domingo, 28 de abril de 2013

Prostituição senciente.

Ai o amor... É tão lindo, o amor. Principalmente aquele suadinho, praticado entre várias pessoas ao mesmo tempo. Mas aí já não é bem amor, a maior parte das vezes passa a pura badalhoquice. E é justamente este o tema do texto que vos trago nesta bela tarde de Sol. Ou manhã algo ventosa. Ou noite bastante nublada. Sei lá, não adivinho como está o tempo aí!
Que tema é esse? O amor? Não, a badalhoquice. Talvez o leitor ainda não tenha reparado, mas por vezes tenho a tendência para a crítica. O problema é que criticar pessoas, coisas e pessoas em contacto com coisas já não me é suficiente. Por vezes, penso que devia prestar mais atenção ao detalhe. E é por isso que hoje decidi, em vez de criticar pessoas inteiras, criticar apenas... órgãos, mas de pessoas inteiras. E para continuar na onda das especificidades, criticar apenas os órgãos dos sentidos, ou seja, responsáveis pelo nosso sistema sensorial. "E o que têm os órgãos dos sentidos a ver com a badalhoquice, Diogo?", perguntam vocês nessa vossa voz fininha e irritante que me fura os tímpanos. Primeiro, façam-se homens! E se forem mulheres, desapertem um bocado o sutiã que pode ser isso que vos está a comprimir as cordas vocais. Principalmente as mais peitudas.
Ora, é muito simples: os ouvidos e o nariz são os órgãos dos sentidos mais badalhocos. E porquê? Porque não filtram nada, não seleccionam, não barram nem nos deixam barrar nada à porta. Porque, vejam: Se não quiserem ver o rego do rabo daquele electricista que anda já há duas semanas lá na vossa rua a passear o escadote de poste em poste, podem sempre fechar os olhos. Se estiverem preocupados com a possibilidade de levar com um carro no meio das rótulas, por terem fechado os olhos no meio da estrada, então nem precisam de os fechar: Basta desviar o olhar para outro sítio que não a cratera traseira do senhor. Com o paladar e o tacto o caso também não tende a ser muito complicado, porque costumamos ter hipótese de escolha: se não quisermos saborear alguma coisa (mau hálito não conta), basta não abrir a boca para enfardar; se não quisermos sentir alguma coisa, basta não ir lá tocar feitos parvos. É verdade que há pessoas que gostam de brincar com instrumentos de cabedal, algemas e afins e muitas vezes são obrigadas a sentir coisas que se calhar não queriam, mas isso já é da sua inteira responsabilidade.
Já a audição e o olfacto são as prostitutas dos sentidos, porque não podemos evitar o que "consumimos" através destes meios. É verdade que se estiver a ouvir rádio, facilmente mudo de uma estação que esteja a transmitir música agitada de Sábado à noite para outra que transmita apenas sons calmos do mar, incluindo pessoas a afogar-se ou discussões políticas profundas (literalmente) entre uma comunidade de robalos. Mas se estiver numa fábrica de conservas tenho que levar com o barulho das máquinas, quer queira quer não. Posso sempre tapar os ouvidos, mas toda a gente que teve uma infância sabe que isso não funciona a não ser que acompanhemos com "Lá, lá, lá, lá, lá..." Com o olfacto, temos um caso muito semelhante. Nós não escolhemos o que cheiramos. Se numa missa solene se descuidarem ao meu lado, não consigo desligar o cheiro da bomba intestinal do meu vizinho de modo a cheirar só o incenso que o padre tinha queimado alguns minutos antes. Vem tudo ao mesmo tempo para as narinas aqui do menino. E, mais uma vez, não posso simplesmente tapar o nariz, até porque dizem que não faz bem à saúde. Pelo que dizem, precisamos de ar para respirar, ou algo do género...
Deixo-vos, então, com esta constatação bastante profunda: Muitos pais acham algo desagradável que a sua filha seja prostituta - não todos, porque alguns até parecem incentivar - quando, na verdade, todos nós acabamos por ser um bocado prostitutas. Mais do bigode para cima, mas somos. E das badalhocas, não das selectivas!

Abreijo.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Terapia de grupo.

O leitor confunde-se com facilidade? Eu devo confessar que sim, confundo-me bastante... É uma das poucas falhas de coordenação mental que possuo, até porque sou uma pessoa bastante completa nesse campo. Independentemente do que possam dizer os meus psicólogos. Qualquer um dos dezassete.
É frequente confundir-me, inclusive, quando me encontro num aglomerado de pessoas. Porque está muita coisa a acontecer, está o João a mexer na palhinha da bebida do Guilherme enquanto a Marta dá palmadinhas no rabo do Artur; está a velhinha com sacos de compras a bater com a mala num carteirista enquanto um mendigo lhe rouba as alfaces do saco... É muita coisa. Por isso, considero refrescante quando as pessoas decidem ser confusas todas ao mesmo tempo e em torno de um comportamento comum.
Falo, então, do aplauso. Quem é que decretou que bater com as mãos uma na outra de forma a fazer ruído era sinónimo de agrado e admiração? É por causa do som, que é interessante? Será que ver indivíduos a autoflagelarem-se ao nível das mãos é, de alguma forma, divertido? E, claro está: Eu, confuso, vou atrás e imito os padrões comportamentais destas pessoas, para não pensarem que até desgostei da mesma coisa que elas, pelos vistos, adoraram.
A ideia geral é a de que isto surgiu na altura da Grécia Antiga e que envolvia, como quase tudo naquela altura, gladiadores. Mas eu desconfio que o aplauso tenha raízes mais profundas no âmbito do comportamento humano. Ninguém me tira a ideia de que um australopiteco tenha, a dada altura, dito para si mesmo: "Epá, gostei bastante da forma como o Un'garamadunga lidou com aquele tigre dente-de-sabre. Vou bater com as mãos uma na outra para o demonstrar." Isto na língua deles, claro.
E é isto que nós parecemos, basicamente. Pouco mais que macacos. Depois de termos criado a linguagem verbal, a linguagem escrita, a semiótica e outros sistemas de sinalética, decidimos que um "clap, clap!" é muito mais digno do que um "Olhe, desculpe, apreciei imenso o seu trabalho". Poderá o caro leitor argumentar, com razão, que esta frase é grande demais para se dizer, por exemplo, durante uma peça de teatro. Mas foi também por isso que criamos o "Fixe!". O "fixe" concentra tudo isso, toda a nossa imensidão de sentimentos agradáveis e prazerosos face ao trabalho de outrem, em apenas quatro letrinhas.
Não me façam falar é na convenção que se decidiu arranjar para o "fixe" em linguagem gestual. É tema para outra tertúlia. E, curiosamente, parece que inclui outra vez gladiadores.

Abreijo.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Altos e baixos.

Não sei se muita gente tem conhecimento disto, mas todos nós vamos morrer. Eu percebo essa vossa reacção, também fiquei estupefacto quando me disseram. Mas parece que é mesmo verdade. A mim até nem me dava muito jeito, porque descongelei uns bifes e agora não sei se vou ter tempo para os comer. Bem, esperemos que sim.
Apesar desta surpresa inicial, o facto de começar a ter consciência da minha morte não alterou assim tanto a minha conduta diária. No máximo, fiz questão de cancelar as minhas assinaturas e comecei a comprar os meus jornais pontualmente. Gosto de manter a caixa de correio limpa. Mas há pessoas que, profundamente afectadas pela sua efemeridade, decidem que o ritmo em que vivem já não é suficiente para todas as coisas que ainda têm para fazer. E eu até aceitava isso de bom grado, caso essas tarefas fossem de especial relevância. No entanto, à maior parte das pessoas o tempo só pesa quando estão em centros comerciais.
E como os centros comerciais são, regra geral, assim a atirar para o grande, vou-me concentrar numa zona específica deste tipo de espaço: as escadas rolantes. É de facto uma invenção extraordinária, esta das escadas rolantes. Um simples elevador é um espaço muito restritivo e um bocado sem graça, que só damos conta de estar a mexer caso haja algo de errado com os cabos que o seguram. Já as escadas rolantes têm uma outra dinâmica completamente diferente: Transportam-nos na mesma para diferentes pisos e são extremamente libertadoras, pois permitem-nos olhar com uma certa superioridade enquanto subimos para todos os que estão abaixo de nós. Fazem-nos parecer importantes! Ah, e lá de vez em quando também conseguimos ver alguns rabiosques, enaltecidos através de uma colocação estratégica da perna no degrau de cima.
É neste tipo de espaços, onde se inclui também a passadeira rolante, tão popular em aeroportos, que as pessoas mais preocupadas com a brevidade da vida se revelam. Mesmo estando numa escada rolante, que implica que não seja preciso sequer mexer um pé para se subir um piso inteiro, estas pessoas fazem questão de dar à perna na mesma. Ou seja, claramente não satisfeitos com a velocidade do aparelho, estes indivíduos parecem querer provar à escada ou passadeira rolante que conseguem descer mais rápido do que elas. Quando éramos miúdos ainda se percebia, até porque normalmente nós competíamos contra o aparelho mas no sentido contrário ao que ele se dirigia: Se fosse a subir, nós tentávamos descer, e vice-versa. Até que chegava o segurança e estragava a brincadeira toda. Em gente adulta, isso já não fica tão giro.
O certo é que, normalmente, os centros comerciais também oferecem a alternativa, cada vez menos popular, é certo, de subir ou descer através de escadas imóveis, daquelas antigas de cimento. Nesse tipo de escadas sim, já é aceitável que subam à velocidade que bem entenderem. Só que isto não é suficiente para estas pessoas. Para além da velocidade dos seus membros inferiores, também querem ter o balanço das escadas rolantes. Só assim alcançarão o seu destino mais depressa do que todos os outros. E porquê, irão apagar algum fogo no piso da restauração? É possível, não sei bem.
Eu sou uma pessoa que preza a humildade. É por isso que sou tão magnífico. Pelo que me irrita profundamente quando estou quieto numa escada rolante e alguém me toca no ombro pedindo licença e ultrapassando-me a toda a velocidade, como que afirmando ser superior a mim. Nessas alturas só me apetece empurrar borda fora essa pessoa que ia antes a toda a velocidade em direcção à secção de roupa do piso quatro, mas que agora vai em descida a pique até ao piso um. E de cabeça.

Abreijo.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Alfredo e os frutos secos.

Tau, eu bem dizia que a vossa avó não durava até aos oitenta anos!
Bem, e já que o tema é falecimentos, vamos tentar arranjar algo para criticar em relação à Páscoa. Vou deixar Jesus em paz, que toda a gente fala nele nesta altura quando a única coisa que ele quer, no fundo, é treinar a equipa. Sou muito bom em trocadilhos, eu...
E a vossa notória curiosidade perante o tema que me traz aqui hoje obriga-me a ter que esplaná-lo o mais depressa possível, a ver se não vos dá uma coisinha entretanto. Então, reparem bem nisto: Amêndoas... de chocolate. Tenho a plena noção de que poderia finalizar o texto por aqui, tal a confiança que tenho de já terem percebido o meu dilema quanto a esta confecção típica da época. E é justamente isso que vou fazer. Adeus, bom dia!
Estava a brincar, aquele senhor ali atrás de bigode ainda não percebeu. Como é que se chama? Alfredo, que nome exótico...
Ora bem, senhor Alfredo: A minha principal contenda com as amêndoas de chocolate é que, no fundo, não são amêndoas. E nem é por causa da cobertura de açúcar, repare. Também podia argumentar que as amêndoas de Páscoa tradicionais não se deviam chamar simplesmente amêndoas, mas sim "amêndoas mantidas em cativeiro por uma cerca de açúcar". Sim, sei que seria um nome um bocado longo. Mas com isso eu até lido bem. O que me indigna profundamente nas amêndoas de chocolate é o facto de se apropriarem do título de amêndoa - um título de prestígio, como é do conhecimento de todos - quando nem sequer possuem na sua composição qualquer réstia de frutos secos! Porque, note, senhor Alfredo: Amêndoa é o caroço de dentro, o resto é açúcar. Se substituem o caroço por chocolate, deixa de se poder chamar amêndoa. É chocolate com açúcar, só isso. Juntava-se leite, mexia-se e passava a ser leite com chocolate. Também há quem diga "leite achocolatado", mas eu tento evitar adjectivações.
Isto é gravíssimo, meu caro! Senão pense: E se você fosse agora ali à tasca da esquina pedir um bitoque e lhe trouxessem um pires inteiro de papas de arroz? Você ficaria indignado, com certeza, até por força das catorze minis que tinha bebido entretanto. Então e se lhe derem chocolate açucarado quando você pede um pacote de amêndoas, já é aceitável?
Peço desculpa aos restantes leitores por não vos ter dado a atenção devida durante o decorrer deste texto, mas realmente senti necessidade de esclarecer o senhor Alfredo. Esta é uma questão bastante sensível, que deve ser explicada e discutida com a maior calma e seriedade possíveis. Isso e porque homens de bigode impõem respeito.

Abreijo.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Elasticidade cultural.

Um dia, estavam os meus pais em casa a ver o "Preço Certo em Escudos" quando a minha mãe deixou cair o comando da televisão e baixou-se para ir apanhá-lo. O meu pai, encarando aquilo como um sinal provocativo de acasalamento, agarrou nela pelos cabelos, disse "Uga, uga!" e arrastou-a até ao quarto, onde atearam chamas sem sequer precisar de roçar duas pedras. É mais ou menos assim que imagino a minha concepção.
Ora, dali a nove meses nasci eu, que hoje em dia vos escrevo para falar acerca do país onde nasci. Sim, porque apesar de tudo o que se lhe possa apontar, Portugal chega mesmo a ser um país. E mais do que isso, é um país de coisas maravilhosas. E porquê, por causa dos seus pastéis de nata ou do seu património histórico rico em porrada entre familiares? Não, por causa dos seus pavimentos. E começam já vocês a pensar: "Então mas ele vai falar de calçadas, e tal? Que piada é que isso tem?" Nenhuma, de facto. E se soubessem esperar, deixavam-me explicar. Está bem?
De facto temos calçadas muito belas e distintas, constituídas por paralelos que, bem arremessados, são capazes de deixar mossas bastante bonitas no carro do chefe da empresa. Mas toda a gente sabe que, hoje em dia, cada vez se vê menos se vê deste tipo de pavimentação. E porquê, por causa da maior facilidade em se alcatroar as estradas? Porque a calçada faz dói-dói na viatura? Também, mas não só. Cada vez se vê menos calçada porque esta está a ser obliterada pela indústria das pastilhas elásticas.
Hoje em dia é, de facto, raro vislumbrar-se calçada. O que vemos é um sem-fim de figuras coloridas e de formas diversas no chão, já ressequidas do Sol. Aquela brincadeira de olhar para o céu e identificar figuras nas nuvens pode agora ser feita observando-se o passeio a caminho do quiosque lá da rua. No outro dia podia jurar ter visto um comboio inter-cidades numa pastilha cor-de-rosa que me ficou presa na sola do sapato. Escusado será dizer que a diversão é imensa! Quando tiver filhos, ofereço-lhes todos os natais um puzzle feito de paralelos: "Descubram o objecto de casa-de-banho que se consegue formar com todas estas pastilhas elásticas, que foram mastigadas por desconhecidos!", direi eu todo entusiasmado e com os dedos em ferida de ter andado a arrancar pedras da calçada.
Agora fora de brincadeiras, do que este país precisa é de um Pastilhão em cada esquina. E não falo daqueles "pastilhões" que ficam até às 7h da manhã nas discotecas da baixa da cidade a espumar-se pela boca, até porque as pastilhas destes até nem incomodam muito o ambiente. Falo, sim, de um contentor do lixo reservado especialmente para pastilhas elásticas, que quando ficasse cheio se pudesse, por exemplo, destruir e fazer uma espécie de boneco de neve multi-colorido com o conteúdo.
Era limpeza da via pública e arte contemporânea, ao mesmo tempo.

Abreijo.

Aprender irritando.

Depois de todas as facetas de indignação que aqui já vos transmiti, não me admiraria que ficassem com a ideia de que sou uma pessoa antipática. Mas não, na verdade sou tão simpático como um cão com cio. Com jeito até sou capaz de me agarrar à vossa perna, se gostar mesmo de vocês.
No entanto, tenho que admitir que por vezes tento evitar certos tipos de pessoas. Mas tipos muito específicos, que vão um bocado além daqueles que a generalidade das pessoas tenta ao máximo evitar. Com drogados posso eu bem, por exemplo, pois temos mais ou menos o mesmo estado mental. E até com políticos me dou bem, principalmente porque quase só os vejo na televisão. Também não faço muita questão de aprofundar amizades com eles. Tento, isso sim, evitar ao máximo pessoas que me irritam profundamente, daquelas que se tivesse uma pistola à mão era capaz de disparar sem hesitar. Não para elas, mas para os seus tios-avós mais chegados, ou assim. Só para aprenderem!
E é raro haver quem me consiga irritar mais do que pessoas que estão a tirar a carta de condução. E atenção, não estou a falar de pessoas que já têm licença para conduzir! Falo, isso sim, de pessoas que ainda estão em vias disso. Tirar a carta de condução é como uma gripe, é algo que dá e passa. E ainda bem que assim é, porque nessas alturas as pessoas ficam insuportáveis e nem com termómetros no recto isso lhes passa. Acreditem, eu já tentei...
E ficam insuportáveis porquê? Porque as pessoas que tiram a carta de condução querem sempre tentar ao máximo mostrar que sabem. Quando se está a tirar a carta, os níveis de show-off de uma pessoa aumentam na casa dos 98,73%, de acordo com números oficiais... do meu cérebro. E isso até se percebe num contexto de aula, ou de uma prova de avaliação. Em qualquer outro contexto, não é assim tão relevante. Porque, vejam: às pessoas que nunca tiraram a carta de condução não lhes serve de nada que andem a balbuciar factos rodoviários a toda a hora, elas simplesmente não fazem nem querem fazer ideia do que vocês estão a falar; às pessoas que já tiraram a carta de condução, provavelmente também lhes servirá de pouco porque, lá está... já tiraram a carta!
No entanto, continua a haver uma quantidade alarmante de parvalhões que não conseguem acabar um café curto com amigos sem lhes falar em contra-ordenações graves, ou ir de pendura num carro sem dar palpites acerca do estacionamento da pessoa ao volante. Se está ao volante, muito provavelmente já sabe conduzir! Certo? Certo.
E depois passa-lhes. Como por milagre, mal estes indivíduos começam finalmente a conduzir acabam por perceber que os seus conhecimentos não eram assim tão especiais. (Quase) Todas as pessoas que andam na estrada também os tinham. Afinal, não eram nenhuns génios rodoviários. Incrível, não é?
Eu, por exemplo, raramente fazia isso na escola. Independentemente da quantidade de conhecimentos que tivesse, não fazia muita questão de os debitar. Na maior parte das vezes, até me tentava esconder debaixo da saia da Carla "Badalhoca" sempre que o professor fazia uma pergunta para a turma. Às vezes fazia-o só por lazer, tanto meu como dela. Mas na maior parte das vezes era por causa disso das perguntas...

Abreijo.

terça-feira, 12 de março de 2013

Um texto naj'oras.

Introdução relativamente longa e que pouco ou nada tem a ver com o assunto tratado no desenrolar do texto mas que mesmo assim é escrita, possuindo uma tonalidade cómica, não só para me acharem uma pessoa extremamente interessante e engraçada, mas também para ocupar espaço.
Bom, chegou a hora. De quê? Disto. E calha bem, porque quero-vos falar precisamente sobre as horas. Não tenho nada contra as horas, até acho que é uma forma muito boa de nos orientarmos e tal. Evitamos estar a olhar para o Sol cada vez que queremos saber em que altura do dia estamos. Diz que faz mal à vista. E o que durante a noite ainda é mais difícil, porque o Sol esconde-se e uma pessoa fica sem saber se é hora de almoçar ou de cear. Há quem diga que quando o Sol se esconde significa que anoiteceu, mas eu prefiro não dar voz a esses extremismos pouco fundamentados...
O verdadeiro problema aqui é a forma como muitos de vocês (sim, vocês!) decidem transmitir as horas. Se eu quiser dizer "São 8:50h", tenho à minha escolha três formas de comunicar esta informação. A primeira, e a meu ver a mais consensual, será: "São oito e cinquenta". É simples e é rigorosa, pois é sem tirar nem pôr aquilo que o nosso relógio nos diz. Estamos a transmitir ipsis verbis a informação que acabamos de ler.
A segunda forma que arranjamos para dizer as horas, e aqui já começamos a entrar no campo do improviso, é: "São dez para as nove". E até aqui tudo bem, é uma técnica já mais arriscada de transmissão de informações horárias mas ainda bastante aceitável. Não há mal nenhum nisso. Desde que, lá está, continuemos no espaço temporal presente.
Sim, porque a terceira forma de dizer as horas, talvez a mais frequente hoje em dia, pretende ser mais original e ir mais além do que as outras, acabando por ficar no entanto com fortes tonalidades de "bazófia". É, então, aquela fantástica formulação: "São nove menos dez". Epá, porquê?! Para quê essa pressa toda? Não estão satisfeitos com as oito horas? Elas fizeram-vos assim tão mal para já se quererem situar nas nove horas? Porque é que falam sempre como se já estivessem na hora a seguir, menosprezando a hora em que realmente estão? Isto não vale como viagem no tempo, meus senhores e minhas senhoras. Só porque dizem que são seis menos vinte não significa que estejam na dianteira em relação às pessoas que dizem que são cinco e quarenta. Estão ambos no mesmo espaço temporal.
É que se querem avançar assim tanto no tempo, então podemos dizer: "São quatro menos uma hora", o que significa que são três horas. Porque não? Ou então: "São vinte e quatro menos doze horas", sendo, então, meio-dia. Já que é para aparvalhar, então que sejamos megalómanos. E mesmo noutros contextos, porque não dizer à senhora do mercado: "Olhe, queria três quilos de laranjas menos um". O que significaria que só queríamos dois quilos de laranjas e muito provavelmente um murro na cara por parte da senhora. Elas não brincam.
É isto, caros leitores. Deixem de querer ser mais do que são no que diz respeito ao espectro temporal. Se ainda não estiverem convencidos, então pensem: não vos dá mais trabalho dizer "Tenho trinta e quatro anos menos três", do que dizer "Tenho trinta e um anos"? Para além de que se disserem que são nove menos dez parece que querem ser dez minutos mais velhos à força. Tenham calma, não é por avançarem dez minutos no tempo antes de todas as outras pessoas que já vão ter idade suficiente para conduzir e figurar em pornografia.

Abreijo.

sábado, 9 de março de 2013

A mentira e o caprino.

Pantufa. Pantufa, pantufa, pan-tu-fa, pantufa. Gosto bastante da palavra pantufa... Infelizmente só costumo usar chinelos.
Bom, fui difamado. Acusaram-me de ser mentiroso porque, para efeitos de comédia, disse ter feito algo que na realidade não fiz. Foi apenas uma pequena invenção para dar outra cor à piada que formulei na altura, na minha cabeça. Mas fui descoberto, e agora não consigo dormir. E porque é que não consigo dormir? Porque tenho um vizinho novo cujas cordas vocais estão convencidas de que são familiares directas das cordas vocais do Pavarotti. Mas só de manhã durante o banho, quando ele sai do banho voltam ao seu estado normal. O meu vizinho, não o Pavarotti... Enfim.
Não, isso não me incomoda minimamente. Chamem-me aldrabão à vontade que eu não me importo. No que toca ao humor, a aldrabice chega a ser uma arte, quando bem aplicada. De facto, a mentira faz muitas vezes parte da própria essência do factor cómico. Quem nunca acrescentou certos factos a uma história para a tornar mais engraçada? Se eu disser que o Tobias foi a uma reunião de trabalho sem gravata porque entornou-lhe café em cima, a história não é assim tão engraçada. No entanto, se eu disser que o Tobias foi a uma reunião de trabalho sem gravata porque emprestou-a a um panda que queria cometer suicídio por não ter conseguido entrar num novo filme da Disney, a história já se torna mais interessante. E atenção, este é um exemplo onde só se substituem alguns elementos da história.
De facto, há casos em que a própria história na sua totalidade é inventada. Porque as histórias contadas muitas vezes nem aconteceram. Se eu disser: "Um inglês, um francês e um português foram a um bar..." Não pá, não foram! Podem ter ido a um bar, mas cada um na sua vez. Acho muito difícil terem ido todos juntos. A menos que estejamos a falar na cafetaria da sede da ONU, aí pode muito bem ter acontecido. Ora, isto é logo o início da história. Se a história já começa com uma mentira, torna-se óbvio que o resto também o será. Mas com este tipo de piadas vocês não reclamam! Sabem que é mentira, mas papam tudo! Já eu não posso dizer que usei um pé-de-cabra para assaltar um multibanco mas depois fui devolvê-lo à cabra porque ela batia sempre com o focinho no chão quando tentava andar. Disso vocês já não papam, é uma mentira e um ultraje! Mas tem piada, portanto digo-o. Desde que essa mentira não prejudique ninguém, não há problema. Neste caso até foi bom para a cabra, que todos os dias me agradece com dois queijos pela manhã. Já só tenho que comprar o pão.
E depois há ainda as mentiras que são ditas só para que se possa introduzir um determinado tema. Como esta história de me terem chamado de mentiroso. É mentira, foi só para poder escrever este texto.
Até loguinho.

Abreijo.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Ócio gregoriano.

Antigamente, bastava passar-se aproximadamente quinze minutos num qualquer café para se ouvir a expressão: "Isto está mau!" Hoje em dia, basta sair à rua e ouvimos um senhor a dizer isso ao seu cão, que acabou de defecar em pleno passeio. Só o dinheiro gasto em sacos de plástico implica menos um bife por semana para o pobre senhor. É da maneira que vai menos vezes ao supermercado e adquire menos sacos de plástico. Olha, boa...
De facto, a vida está difícil para todos. Quer dizer, para quase todos. Sim, porque existem certas entidades que ainda agem como se não fosse nada com elas, que ainda vivem na ostentação e na ociosidade. Mas esta gente não tem televisão em casa, não vê as notícias? Falo, como é óbvio, no mês de Fevereiro. Sim, o mês de Fevereiro! Poder-se-á classificar um mês como uma entidade? E se sim, será relevante aferir se tem televisão em casa ou não? São tudo questões deveras interessantes, que só não respondo de modo a fomentar o vosso espírito crítico.
Ora bem, feito o engonhanço inicial, e apresentado o tema, vamos aprofundar a questão mesmo até lá abaixo. Fevereiro é preguiçoso. Fevereiro é aquele gajo que nunca aparece no planeamento e na elaboração dos trabalhos, mas que não falha no dia da apresentação. Basicamente, Fevereiro é um mês indolente e armado em vedeta. Trabalha menos que os outros, mas mesmo assim acha-se no direito de figurar no calendário. E logo num dos primeiros lugares! Porque, vejamos: Alguns meses têm trinta e um dias, outros só têm trinta. E tudo bem, uns são menos produtivos que outros mas ainda assim vê-se que se esforçam. Junho, por exemplo, compensa o dia a menos de trabalho com o facto de ser um mês no qual o calor já aperta bastante e as meninas começarem a sentir necessidade de esquecer a existência de roupa. E, assim, todos ficam contentes.
Agora, vinte e oito dias?! A sério, Fevereiro... A preguiça tem limites! Não queres trabalhar, dá lugar a outro mês qualquer. (Reparem que estou a falar em discurso directo com... um mês. Portanto, é isto. Estou a falar com um mês. E não me droguei, juro!) Em vez do Fevereiro, instituímos o... Ladrilheiro. Olha, nem fica mal: Janeiro, Ladrilheiro, Março... Ou então ficamos só com 11 meses oficiais, pronto. Mas que sejam meses a sério! O resto do tempo aproveitamos para comer uma merenda, ou para visitar a nossa avó que vive do outro lado da floresta. Aquilo ainda é grande, e leva o seu tempo.
Mas como todos os preguiçosos, vemos que também o mês de Fevereiro não vive de consciência livre. Por vezes esta pesa-lhe tanto que lá de quatro em quatro anos ele lembra-se de trabalhar mais um dia. Mais um dia, vejam bem! Meu Deus, que custoso... É que nem nesses anos Fevereiro alcança o nível de produtividade dos outros meses. É o mesmo que eu pensar: "Pronto, em quatro anos não ajudei a minha mulher com as limpezas da casa. Amanhã vou levantar os pés quando ela passar o aspirador!" Não serve de nada, caríssimo Fevereiro. A inutilidade continua lá!
E dizem vocês: "Mas tu nem tens mulher!" E eu respondo afirmativamente, com um gracioso aceno de cabeça, arrastando-me tristemente para os meus aposentos.

Abreijo.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Super-texto-não-muito-grande.

Não gosto de criminosos. Eu até percebo a parte deles, têm que subsistir de alguma forma e o que eles fazem até chega a ser uma espécie de lazer. Principalmente os crimes que envolvam fugir, tiros, e assim. É lucro, jogging e caça, tudo ao mesmo tempo.
E em detrimento de eu não gostar de criminosos, por outro lado gosto muito de super-heróis. Bastante, até. Se eu pudesse, casava-me com um super-herói. Mas já se sabe como é este país, só interessa o casamento homossexual e os abortos. Quem tem tara por super-heróis, lixa-se. No entanto, sou da opinião que os super-heróis têm andado já de algumas décadas para cá num impasse ideológico muito grave. Existe muita falta de originalidade e muita preguiça no que diz respeito à dinamização do ramo do super-heroísmo.
Senão, vejamos: Que razão há para se ter parado na caracterização dos super-heróis com base em animais? Ou seja, porque é que os super-heróis se inspiram apenas em animais para criarem a sua persona? Às vezes até se percebe, existem animais cujo porte é realmente intimador e merecedor desse privilégio. Mas porquê só animais? Porque é que não há o Homem-Arranha-Céus, que também é bastante imponente e se cair ainda faz uns estragos valentes? É que na maior parte das vezes os animais nem são muito grandes, e muitos deles até são simples insectos. Porque é que os super-heróis se baseiam sempre em bichos pequenos, tipo aranhas, vespas e morcegos e não escolhem ser o Homem-Urso, ou o Super-Baleia-Branca? Chegou a existir o homem-elefante, mas esse possuía um rol de super-poderes muito escasso... Era muito à volta do assustar criancinhas. E vocês podem argumentar: "Ah e tal, são animais pequenos mas são mais ágeis e habilidosos." Ai é? Então ponham um morcego a lutar contra um urso pardo, a ver quem ganha.
A menos que os super-heróis sejam todos zoófilos - e eu espero bem que não, senão lá se vai grande parte da minha infância -, não há razão nenhuma para que todos queiram ser animais. Eu quando era miúdo também imitava cães e até toiros, mas nunca ladrei para o meu pai nem passei uma tarde de Domingo a afiar os cornos. Se os tenho, que pareçam naturais. É como as mamas.
Se há o Homem-Aranha, o Homem-Morcego, o Homem-Formiga e até o Homem-Peixe-Porco (quanto ao último já não tenho a certeza, posso ter sonhado com isso), porque é que não pode haver, por exemplo, o Super-Abajur, o Homem-Banco-de-Jardim ou, mesmo, o Escrivaninha-Man? Fugia-se um bocado ao tema dos animais e inseria-se o super-heroísmo no âmbito da decoração de interiores, uma área nova, fresca e em tons de fúcsia.
Enfim, existem tantas áreas para as quais se podem virar... Vejam o exemplo daqueles super-heróis de todos os dias, aos quais pouca importância damos. Falo-vos do Homem-do-Talho, da Mulher-a-Dias ou do próprio Homem-do-Saco, que tantas vezes salva os pais de terem que ter paciência em relação à educação dos filhos. Basta ameaçar chamar este super-herói e o trabalho fica feito. É um super-herói que nem precisa de aparecer. Estes sim, são exemplos de heroísmo e coragem! Os Super-Homens deste Mundo deviam pôr os olhos nestes heróis, que escolhem situações triviais do dia-a-dia para basearem a sua identidade. Que nem tem que ser secreta, aliás! O senhor Joaquim Barreiro não tem problema nenhum em admitir que é o Homem-do-Talho da sua aldeia, e isso é de louvar. Também isso faz parte da sua mística.

Abreijo.