sexta-feira, 11 de abril de 2014

Incógnito de nascença.

Uma coisa que me tem vindo a preocupar cada vez mais é a eventualidade de vir a ter filhos. Não me preocupo tanto com o acto causal em si, porque essa área eu até domino relativamente bem. Aliás, todas as minhas parceiras sexuais até hoje elogiaram a minha capacidade argumentativa e deram-me nota vinte em criatividade. Preocupo-me mais, isso sim, com o tipo de criatura que vai ser expelida pelas zonas baixas da progenitora.
É que os nossos filhos são aquelas pessoas com as quais vamos ter que lidar durante o resto das nossas vidas, goste-se ou não. A menos que os deixemos ao lado do vidrão logo à saída do hospital, ou que eles nos coloquem no lixo indiferenciado quando chegada a velhice, os nossos filhos serão da nossa responsabilidade durante a vida toda. Se fomos nós que os colocamos no Mundo, já agora mais vale acatar com as consequências.
O que mais me inquieta é que fazer um filho não é, por exemplo, como fazer amigos: Os amigos nós podemos escolher, basta beber um copo juntos e partilhar um pires de tremoços para ter a certeza; a amizade dá-se quando conhecemos superficialmente alguém e escolhemos se queremos ou não lidar com essa pessoa mais a fundo. Já no caso dos filhos, não somos nós que escolhemos. Muitas das vezes, quem escolhe por nós até é o copo e o pires de tremoços, ambos em quantidade suficiente para despacharmos o serviço com a primeira pessoa do sexo oposto que nos aparecer à frente. E como não somos nós a escolher os filhos que nos calham, temos de nos sujeitar ao que nos sai na rifa! Há também quem os trate como uma colecção de cromos, e abra vários pacotes de três ou quatro unidades até encontrar uma que ainda não lhe tenha saído. Mas, para isso, mais vale fazer colecção de carros clássicos, que é capaz de ficar mais em conta.
É que o raio dos miúdos aparecem literalmente do nada, a meia-viagem da nossa já bastante trabalhada e planeada vida, e instalam-se ali no centro, sem sequer marcar reserva ou ter o cuidado de ligar de antevéspera para avisar. O primeiríssimo alerta que nos dão em relação à sua futura presença no cerne das nossas vidas é quando batem à porta do estômago da progenitora causando-lhe náuseas e vómitos. É desta forma deplorável que recebemos uma notícia de tamanho calibre, mas ninguém parece importar-se. Seria como se no fim de uma entrevista de emprego soubéssemos que fomos contratados devido ao facto do empregador nos ter enviado pelo correio uma marmita com os restos regurgitados do seu jantar.
Para além disso, aceitamos também que outro ser humano entre tão facilmente dentro na nossa companheira, quando nós próprios andamos em algum período das nossas vidas a investir uma carrada de tempo e de dinheiro só para conseguir galá-la. Há algo de profundamente injusto nisto.
Os nossos filhos podem vir a ser uns cretinos e uns completos estúpidos quando crescerem, mas a verdade é que vamos ter que os aturar. Por isso é que, conhecendo-me como conheço, tenho receio de vir a descobrir como vão ser os meus filhos...
Vale-me o facto de, com a vida que levo, não os vir a conhecer tão cedo.

Abreijo.

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