terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Parcelamentos capilares.

Não sei qual de vocês andava esta noite a fazer barulho no meu armário do quarto, mas parem com isso que a minha namorada queixou-se a noite toda. Até gemia, parecia que lhe estavam a atacar o estômago, ou assim...
Bom, já aqui falei de cabelo. Várias vezes, até... É um assunto sobre o qual era capaz de escrever uma tese inteira, caso houvesse alguém interessado em ouvir as minhas opiniões sobre folículos capilares. Mas enfim, já se sabe que neste país não há o hábito de dar importância às grandes questões.
E a pergunta que dará início a toda esta... chinfrineira é, então, a seguinte: Porque raio é que o cabelo da cabeça é o único aceitável, e até desejado? (Reparem que chegam a ser duas perguntas numa só; há que poupar caracteres, que isto não está fácil para ninguém.) Porque, vejamos, o cabelo da cabeça não é diferente do cabelo das costas. Pela vossa saúde, não é! É exactamente igual aos outros cabelos, só aparenta ser diferente porque o deixamos crescer e damos-lhe formas giras. E logo aí vemos começarem os preconceitos: porque é que na cabeça temos cabelo, e no resto do corpo temos "pêlos"? E os pêlos, não são cabelo também? E o tomate, não é um fruto? Bom, penso que já estarei a ultrapassar os limites desta nossa discussão. Esta questão do tomate fica para outra salada. (Que piada, meu Deus!)
De facto, o cabelo da cabeça só tem a importância que tem porque é o menino mimado da sociedade contemporânea. Antigamente não havia exclusão de qualquer tipo de cabelo, havia até um culto de manutenção e melhoramento dos vários cabelos. Quando hoje vejo o meu vizinho a podar os arbustos do quintal, bate-me a saudade e relembro antigos tempos de glória em que uma zona púbica bem farfalhuda era motivo de orgulho. Se eu pentear os pêlo púbicos todos acham estranho, e dizem que eu sou nojento, e que não uso mais a escova deles; mas pentear os pêlos capilares já não faz mal, e é muito giro!
Há toda uma panóplia de produtos para manter, melhorar, mudar, moldar e manietar o cabelo da cabeça, mas pouco ou nada há para o cabelo do peito, por exemplo. Aliás, o desejável até é arrancá-lo! O único tipo de cabelo que se pode dar ao luxo de ser socialmente aceitável, para além do da cabeça, é o das pernas. E até esse de forma extremamente condicionada, porque é apenas aceitável nos homens e já não é qualquer homem que o vê com bons olhos. Algumas mulheres também tentam adaptar este estilo às escondidas, principalmente durante o Inverno quando não destapam as pernas. Mas nelas já não fica tão giro. Confiem em mim.
E não me venham com o argumento de que o cabelo da cabeça é o mais bem aceite porque é o que salta mais à vista. Esse argumento cai por terra, por exemplo, no contexto de um clube de striptease. Nesses lugares, a zona da cabeça é das últimas para onde se olha. E nem nestes casos se vê uma valorização dos restantes cabelos, estão ali elas (ou eles, dependendo da preferência) rapados que nem bebés de colo. Até os cabelos faciais, também eles designados por um nome diferente, são tão visíveis como os da cabeça e mesmo assim são tidos como indesejáveis: a chamada barba, que antigamente era sinónimo máximo de virilidade, superior até à posse e ostentação de um pénis, tem vindo a marcar cada vez menos presença nas faces masculinas (e até em algumas femininas) de todo o Mundo. Diz-se ser sinónimo de desleixo, de despreocupação com a aparência. Então se uma barba mal-aparada é sinónimo de desleixo, deixar crescer cabelo na cabeça também não o devia ser? E o que dizer das sobrancelhas e das pestanas, que se desaparecem cai o Carmo e a Trindade? Eu não conheço nem o Carmo nem a Trindade, mas o que é facto é que caem sempre em alturas escandalosas.
Sejamos sérios em relação à matéria capilar, meus amigos... Não vamos cair no erro de menosprezar certos tipos de cabelo, enquanto primamos por outros. Se querem deixar crescer então deixem crescer tudo, não só parcelas.
E mesmo que este texto não tenha sido suficiente para vos fazer mudar de ideias, ao menos que tenha servido para me dar a possibilidade de escrever a frase: "... posse e ostentação de um pénis...".

Abreijo.

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