... e se não gostares, vai lamber as glândulas mamárias da tua avó!
Peço desculpa, estava aqui a acabar uma conversa com o meu primo Jorge. Também podiam ter batido à porta primeiro, não custava nada. Enfim...
O tema de hoje é-nos trazido pela minha elevada capacidade de - e grande formação em -... estar sentado. Quer dizer, não é bem sentado, é mais aquela posição em que muitas vezes nos encontramos depois de algum tempo sentados no sofá e nem nos lembramos como chegamos lá. Já me me encontrei muitas vezes a fazer Yoga em cima das almofadas do sofá, mesmo antes de saber sequer o que isso era. Se hoje já o sei? Não particularmente, apenas sei que envolve calças muito apertadinhas. Mas deixemo-nos disso.
Estava eu, muito gostoso, a fazer zapping, aquilo que todos os portugueses adeptos desta prática da preguiça costumam fazer (e nem estou a falar do zapping, estou a falar da preguiça em dizer até "mudar canais"), quando de repente dou de caras com aquilo que me pareceu ser a nova longa-metragem do nosso Manoel de Oliveira, cuja própria duração de vida poderia dar para uma longuíssima-metragem, daquelas que nos fazem ter que sair da sala de cinema e ir urinar umas três vezes. Qual não é a minha surpresa quando reparo que estou, na verdade, a ver um canal infantil, e que aquilo que eu pensava serem pessoas reais - não confundir com a Lili Caneças -, eram na verdade desenhos animados super-ultra-hiper-mega reais, daqueles que até têm borbulhas na cara e às vezes até as espremem, caso os guionistas não tenham muito material para escrever. Não quero que pensem que estou a exagerar, meus ursinhos de pelúcia; são desenhos animados que conseguiriam ultrapassar o nível de realismo até do choro da Fátima Lopes - que, até ver, é humana - nos seus programas da tarde.
E perguntam-me vocês, caso consigam obter o meu número de telefone através das páginas amarelas: "Qual é o problema de haver desenhos animados cada vez mais 'reais'?" Adoro quando falam comigo directamente, faz-me sentir especial. Problema, necessariamente, não será, mas perde-se um bocado o propósito. Ainda sou jovem, mas lembro-me que no meu tempo os desenhos animados ainda eram... desenhados. Ah, e animados! Hoje em dia é tudo computadorizado, feito em três, quatro ou cinco dimensões (e que mais hajam), com efeitos visuais e de sombra que copiam a realidade, com personagens politicamente correctas e cenários circunspectos, e onde um rato espetar um martelo na cabeça a um gato já não é considerado entretenimento. Que ultraje... A animação, essa, também se esvaiu um bocado com essa "filtração" de tecnologia, nem que seja pela falta das cores vivas dos desenhos, hoje em dia substituídas pelas cores aborrecidas da realidade. Se é para ver a realidade, então desligo a televisão, ora!
Mas a questão é muito simples, e aposto que ninguém se vai dirigir a ela com a seriedade necessária: Como querem que seja preguiçoso se até me aborreço com aquilo que me é suposto divertir?! Se quisesse ver desenhos animados em grafismo mega-real, ia a um lago e vestia um dos patos que por lá andasse com uma roupa de marinheiro. Depois, dava-lhe o nome de Donald e imaginava-lhe um impedimento de fala característico. Se quisesse ver um Rato Mickey real, ia aos arquivos dos tribunais portugueses onde metade dos casos em espera já foram degustados pelas grandes ratazanas que por lá andam. Depois era só adicionar, mais uma vez, a vozinha irritante.
No entanto, o problema é justamente esse: não quero "ir" a lado nenhum! Quero ficar no sofá de cabeça para baixo e joelhos na nuca enquanto outros me divertem, e eu me vou sentindo como um verdadeiro imperador romano perante a sua plebe, mas sem a parte da saia.
Será pedir muito?

Abreijo.