quinta-feira, 18 de julho de 2013

Professores inacabados.

Que me perdoem os que tive até hoje, mas há uma certa categoria de profissionais que simplesmente não consigo tolerar. Esses profissionais são, como não poderia deixar de ser, os professores. Até porque diz no título, e era mau estar agora a contrariar-me a mim próprio. Eu nunca faria isso! Quer dizer, talvez fizesse... Ou não, não sei.
Mas atenção que não são todos os professores, até porque respeito bastante o enorme esforço de pessoas que têm como função educar bestas como eu. Para além disso, não quero ter os sindicatos à perna. Os professores que eu tenho sérias dificuldades em aceitar como bons profissionais são aqueles mais preguiçosos, que desistem de fazer o seu trabalho a meio. Poderão reconhecer facilmente este tipo de profissionais da educação: São aqueles que obrigam os alunos a acabarem-lhes as palavras. Sim, existe um tipo de professores que acha que o seu dever não é ensinar, mas sim treinar as crianças para uma eventual participação futura em concursos televisivos de adivinhar palavras.
A aula dá-se da seguinte forma: O professor entra e cumprimenta os alunos. Logo aí, já gastou 15% da sua energia. Depois, tira o livro da pasta e indica aos alunos a página do início de matéria. Mais 5% para o galheiro. É então que se começa a mentalizar de que vai ter que se levantar e escrever no quadro. Gasta mais 20% de energia, só de pensar. O acto de levantar-se e realmente escrever no quadro desgastam, respectivamente, 30% e 60% da sua energia. E reparem que já vamos num total de 130%, pelo que se conclui que ou eles se esforçam muito para além das suas forças, ou eu sou mesmo bastante fraquinho a matemática. Ou então fui mal ensinado.
É, portanto, inevitável que, quando chegar a altura de perguntar aos alunos "Como se chama a figura geométrica que desenhei no quadro?", só lhe reste energia para dar a meia-dica: "É um qua..." E pronto, fica a bola no campo dos alunos. E a estes apetece dizer: "QUADRADO! Como você, sua besta!" Mas não dizem, senão têm negativa. A verdade é que, da palavra quadrado, por exemplo, a parte mais difícil é mesmo o "... drado", que ainda exige algum trabalho de língua.
Mas talvez mais incómodo do que isso é o silêncio constrangedor que fica na sala, perante a pergunta meio-respondida do professor. Porque os alunos até podem saber a resposta na totalidade, mas sentem-se a fazer papel de parvos ao ter que completar a frase do professor. Isso não é fixe, nem radical, nem baril! Okay, "stôr"?
Que direito têm, então, estes profissionais de exigir um salário completo? Porque é que não recebem apenas um "salá...", com um valor a metade do normal? Se nem se dão ao trabalho de tentar completar as suas próprias frases, porque razão lhes temos que de dar boas condições de vida, quando lhes podemos proporcionar apenas "... de vida" e deixar-lhes angariar o resto?

Abreijo.

sábado, 13 de julho de 2013

Tecelagem e estética.

Indo muito para além do argumento aceitável acerca da sua complexidade, o ser humano alcança muitas vezes a fronteira da estupidez. E entra à patrão, sem quaisquer controles alfandegários. Sim, eu sei que também sou um ser humano e que, por extensão, serei também estúpido. Mas não me importo porque, no meu caso, é por escolha própria. A vida de estúpido sempre me seduziu, desde pequeno.
Ora, e que tipo de comportamento estranho é que denunciarei desta vez, perguntam vocês nesse vosso tipo de voz anasalada? Ah, sei lá... Talvez aquela mania de colocar bocados rectangulares de tecido no chão para lá roçar os imundos pés, por exemplo! Sim, vamos discutir tapetes. Se têm problemas com isso, podem substituir a leitura deste texto pela ingestão de uma sopinha de leguminosas. É bastante mais saudável.
Há poucas diferenças entre uma casa adornada com imensos tapetes e o meu quarto no final da semana. Em ambos os casos, há muita roupa espalhada pelo chão. Mas, por alguma razão, é perfeitamente aceitável andar em cima de tapetes, enquanto que se puser os pés em cima da camisa que usei ontem para o casamento da minha prima em segundo grau já sou só porco. É que é em segundo grau, só! Se fosse em primeiro, até percebia a indignação.
É que, pensem: O principal propósito dos tapetes, para além da limpeza de pés, é o embelezamento. Alguns servem para voar, mas só no imaginário de alguns árabes mais frequentes no uso de "ervas medicinais". Ou seja, o que se propõe é espalhar roupa pelo chão para a casa ficar mais bonita. É o equivalente a untar propositadamente o corpo com lama, algo que se acontecer involuntariamente é considerado nojento, para embelezar a pele. Não se percebe...
E o mesmo também se aplica a carpetes. A queixa mais comum por parte de pessoas que forram o chão da casa a carpete está relacionada com a dificuldade de limpeza da mesma. A minha queixa em relação a essas pessoas é que ainda estejam presas na primeira metade século XX, porque já ninguém usa carpete. Usar carpete pouco mais é do que agasalhar o chão. Não passa de uma solução rudimentar para abafar os passos quando, a meio da noite, nos apetece ir para a sala de estar ver pornografia da boa. É aí que está a televisão com ecrã maior. E, como todos sabem, o tamanho importa. Quer em relação à pornografia, quer em relação ao ecrã onde a visualizamos.
Para além disso, acho os tapetes de entrada uma abominação em relação à ética e aos bons costumes. O que aquilo implica, basicamente, é que dispensemos algum do dinheiro que nos custou a ganhar para comprar um bocado de tecido onde as nossas visitas possam depositar toda a imundice que trouxeram da rua através dos sapatos. "Olha, queria entrar mas tenho os sapatos cheios de entranhas de javali, que fui hoje à caça." Não faz mal, esfrega aí no tapete que me custou 50€, dinheiro que podia perfeitamente ter servido para alimentar a minha família que está à míngua há quase três meses.
Vou fazer uma experiência: Vou colocar à porta de casa uma t-shirt com "Bem-vindo" estampado. Quero ver quantas pessoas lhe vão esfregar os pés.

Abreijo.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Puro, duro e cru.

Eu chateio-me bastante com as pessoas. É raro elas chatearem-se comigo, o mais comum é ser eu a chatear-me. As pessoas já me ligam pouco.
Uma das minhas chatices costumeiras com pessoas prende-se com a carne. Não a minha nem a delas, mas a carne no geral. Há pessoas que gostam de comer carne praticamente crua. Tão crua que, ao espetar-lhe o garfo, corremos o risco de perfurar um vaso sanguíneo do animal que afinal está só atordoado no prato e que começa a esguichar sangue para todos os cantos da sala. E eu questiono-me acerca das verdadeiras intenções desta gente: Será que o meu colega de trabalho vai comigo a bares apenas para me deixar a marinar em vinha d'alhos? Terá o meu vizinho do lado a intenção de me devorar com os raminhos de salsa que me vem pedir à porta semanalmente? Custa viver assim, na dúvida...
Por alguma razão se descobriu o fogo, caro leitor visado. Não foi só pelo efeito visual, que de facto é bastante belo, mas também para nos certificarmos de que o animal em cima da mesa está realmente morto e já não dá coices. Também para propagar um bom cheiro a chicha pela caverna fria e sem-sabor de outros tempos. Bifes mal passados comiam os homens das cavernas, e mudaram completamente de hábitos depois de um deles, especialmente iluminado, ter descoberto como fazer uma fogueira só com dois pauzinhos! Podemos inquirir-nos acerca do que estaria o indivíduo a fazer roçando dois pauzinhos dentro de uma caverna, mas vou-vos poupar a isso. Afinal, o tema é comida.
É que, agora, o chique é ser-se selvagem. Quando vejo um leão com a boca besuntada de sangue e com um naco de carne bastante rosada sob as patas dianteiras já não penso tratar-se de um animal selvagem: É um gato gourmet. Quando vejo um urso pardo caçar peixes no rio e levá-los directamente à boca, já não o considero um animal perigoso e implacável: É um mestre de culinária, verdadeiramente requintado. E sim, o sushi está também inserido nesta brincadeira! Se quisesse comer peixe cru, virava golfinho e ia fazer truques para o Zoomarine.
Concluimos que ser chefe de culinária acaba por já não ser tão difícil como era antes. Basta apontar para uma vaca e dizer: "Prova, é o meu novo prato. Está bastante mal cozinhado, mas faz parte da magia do prato." Ao que o provador responde: "Mas que prato, se a vaca ainda está no campo a pastar e a afastar moscas com o rabo?" Nem é preciso ter nenhum tipo de cuidado especial com o empratamento, basta que a vaca não esteja coberta do seu próprio estrume. O que, com uma boa mangueirada estratégica, é relativamente fácil de conseguir.
Assim também eu sou cozinheiro!

Abreijo.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Colecção pequeno/médio.

Há quem diga que o melhor do Mundo são as crianças. Há quem diga também que o melhor do Mundo é comer um gelado numa esplanada mirando o vasto areal, onde casais desinibidos atiram a precaução ao mar e decidem estragar as suas férias gozando de uma alergia nas zonas genitais devido à areia que se lhes entranha nas partes baixas.
Eu sou mais adepto da segunda hipótese. Até porque a primeira, apesar de não estar errada, está incompleta. Eu também gosto de crianças (e alerto aqui para o simples verbo "gosto" para que não haja confusões), mas há que encarar com seriedade as suas limitações. E nem falo nas suas limitações motoras ou verbais, características da idade. Até acho piada a uma criança que não consiga fazer um quatro com as pernas quando está bêbada. O que mais me aflige nas crianças é o seguinte: Já viram o dinheiro que se gasta ao longo da vida em roupas para criança? São rolos de dinheiro que gastamos com estes pequenos seres. E não falo apenas de um pequeno par de calças ou de uma t-shirt. Gasta-se sempre muito mais do que isso.
Do boné ao sapato, passando pela roupa interior da fase pós-fralda, são tudo roupas que já sabemos que irão deixar de servir num futuro bastante próximo. Até pode ser um bom investimento, caso queiramos ter um número de filhos idêntico ao de uma pequena maternidade. Mas, mesmo assim, duvido muito que o Pedrinho queira vestir a mesma saia que em tempos vestiu a Leonor, que agora é prostituta e já nem saia veste.
Comprar roupa para crianças é como investir em determinada tecnologia, hoje em dia: Já sabemos que dali a uns meses teremos que comprar outra mais recente. A diferença é que, enquanto os aparelhos tecnológicos vão ficando cada vez mais pequenos, a roupa para as crianças tem que ser cada vez maior. E de marca, que os meninos começam eventualmente a tomar-lhe o gosto!
"Qual é a tua solução então, espertinho?!", perguntam vocês com a boca ainda cheia de batatas fritas. Engulam isso, é feio. Visto que a eliminação das próprias crianças seria uma medida demasiado drástica e, ao que parece, até bastante imoral , vejo-me na obrigação de propor uma política do desenrasque: Porque não enrolar a criança num lençol e mostrar-lhe desde cedo como viviam os antigos gregos? Ou envolvê-la num cortinado assim mais extravagante e ensinar-lhe os modos de conduta do antigo império otomano? O que eu não faço pela cultura...
É verdade sim senhor, podem sempre dar as roupas aos mais necessitados. Até é um acto nobre. Resta saber se os próprios miúdos necessitados querem realmente vestir a mesma roupa que em tempos vestiu a Leonor prostituta, que trabalha agora lá na esquina e lhes fornece maços de tabaco fanados aos clientes.
Em último caso, parem de ter filhos. É simples, basta não se roçarem na praia enquanto tento desfrutar do meu gelado.

Abreijo.

domingo, 23 de junho de 2013

Puxões e empurrões.

Deixemo-nos de assuntos triviais que acrescentam pouco, deixemo-nos de minudências que não interessam a ninguém. Vamos falar a sério! Estou a brincar, foi só para o susto...
A verdade é que o tema de hoje é, realmente, de uma escala significativamente maior. Dirijo-me a vós, embora textualmente, neste tão belo dia de Sol/vento/chuva (dependendo da vossa zona geográfica) para vos dar conta de um assunto de extrema gravidade. Que é, justamente, a gravidade. Cá está, o primeiro trocadilho! E que bem metido, diga-se de passagem.
Falo, obviamente, daquela força da natureza que atrai as coisas, e que com a falta dela nos vemos a flutuar. Não são os seios de senhora, mas a gravidade. E a gravidade é tão... grave porquê? Porque não tem sido suficientemente compreendida pela maior parte das pessoas. A gravidade, caro leitor, é a Terra a ser impertinente. A existência de gravidade significa que qualquer parte do nosso corpo está constantemente a ser puxada para baixo. As coisas não caem, as coisas são puxadas. Quando vou na rua, por exemplo, o meu braço não está caído, a descansar. Está é a ser constantemente puxado para o centro da Terra. Logo eu, que odeio que me puxem pelo braço. E quem diz o braço diz também o cabelo, ou mesmo os próprios tintins. É um bocado egoísta, este centro da Terra...
Àqueles que estão, de momento, sentados ou deitados a ler isto: estão bastante confortáveis, não estão? Isso de estar a descansar tem o seu quê de agradável, não é? Agora pensem que, na verdade, o que vos está a acontecer é que estão a ser continuamente espalmados contra uma superfície, embora seja mole. Não estão a descansar, estão é a deixar que vos puxem. É o equivalente a estar na altura do recreio e não reagir de todo ao facto do bully da turma vos estar a empurrar contra a porta do cacifo. A gravidade é o eterno bully. Não é, portanto, de admirar que este país esteja como está. Estamos situados num planeta com altos níveis de bullying, quando podíamos perfeitamente viver na Lua ou em Marte, zonas muito menos propícias a esse fenómeno.
A existência de gravidade significa, portanto, que quando partem o vaso chinês da vossa avó podem sempre justificar-se com uma atribuição de culpas à gravidade emanada do centro da Terra. É que este, na sua eterna ganância por possuir um vaso chinês (todos sabemos que o centro da Terra pela-se por loiça estrangeira), puxou-o com força demais e este partiu-se em cacos. Sempre foi assim, quem tudo quer, tudo perde.
Significa isto também que sempre que vos "cai" uma torrada ao chão, na verdade é a gulodice do centro da Terra a falar mais alto. A torrada não caiu, a torrada fugiu-vos da mão e o centro da Terra aproveitou-se do vosso momento de descuido para tentar merendar. Não admira, portanto, que, como diz o ditado, o pão do pobre caia sempre com a manteiga para baixo. É claro que, a poder escolher, o centro da Terra não irá escolher pão em seco.

Abreijo.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Leituras assexuadas.

Só para tornar o texto mais interessante: Neste momento estou nu e só com um lençol a fazer de toga, enquanto recito Shakespeare ao crânio do meu periquito de estimação que morreu há três semanas de desgosto. Ele sempre gostou mais de cinema.
Hão-de ter paciência, mas eu não tolero o chauvinismo de género! Uma coisa é só haver marcas de sutiãs, ou de bandas de cera para mulheres (embora existam também homens bastante apreciadores destas coisas). Outra, completamente diferente, é quando estas distinções atingem a imprensa. Não me interpretem mal, sou completamente a favor de todas e quaisquer liberdades, mesmo que impliquem o não-uso de roupa interior. Essas até incito. Mas no que toca à imprensa, penso que devemos ser moderados. E principalmente no que diz respeito às mais importantes obras impressas dos nossos dias: as revistas cor-de-rosa. Não, não vou escarnecer das revistas cor-de-rosa. Não só porque tenho preguiça mas porque, em miúdo, também eu ia espreitar as páginas dos "consultórios sexuais" deste tipo de revistas. Não assobie para o lado, caro leitor...
No entanto, apesar de todo o respeito que tenho por estas páginas estratégicas, que tanto me ajudaram quando era miúdo, não posso deixar de me indignar com certos aspectos deste tipo de... literatura: Porque é que as revistas cor-de-rosa têm quase todas primeiros nomes femininos? Temos a Ana, a Maria, a Mariana, a Cláudia e a Clotilde... E porque é que não temos a Joaquim, a Fernando, a Eduardo ou a Zé Tó? E podem vocês argumentar: "Ah, mas estas revistas cor-de-rosa são claramente dirigidas para as mulheres!" Tudo bem, mas isso não implica que tenham que ter nomes comuns. Se é por isso, então que ponham últimos nomes: criem a Revista Gouveia ou a Batista Magazine, que ao menos dão a impressão de ser mais profissionais.
Para além de que existem também revistas especialmente dirigidas aos homens, e nem por isso nos vêm a ler a Revista Paulo. Até porque a maior parte destas revistas se centra bastante em fotografias de meninas nuas, e ver uma fotos dessas acompanhada pelo nome Carlão em grande e a negrito não será propriamente a melhor estratégia de marketing. Mas não temos que nos cinjir às meninas nuas, existem muitos outros assuntos pelos quais os homens se interessam. Como... vá, agora só me consigo lembrar das meninas nuas. Mas existem, garanto-vos!
E ai de nós que nos lembremos de espreitar as vossas revistas, que a nossa masculinidade é logo posta em causa! Menos quando somos miúdos, nessa altura até dá jeito ler para decidirmos a nossa sexualidade. É normal uma mulher usar a lâmina de barbear do homem para rapar as pernas, mas quando um homem lhes rouba uma banda de cera para fazer o buço já é troçado. O mesmo se passa com as revistas: É normal uma mulher ler uma revista masculina (daquelas mesmo com letras e texto corrido) porque significa que está a tentar informar-se acerca dos interesses dos homens; quando é um homem a ler uma revista feminina, ou já pôs a sua masculinidade completamente de parte ou é um tarado.
Assim não, meninas...

Abreijo.

domingo, 12 de maio de 2013

Santa saúde.

Santinho. Santinho. Santinho. A partir daqui, já estão por vossa conta.
Sim, há pessoas que abusam da boa vontade dos outros. E quando a essas pessoas se junta uma vontade parva de dar nas vistas, o povo chateia-se, e com razão! E atenção que não estou de momento a criticar pessoas, disso já estou farto. Desta vez vou criticar: narizes. "Hã, Diogo?" Exacto.
Eu bem sei que a culpa do flagelo dos espirros múltiplos não será propriamente da pessoa em si, porque compreendo que poucos apreciem fazer cara de orgasmo em público para a seguir ficar com a mão cheia de muco... Bem, avancemos. A culpa é, de facto, do nariz, que decide armar-se sem sequer nos consultar. Mas eu até o percebo, porque quando éramos miúdos também lhe invadíamos o espaço com o dedo e retirávamos de lá bastantes guloseimas sem sequer um "com licença". Raios, este texto ainda agora começou e já está bastante badalhoco...
Eu até nem me importo que espirrem três, sete ou dezanove vezes, atenção. Só que a minha boa educação, que muitas pessoas pensam (erróneamente, claro) não existir, obriga-me a ter que responder sempre que alguém espirra. E nesses termos penso que responder dezanove vezes já é abuso. É que a resposta até é um acto voluntário, só respondo porque quero e porque, no fundo, sou um amor de bichinho! Mas, como em tudo, há quem se aproveite em demasia desta minha leviandade.
Porque, reparem: Eu sou uma pessoa imensamente influente, penso que disso não haverá dúvidas. Tanto que no outro dia obriguei um condutor a abrandar porque queria passar a passadeira. Por isso tenho medo que, caso não vos diga "Santinho!", que pelos vistos é o mesmo que desejar saúde (vá-se lá saber porquê), essa vossa saúde possa vir piorar. E depois fico com esse peso na consciência: "Epá Diogo, não me disseste 'santinho' quando estava constipado e agora cresceu-me um cancro num pé!" Eu ficaria desolado com uma afirmação destas... Se o carteiro espirrar à minha frente, não obtendo resposta da minha parte, e dali a uns anos me vier entregar uma encomenda em casa com claros sinais de calvície (no carteiro, não na encomenda), eu vou inevitavelmente pensar que é por minha causa. E não quero isso na minha consciência! Por isso faço questão de responder sempre que alguém espirra ao pé de mim, seja o barbeiro que encosta os seios à minha nuca quando me apara o cabelo à volta das orelhas seja a senhora ao meu lado no autocarro que cheira intensamente a refugado.
Mas a boa educação esvai-se e a consciência deixa de me pesar quando abusam da minha boa vontade. Aí apetece-me partir narizes, desconsiderando completamente o vosso bem-estar. Nessas alturas até torço para que sejam carecas, como o carteiro!
Vá lá que algumas pessoas espirram com um sentido de ritmo, que sempre dá para trautear alguma coisa. O meu tio, por exemplo, conseguia espirrar Beethoven, até que a minha tia lhe deu com um machado na cabeça.

Abreijo.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Fanfarrões intemporais.

Um tipo de pessoas que odeio – sim, mais um – é viajantes no tempo. Se o leitor é viajante no tempo, então odeio-o. Saúdo a sua descoberta de como o fazer, mas odeio-o na mesma.
Porque quem aspira a ser viajante no tempo são, normalmente, pessoas bastante fanfarronas. A meu ver, existem três tipos de fanfarrões: Os falsos fanfarrões, que dizem ter andado à porrada com três mexicanos encapuzados quando na verdade as nódoas negras que têm nas costas foram simplesmente provocadas por andarem a coçá-las contra a barra da cama; os fanfarrões por extrapolação, que ajudaram uma velhinha na rua e fazem questão de contar a toda a gente que ajudaram algumas quatro, muitas vezes incuindo (falsamente) terem-nas levarado ao mesmo tempo para a cama com algálias e tudo; e os fanfarrões por hipótese, que juram que se vivessem na idade do gelo eram peritos a caçar mamutes.
É neste último grupo de fanfarrões que encaixo os aspirantes a viajantes no tempo. Muitos destes, por saberem que ainda não é possível fazê-lo (tirando o leitor ali em cima), não poupam nas promessas acerca do que fariam se voltassem atrás no tempo. É muito fácil falar quando se tem as costas quentes, principalmente quando é a incapacidade da ciência quem nos aquece as costas. Senão, vejamos: Quantos de nós não nos imaginamos já a voltar atrás no tempo e a impedir os nossos pais de descobrir aquela colecção de revistas marotas que tínhamos naquele compartimento especial da mochila da escola? Talvez menos importante: Quem nunca desejou, por exemplo, voltar atrás no tempo e acabar com a vida de um ditador que tenha matado milhares de pessoas, aproveitando a altura em que ele ainda usa fraldas?
Saberão, no entanto, que aquele bebé, aos olhos das pessoas da altura, é apenas... um bebé, correcto? Portanto, se matassem o pequeno ditador aconteceriam, muito provavelmente, duas coisas: Primeiro, seriam considerados assassinos (de roupas extravagantes) por terem matado um pobre bebé indefeso; segundo, ninguém se lembraria do vosso feito no presente porque o miúdo nunca teria sequer chegado a saltar das fraldas para ir posteriormente matar pessoas. Ou seja, seriam provavelmente enfiados numa prisão do século XX com condições de sanitário do século XV, tudo por terem cometido o acto atroz de matar um pequeno bebé.
E aquelas pessoas que acham muito giro viajar no tempo com um GPS para mostrar ao pessoal da época dos Descobrimentos, que por acaso também são portugueses? Habituam mal os bravos navegadores e depois fazem o quê quando acabar a bateria? Indicam-lhes através de gestos o melhor caminho marítimo para a Índia? Dão-lhes dicas acerca de onde devem estacionar o barco, com a “Gazeta do Marinheiro” na mão?
Com tudo isto, pergunto-vos: Não seria melhor manterem-se por casa?
 

Abreijo.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Defeitos e feitios.

Eureka! Comecei o texto com uma palavra estrangeira, o que logo aí lhe transfere uma carga de prestígio imensa. Mas não só por isso deve este texto ser engrandecido. Fiz, de facto, uma descoberta que, a par com o vinho tinto, pode ser tida como uma das mais revolucionárias para a nossa sociedade... portuguesa.
É verdade, meus tubérculos, descobri finalmente o porquê dos portugueses chegarem sempre atrasados! Qualquer pessoa de qualquer parte do Mundo que já tenha entrado em contacto com portugueses sabe do que estou a falar. É daqueles hábitos que, a par com o rodar o palito na boca e o dar indicações usando os dois braços e, por vezes, uma perna, mais caracterizam este belo povo. Até agora, ninguém tinha ainda percebido o porquê do português andar sempre a correr atrás do relógio, de estar sempre uns bons vinte minutos atrasado para qualquer evento, desde o casamento até à sessão de cinema. E este é um mal geral, reparem: Qualquer português que se preze sabe que algo combinado para as 16h só começará, no mínimo, às 16:20h, seja um projecto de trabalho ou uma orgia. No caso da indústria pornográfica, são ambos.
E porquê? É esta a questão que impera, e que até agora tem dado cabo da cabeça de muitos estrangeiros. Sim, porque os portugueses já nem se importam... Habituados estão eles! É muito simples, os portugueses chegam sempre atrasados porque têm uma confiança astronómica em si mesmos. Apesar das inúmeras indicações do contrário, e de já se ter atrasado imensas vezes à conta disso, o português é um eterno convicto de que consegue chegar sempre a tempo. A frase que melhor exemplifica isto constitui-se por apenas duas palavras: "Temos tempo."
São 09:25h, um português está no ginásio e sabe que se não for ao duche dentro dos próximos cinco minutos nunca chegará a tempo da reunião das 10h. No entanto, a fé que tem nas suas capacidades de movimentação rápida é tanta que acaba por ficar mais um quarto de hora a mirar as miúdas com calças daquelas que se apertassem mais um bocadinho rebentavam-lhes com as coxas. E no fim, está claro, chega o português um quarto de hora atrasado à reunião por ter falhado nas estimativas que fez acerca das suas capacidades de movimentação. Ele sabia, lá no fundo, que não ia chegar a horas, mas ao mesmo tempo estava plenamente convicto de que era desta vez que ia conseguir! O que lhe vale é que ninguém se importa, porque naquela reunião estão bastantes homens e todos eles compreendem o valor de um bom rabo.
Posto isto, como é possível pensar-se sequer em repreender os portugueses, um povo tão confiante e ciente das suas capacidades? Que na maior parte das vezes não correspondem à realidade, é certo... Mas o que conta não é a intenção?

Abreijo.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Perspectivas coloridas.

O texto que se segue poderá ser confuso para muitos leitores. Foi elaborado por um profissional em confusões, pelo que a sua recriação por parte de pessoas menos bem preparadas não é de todo aconselhada. Incentiva-se todas as pessoas com nós no cérebro a desatá-los previamente, porque no fim deste texto ficarão possivelmente com um nó à marinheiro que é bastante lixado de desatar. Acreditem, eu já fui escuteiro.
Portanto, falemos sobre cores. Mas falemos sobre cores numa perspectiva masculina, que se torna bastante mais simples. As mulheres conseguem arranjar cinquenta tonalidades diferentes para uma cor que um homem menos dedicado classificaria apenas como "púrpura". E a questão é a seguinte: Será que todos vemos as cores da mesma forma? Quando era miúdo, esta era um dos mais prementes dilemas da minha vida. Agora que sou uma miúda, e toda boa, deixei-me disso. Mas continuo a achar este tema curioso.
Então é o seguinte: será que o meu azul, por exemplo, é igual ao do caríssimo leitor? Será que a cor que ambos convencionamos como sendo azul é a mesma? Imagine - se quiser, ninguém o obriga a nada - que ambos olhamos para a rua e constatamos estar um lindo dia de céu azul. No entanto, o que para mim é azul para si poderá ser verde. Portanto, o que eu estou realmente a ver, na sua perspectiva, é um céu verde, enquanto que para mim a mesma cor chama-se azul. É estranho, não é? Já pensou na eventualidade de todos nós, na verdade, vermos coisas diferentes quando olhamos para aquele ecrã clássico do Windows? Aquela planície cuja cor para todos nós se chama verde, pode no entanto estar a ser vista por todas as pessoas de cores diferentes. O meu verde e azul pode ser o que você classificaria como vermelho e rosa. No entanto, para mim continua a ser verde e azul.
Imagine-se a andar na sua rua e ver alcatrão cor-de-laranja, árvores cor-de-rosa e telhados bege, enquanto come uma banana vermelha. E se realmente for assim que a pessoa ao seu lado a comer um iogurte castanho vê o Mundo, mas nenhum se apercebe da diferença de perspectivas? Repare que estou a supôr que tem hábitos de alimentação saudáveis, podia falar também em cachorros-quentes cinzentos ou em fatias de pizza brancas.
Já pensou também na hipótese de a cor (ou cores) associada a um clube de futebol poder, na verdade, variar de adepto para adepto? Imagine que é benfiquista e que se encontra no estádio a defender as cores da sua equipa. O que você chama de vermelho pode, para o indivíduo suado e sem t-shirt que está a berrar ao seu lado, ser azul, mas para ele continua a ser vermelho. Vai deixá-lo safar-se assim, sem uma cadeirada na nuca?
Sim, eu sei que estou a excluir neste texto os leitores daltónicos. Mas no vosso caso tudo se torna ainda mais confuso. Parem lá com isso!

Abreijo.