quarta-feira, 18 de março de 2015

A essência do bocejo.

Eu não quero parecer aborrecido, mas... Porque é que abrimos o raio da boca quando estamos aborrecidos? Ou cansados? Ou sonolentos? Ou tudo junto?
Bocejar é algo que faço há dezenas de anos, mas só agora me lembrei de questionar o porquê. Se o tivesse feito mais cedo, talvez tivesse engolido menos moscas da fruta ao longo da vida. Não sei porquê, mas o raio dos bichos pelam-se pelo interior da minha boca. Eu nem sequer como assim tanta fruta quanto isso...
Não questiono, no entanto, o que nos leva a bocejar. Compreendo que haja uma série de reacções químicas e corporais relacionadas com o cansaço que nos levem a fazer isso. Questiono, isso sim, o porquê de ser aquela reacção, e não outra. Porque é que não nos dá para espirrar ou para bater palmas, quando estamos cansados? Até era da maneira que nos mantínhamos acordados...
Mas não, o que acontece é que abrimos a boca que nem um hipopótamo no dentista, dilatamos imenso as narinas e ficamos com umas espécies de espasmos na garganta que nos contraem as vias respiratórias, o que, no fundo, imagino que sejam um pouco como fazer sexo sadomasoquista. Não sei, nunca fiz... Nem sexo, nem sadomasoquismo. Ouviste, mãe?
Outro problema é que o raio da coisa é contagiosa! Uma pessoa pode ter acabado de dormir umas boas oito horas no camarote presidencial de um bom hotel à beira-mar, mas se a funcionária que lhe for buscar os lençóis para lavar abrir a boca que nem um alarve, então todo aquele quarto passa a parecer uma peça de ópera onde senhoras gordas cantam palavras indecifráveis num tom que só os cães conseguem ouvir.
Porque, é o seguinte: os carros têm um tubo de escape; os comboios, para além de um apito que "lá vai a apitar", têm uma caldeira; as fábricas têm chaminés; e até algumas panelas têm um buraquinho por onde guincham quando já estão muito quentes e cansadas. Já os seres humanos, e alguns outros animais, têm só uma figura ridícula e que lhes servem de pouco, já que, independentemente das vezes que bocejarem, o sono e o cansaço vão continuar sempre lá, até finalmente irem dormir.
Outra característica irritante do bocejo é que dificilmente se consegue disfarçar. O caro leitor deverá conhecer perfeitamente, até pela experiência, a cara com que ficamos quando tentamos esconder um bocejo... Parece que voltamos ao tempo em que éramos puros símios e comemos uma banana especialmente podre sem dar conta.
No fundo, a minha indignação deve-se ao facto de apenas aceitar abrir a boca várias vezes ao dia por duas únicas razões: ou porque estou a comer snacks de amendoins e quero colocar a maior quantidade possível deles entre as mandíbulas, ou porque estou a passar o dia numa praia a contemplar seios especialmente belos e abro a boca, não só por admiração, mas também porque tenho esperança que algum daqueles voluptuosos pares me vá parar a cada uma das bochechas da cara.
Tudo isto para dizer que não entendo o bocejo, pronto. Agora vou dormir, porque já bocejei três vezes em frente à janela do quarto e tenho medo que os vizinhos chamem a polícia por pensarem que estou a gritar com alguém cá em casa; ou isso, ou que estou a treinar uma ópera de Puccini.
Em qualquer dos casos, não admito que pensem isso de mim.
Abreijo.

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