domingo, 14 de junho de 2015

Enumerar numerosos números.

“Trrim, trrim! Trrim, trrim!"

O vosso telemóvel está a tocar, não vão atender? Que toque tão antiquado, já agora… Quem será que vos está a ligar? É o vosso pai, a vossa mãe? O vosso chefe, o líder da vossa boy band, para gravarem um novo tema? Ou é um número que não conhecem? E, já agora… Como é que me identificariam esse número?

É aqui que começa a confusão, meus caros indivíduos. É na forma como dispomos os números de telemóvel, telefone, fax ou qualquer outro aparelho que exija a memorização de uma sequência numérica para o seu uso diário. Em específico, a forma como se parcelam esses números.

Eu vivi feliz até aos meus dez anos. Quando, aos onze, os meus pais decidiram que era altura de me comprar um telemóvel, por causa do sucesso do meu negócio de venda de lápis-de-cera comestíveis (que na verdade não o eram, mas eu dizia que sim porque sempre fui muito empreendedor), comecei a perceber que o Mundo não era cor-de-rosa. Quer dizer, eu sempre desconfiei, porque na minha infância as únicas coisas cor-de-rosa que havia eram as saias de um tio meu que tinha uns tiques esquisitos.

Mas foi a partir do momento em que tive de começar a dar o meu número de telemóvel às pessoas que percebi o que a vida custa. Como é que se deve dizer, afinal: através do clássico 900-000-000?; do 90-000-00-00?; do 90-00-0-000?; até do 9-000-00-000?; ou através do modelo de parcelamento de números de telefone mais utilizado em programas de televisão, o 900-00-00-00?

Sim, meus queridos coisos, aquelas pequenas pausas entre os conjuntos de números fazem toda a diferença! Não pensem que isto sou só eu a ser picuinhas, porque isso raramente é verdade. Se nos esticarmos em demasia nos números - com um 900000000 todo seguido, por exemplo -, até podemos, em casos extremos, falecer com falta de ar, tanto que hoje em dia já toda a gente reconhece a importância de uma respiração contínua e adequada. Porque é que continuamos, então, a exercer vários métodos distintos de parcelamento de números? Onde estão os regulamentos relativos a esta questão, Sr. Director deste tipo de cenas?

Além disso, a forma como parcelamos o nosso número de telemóvel pode fazer toda a diferença, por exemplo, num encontro de negócios, ou mesmo no próprio engate. O que acontece se a pessoa com quem queremos conectar tiver um sistema de parcelamento diferente do nosso e não gostar da forma como nos organizamos numericamente? Podemos acabar por deitar o negócio por terra, ou, pior ainda, o engate...

É por isso que, desde pequeno, quando me pedem o meu número de telemóvel - principalmente as gajas, aquelas mesmo boas e com bastante dinheiro para me comprar caixas inteiras de lápis-de-cera -, eu limito-me a mostrar-lhes o ecrã do telemóvel e evito dizer-lhes o número porque tenho medo de falecer com falta de ar. E também porque, vá lá, gosto de me fazer difícil.

Para terminar, perguntam-me vocês: "Gostosão, porque é que, neste texto, o teu número só tem um 9 e o resto é tudo 0?" Porque sim. Às vezes devemos deixar algumas questões por responder, de forma a que possamos adquirir uma melhor experiência deste espectáculo de luzes, cor e alegria a que chamamos vida.

E também porque não queria dar-vos o meu número verdadeiro, ouvi dizer que vocês são todos uns oferecidos.

Abreijo.

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