quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Egoísmo patriota.

O português é um ser mesquinho. E não falo de nenhum português em particular, podem ficar descansados. As vossas vidas não me interessam. Falo, isso sim, dos portugueses no geral, aqueles que hoje em dia chamamos, tão afavelmente, de "tugas".
O "tuga" é aquele senhor barbudo e grisalho que está sempre na mesa escura do canto a reclamar de tudo e com tudo, assustando qualquer pessoa que se atreva a olhar na sua direcção. É aquele velho que fura as bolas de futebol que vão parar ao seu quintal, aquele sénior de quem ninguém gosta e com quem ninguém se dá. Não duvido que este tipo de portugueses até tenha uma faceta interior boa e generosa, mas não é um interior que se possa ver assim tão facilmente com uma qualquer lanterna de poucos watts.
No entanto, este bichinho da "tuguice" pode adoptar variadíssimas formas. De facto, o que me surpreende é que, apesar de nem todos os portugueses corresponderem directamente a esta imagem, todos têm alguns pontos em comum com o raio do velho, seja em relação a política, em relação ao clima e à temperatura, em relação ao futebol ou em relação... a acidentes internacionais "de grande porte". (E é aqui que entra a parte da galhofa e da boémia, em que eu digo parvoíces e vocês, supostamente, riem-se.)
Sim, o português - ou o "tuga", mais propriamente - é aquele ser capaz de desvalorizar todas e quaisquer catástrofes internacionais: sejam elas naturais, de acção humana ou, possivelmente, de origem alienígena. E o "tuga" continuará para sempre a depreciar tudo isso, a menos que - e isto é crucial - seja informado da existência de algum compatriota português entre as vítimas. Aí descamba tudo! Só nesse momento é que esse, até então, pequeno infortúnio em solo estrangeiro se torna numa calamidade merecedora de toda a sua atenção e compaixão. Ignore-se o número de vítimas, a quantidade de habitações demolidas, os litros de água salgada engolidos pelos sacrificados... Desde que não haja lá nenhum português pelo meio, minimiza-se o cenário e a situação haverá de se resolver por si. Que choramingas, esses desalojados...
E o que me assusta não é o facto de o "tuga" pensar assim. Dele eu já esperava isto. O que me mexe aqui com as entranhas (sim, afinal não sou assim tão oco) é o facto de essa também se estar a tornar na primeira preocupação dos órgãos de comunicação social. Pode ter sido um acidente de extremo aparato, mas ao menos nenhum português se magoou; e é isto que se considera ser importante noticiar em primeiro lugar, ainda antes de se saber sequer o que realmente aconteceu. A ordem de ideias é a seguinte, exemplificada por uma conversa entre dois típicos "tugas":

- Oh lá... uma catástrofe enorme ceifou a vida de milhares de pessoas naquele país que ninguém sabe muito bem onde fica. Que giro...
- E havia por lá algum português?
- Não, felizmente.
- Ah, menos mal... Dá-me aí esse agrafador.

E pronto, volta-se à leviandade. Mal esta última informação é divulgada, o "tuga" volta a emborcar a cerveja pousada na tal mesa do canto, com medo que entretanto as bolhinhas lhe fujam todas da garrafa. Isso sim, seria uma catástrofe!
A presença de um colega "tuga" torna todo e qualquer assunto merecedor da maior das atenções por parte do português comum. É por isto que defendo a necessidade da presença de um português em todo o tipo de assuntos que sejam merecedores de atenção: seja no campo da política, da economia, da ciência ou da criação da perdiz vermelha em cativeiro. Não gozem, é um assunto sério.
Enfim, muitas coisas explicam o porquê de Portugal não brincar muito com os outros meninos. Eu apenas apresentei aqui um dos aspectos que mais me apela, na condição de... parvo. Se o vosso objectivo era serem elucidados acerca de condutas económicas em contexto de crise ou do estado da balança comercial do país quando comparado com as dos seus congéneres europeus, então ou não costumam vir aqui ou estão infinitamente à espera que eu me torne numa pessoa séria.
Em qualquer dos casos, aconselho-vos outras leituras.

Abreijo.

1 comentário:

A cada comentário morre uma criança em África, relativamente a cenas.
Veja lá o que vai fazer.