terça-feira, 4 de setembro de 2012

Carequices.

Não sei, eu não sei qual é o meu estado de espírito neste momento. Percebo que isto vos possa assustar, até por saberem que eu sou um ser profunda e persistentemente indignado. Aliás, a minha mãe conta-me que quando nasci e o doutor me deu uma palmada para chorar (eu, não ele), eu franzi o sobrolho, apertei a gravata e processei-o por negligência médica. Mas hoje não.
Hoje apresento-me perante vós mergulhado num mar de confusão e incerteza. Não é bem um mar, é mais um... tupperware, ou assim; mas bem cheio. "Mas porquê?", perguntam vocês já visivelmente preocupados com o meu bem-estar emocional. Ora, porque estamos a ficar sem pêlos. É verdade meus caros, anos e anos de evolução estão a fazer-nos o mesmo que faria uma banda de cera, só que num processo muito mais lento e um bocado menos doloroso. Portanto, sendo que o Homem é descendente do macaco - apesar de muitos deles insistirem em manter ainda o grau de parentesco -, vemos que, gradualmente, este tem vindo a perder território no que toca a zonas do corpo populadas por guedelha.
E é aqui que entra a minha incerteza, a minha perplexidade e a minha expectativa (estou cheio de sentimentos, hoje): O que devemos esperar para as gerações vindouras, em termos de superfície capilar? Nos filmes futuristas de ficção (que aliteração tão bem conseguida) vejo apenas seres humanos como hoje em dia os conhecemos, que apenas se diferenciam devido às suas roupas extravagantes, dignas de um espectáculo do La Féria. No entanto, e devo ser eu o único estúpido a pensar nisto, seria de esperar que, com o avançar do tempo, também a nossa calvície corporal registasse um aumento significativo, que aparentássemos ser uns "recém-nascidos do espaço sideral" mas daqueles que não se vomitam depois do biberão do lanche.
E é aqui que entra o sentimento de confusão: será este acontecimento positivo para o ser humano? Ou, por outro lado, será que necessitamos de pêlos para orientarmos a nossa vida presente e futura, abanando o cabelo ao sabor da falta de gravidade dentro das nossas naves espaciais? Os mais peludos, que não gostam de o ser, dir-me-ão que esta ordem natural das coisas será positiva, porque deixaremos de ter que aparar aquelas zonas especiais para agradar ao nosso parceiro intergaláctico. No entanto, os pêlos mostram-se essenciais na altura de conquistar, precisamente, esse parceiro. Imaginem, por exemplo, um Zezé Camarinha sem cabelo (e, portanto, sem gordura animal a penteá-lo), sem bigode e sem pelos no peito. O que seria de um espécime destes?! Sim, continuaria a usar o fio-de-ouro... mas sem pêlos onde se prender não é a mesma coisa. A minha avó tem uma opinião bem formada sobre o assunto, ao que ela diz que: "Homem que é homem tem pêlo na venta!". Talvez isso explique os vestidos de noite que ela ainda hoje me oferece...
E a confusão que eu sinto neste momento não se fica por aqui! Até porque já começo a sentir também uma certa vontade de urinar... Então se o processo de "descabelização" do corpo humano é sinónimo de evolução, quererá isso dizer que os carecas de hoje são mais evoluídos que as restantes pessoas? É neles que devemos depositar as nossas esperanças de um futuro melhor? Não lhes bastava que fosse dos carecas que elas gostam mais? E agora como é que eu encaro o meu tio Francisco, careca há já uns bons anos? Saúdo-lhe com um bom-dia ou ajoelho-me aos seus pés?
São tudo perguntas que deverão ser respondidas a seu tempo, porque está visto que o comum ser humano de hoje em dia não está preparado para se lhes formular uma resposta. A não ser o meu tio Francisco.
E não vale usar a depilação e as máquinas eléctricas como alternativa, meus amigos! Não conseguem enganar o sistema. Só se podem tornar seres evoluídos a partir do momento em que o vosso corpo começa a rejeitar crescer pêlos. É pena é que isso normalmente só aconteça a partir dos 70 anos, quando começa a entrar o Alzheimer e as pessoas se esquecem de que já está na altura de se tornarem nos seres humanos mais evoluídos.

Abreijo.

1 comentário:

  1. ""Homem que é homem tem pêlo na venta!". Talvez isso explique os vestidos de noite que ela ainda hoje me oferece..."

    mas tu já tens.ainda há dias reclamei contigo acerca...

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A cada comentário morre uma criança em África, relativamente a cenas.
Veja lá o que vai fazer.