sábado, 10 de dezembro de 2011

Ponto sensível.

"Oláááááááá!!!!!!!!!!!!!!!!!!!"
"Tudo bem?!?!?!?!?!?!?!?!????"

É isto. É isto, minhas meninas e meus meninos. É isto que vos FAZ ser meninas e meninos.
Não me levem a mal, mas: levem-me a mal! Pode ser que se o fizerem, se sintam realmente incomodados convosco próprios.
Há alguns anos atrás, não há tantos como me orgulharia de poder dizer, estava eu na primária e tive uma professora. E bastou-me. A partir daí, passei a esforçar-me por usar uma pontuação correcta, já que, sendo eu um ser humano, seria necessário que tal aprendesse para, vá lá, comunicar com os outros seres, também eles humanos ou não. E o que eu aprendi, embora pareça um bocado básico para muitos de vocês, parece-me ser o mais acertado... Porque, vejamos: o ponto de interrogação ("?"), por exemplo, serve para, lá está, fazer uma interrogação. Para que servem três pontos de interrogação? Para identificar a questão como uma das grandes questões do nosso tempo? Não. Servem para identificar quem os escreve como "alguém". Quem? Não sei, nem me interessa.
Não estou com isto a querer dizer que não apoio o convívio entre os pontos de interrogação. Longe de mim. Até se me aquece o coração ver uns cinco pontos de interrogação a fazer uma churrascada em casa de um casal de pontos de exclamação ("!"). Mas isso são actividades que eles devem fazer nos seus tempos livres, quando não estão a ser usados para transmitir ideias.
De facto, não é usando tais cinco pontos de interrogação que uma pergunta se torna mais pergunta do que as outras. Nesses termos, a humanidade pode-se orgulhar de ter criado algum contexto de igualdade. Vinte "?" no fim de uma frase também não a torna mais importante, nem significa que há mais conceitos questionáveis nela do que nas outras.
Paralelamente, não existem exclamações mais exclamativas do que outras. Toda a gente exclama, e até aceito que haja quem exclame mais do que outros, mas não é a acumular pontuação que se demonstra isso na escrita. O acúmulo de pontuação pode parecer inofensivo, nos nossos dias, mas pode vir-se a tornar num fardo para as gerações vindouras. Da finitude do petróleo todos falam, mas quando toca a pontuação é tudo a esbanjar como se fossem o Papa. Ainda só conheci um ser humano pro-activo nesta questão: só José Saramago poupava pontos finais como ninguém. É claro que às custas de muitas vírgulas, mas ao menos já foi um começo e um exemplo. Só à conta deste grande homem, as próximas gerações já podem contar com mais alguns milhares de pontos finais. Agora imaginem se todos nos esforçássemos de igual modo, quantos pontos não se poupavam para que os vossos netos possam ler histórias sem ter que suster a respiração ao longo de cinco linhas.
E quem fala em pontos finais, fala também na eterna dúvida: as reticências. As reticências permitem-nos questionar: e que mais? De facto, as reticências são o único elemento de pontuação em que se deve até incentivar ao convívio. Mas, claro, em doses moderadas. Um convívio de um único ponto final é estúpido. Um convívio de dois pontos finais mostra-se insuficiente; há uma troca de ideias entre um e outro, mas não passa disso. Um convívio de três pontos finais é perfeito, permite uma situação de rodagem de ideias, em que nenhuma é descriminada. Um convívio de quatro pontos finais já é demais, já é abusar da quantidade de informação que cada um dos pontos pode absorver, e é propício à criação de grupinhos no seio da actividade. E o mesmo se aplica aos convívios de sete e de 23 pontos finais. Estes são apenas ridículos, ninguém se entende.
É por isto que "Hum............" não quer dizer que esta pessoa está mais pensativa do que as outras, porque se pensasse realmente com tanta força veria que escreve de forma parva e relativamente estranha.
E eu até sou completamente a favor da parvoíce e da estranheza relativa, desde que sejam escritas com rigor.

Neseke,
Abreijo.

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