domingo, 2 de janeiro de 2011

Devaneios natalícios.

O Natal é uma altura mágica, um verdadeiro regalo para os olhos, para o gosto, para o nariz, para a audição e, até, para o tacto, ao passarmos a mão pelo rabo e sentirmos a carteira fininha e vazia no bolso de trás das calças.
No entanto, e por muito bom que isto possa parecer - até no aspecto da carteira, pois permite que nos sentemos sem nos preocuparmos com a possibilidade ou não de partir o cartão de crédito - existem facetas da estupidez humana que apenas se acentuam ainda mais nesta altura do ano, ideias (mal) pensadas especialmente para esta quadra repleta de quantidades enormes de alegria e de mais dígitos na conta da electricidade.
Falo, obviamente (e se o caro leitor ainda não adivinhou, ou não costuma vaguear por este blogue ou tem níveis de Q.I. iguais ao número de calorias numa folha de alface), na tradição dos presépios vivos. Ora, há seres vivos aos quais eu até perdoo o facto de não se mexerem, de ficarem uma vida toda no mesmo sítio a levar com Sol, com vento ou, mesmo, com todo o microclima que se criou à volta da barriga do Fernando Mendes. No entanto, até estes seres conseguem realizar actividades minimamente... activas vá, seja a fotossíntese, o crescimento de frutos, a emanação de oxigénio ou, mesmo, a capacidade de correr atrás de uma bola com outros 10 companheiros e atribuir a si próprio o título de "jogador da Selecção Nacional" (já que estamos a falar em "florzinhas").
O ser humano, porém - e tinha eu esta ideia -, caracteriza-se por ser uma das excepções à regra. Ele deve-se mexer, fazer, realizar, aproveitar-se do facto de lhe terem sido atribuídos membros - quatro, regra geral; se bem que possam haver excepções (já aqui faltava o belo do humor negro) - para contribuir em algo para a manutenção do modo de vida no nosso Planeta Azul. Não querendo apontar o dedo a ninguém, é óbvio que há pessoas que deviam morrer com pauzinhos de gelado entalados na garganta, pelas atrocidades que proporcionam à vida e vivência humana (Bush), mas ainda sonho com o dia em que o Mundo será regido pelo pessoal da Greenpeace a par com a Polícia Internacional da União das Verduras (PIUV).
No entanto, e voltando ao tema, gostaria que me respondessem a uma pergunta: Os presépios vivos não têm o intuito de mostrar cenários bíblicos de outra forma que não com figuras feitas em barro e com pinturas muito mal feitas? À primeira vista, apontaria para uma resposta afirmativa. No entanto, alguém muito esperto decidiu que os presépios vivos deveriam ser exactamente a mesma coisa, mas com seres humanos a fazer de estátuas. Ou seja, substituiu-se as figuras em barro por seres humanos, mas a imobilização manteve-se.
"E porque é que isto te indigna?", perguntam-me vocês mas em voz alta porque estou a ouvir a Stayin' Alive dos Bee Gees a altos berros (o volume até está baixo, o vocalista é que consegue irromper pelas colunas como qualquer homem com mais de 50€ por entre qualquer réstia de bom-senso que ainda possa existir dentro da Elsa Raposo). Indigna-me porque quando vou ver um presépio vivo espero sempre mais animação: três reis magos em cima de camelos e a falar sobre a situação política nos seus reinos, um burro e uma vaca em despique para ver quem dá coices mais fortes ou, até, e à falta de melhor, muitas luzes, música a altos berros e bebidas efeminadas, para dar um ar mais moderno à coisa.
Tantos caracteres para dizer o quê? Deixem de chamar aquilo de presépio vivo, passem a chamar de presépio imóvel, staring contest, exemplificação dos níveis de alegria nas festas da Lux. Enfim, algo que me faça acreditar em qualquer réstia de sanidade humana, pelo menos na época do Natal.

Xie xie,
Abreijo.

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