terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Um país de irrequietos costumes.

Há quem diga que a corrupção impera em Portugal, o que eu condeno. Portugal não é um país de corruptos, é um país de hiperactivos com défice de atenção.
Sim, é verdade. Mudam-se os tempos, muda-se o palavreado. Antigamente, se eu me portasse mal e o meu irmão me desse um pontapé nas canelas estava apenas a educar-me; hoje, sofro de bullying. Antigamente, se eu me recusava a comer alguma coisa os meus pais enfiavam-me pela boca adentro; hoje, tenho um distúrbio alimentar. Antigamente, se eu não parava quieto e não prestava atenção na escola era mal-comportado; hoje, sou hiperactivo e tenho défice de atenção.
É isto que me parece que se passa com o nosso pequeno jardim à beira-mar plantado. O problema não está no jardim, nem pensar, mas sim no adubo que foi usado para o fazer crescer. Portugal cresceu irrequieto, com vontade de explorar e de extravasar os limites da sua existência. Depois dos alvoroços da adolescência, acabou por se tornar num jovem rígido e saudosista, preso à boa vida que tinha no passado. Hoje, é um senhor de meia-idade que começa a sentir todas as dores e mazelas das doenças que ignorou até então.
Mas a hiperactividade e a falta de atenção continuam lá! Os portugueses de hoje em dia nem são más rés, coitados, quanto muito são é esforçados demais. Desdobram-se em cargos importantes, em lugares nas salas de reunião das empresas, em direcções de bancos, atrás de púlpitos… Não conseguem fazer só uma coisa de cada vez, e por isso querem fazer tudo ao mesmo tempo. A sua hiperactividade permite-lhes saltar de cargo em cargo com a agilidade de um pequeno cão de caça, enquanto a sua falta de atenção impede-os de se manterem muito tempo a realizar sempre a mesma tarefa. Por isso, transitam de pasta em pasta como um saltimbanco engravatado que, apesar de nunca se fixar em sítio algum, ainda assim tem uma casa de férias no Algarve.
No meu tempo, a má-criação resolvia-se com uma palmada bem dada. Hoje, a hiperactividade implica consultas com psicólogos e especialistas e costuma terminar com algum tipo de medicação. Ora, eu não sei que tipo de comprimido se pode receitar a um país inteiro, nem qual o especialista que vai ter paciência para avaliar dez milhões de pessoas…
Mas, à falta de melhor solução, podemos sempre resolver o problema da mesma forma que ele era resolvido antigamente: uma palmada bem dada para levantar o rabo do chão, seguida de um bocadinho de choro e de birra e terminando com um pedido de desculpas resignado e com a promessa de que não nos voltaremos a portar mal.

Sem comentários:

Enviar um comentário

A cada comentário morre uma criança em África, relativamente a cenas.
Veja lá o que vai fazer.