quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Cacofonia desnecessária.

Há ainda muitas questões por resolver, nos nossos dias: em África continua-se a passar fome, enquanto que no Sul da Europa para lá se caminha; a Leste continuam as guerras santas; e no Mundo há já dois buracos enormes que ainda ninguém chegou a um consenso acerca de como os tapar, o financeiro e o da camada de ozono. A vagina da vossa mãe, para mim, não conta. Entretanto, a falta de resolução da maior parte, senão de todos, estes flagelos prende-se, tenho vindo a reparar, com a preguiça do ser humano. Sim, de vocês seus indolentes! Senão reparem, e nisto eu até vos percebo: Porque é que se hão-de dedicar à resolução destas grandes questões se há quem nem se digne, primeiro, a tentar resolver os problemas mais ligeiros? Falo, como é óbvio (e como qualquer psicólogo que já se tenha apercebido da minha perturbação psíquica adivinhará), dos alarmes dos carros. E pronto, está inserido o tema.
Sejamos sérios, meus caros: quem é que já alguma vez deu o devido uso ao seu alarme do carro? Mais, quem é que reconhece sequer o padrão sonoro do alarme do respectivo carro? Se vos tapassem os olhos, talvez fossem capazes de reconhecer o vosso telemóvel no balneário enevoado de uma sauna masculina apenas através do toque de chamada. Se bem que se vos taparem os olhos num ambiente de sauna masculina então terão certamente mais com que se preocupar. Mas aposto que se o mesmo método fosse adoptado num parque de estacionamento do centro comercial mais próximo (o que também não seria muito bom sinal, diga-se) não conseguiriam identificar o vosso carro através do som. Mas é aqui que a coisa se torna curiosa: Os vossos vizinhos certamente conseguiriam! Porque, na verdade, os alarmes das viaturas não servem para alertar os donos, ou mesmo a polícia, de que algum furto está a ser levado a cabo. Serve, isso sim, para incomodar as restantes pessoas.
O alarme do carro deve ser o aparelho mais deprimido de todo o sempre. Ninguém lhe dá atenção, é raro dar-lhe uso e ninguém respeita as suas potencialidades. Aliás, é frequente as pessoas irritarem-se com essas mesmas potencialidades. Isto porque o alarme do carro encontra-se numa espécie de "limbo utilitário": Não é encarado como algo ameaçador para ladrões e polícias, a quem primariamente se destina, mas é-o para qualquer transeunte comum que nenhuma ameaça representa. De facto, quem mais teme os alarmes dos carros não são os patifes, ou a bófia. É, isso sim, aquele indivíduo extremamente tímido que foi comprar papel higiénico ao supermercado e não quer dar nas vistas. É o bêbado que, à saída do bar, procura um lugar para se encostar e tem que recorrer a uma parede com três camadas de urina, por medo de accionar o alarme de um carro qualquer estacionado à porta. É a senhora, digamos, rechonchuda que se vê aflita com o dilema de passar entre dois carros estacionados muito perto um do outro ou contorná-los, por medo de disparar não um, mas dois alarmes ao mesmo tempo. São estas as pessoas que realmente temem os alarmes das viaturas! E agora digam-me: Será este um propósito digno? Gostará esta funcionalidade electrónica de ver o seu propósito tão nobre ser lacerado pela indignação justa dos inocentes transeuntes que, noutras circunstâncias, até nem lhe quereriam mal?
Como é que queremos resolver os grandes problemas mundiais se nem prestamos atenção ao bem-estar dos alarmes de viaturas? São aparelhos electrónicos? São, sim senhor. Então, nessa medida, esta pergunta será estúpida. Mas como é que queremos resolver os grandes problemas mundiais se nem prestamos atenção ao bem-estar dos inocentes que entram em contacto real com os alarmes de viaturas?
E é aqui que eu entro, com ideias e propostas que vos farão exclamar: "Meu Deus, que dor que me deu aqui nos rins!" É bem feita, eu bem vos disse para não reterem o chichi. Então, uma das soluções será a eutanásia justificada dos alarmes de viaturas; proceder-se à extinção completa desta funcionalidade, não só para acabar com a zombaria indigna de que é alvo, mas também para acabar com o constante medo que todos temos de abraçar carros na rua aleatoriamente, actividade tão divertida e compensatória. Outra solução será adaptar este tipo de alarme sonoro a alguma coisa realmente digna de atenção; por exemplo, criar uma estratégia que faça com que este alarme dispare quando estão perigosamente perto de nos descobrir a colecção de pornografia que temos em casa. Mesmo relacionado com badalhoquice, acabava por ser um propósito mais digno do que aquele que os alarmes de viaturas acabam por ter.
Se bem que, no meu caso, não seria necessário um alarme destes. A colecção tornou-se tão grande que já desisti de a tentar esconder.

Abreijo.

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