sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Maratonas de Ano Novo.

Se há coisa que não tolero, é teimosia! Mas a dos outros, que a minha até é bem pensada.
Então: passagens-de-ano. Da última vez que abordei este assunto, apelei a que se deixassem dessa coisa de mudanças de ano e que ficassem comigo sempre no mesmo ano. Ora, eu que pensava já estar bem instalado nos vossos coraçõezinhos de pedra, pensei mesmo que fossem responder ao meu apelo. Até comprei um chupa-chupa a cada um, daqueles grandes das feiras que até as mais badalhocas concorrentes dos reality shows da TVI levariam... dois dias a chupar, vá.
Mas não, vocês preferiram deixar-me sozinho no ano anterior, feito parvo. Não que não o seja, mas isso a nível ético fica-vos muito mal. Depois uma pessoa acaba por se aborrecer de brincar com partes específicas do corpo e é obrigada a ir ter com vocês. Mas tudo bem, que não perdem pela demora...
Então, o que é que há de mal desta vez em relação aos réveillons? A uma primeira vista não haverá assim grande coisa, dirão vocês, e como já vem sendo habitual os meus olhos servirão então de lentes de grande alcance à vossa miopia persistente. A verdade é que, e isto dito em traços muito gerais (falo em traços gerais que é para não ter que escrever muito): existem tradições a mais nas passagens-de-ano. Pessoalmente, o aproximar do Ano Novo costuma deixar-me perplexo, daí talvez a minha tentativa anterior de evitá-lo. Só de pensar em Ano Novo, começo logo com suores muidinhos. E não são daqueles suores que uma pessoa tem quando vai à casa daquela prima que entretanto cresceu muito proporcionalmente, são suores desagradáveis. Porque, aquando da passagem-de-ano, já sei que não vou ter fôlego para fazer tudo o que a tradição manda. É que, para além disso, estou sob ameaça. Qualquer falha nos procedimentos e tenho logo azar durante o ano inteiro!
A pressão começa desde logo no conforto do lar... Logo aí, uma pessoa é obrigada a vestir cuecas azuis. Caso não tenham, podem sempre esfregar umas folhas de chá nas manchas amarelas de urina de um outro par qualquer que tenham usado recentemente. Dá azul na mesma, se não tiverem exagerado no amarelo. Depois, já no sítio e na hora dos festejos (isto supondo que não gastaram tudo em cuecas e ainda têm uns trocos para festejar fora de casa) uma pessoa tem que comer doze passas, e inventar um desejo para cada uma delas. Trata-se de inventar doze acontecimentos, caros leitores, num curtíssimo espaço de tempo em que o mais provável é já estarmos embriagados. O que se calhar até nem é mau, visto que o álcool fomenta a criatividade... e a porrada, a criatividade e a porrada. Algumas pessoas até têm o hábito de cumprir esta tradição pondo-se em cima de uma cadeira. Talvez seja para apanharem mais rede, ou assim. Há que certificar-se de que os desejos são enviados.
Ao mesmo tempo, uma pessoa tem que cumprimentar e desejar um bom ano a toda a gente que o acompanha e mesmo a alguns desconhecidos, também eles embriagados e com uma forte vontade de nos contar a sua mais recente viagem aos Himalaias. E nós ali, com a boca cheia de passas só a acenar com a cabeça, não vá uma das passas voar para o bigode do tio Eugénio e ficarmos com azar durante o ano inteiro.
Depois, há ainda a tradição de beijar alguém quando chega à meia-noite. Isto até pode ser relativamente fácil para quem for comprometido, caso ignoremos a boca cheia de passas e o aperto das cuecas azuis dois tamanhos abaixo na virilha, por serem as únicas restantes na loja depois do Natal. No entanto, para pessoas descomprometidas é apenas uma tarefa adicional para cumprir. Já não bastava estas tradições todas, ainda têm que andar a noite toda no engate. É verdade que é só para um beijo, mas se não for consentido, quem sabe... ainda dá azar.
Por fim, ainda nos pode calhar a nós também a tarefa de abrir o champanhe, ou de explodir com aquelas aquelas coisas muito giras que cospem confettis e nos deixam os ombros com uma espécie de caspa multi-colorida. Com tudo isto, e dependendo da resistência física de cada um (e do nível de embriaguez), chega a um ponto em que já não conseguimos fazer nada daquilo que estava estipulado. No meu caso, acreditem que tento todos os anos! Mas quando vou fazer o balancete daquilo que planeei e daquilo que realmente cumpri, fico sempre com uns dois ou três anos de azar acumulados.
Se alguém tiver repetidos, fale comigo.

Abreijo.

2 comentários:

A cada comentário morre uma criança em África, relativamente a cenas.
Veja lá o que vai fazer.